CIRCUITOS DA FÉ: AS ROTAS DE PEREGRINAÇÕES CATÓLICAS NO SUL DE MINAS

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
CIRCUITOS DA FÉ: AS ROTAS DE PEREGRINAÇÕES CATÓLICAS NO SUL DE MINAS
Autores
  • Thaynara Correa Costa
  • Flamarion Dutra Alves
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Religião e religiosidades
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/859029-circuitos-da-fe--as-rotas-de-peregrinacoes-catolicas-no-sul-de-minas
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Circuitos da fé, peregrinação, geografia da religião, geografia cultural
Resumo
INTRODUÇÃO A construção do que é a fé e o modo como ela se materializa no cotidiano através das ações humanas variam de acordo com a cultura, o local, a sua forma de expressão pelos territórios e no tempo no qual ela é realizada. Como no caso do cristianismo que teve sua difusão iniciada no Império Romano através das suas rotas de comércio e depois no século XV com as grandes navegações europeias onde foi usada como instrumento de controle das populações originárias e da população negra escravizada (a partir dessa expansão o cristianismo passa a ser classificado como religião universalizante, ou seja, uma religião que rompeu o limite da sua região de origem) (ROSENDAHL, 1995). O encontro religioso que surgiu entre os povos gerou ao longo dos séculos uma mescla entre os costumes que levou a processos de adaptação ou de integrações de religiões, por isso hoje em dia conseguimos identificar traços de uma religião em outra, mesmo que as matrizes sejam diferentes, o que chamamos de sincretismo religioso (Ferretti, 2001). As religiões em suas múltiplas formas e ritos podem e alteram as relações sociais de um território, ainda mais quando este território é marcado pela diversidade religiosa como ocorre no Brasil, sendo oficialmente definido como um estado laico em 1881. O período colonial no Brasil criou uma rede de templos religiosos do catolicismo numa difusão espacial, desenvolvendo o catolicismo ao longo dos séculos (Rosendahl e Corrêa, 2006). Mesmo com a “liberdade” de escolha religiosa defendida, o país ainda mantém o catolicismo como a religião com maior número de seguidores. Das inúmeras formas de expressões religiosas surgiu a peregrinação que data de diferentes religiões e de diferentes períodos. No cristianismo registros mostram que surgiu no séc. V, no islã foi iniciada no século VII e no budismo no séc. VI (ROSENDAHL, 1995). Os circuitos religiosos carregam a tradição ao mesmo tempo que novos signos são gerados na modernidade, como fator ativo na constituição e formação do espaço geográfico, e sobretudo como um espaço sagrado (Pereira e Gil Filho, 2012). O sul de Minas Gerais foi o espaço escolhido para este estudo por apresentar uma concentração de católico muito grande comparada às outras áreas do território mineiro, principalmente em cidades pequenas e em zonas rurais (IBGE, 2010). Esse dado estatístico nos leva a conjecturar a hipótese de que, possivelmente, há uma predominância dos circuitos da fé relacionados à religião católica, tendo em vista a alta porcentagem dos adeptos a essa religião e além disso, devido à proximidade com o Santuário de Aparecida (SP) que centraliza essas interações com o Sul de Minas. Partindo da hipótese citada acima são gerados vários questionamentos que fomentam a temática da discussão: quais circuitos da fé existem no Sul de Minas e sua abrangência nos territórios-rede? Qual a motivação das pessoas em realizar esses circuitos? Quais são os novos signos incorporados a essa tradição na atualidade? Como resultado da pesquisa que este artigo tem como objetivo entender o funcionamento desses circuitos religiosos no sul de Minas Gerais, pensando em como esse fenômeno religioso se relaciona com os fenômenos culturais e políticos de um território, e por fim, compreender os significados que os romeiros empregam ao lugar sagrado. Esta pesquisa tem como objetivo principal entender a abrangência e funcionamento dos circuitos da fé – peregrinação no Sul de Minas, identificando os tipos e estruturas dos circuitos e mobilidade dos participantes das peregrinações, as motivações e o perfil dos participantes e por fim, espacializar os circuitos da fé existentes no sul de Minas. METODOLOGIA Como metodologia para a coleta de dados foi utilizado: pesquisa qualitativa a fim de, analisar os fenômenos das peregrinações religiosas no sul de Minas Gerais, como também identificar as motivações dos sujeitos que compõem esse movimento, para isso, foi utilizado uma entrevista semi-estruturada a fim de caracterizar os sujeitos por trás das peregrinações. Análise documental de aspectos mais amplos na busca de teses e dissertações que englobam os circuitos religiosos (origem e propagação cultural), o viés turístico, sagrado e esportivo no século XXI desses circuitos e os impactos econômicos nas redes de locomoção Revisão bibliográfica das produções centradas na geografia da religião, com ênfase nos estudos desenvolvidos por Zeny Rosendahl, grande pioneira na temática da religião e cultura no Brasil, nos seguintes temas: difusão e área da abrangência da fé; território e territorialidade religiosa; espaço e lugar sagrado: percepção e simbolismo, entre outros. Seguindo esta mesma linha de pesquisa documental foi analisado o periódico "Espaço e Cultura", produzidos pela NEPEC (Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Espaço e Cultura) e a Coleção Geografia Cultural publicada pela EduERJ, organizada pelos professores fundadores do NEPEC. Por fim, a produção de um mapa de Kernel usando o Qgis, versão 3.28.11 para estabelecer curvas estatísticas de estimação de densidade a partir do número de participantes por município do sul de Minas Gerais, mapa das rotas e pontos de descanso, a fim de entender melhor as relações que são geradas pelo circuito (Quadro 1). REFERENCIAL TEÓRICO Este trabalho visa desenvolver uma pesquisa dentro da Geografia Cultural a fim de entender como se dá o processo de peregrinações religiosas no sul de Minas Gerais, para tal, o subcampo escolhido para nortear a pesquisa é a Geografia da Religião e suas dimensões espaciais. Nos estudos realizados neste sub-campo, será utilizado como referencial teórico as produções de Zeny Rosendahl, Roberto Lobato Corrêa, Carlos Alberto Steil e Sandra de Sá Carneiro, entre outros. Rosendahl e Corrêa (2010), trabalham o termo cultura, a partir de outros autores, sendo por fim, caracterizado com um conceito polissêmico com inúmeras definições que se adapta às correntes de pesquisa de cada autor. A partir da ideia básica do que é a cultura é possível classificá-la dentro de um processo específico, definindo suas características próprias e reconhecendo essas características como algo passível de transformações sejam elas naturais ou não. O território e territorialidade ganham outra interpretação quando trabalhados com a geografia da religião, pois é a partir do contexto geográfico que basear-se-á a maior parte dos trabalhos com essa vertente. O cristianismo manteve o uso uso dos territórios em diferentes regiões e de diversas formas ao longo do século, se consolidando como uma instituição religiosa, mas também econômica e política, que ainda nos dias atuais faz uso desse poder político, mesmo que a tendência desse poder seja diminuir com o passar dos anos, como vem acontecendo desde o Império Romano. Já o uso do território se faz presente de duas formas: o primeiro são os templos religiosos e os lugares sagrados e o segundo é a sua estrutura administrativa. ROSENDAHL (1995), também defende que o uso do território pela religião é mutável, que pode existir em um tempo e em outro não, que esse status de existência/permanecia pode estar ligado ao tipo de comportamentos quando existe mais de uma religião no mesmo território (por coexistência pacífica, por instabilidade e competição e por intolerância e exclusão). O espaço sagrado um conceito que tem sido trabalhado por Rosendahl (2003, 2014), sendo um espaço constituído por símbolos e valores, que carrega um signo de sagrado, sendo a ele conferido uma tipologia de fixo, não fixo/ móvel ou imaginalis, vale destacar que aqui nos interessa a tipologia fixo, já que este é comumente utilizado para referir-se a santuários, basílicas e a igrejas, e que a “concepção de lugar sagrado reside no mundo imaginalis”, ou seja, o valor de sagrado e luminoso que um lugar sagrado recebe e o diferencia do lugar comum/ ordinário. Outro conceito extremamente importante é “forma simbólica espacial”, para se referir a lugares ou construções que carregam uma mensagem, podendo ser política, de identidades, entre outros. Quando física essa forma simbólica espacial pode sofrer influências de agentes temporais, perdendo ou ganhando relevância, mas sempre carregando marcas da tradição do passado, “ [...] é pela existência de uma cultura que se cria um território, e é pelo território que se fortalece e se exprime a relação simbólica existente entre cultura e o espaço” (Bonnemaison, 1981, p.251 apud Rosendahl, 2003, p. 189). Dentro deste espaço sagrado e profano a autora destaca que existe a dimensão econômica, política e a do lugar, as quais em conjunto constroem o lugar sagrado em diferentes níveis de influências. Neste cenário religioso é notável que os fiéis estão adaptando às transformações e influências de seu tempo, e com isso surge uma nova modalidade que junta as peregrinações e o turismo, a tradição e a modernidade, como trabalha CARNEIRO E STEIL (2008), que buscam analisar essa relação entre turismo e religião, ao mesmo tempo que analisa as redes de locomoção utilizadas durante esses percursos, que baseiam-se no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Por fim, LABRONIC (2019) elaborou um estudo que engloba o turismo, o esporte e a peregrinação religiosa em um trabalho intitulado “Na estrada de setas amarelas: esporte e turismo na peregrinação do Caminho de Santiago de Compostela”, o qual o autor trabalha a tríplice citada a cima, afim de elucidar algumas das motivações que movem os romeiros, o qual conseguimos ligar com o campo de estudo deste trabalho, que une os aspectos esportivos do ciclismo e da caminhada, o turismo interestadual e peregrinação religiosa (o sagrado). CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo busca entender as relações que existem e se modificam dentro de uma peregrinação religiosa, avaliando as multiplicidades que compõem a motivação de cada indivíduo e As percepções do sagrado que são formadas ao longo deste trajeto, a partir de um viés que leva em conta fatores culturais, socioeconômicos, turísticos e esportivos. AGRADECIMENTOS FAPEMIG REFERÊNCIAS FERRETTI, S. F. Notas sobre o sincretismo religioso no Brasil - modelos, limitações e possibilidades. Revista Tempo, v. 6, n. 11, p. 13-26, 2001. https://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg11-2.pdf PEREIRA, C.J.; GIL FILHO, S.F. Geografia da Religião e Espaço Sagrado: Diferenças entre as noções de lócus material e conformação simbólica. Ateliê Geográfico. v.6, n,1, p.35-50, 2012. https://doi.org/10.5216/ag.v6i1.18760 ROSENDAHL, Z; CORRÊA, R.L. Difusión y territorios diocesanos en Brasil, 1551-1930. Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. v.10, 2006. https://revistes.ub.edu/index.php/ScriptaNova/article/view/1272 ROSENDAHL, Z., Geografia e Religião: Uma proposta. Espaço E Cultura, (1), 45–74. https://doi.org/10.12957/espacoecultura.1995.3481
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

COSTA, Thaynara Correa; ALVES, Flamarion Dutra. CIRCUITOS DA FÉ: AS ROTAS DE PEREGRINAÇÕES CATÓLICAS NO SUL DE MINAS.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/859029-CIRCUITOS-DA-FE--AS-ROTAS-DE-PEREGRINACOES-CATOLICAS-NO-SUL-DE-MINAS. Acesso em: 02/09/2025

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