TERRITÓRIOS E REDES DA FÉ:UM ESTUDO DAS ASSEMBLEIAS DEUS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
TERRITÓRIOS E REDES DA FÉ:UM ESTUDO DAS ASSEMBLEIAS DEUS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE
Autores
  • Ester Claudino Gomes da Silva
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Religião e religiosidades
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/860904-territorios-e-redes-da-fe-um-estudo-das-assembleias-deus-na-regiao-metropolitana-do-recife
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Territorialidade, Religião Evangélica, Pentecostais, Redes, Região Metropolitana do Recife.
Resumo
Introdução A partir da década de 1990 acompanhou-se um grande crescimento do pentecostalismo no Brasil. Percebe-se que essa vertiginosa expansão mobilizou várias estratégias territoriais empreendidas por de diferentes segmentos de igrejas pentecostais que visavam ampliar seus limites de atuação principalmente no contexto urbano, operando dentro de um dinâmico movimento dialógico entre centralidade e marginalidade urbana (ARAUJO, 2020, p. 40). Esse fenômeno está intrinsecamente ligado à organização espacial das cidades, onde as igrejas pentecostais exercem forte influência na transformação e produção do espaço social. Esse fenômeno é agenciador de um claro processo de transformação em várias esferas da sociedade, exercendo uma influência profunda nas dinâmicas culturais e políticas do país, tornando-se um tema relevante nas ciências humanas. Diversos autores têm abordado as razões relevantes para esse crescimento, incluindo mudanças sociais e valores morais (MARIANO, 1999), engajamento político e social (MARIANO, 2013), mídia e comunicação (ABUMANSSUR, 2009), crescimento econômico (ALMEIDA, 2006) e identidade e pertencimento (JUNQUEIRA, 2004). Nesse contexto, as ciências geográficas, com sua base teórica e metodológica, buscam compreender esse fenômeno através das transformações no espaço social, refletindo sobre seus impactos nas dinâmicas urbanas e territoriais. Neste sentido, este trabalho tem por interesse analisar padrões espaciais que refletem as manifestações materiais e simbólicas de grupos evangélicos em suas expressões de territorialidade, considerando os diversos contextos sociais em que esses fenômenos ocorrem. Sugere-se, portanto, analisar a estrutura e arranjo territorial da denominação Assembleia de Deus tendo como recorte espacial a região metropolitana do Recife. Essa abordagem busca suprir a lacuna na produção acadêmica relacionada à geografia religiosa em Pernambuco, ao mesmo tempo em que ressalta a relevância de compreender as práticas espaciais desse grupo particular. A Região Metropolitana do Recife, como recorte espacial escolhido, apresenta um espaço urbano de profunda riqueza e complexidade. Conforme ressaltado por Corrêa (1995, p. 13), o espaço urbano é uma intrincada rede de diversos usos da terra justapostos, formando uma trama fragmentada e articulada. Essa trama não apenas reflete, mas também influencia as dinâmicas sociais, tornando-se um campo de símbolos e cenários de disputas. Portanto, a RMR oferece um cenário ideal para compreender as manifestações territoriais e simbólicas das igrejas pentecostais e sua influência na produção do espaço social. A pesquisa será fundamentada tanto em abordagens quantitativas quanto qualitativas, destacando a interação dinâmica entre essas metodologias, pois como apontado por Gil (1999, p. 13) quantidade e qualidade são traços intrínsecos a todos os objetos e fenômenos, e estão intimamente interligados. Com base nessa premissa, inicialmente serão examinados os eventos cronológicos da propagação pentecostal em escala nacional, seguido pelo estado de Pernambuco e, por fim, a RMR. Para compreensão do tema proposto, recorreremos à revisão bibliográfica desenvolvidas por estudiosos como Conde (1960), Rolim (1985), Mariano (2008) e Araújo (2010). Esses autores apresentam importantes reflexões sobre pentecostalismo e do segmento da Assembleia de Deus no Brasil, levando em consideração sua história, influência e dinâmicas sociais. Para embasar esse processo, serão utilizados dados estatísticos provenientes das amostras contínuas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), juntamente com os Censos de 2010 e 2022. Fundamentação Teórica O espaço geográfico enquanto morada do Homem (CORRÊA, 2000, p. 44) perpassa pelo absoluto e o relativo, nunca se apresentando pleno e acabado. Entretanto, nutre ainda uma profunda relação de dependência entre fatores internos e externos, moldando nossa percepção e influenciando construções tanto concretas como simbólicas. A produção do espaço nos permite avaliar a prática e a expansão de diferentes grupos sociais que produzem – e reproduzem – seus sistemas culturais e visões de mundo. Sendo assim, quando falamos em grupos religiosos também nos referimos a produção e reprodução de espacialidades a partir de estruturas concretas – como a construções de igrejas – e simbólicas – tais como a manifestação e exercício da fé. Essas construções conversam dialeticamente produzindo uma abstração simbólica da vida social e reorganizando o espaço; em consequência, as relações socioculturais se transformam em espelhos dessa organização, refletindo uma nova interação socioespacial. Dessa forma considerando que a religião desencadeia uma série de ações predefinidas que gradualmente se transformam em práticas constantes, é notável que, independentemente do ambiente, essas práticas manifestam-se seja por meio da linguagem falada, de sons ou através de diversas formas estruturais. A geografia, uma disciplina dedicada a analisar o espaço geográfico e a examinar as relações sociais à luz de contextos históricos e culturais, enfrenta o desafio de compreender e explorar também as peculiaridades e os significados religiosos que permeiam determinados espaços e territórios. Souza (2010) sugere que a Geografia da Religião, um subcampo da Geografia Cultural, busca examinar e elucidar a relação entre a religião e a realidade geográfica dos lugares. O autor esclarece ainda que a Geografia da Religião constitui uma expressão institucional do ponto de vista espiritual, refletindo as escolhas culturais de vida dos seres humanos. A religião, como parte das discussões geográficas, é especialmente relevante devido aos esforços dos geógrafos em compreender e explicar as motivações que levam indivíduos a perceber e conferir significado a determinadas porções do espaço geográfico como sendo sagradas (SOUZA, 2010, p. 70). Assim, citamos Rosendahl (2012, p. 55) a qual propõe que a religião se organiza como uma instituição poderosa por meio de estratégias geográficas de controle sobre pessoas e objetos, muitas vezes estendendo esse controle para abranger territórios, completando que a territorialidade, por sua vez, representa o conjunto de práticas adotadas por instituições ou grupos para exercer controle sobre um determinado território. Raffestin (1993, p.119) ressalta que os fenômenos religiosos não estão isentos das complexidades das relações e do poder, chamando atenção para a geografia das religiões, que, embora forneça pontos de referência valiosos, muitas vezes negligencia as relações de poder ao focar excessivamente nas expressões espaciais da religião. O autor argumenta que, segundo os geógrafos, o fenômeno religioso muitas vezes não é associado às relações de poder, e essa associação é raramente abordada nas obras e estudos relacionados ao tema. Gil Filho (2008, p. 21) nos traz que a geografia da religião é também uma geografia do poder sendo evidenciada na sua espacialidade. Considerando essa perspectiva, o conceito de território nos proporciona reflexões cruciais quando analisamos a expansão das igrejas Assembleias de Deus, já que sua inserção no espaço implica a utilização de estratégias territoriais que envolvem redes de comunicação sólidas. Araújo (2020) aponta que a disposição geográfica das redes de igrejas pentecostais apresenta uma notável heterogeneidade, sendo influenciada por diversas estratégias, no entanto, todas elas compartilham um objetivo central: superar as barreiras espaciais que limitam a expansão estrutural de seu poder, complementando que o arranjo e a posição estratégica das igrejas pentecostais no território são fatores condicionantes para a expansão dessas redes (2020, p. 40). Haesbaert (2007) traz importantes contribuições ao refletir sobre a dinâmica dos territórios na era da globalização, propondo o conceito de "território-rede", no qual discute a dinâmica contemporânea das relações espaciais e territoriais, desafiando as noções tradicionais de território como uma entidade estática e delimitada. Os territórios-rede das igrejas pentecostais não apenas refletem sua extensa capilaridade no território, mas também revelam uma estrutura organizacional que transcende o âmbito das atividades religiosas, adentrando nos campos do empreendedorismo e da política partidária (Araújo, 2020, p. 51). Essas concepções entram em consonância quando retomamos Raffestin, o qual destaca que o comportamento organizacional da igreja busca expansão, controle e gerenciamento: codifica seu ambiente, influencia as relações locais e molda as condições de vida de seus seguidores, tornando-se uma entidade influente que se relaciona ativamente com o espaço (1993, p.124). Rolim (1985) ressaltou a existência de dois níveis o "poder local e supralocal", que se entrelaçam de maneira complementar, sendo eles a inclusão e a exclusão, que se manifestam de forma clara na administração local legitimada e direcionada pelo poder que está acima dela. O autor propõe a seguinte analise: o centro desse poder local geralmente está ancorado em uma igreja principal, também conhecida como templo sede, essa igreja principal supervisiona outras igrejas menores, frequentemente chamadas de congregações. Apesar de não possuírem limites geográficos definidos, essas igrejas menores operam sob a direção e controle do pastor da igreja-sede. E embora subordinado a uma instância superior, esse poder local não é absoluto, ou seja, não é independente, mas também não é totalmente autônomo, pois é auxiliado por um grupo de pastores e presbíteros selecionados, nomeados pelo próprio pastor local. Um outro aspecto observado por Rolim é a conexão entre o templo-sede e as igrejas menores. Os fiéis do templo-sede e das igrejas subordinadas promovem uma troca de informações, onde, nos domingos, representantes dos templos subordinados participam das celebrações públicas e compartilham informações sobre o andamento de suas respectivas igrejas e as conquistas alcançadas. Dessa maneira, os membros de uma igreja de menor porte não experimentam um senso de isolamento em relação às igrejas maiores. Com o passar do tempo, essa dinâmica resulta na construção de uma rede interconectada de relacionamentos sólidos e solidários entre todos os fiéis. Agradecimentos Agradeço à FACEPE (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) pelo financiamento que viabiliza os avanços desta pesquisa, contribuindo para o progresso científico em nosso estado. Referências ABUMANSSUR, E. S. O Espetáculo da Fé: Mídia, Religião e Comunicação no Pentecostalismo Brasileiro. São Paulo: Edições Loyola, 2009. ALMEIDA, R. de. Evangélicos e Poder Político: Uma Abordagem Sociológica. São Paulo: Editora Unesp, 2006. ARAÚJO, B. G. Tipologia geográfica das Formações Pentecostais no Brasil. Revista de Geopolítica, v. 11, n. 2, p. 40–55, 2020. ______. A dinâmica territorial da Assembleia de Deus no Seridó do Rio Grande do Norte. 2010. 298 f. Dissertação (Mestrado em Dinâmica e Reestruturação do Território) Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010. CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano, 1995. ______, R. L.; CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C. Geografia: conceitos e temas. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 352p. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. GIL FILHO, S. F. Espaço sagrado: estudos em geografia da religião. Curitiba: IBPEX, 2008. 163p. HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. JUNQUEIRA, S. R. A. Caminhos da Fé: Identidade e Pertencimento nas Igrejas Evangélicas. São Paulo: Editora Reflexão, 2004. MARIANO, R. 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Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

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SILVA, Ester Claudino Gomes da. TERRITÓRIOS E REDES DA FÉ:UM ESTUDO DAS ASSEMBLEIAS DEUS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/860904-TERRITORIOS-E-REDES-DA-FE-UM-ESTUDO-DAS-ASSEMBLEIAS-DEUS-NA-REGIAO-METROPOLITANA-DO-RECIFE. Acesso em: 10/07/2025

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