UM TRAÇADO DE PAISAGEM NO SERTÃO NORDESTINO: MODOS DE VER E SENTIR O MOVIMENTO DO CANGAÇO

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
UM TRAÇADO DE PAISAGEM NO SERTÃO NORDESTINO: MODOS DE VER E SENTIR O MOVIMENTO DO CANGAÇO
Autores
  • Ana Paula Rodrigues da Costa
  • Prof. Dr. Otávio Lemos da Costa
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Paisagem, turismo e patrimônio
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/863739-um-tracado-de-paisagem-no-sertao-nordestino--modos-de-ver-e-sentir-o-movimento-do-cangaco
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Paisagem, Cangaço, Simbolismo.
Resumo
Introdução No sertão nordestino, muitas paisagens constituíram e foram constituídas, a partir das vivências de movimentos sociais, culturais. Um exemplo dessa relação é o movimento do cangaço que unificou, transformou e constituiu paisagens no sertão e que atualmente ainda reverbera essas vivências cangaceiras por meio das manifestações culturais, dos espaços simbólicos, da música, de filmes, etc. “[...] os cangaceiros são sujeitos que inventaram outras cartografias, que desenharam a ferro e fogo novas paisagens” (OLIVEIRA, 2011, p. 746). A paisagem é um reflexo da sociedade, ao passo que é uma extensão dos sujeitos que a vivenciam. “Para compreender as expressões impressas por uma cultura em sua paisagem, necessitamos de um conhecimento da “linguagem” empregada: os símbolos e seu significado nessa cultura” (COSGROVE, 2004, p. 105-106). A cultura do movimento do cangaço no sertão nordestino é um exemplo dessa relação entre sujeito e paisagem. Os cangaceiros ao desenvolverem/constituírem por meio de simbologias sua ligação com a cultura da honra, da valentia, estabelecendo dessa forma a ideia de cabra-macho, estava diretamente ligado ao modo de vida advinda da ancestralidade com a alma destemida da honra. Estes reflexos estão presentes na paisagem que constitui os sujeitos. A alma do sujeito sertanejo está conectada com as paisagens da caatinga. A vida nômade que os cangaceiros desenvolveram estava constituída na paisagem sertaneja, pela cultura da honradez, da vivência com o meio, das relações com a espiritualidade, revestida de resistência que denota a relação entre o sujeito e seu solo, entre o sujeito e sua paisagem (COSTA, 2020). Paisagens cangaceiras enquanto manifestação simbólica Besse, 2014, esclarece que a paisagem pode ser uma maneira de ver e imaginar o mundo. Fazendo uma ligação desta ideia que traz o autor, podemos dialogar com os bandos de cangaceiros, pensando na ação cangaceira na paisagem do sertão nordestino, para compreender a forma como os cangaceiros passavam a ver/sentir a paisagem pelo sistema mundo que ali se apresentava e que foram constituídas ao longo das vivências nessas paisagens. A paisagem está diretamente envolvida em nossa vida de forma afetiva, espirituosa, de modo a envolver nossa forma de percepção de ver e sentir o mundo. Os cangaceiros transformaram paisagens, produziram paisagens pelo sertão nordestino e hoje os sujeitos preservam essas paisagens, mas também as modificam, ao passo que também produzem novas paisagens cangaceiras. As veredas utilizadas pelos cangaceiros em seus períodos de atuação são exemplos dessa transformação e ressignificação de paisagens. A rota do cangaço que foi estabelecida entre os estados de Alagoas e Sergipe, apresenta essa relação passado e presente. Vivenciar a experiência de margear o Rio São Francisco e fazer o percurso até a grota de Angicos (local onde ocorreu o massacre da morte de Lampião, Maria Bonita e parte de seu bando) em Sergipe e se perceber no passado, nas veredas de Lampião e Maria Bonita, é imergir no universo cangaceiro em busca de compreender a filosofia de vida que o cangaço exprimiu naquelas paisagens atual que outrora recepcionou e difundiu as vivências e experiências cangaceiras. Desta forma, podemos dialogar com as ideias de Besse, 2014, p. 47, quando o autor afirma: “[...] A paisagem é primeiramente vivenciada e depois, talvez, falada, a palavra buscando, sobretudo aqui, prolongar a vida, ou melhor, o vivo que faz da paisagem uma experiência”. Assim podemos transpor esse ponto de vista para expressar as experiências cangaceiras no sertão nordestino. Refazer veredas que outrora foram caminhos do cangaço é sentir por meio da paisagem a vida cangaceira. Nesse processo os sentidos são aguçados para concretizar no pensamento o ato de emergir no passado e visualizar, sentir a experiência cangaceira que a paisagem estabelece. O cheiro do corpo queimado pelo sol escaldante, suado, banhado pelas águas do Velho Chico e a brisa do vento que espalha esse cheiro, estabelece uma ligação direta com o passado construindo uma imagem das vivências cangaceiras nestas paisagens. A paisagem está intimamente ligada ao sujeito, está na relação em que o sujeito desenvolve a partir de suas vivências como manifestação do ser individual ou coletivo. Nessa seara, a paisagem aqui denotada está expressa culturalmente na vivência de homens e mulheres que historicamente constituíram paisagens no sertão nordestino a partir de suas experiências como cangaceiros e, que ficou marcado de forma simbólica na qual se atribui o pertencimento à cultura cangaceira advinda na paisagem cultural que representa os grupos sociais que estão ligados ao movimento do cangaço. A paisagem não é fechada, no sentido da essência do que é visto. A paisagem vai além dessa relação do olhar, da contemplação. Ela é sentida, percebida, é a inserção e a imersão do sujeito no mundo vivido, “é a manifestação de seu ser para com os outros, base de seu ser social” (DARDEL, 2011, p.). A paisagem representa um acúmulo de histórias, de memórias, que guarda referências de fenômenos que marca de forma simbólica a vida dos sujeitos, estabelecendo um elo entre o fenômeno e o sujeito, proporcionado pelas expressões culturais, quer seja de forma material ou imaterial. A paisagem para os cangaceiros, por exemplo, representava a relação fenomenológica entre o ser cangaceiro e o sertão nordestino. O sentido de paisagem para os cangaceiros perpassava a simples ideia de um ambiente ressequido pelas circunstâncias geográficas que afeta o sertão. A paisagem estava diretamente relacionada com o sentido do pertencer ao sertão, do sentir a alma sertaneja nordestina de forma latente. As paisagens sertanejas acolheram durante décadas homens e mulheres que desafiavam a aridez do sertão para viver a cultura do cangaço, atribuindo significado simbólico por meio da geograficidade sertaneja. O movimento do cangaço expressa-se de um caráter simbólico que marca, de forma densa, a paisagem sertaneja nordestina, presente no conjunto de valores e práticas de seus sujeitos. Dessa forma, a paisagem, enquanto um documento nos revela uma geografia do cangaço com base nos mapas de significados dos sujeitos. A paisagem não se dissocia dos processos históricos e das relações humanas existentes no mundo. As formas como as sociedades se relacionam com o ambiente são diretamente influenciadas pelas configurações de organizações sociais que produzem suas vidas materiais. Essa composição paisagística sertaneja prenhe de significados simbólicos para os cangaceiros continuam sendo atualmente para os sertanejos que têm essas mesmas crenças e que se reconhecem nas ações cangaceiras. A paisagem desta forma é um reflexo dessa expressão sertaneja que culturalmente desenvolveu esse pertencimento com o solo do sertão nordestino. Dessa forma, “O simbolismo da paisagem é [...] uma característica fundamental para se compreender a interação existente entre o homem e o seu entorno, servindo ao propósito de estabelecer normas culturais e os valores de um determinado grupo” (COSTA, 2009, p. 51). A paisagem não é somente o ato do olhar, mas a essência, a percepção, a vivência dos sujeitos, a ligação destes com a terra, a água, a floresta, a rocha, é história de vidas que se congregam em um único plano, por meio do contato, da troca, do sentimento, da emoção. Referências BESSE, Jean-Marc. O gosto do mundo exercícios de paisagem. Rio de Janeiro, Ed. UERJ, 2014. COSGROVE, Denis. A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (orgs). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004. p. 92-123. COSTA, Ana Paula Rodrigues da. Memória e lugar: narrativas da trajetória do bando dos Marcelinos em Barbalha-CE. 210 f. Dissertação (Mestrado em Geografia). Instituto de Estudos Socioambientais, Universidade Federal de Goiás, 2020. COSTA, Otávio José Lemos. Sertões de Canindé: uma interpretação geosimbólica da paisagem. Espaço e cultura. N. 26, p. 49-57, jul./dez. de 2009. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/3554 Acesso em: 13 de março de 2023. DARDEL, Eric. O homem e a terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011. OLIVEIRA, Iranilson Buriti. Artes de curar e modos de viver na geografia do cangaço. História, ciências, saúde-manguinhos. Rio de Janeiro, v.18, n.3, jul-set. 2011, p.745-755. Disponível em: http://www.redalyc.org/html/3861/386138056008/ Acesso em: 03 jan. 2024.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

COSTA, Ana Paula Rodrigues da; COSTA, Prof. Dr. Otávio Lemos da. UM TRAÇADO DE PAISAGEM NO SERTÃO NORDESTINO: MODOS DE VER E SENTIR O MOVIMENTO DO CANGAÇO.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/863739-UM-TRACADO-DE-PAISAGEM-NO-SERTAO-NORDESTINO--MODOS-DE-VER-E-SENTIR-O-MOVIMENTO-DO-CANGACO. Acesso em: 27/06/2025

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