TERRITORIALIDADES DANÇARINAS: RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS CONSTITUÍDAS PELO MOVIMENTO HIP-HOP E K-POP EM FORTALEZA (CE)

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
TERRITORIALIDADES DANÇARINAS: RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS CONSTITUÍDAS PELO MOVIMENTO HIP-HOP E K-POP EM FORTALEZA (CE)
Autores
  • LEON DENIS FERREIRA XAVIER
  • Guilherme Esteves Gomes de Oliveira
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Práticas espaciais, espaços de vivência e espaços apropriados
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/879264-territorialidades-dancarinas--relacoes-socioespaciais-constituidas-pelo-movimento-hip-hop-e-k-pop-em-fortaleza-(c
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Territorialidades, Movimento Hip-Hop, K-Pop, Movimentos Socioculturais, Geografia e Dança
Resumo
As formas de se apropriar do espaço são múltiplas e estão relacionadas com uma grande gama de práticas que realizam este processo. Pensando nisso alguns movimentos socioculturais possuem estratégias distintas e consequentemente, após se apropriarem efetivamente, mantém diferentes relações com estas localidades que denotam valores e percepções específicas de cada agrupamento. Como exemplo destas práticas destacamos dois grupos que estão relacionados ao fenômeno da globalização e da expansão de fronteiras de discussões políticas, sendo eles o movimento Hip-Hop e o K-Pop. Apesar de suas distinções estéticas e temáticas ambos os grupos se fazem presente na contemporaneidade, se fazendo conhecidos mesmo por aqueles que não possuem afinidade com suas práticas. Desta maneira visando compreender como se dão as relações entre sujeitos para com o espaço que ocupam este trabalho propõe uma análise constituída a partir de discussões relativas à territorialidade principalmente daquilo observado por meio da realização de trabalhos de campo no acompanhamento de eventos de ambas as expressões. Para isso é necessário entendermos também os contextos que envolvem os dois movimentos, assim compreendendo um pouco de suas origens, sua expansão no mundo e como se caracterizam na contemporaneidade. Em seguida, o conceito de territorialidade é discutido brevemente fornecendo um plano de fundo para a realização da análise posterior. Por fim a descrição dos eventos acompanhados colabora para que seja possível colocar-nos virtualmente no fenômeno observado durante a realização deste trabalho e de onde surgem as percepções que originam as contribuições pretendidas. Descrevendo de maneira sucinta o Movimento Hip-Hop surge por meio da conexão de diversos fluxos no bairro do Bronx, em Nova Iorque, por volta dos anos 1970 pelos negros e latinos que ocupavam estes guetos (Piskor, 2016; Tickner, 2008). O cenário social em que ocorre este processo está relacionado a precariedade que os sujeitos se encontravam sem áreas de lazer, emprego ou mesmo escolas o que acabou favorecendo a formação de gangues e aumento da criminalidade relacionada as drogas (Menezes, 2009). Desta maneira alguns artistas deram inicio a atividades que integravam os quatro elementos do Hip-Hop (MC, DJ, Grafite e Breakdance) como uma alternativa para as juventudes disputarem os territórios (Piskor, 2016; Xavier, 2023). Dentre as principais características deste movimento temos como destaque, segundo Rose (1997) a denúncia de problemáticas sociais, como o racismo, violência e a desigualdade, pois apesar de surgir como uma forma de diversão os contornos sociais acabaram se tornando marcantes em suas expressões. Desta maneira compreendemos o Hip-Hop como um fenômeno difundido pela globalização possuindo caráter e difusão neste nível, mas que possui seu destaque nas manifestações locais (Conceição, 2019; Johannsen, 2019; Xavier, 2023). É importante reconhecer também que o movimento, apesar deste teor crítico lida com as dualidades com a exploração midiática que gerencia os rituais de espetáculo e consumo (Herschmann, 2005) e, portanto, está relacionado também com uma comercialização das suas formas de se expressar (cantar, dançar e até mesmo se vestir). Já o K-Pop surge, de maneira mais recente, por volta dos anos 1990, como uma ferramenta de popularização da cultura sul-coreana por meio do movimento Hallyu que objetivava um maior alcance das produções do país atuando também em espectro político (Kacis, 2011). Este movimento é constituído por várias expressões da Coréia do Sul, como as séries de TV (K-Dramas) e os jogos e suas reviews (K-Games). Especificando-se na música e dança, o K-Pop se apropria de características de outros gêneros músicas, como o Pop norte-americano, o Rock e o próprio Hip-Hop. Chang e Lee (2017) consideram a internet e as mídias sociais como principais formas pelas quais este movimento se difundiu pelo globo. Como principal característica discursiva do Hallyu e, consequentemente, do K-Pop, está a difusão do modo de vida sul-coreano (Jun, 2017) por meio da gastronomia, entretenimento, moda, etc. Assim, de certa forma esta expressão pode ser compreendida como uma espécie de softpower que se expande também por meio da globalização, porém diferentemente do Hip-Hop, em um primeiro momento, não possui a escala local como possuidora de destaque. Neste contexto as ocupações que ambos os movimentos realizam dos espaços em diferentes espacialidades possuem particularidades nas suas formas de se relacionar com os recortes em que estão inseridos. Assim, diferentes categorias de análise podem ser discutidas para buscar uma compreensão aprofundada destas práticas socioespaciais, para isso no presente trabalho nos debruçamos sobre as discussões de territorialidade, não em uma perspectiva tradicional, mas uma que está relacionada a múltiplas sociabilidades, a apropriação e as diferentes formas de uso (Turra Neto, 2014; Haesbaert, 2014). Desta maneira nossa concepção de território se aproxima daquela elaborada por Bonnemaison (2012), que vai entender diferentes e estratificados microgrupos ocupando diferentes espaços e discursos na cidade, mobilizando-os de acordo com seus interesses em comum. Na visão desse autor, territórios não representam necessariamente espaços fechados, ou um tecido espacial unido, ou uma estabilidade social; mas antes seria um conjunto de fixos (que ele chama de lugar) e de mobilidades (que ele chama de itinerários) que se modificam, pois estão em plena negociação. Assim focamos nas perspectivas simbólicas do uso do território por estes diferentes grupos, mas não deixando de lado as características funcionais, visto que estas são indissociáveis (Haesbaert, 2014). Desta forma compreendemos que a ocupação territorial destes espaços em Fortaleza está relacionado não só com a elaboração de uma intersubjetividade estas localidades mas sendo também condições essenciais para a reprodução dos modos de ser destes dois grupos. Essa noção de território se aproxima mais de um sentido de apropriação, pois diz mais respeito sobre o valor de uso desses espaços, do que em um sentido de dominação (Haesbaert, 2014) e isso se reflete nas motivações das escolhas dos espaços para a realização dos eventos, sendo eles o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura pelo Movimento Hip-Hop e os shoppings pelos grupos de K-pop. Para os primeiros, o Dragão do Mar é um local de memória, pois eram onde foram realizados os primeiros encontros de Hip-Hop na cidade de Fortaleza - CE; e resistência, onde a manifestação da territorialidade do Hip-Hop se faz necessária para a visibilidade e para a continuidade da prática; e aos segundos, o shopping se apresenta como um local com a infraestrutura adequada para a prática da dança K-Pop, possuindo suporte para palco, iluminação, música e climatização, ao estilo dos grandes shows que desejam emular; e também no entendimento de que a cidade de Fortaleza representa um imaginário do medo e da violência urbana, onde um espaço protegido faz-se necessário. Assim, concordamos com o pressuposto de Haesbaert (2013), de que “toda identidade territorial é uma identidade social definida fundamentalmente por meio do território” ou seja, necessariamente precisam do território como uma de suas referências centrais, onde “dentro de uma relação de apropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto no da realidade concreta, o espaço geográfico constituindo, assim, parte fundamental dos processos de identificação social.” (p. 235). O referencial territorial é aqui simbólico porque ambos os grupos que abordamos necessitam, de alguma forma, de algo que esses espaços possuem, ou seja, uma abertura necessária que justifique a manutenção da escolha desses espaços como referências ao Hip-Hop e ao K-Pop e que não se manifestam imediatamente na paisagem, no lugar, no território concreto. Possuindo em mente tais noções os trabalhos de campo como observadores nos permitiu a percepção de algumas características que hora aproximam e hora distanciam os dois movimentos. Em relação ao Hip-Hop o trabalho de campo para observação foi realizado no evento Planeta Hip-Hop (específico de breakdance) que ocorreu no Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar, em Fortaleza, neste evento alguns entendimentos foram notados, por exemplo: a valorização da tradição histórica do movimento na cidade; reprodução de músicas old school; utilização de outros gêneros, como o funk e o pop; a presença de outsiders que não constituem o fenômeno; organização dos próprios membros por editais institucionais; etc. Já quanto ao K-pop o evento observado foi Prêmio OK-Pop, organizado pela produtora de eventos Highlight Eventos, e que ocorreu no shopping RioMar Kennedy, localizado no bairro Presidente Kennedy, também em Fortaleza e como principais características nota-se: a ideia de realizar uma premiação para os grupos; uma infraestrutura mais profissional; realização e organização por empresas; pouco acesso aos outsiders; a procura pelo novo; etc. Como principal semelhança se destaca a construção de estéticas próprias de ambos os movimentos, os membros de cada um têm modos próprios de se comunicar corporalmente, por meio de roupas, gestos e estilos. Além de beneficiados pela globalização as semelhanças não se tornam tão fortes, pois as disparidades em relação aos valores dos grupos causam uma grande diferenciação entre eles. Assim as significações das diferenças são também retratadas pelo espaço o que nos leva a um entendimento de diferentes identidades culturais com suas próprias dinâmicas. Em questões metodológicas destacamos pontos positivos e que podem ser melhorados em nossa abordagem de observação participante. Acreditamos, assim como Turra Neto (2012b) que se trata de uma abordagem adequada para aquilo que se pretendia, entretanto, um acompanhamento a longo prazo provavelmente possibilitaria uma maior quantidade de percepções para as discussões trazidas no trabalho. Ressaltamos também da importância de se realizar um trabalho descritivo (também de caráter crítico e reflexivo) buscando um detalhamento que permita o entendimento do que se pretende. Desta maneira um maior aprofundamento somado a um acompanhamento de longo prazo com atividades relacionadas ao breakdance e/ou ao K-pop surge como uma possibilidade de pesquisas mais detalhadas. Por fim, refletimos também sobre a maneira como estas duas expressões globais se colocam em cenários particulares. Continuam carregando suas principais características, mas se adaptam as realidades locais que encontram durante o processo de difusão de suas práticas. Estas adaptações são os pontos ricos de conhecimento geográfico, pois ao observamos a forma como se reorganizam as atividades podemos entender a maneira como o espaço influência as práticas espaciais, pois “historicamente, a preocupação tem se voltado mais para as formas como o espaço “reflete” a sociedade, do que para as formas como o espaço condiciona a sociedade que o produziu” (Turra Neto, 2012b, p. 254). A busca por essa compreensão permite uma nova mirada para as relações entre sociedade e espaço, apesar da antiguidade do conhecimento da dialogia presente entre ambos.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

XAVIER, LEON DENIS FERREIRA; OLIVEIRA, Guilherme Esteves Gomes de. TERRITORIALIDADES DANÇARINAS: RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS CONSTITUÍDAS PELO MOVIMENTO HIP-HOP E K-POP EM FORTALEZA (CE).. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/879264-TERRITORIALIDADES-DANCARINAS--RELACOES-SOCIOESPACIAIS-CONSTITUIDAS-PELO-MOVIMENTO-HIP-HOP-E-K-POP-EM-FORTALEZA-(C. Acesso em: 25/06/2025

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