OS TAPES - OBRA E ANDANÇAS: A CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIA PELO ACERVO DIGITAL E PELO FILME DOCUMENTÁRIO.

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
OS TAPES - OBRA E ANDANÇAS: A CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIA PELO ACERVO DIGITAL E PELO FILME DOCUMENTÁRIO.
Autores
  • Camila Padilha Costa
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Linguagens, imagens e ritmos
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/877939-os-tapes---obra-e-andancas--a-construcao-de-memoria-pelo-acervo-digital-e-pelo-filme-documentario
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Os Tapes. Memória. Acervo digital. Filme Documentário.
Resumo
INTRODUÇÃO Este texto busca compartilhar um processo construção de memória através da criação do acervo digital do grupo de música popular gaúcha Os Tapes. Seu processo de desenvolvimento, entre os anos 2021 e 2023, foi fundamental na elaboração de memória sobre o grupo cuja atuação ocorreu nos idos dos anos 1970 e 1980, em uma pequena localidade do interior do Rio Grande do Sul. Destarte, visualizou-se como possibilidade de continuação dos estudos sobre memória, o desenvolvimento de um curta-documentário a ser elaborado em 2024 e 2025 com os recursos da Lei Paulo Gustavo para projetos audiovisuais, um filme que irá narrar a história do grupo a partir do acervo e das lembranças de seus integrantes. Da necessidade de construção de uma memória: Como ex-moradora de uma cidade interiorana, cresci com um forte sentimento de não pertencimento àquele lugar. Por diversos motivos, mas talvez o mais relevante seja o fato de nunca ter tido a oportunidade de conhecer sua própria história de uma forma que fosse atrativa. Eis que em plena pandemia (como muitas pessoas fizeram), me refugiei nas mesmas terras de onde vim a fim de encontrar um pouco de sossego em meio ao caos, ao mesmo tempo em que tentava conduzir um projeto de mestrado que ainda estava em elaboração. E foi daí que surgiu a possibilidade de pesquisar este grupo de música popular, cujas composições e interpretações os projetaram ao (re)conhecimento de públicos diversos em escala regional, nacional e internacional. Como era bastante difícil encontrar informações mais completas a respeito de Os Tapes e de sua trajetória artística, houve a necessidade de compilar o que já se tinha de documentação com novos registros que fui tendo acesso durante a pesquisa. Percebi que, daquelas canções, causos e estórias do grupo, muito ainda poderia ser extraído e significado, suas composições falam de tempos passados que compuseram o presente, nos deixando um legado que antes parecia inacessível, guardado em baús, fragmentados em diferentes espaços físicos e digitais, à espera de sua redescoberta. Para dar coesão e contexto ao estudo proposto, busquei referenciais teóricos que dessem conta de tratar de temas relativos ao histórico do próprio lugar de onde o grupo surgiu, o município de Tapes. Foi de sua constituição história e social que surgiram as “bases” criativas de ampla maioria de suas composições. Foram um dos poucos grupos do sul do Brasil naquela época, que se preocuparam em integrar, pela via da música, o local com a América Latina, suas escolhas priorizaram, assim, interpretações alinhadas com a música latino-americana que propunha modos de refletir a história e a realidade do continente. (COSTA, 2023). A metodologia do estudo se pautou nas Pistas do Método Cartográfico de Passos et al. (2009), na qual a pesquisa orientava-se pelo acompanhamento dos próprios processos da pesquisa, além dos fenômenos estudados em si, colocando também, minha experiência pessoal enquanto pesquisadora em evidência, como suporte ao estudo. Como morei por muitos anos na cidade, eu conhecia os personagens cantados pelos Tapes, convivi com alguns eles, frequentei escolas com seus filhos, meus pais e avós viveram aquelas realidades. Busquei, em minha própria vivência, modos de relacionar o que ia aparecendo de informação com aquele cotidiano transformado em música, o que acarretou um outro sentido tanto às composições quanto em relação ao modo como passei a perceber a cidade. Os Tapes cantavam sobre as lutas das populações indígenas, sobre a diáspora africana, a realidade do trabalhador rural em meados do século XX, o pescador, a mulher campesina, as lutas sociais do campo e da cidade, sobre discussões políticas e ambientais de seu tempo, ainda tão atuais. Sem falar do contexto de ditadura militar que assolava o país e que recaía também sobre as manifestações artísticas. Não foi diferente com o grupo. Dessa forma, pretendi “reencontrar” o passado para tentar compreender um pouco de sua complexidade, e de que maneiras as canções de Os Tapes ainda repercutem no presente, a arte com suas “eficácias simbólicas” (CANCLINI, 2013) que refletem, de certa forma, a esfera do real. Dessa forma, os estudos da memória se mostraram importantes para a pesquisa desenvolvida, na medida em que expunham relações de poder inerentes aos processos de construção de memória, e porque a música dos Tapes acabou sendo “esquecida” ao longo do tempo, quais forças operavam neste esquecimento, algo que afetou de forma significativa o modo como enxergamos o passado. E porque a memória social acomoda uma multiplicidade de definições, as quais são derivadas de diferentes perspectivas e discursos por vezes contraditórios, é que compreendemos que estamos tratando de polissemias, calcadas também sobre uma construção social hierárquica, que influi diretamente na forma como a memória social é construída, uma vez que estas são historicamente produzidas (JENLIN, 2001). Quando compreendi tamanho esquecimento sobre a música do grupo, sua estreita relação com a multiculturalidade da região, seus questionamentos e possíveis motivos de suas escolhas éticas e estéticas, é que pude finalmente buscar formas de “recuperar” e tentar construir memórias que contemplassem sua existência, mesmo que de maneira parcial e fragmentada, e foi através da elaboração de Os Tapes Acervo. Processos de construção do acervo digital: Havia então uma necessidade de dar um destino a todos os registros que encontramos do grupo em um espaço que oferecesse um acesso o mais democrático possível às pessoas. É desde aí que iniciamos os trabalhos na construção do acervo digital. Num primeiro momento a ideia era criar um espaço físico a partir de uma casa situada na Vila dos Pescadores em Tapes e local onde o grupo atuou por muitos anos, no entanto, com o contexto da pandemia, tivemos que substituir o espaço físico pelo espaço virtual, o que acabou dando uma nova perspectiva para nosso projeto de construção do acervo. No início de 2021, começamos a revisitar as centenas de materiais guardados por Cláudio Boeira Garcia (fundador e integrante de Os Tapes) em seus baús, e, conforme fomos abrindo pastas, encontramos documentos, fotografias, jornais, correspondências, fitas cassetes com gravações ao vivo, entre outros. Nos deparamos com um “acervo” já muito rico em termos de registros históricos, e foi daí que partimos. Sessa forma, traçamos um método de trabalho na organização destes documentos, classificamos os materiais e temas das formas que encontramos serem as mais adequadas, e fomos traçando assim, nosso próprio método de trabalho (PASSOS et. Al., 2009). Busquei mesclar memórias de vivências próprias e d’Os Tapes, de discussões referentes aos momentos históricos, políticos e econômicos da região, a fim de criar imagens mentais para compreender a construção da musicalidade do grupo, em outras palavras, busquei me afetar o máximo possível para extrair daquela experiência, algo genuinamente factível de ser narrado. Não foi fácil, tampouco foi possível separar de forma precisa o objeto de estudo da pesquisadora, tampouco este era o objetivo. A “descoberta” daqueles materiais guardados revelaram aspectos elementares na interpretação das obras do grupo e de seu próprio processo criativo, falavam da cultura popular, das artes latino-americanas, de contextos políticos e sociais, e daquilo que se assemelha cultural e historicamente das demais regiões deste vasto continente. Os Tapes Acervo foi produto de mais de ano de muita emoção, trabalho manual, seleção de materiais e discussões referentes aos projetos elaborados, às intencionalidades e a forma como tudo isso seria compartilhado em um espaço digital já disponibilizado. A saber: www.ostapesacervo.com.br. Possibilidades – O produto audiovisual: O acervo digital teve uma feliz repercussão entre os interessados na história de Os Tapes e aqueles que conheceram e acompanharam o grupo nos seus anos de atuação, ou seja, estamos falando de uma outra geração, mas curioso foi observar que o reconhecimento e a busca pelo acervo ocorreram muito mais fora dos limites do município, o que tensionou novos questionamentos: Os moradores da cidade conhecem o grupo? Sua história e sua música? Estaria, a memória de Os Tapes desaparecendo? As pessoas, em especial as novas gerações, ouviram falar ou conheciam algo sobre eles? Qual a importância de retomar, novamente, sob uma outra linguagem, a história do grupo? Neste ínterim, em meados de abril do presente ano, foi lançado o edital de incentivo à cultura da Lei Paulo Gustavo e, junto com amigos da área da comunicação social e do audiovisual, decidimos inscrever um projeto de documentário cujo fio condutor da narrativa seria as memórias descritas das Notas de Os Tapes acervo. A justificativa: Construção da memória. Assim o projeto foi contemplado. A escolha para a realização de um documentário se deu após longas conversas a respeito do desejo de aproveitar o momento oportuno em que se faz necessário debater o direito à memória, e o direito à cidadania, frente a tantas transformações sociais e culturais de nossa sociedade. Da necessidade de construir registros que contem a história de um lugar a partir da arte, como temos à disposição um acervo sobre o grupo, entendemos que agora é o momento de criar um produto que compartilhe com a população, sobretudo a população mais jovem, a respeito da multiculturalidade expressa por sua música. Mobilizados pelas reflexões de Walter Benjamin (1987) a respeito da arte de narrar, é que propomos o projeto de documentário, há uma “falta de memória” à espreita, é tempo de buscar na experiência a partir daqueles que viveram o grupo, sua significação. É sobre construir memórias utilizando uma linguagem acessível, com compromissos éticos e sociais deste tipo de realização cultural. Nos mobilizamos neste documentário a partir de um compromisso contra o esquecimento, entendendo que este fazer fílmico é carregado de afetividade na intenção de construir memórias, algo que busca no passado, projeções para o futuro (TOMAIM, 2009). As gravações do projeto Os Tapes – Obra e Andanças devem iniciar no segundo semestre de 2024. Referências: BENJAMIN, Walter. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Magia e técnica, arte e política. Ed. Brasiliense. 3ªed. 1987. CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade. 4ª Ed. Editora Edusp. 2013. COSTA, Camila Padilha. Canções sem fronteira de tempo e língua: Percursos afetivos na construção de Os Tapes Acervo. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos (PPGIELA). UNILA, 2023. JENLIN, Elizabeth. “De qué hablamos cuando hablamos de memoria?” In: “Los trabajos de la memoria”, 2001. PASSOS et. al. Pistas do método da cartografia: Pesquisa-intervenção e produção de subjetividade / orgs. Eduardo Passos, Virgínia Kastrup e Liliana da Escóssia. – Porto Alegre: Sulina, 2009. TOMAIM, Cassio dos Santos. O documentário como chave para a nossa memória afetiva. Intercom - Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. 32, núm. 2, julio-diciembre, pp. 53-69. 2009. Sites consultados: www.ostapesacervo.com.br
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

COSTA, Camila Padilha. OS TAPES - OBRA E ANDANÇAS: A CONSTRUÇÃO DE MEMÓRIA PELO ACERVO DIGITAL E PELO FILME DOCUMENTÁRIO... In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/877939-OS-TAPES---OBRA-E-ANDANCAS--A-CONSTRUCAO-DE-MEMORIA-PELO-ACERVO-DIGITAL-E-PELO-FILME-DOCUMENTARIO. Acesso em: 10/09/2025

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