ESPAÇO SOCIAL, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES: A PRODUÇÃO DO ESPAÇO PELA VIVÊNCIA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
ESPAÇO SOCIAL, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES: A PRODUÇÃO DO ESPAÇO PELA VIVÊNCIA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
Autores
  • Cheila Basso
  • Álvaro Luiz Heidrich
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Práticas espaciais, espaços de vivência e espaços apropriados
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/869026-espaco-social-territorio-e-territorialidades--a-producao-do-espaco-pela-vivencia-de-catadores-de-materiais-recic
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Produção do espaço, Catadores, Espaço Social, Território, Territorialidades.
Resumo
INTRODUÇÃO A presente discussão é derivada de uma pesquisa de doutorado em Geografia em andamento do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A proposta se enquadra no contexto de investigação sobre a produção do espaço urbano considerando as formas de uso e apropriações do espaço dos sujeitos de pesquisa. Assim, o objetivo é analisar a produção do espaço urbano periférico de uma cidade média do Rio Grande do Sul a partir do trabalho de catadores de materiais recicláveis organizados em associações e de suas vivências na relação com o espaço urbano. Desse modo, privilegiamos o enfoque fenomenológico do espaço, cuja atenção se volta para a análise de fenômenos sociais e os sentidos atribuídos a eles por indivíduos e coletivos (Schmidt e Andrade, 2015). Assim, buscamos explorar as vias do espaço social, do território e territorialidades na realidade vivenciada pelos catadores. Esse estudo se relaciona à compreensão das dinâmicas presentes no processo de produção do espaço, referenciado por Lefebvre (2006) como o que engloba a produção simbólica e as relações de poder, para além da materialidade. A partir de Lefebvre é possível considerar que o espaço é, ao mesmo tempo, um produto e um condicionador das relações sociais, o que evidencia a complexidade desse processo. Sua natureza é social, ele não existe “por si só”, mas é produzido pelas práticas sociais e espaciais dos diferentes grupos que nele circulam e produzem vida. Nesse sentido, em diálogo com Certau (2009) e Heidrich (2017), pontuamos a vida em sociedade, a qual é permeada por conflitos e tensões, mas também pelo que é espontâneo e pelas criações do cotidiano. São elementos agregados no processo de produção do espaço pelas práticas humanas, as que são repetidas e aquelas ressignificadas pelos ritmos que se moldam no viver. Além disso, essa teoria abrange a compreensão de que as contradições que nos envolvem permeiam bem mais as relações de reprodução da vida que implicam “inventar” espaços do que simplesmente produzir mercadorias. Assim, é pelo conteúdo das formas espaciais que se revelam as contradições que produzem espaço, as quais, por sua vez são condições de reprodução das relações sociais (Lefebvre, 2006). Desse modo, queremos entender as potencialidades e desafios para que os sujeitos da pesquisa sejam atores (Di Méo; Buléon, 2007) na dinâmica da produção do espaço, assumindo que esse processo inclui tensões advindas das diversas formas de uso e apropriação. Isso se articula ao cenário que abarca forças e territorialidades distintas, como os poderes hegemônicos de atores e agentes e as territorialidades vividas, como dos coletivos de catadores. Esses últimos possuem formas singulares de viver e se apropriar do espaço, o que é representativo de particularidades ligadas às práticas do vivido do grupo/comunidade (Heidrich, 2021). Esse contexto comunica a demanda em agregar as representações das realidades vividas, das “práticas socioterritoriais informais das comunidades, do espaço vivido” [...] e “territorialidades alternativas” (Heidrich, 2022, p. 245). Essas representações produzidas pelos vínculos territoriais, enquanto uma conexão com o vivido, geralmente são minimizados diante do território. Isso representa uma perda significativa de conteúdo social advindo do espaço vivido, elementos da prática espacial geralmente desconsiderados em representações hegemônicas (Heidrich, 2021). Além disso, esse recorte se relaciona a uma conjuntura em que espaços urbanos periféricos, sabidamente espaços não homogêneos, são vistos por uma lente de disfuncionalidade no urbano e não como um local legítimo de expressão de formas de vida. Isso se vincula à realidade da produção do espaço não só como produção do capital, mas também produção e reprodução da vida. As redes estabelecidas entre pessoas e grupos compõem peça importante dessa dinâmica, o que nos faz concordar com Carlos (2020) ao destacar a relação entre a produção do espaço e a produção da vida. METODOLOGIA Considerando nosso problema e objetivos de pesquisa, que envolvem a análise e compreensão do espaço vivido e produzido por sujeitos plurais, seus territórios e territorialidades, essa investigação se alicerça no método qualitativo. Isso se deve à natureza do estudo, que busca alcançar a materialidade do espaço que envolve subjetividades (Heidrich e Pires, 2016). Buscamos explorar o universo do simbólico e suas relações com a experimentação do mundo objetivo pelos sujeitos do estudo. Essa perspectiva considera o espaço percorrido de modo horizontal pelas pessoas e usuários desse, como seus principais narradores (Gamalho, 2016), sendo que nosso olhar se orienta pelo processo de produção do espaço social e, consequentemente, as experiências e sentidos atribuídos a ele. Convidamos para o estudo seis associações de distintos bairros da cidade. O critério de seleção foi a disponibilidade e o interesse dos sujeitos em participar, além desses coletivos representarem a quase totalidade de associações desses trabalhadores no município, sendo elas as maiores em termos de material reciclado. A primeira etapa empírica foi a realização de uma entrevista semi-estruturada com os líderes das associações de modo a apreendermos aspectos relacionados às suas vivências, seja no trabalho, na comunidade próxima do bairro, com a cidade. Esses elementos são possibilidades de analisarmos o espaço vivido e os atravessamentos do espaço concebido desses sujeitos, por meio de suas representações e narrativas de suas práticas. Para além das entrevistas, buscaremos integrar ainda a observação participante com inspiração etnográfica, pois entendemos que esse olhar sobre o processo de produção do espaço nos ajuda a perceber as nuances que permeiam esse contexto. Além disso, os usuários cotidianos como seus narradores permitem “análises do espaço que ultrapassem as questões vinculadas às materialidades, sem, contudo, descolar-se delas” (Gamalho, 2016, p. 36). Os dados produzidos serão agrupados em categorias e seu estudo se efetuará a partir da análise de conteúdo inspirado na proposta de Bardin (2011), além da análise de discurso (Brasil, 2011). RESULTADOS E DISCUSSÃO As discussões dessa investigação ainda encontram-se em fase de desenvolvimento e aprimoramento. Viemos buscando produzir leituras da complexidade em torno da cidade e do urbano partindo de sua horizontalidade de modo a contemplar o vivido, as cotidianidades e a vida de seus usuários. A cidade, enquanto “morfologia material” e o urbano como “morfologia social” (Lefebvre, 2001), funcionam como suporte material e simbólico onde ocorre o intercâmbio entre atores, agentes e sociedade. É nesse contexto onde se inserem os espaços de representação dos sujeitos da pesquisa, o que reflete os ritmos distintos dos processos e práticas espaciais que formam esse espaço social. Nesse espaço de contrastes e complexidades são evidenciados os contornos espaciais e modos de viver que refletem grande diferenciação socioespacial. A cidade é vista como um espaço de oportunidades, mas, para isso, é necessário ganhá-la, o que não representa apenas morar nela, mas significa essencialmente viver “um espaço de convívio, de mercado, de política e de civilidade, fazendo dessa ideia integralmente um fato” (Heidrich, et al, 2016, p.255). Essa busca pela conquista dos espaços e oportunidades, também faz parte de um processo maior que compõe a produção desse espaço. Assim, as populações empobrecidas vivem de modo mais intenso os desafios de construir pertencimento e ganhar a cidade, pois viver na periferia engloba criatividade e “artes da invenção” (Gamalho, 2010), como uma demanda de sobrevivência diante da falta. Acreditamos que, a partir desses cenários, desenvolvem-se estratégias de sobrevivência que fazem parte das conexões que essas pessoas estabelecem com seus territórios, seus vínculos territoriais (Heidrich, 2017). Esses últimos mostram potencialidades criadas por esses sujeitos como formas de viver o urbano. Isso compõe marcas de sua territorialidade, que são tramas de relações, atravessadas por espaços e identidades, que fortalecem o território e podem representar avanços para a experiência da cidadania dos sujeitos dessa territorialidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A construção de nosso arcabouço teórico e metodológico tem suscitado novos olhares aos objetivos e problema de pesquisa, o que têm contribuído para sua qualificação. Espaço social, território e territorialidade, além de serem categorias de análise, são realidades vividas, o que nos permitirá continuar pensando e interpretando as questões desse estudo, como o entremeado de condições que catadores vivem, de modo destacado, a forma como são incluídos na sociedade. Entendemos ser fundamental o aprofundamento acerca da natureza social do espaço, que vai sendo produzido à medida que a vida acontece. Assim, os catadores são interlocutores do/no espaço urbano periférico pelas geografias que produzem, as quais são elementos fundamentais do processo de produção do espaço. A integralidade dessas vivências, o que contempla sentidos e símbolos compartilhados pode ser potencialidade para desvendar outras representações. REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011. BRASIL, Luciana Leão. Michel Pêcheux e a teoria da análise de discurso: desdobramentos importantes para a compreensão de uma tipologia discursiva. Linguagem: estudos e pesquisas, v. 15, n. 1, 2011. CARLOS, Ana Fani Alessandri. Henri Lefebvre: o espaço, a cidade e o “direto à cidade”. Revista Direito e Práxis, [S.l.], v. 11, n. 1, p. 348-369, mar. 2020. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1 artes de fazer. 16 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. DI MEO, Guy; BULÉON, Pascal. L’espace social. Lecture géographique des sociétés. Paris: Armand Colin, 2007. GAMALHO, Nola Patrícia. 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SCHMIDT, Lisandro Pezzi; ANDRADE, Aparecido Ribeiro de. Metodologias de pesquisa em Geografia. 2015.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BASSO, Cheila; HEIDRICH, Álvaro Luiz. ESPAÇO SOCIAL, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADES: A PRODUÇÃO DO ESPAÇO PELA VIVÊNCIA DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/869026-ESPACO-SOCIAL-TERRITORIO-E-TERRITORIALIDADES--A-PRODUCAO-DO-ESPACO-PELA-VIVENCIA-DE-CATADORES-DE-MATERIAIS-RECIC. Acesso em: 27/06/2025

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