O ARTESANATO “GENTE DE FIBRA” DE MARIA DA FÉ-MG: SABER-FAZER NA RECICLAGEM DO PAPELÃO E A FIBRA DE BANANEIRA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
O ARTESANATO “GENTE DE FIBRA” DE MARIA DA FÉ-MG: SABER-FAZER NA RECICLAGEM DO PAPELÃO E A FIBRA DE BANANEIRA
Autores
  • Elisa Holanda Neri
  • Marcel Azevedo Batista D'Alexandria
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Saberes e sabores
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/858252-o-artesanato-gente-de-fibra-de-maria-da-fe-mg--saber-fazer-na-reciclagem-do-papelao-e-a-fibra-de-bananeira
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Artesanato, Maria da Fé, Saber-fazer, Indicação Geográfica, Fibra
Resumo
Esse trabalho tem por finalidade apresentar e evidenciar o artesanato biosustentável Gente de Fibra da Cooperativa Mariense onde são produzidas peças originais, decorativas e utilitárias a partir da fibra da bananeira. Técnica desenvolvida desde 1998 por Domingos Tótora, e repassada aos artesãos após crise na agricultura dos batateiros em Maria da Fé. A oficina Gente de Fibra surgiu com a finalidade de promover atividade cultural que une reciclagem de papel e fibras à preservação do patrimônio ecológico. Para a oficina, preservar significa reaproveitar, reutilizar e evitar a destruição, num ato de solidariedade com o meio ambiente e a comunidade. A proposta é abordar a reciclagem de forma criativa, criando alternativas sustentáveis para a realidade atual. As peças são feitas com massa maleável através do processamento do papelão coletado no município e também da utilização do pseudocaule das bananeiras que é recolhida na hora da colheita dos cachos. Um artesanato que busca minimizar o impacto ambiental, promovendo ao mesmo tempo a sustentabilidade e a responsabilidade social, colaborando com a preservação da memória cultural local. (Entrevista I, 2024) Através dos desenhos e pintura das peças, os artesãos muitas vezes reproduzem as tradições culturais da cidade. Sendo um destaque potencial para obtenção de um registro de Indicação Geográfica, sobretudo, no que tange a Denominação de Origem, pois, busca-se assim a preservação dos saberes-fazeres geracionais destes artesãos, bem como, ratificam esse saber que são essenciais para a obtenção das peças em Maria da Fé-MG. Para tal, este presente trabalho tem como objetivo apresentar as singularidades do saber-fazer da produção artesanal em Maria da Fé-MG, discorrendo a partir das suas características que as tornam únicas e passíveis para obtenção de um registro de Indicação Geográfica, a qual se classifica em Indicação de Procedência e Denominação de Origem. Define-se como Indicação de Procedência (IP) o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço (BRASIL, 1996). As Denominações Origem são compreendidas como o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos (BRASIL, 1996). É imperioso destacar que este trabalho pautou-se em uma revisão bibliográfica, bem como utilizou-se de trabalho de campo para confrontar as pesquisas realizadas, bem como usou-se de entrevistas semiestruturadas, por pautas, para conhecer a dinâmica da produção artesanal no município. Ao todo a entrevista realizada contou com falas livremente de 8 artesões e serão descritas ao longo do texto. Aponta-se que este trabalho representa resultados em andamentos de uma Iniciação Científica que adentra aos estudos das Indicações Geográficas e teve apoio da FAPEMIG para sua realização. O município de Maria da Fé-MG, município localizado ao Sul do estado de Minas Gerais, Brasil, situada em plena serra da Mantiqueira, a uma altitude elevada, tem sua notoriedade advinda do seu clima frio, especialmente no inverno, quando acontecem geadas e ocasionalmente, neve, um fenômeno raro no Brasil. De acordo com o IBGE (2022), o município de Maria da Fé está a uma altitude de aproximadamente 1.250m e possui 14.247 habitantes. O frio, elemento presente no cotidiano dos moradores, é fato marcante para o município que, conforme a Câmara Municipal de Maria da Fé (2024), é conhecido como a cidade mais fria do Estado de Minas Gerais. No inverno as temperaturas mínimas podem chegar abaixo de 0°C. Destaca-se que Maria da Fé possui uma população de 14.247 conforme o censo vigente no país. Ressalta-se que a vegetação predominante em Maria da Fé é a Mata Atlântica, embora áreas de campos e pastagens sejam comuns. A biodiversidade é rica, com várias espécies de plantas e animais nativos da serra da Mantiqueira. O turismo é uma parte importante da economia local, com visitantes atraídos pelo clima frio, pelas belas paisagens montanhosas e pela tranquilidade do campo. O que torna a cidade Maria da Fé um destino atrativo para turistas que buscam experiências únicas. A cidade oferece uma variedade de atrações, incluindo trilhas na natureza, cachoeiras e festivais locais. Um grande potencial turístico hoje é o forte cultivo das oliveiras na cidade, a produção de azeite é um fator econômico favorecido pela baixa temperatura. A primeira extração de azeite no Brasil foi em Maria da Fé. A cidade tem uma rica tradição cultural, com eventos e festivais que celebram a herança mineira, com festas religiosas ao longo do ano, como a Festa de Nossa Senhora de Lourdes padroeira da cidade, e celebrações tradicionais, entre eles, estão festas religiosas e festas típicas, como a Festa de São Sebastião e a Festa de Santo Antônio. A cultura local também é influenciada pelo artesanato, que muitas vezes reflete a identidade e a história da região, incluindo produtos feitos com lã e fibras naturais. As tradições artesanais são passadas de geração em geração, contribuindo para a preservação do patrimônio cultural local. Os artesãos da região possuem referência, são premiados internacionalmente, e, frequentemente, utilizam materiais naturais e métodos sustentáveis para criar seus produtos, refletindo uma preocupação com a sustentabilidade e o meio ambiente. (PREFEITURA MUNICIPAL DE MARIA DA FÉ, 2024) O nome do município de Maria da Fé surgiu com a chegada de João Carneiro Santiago e José Correia de Carvalho, que obtiveram uma sesmaria nas terras chamadas Campos, próximas ao município de Cristina. No século XIX, essas terras foram divididas entre os dois, que iniciaram atividades agrícolas com seus escravos e familiares. Com a morte dos proprietários originais, as fazendas foram repartidas entre herdeiros, e a região atraiu novos moradores, promovendo o progresso local. A cidade começou a se formar nas terras de João Ribeiro de Paiva, que, junto com Honório Costa, instalou a primeira casa comercial. À medida que mais casas foram construídas, o povoado cresceu. Em 1859, o local foi elevado à categoria de distrito com o nome de Campos de Maria da Fé, em homenagem a uma figura local ou a um aspecto religioso, e passou a pertencer ao município de Cristina (IBGE, 2024). No panorama de prosperidades, as lavouras de batata despontavam como principais responsáveis pelo crescimento socioeconômico do município. Grande parte dos moradores da região estava envolvida no processo da bataticultura, a qual contemplava as etapas de plantio, colheita, armazenamento e distribuição do produto. A produção atingiu seu respectivo apogeu nas décadas de 70 e 80, época em que Maria da Fé se tornou a maior produtora de batatas no território nacional, com o volume anual de 46 mil toneladas da distribuição do produto. (IBGE, 2024). Conforme Entrevista I (2024), Maria da Fé era conhecida como a terra da batata, com uma agricultura fortemente voltada para essa cultura. No entanto, uma crise na produção de batatas levou muitos agricultores à falência. Durante esse período, o artista Domingo Tótora, que já trabalhava com artesanato infantil em papel machê e dava aulas de desenho e pintura, teve a ideia de buscar alternativas para ajudar a cidade. Ele pesquisou diversas possibilidades e descobriu que a fibra da bananeira se encaixava bem no trabalho com papel machê. Nota-se, por meio da Entrevista I (2024), assim, há 26 anos Gente de Fibra - Cooperativa Mariense de Artesanato desenvolve peças decorativas e utilitárias, com design moderno e uso consciente e sustentável de materiais. O tronco da bananeira, descartado da colheita na região, é cozido e lavável, resultando na fibra da bananeira. Caixas de papelão, descartadas pelo comércio e indústria, são recicladas e transformadas em papel kraft. Para colorir as peças, são utilizadas terras vermelha e ocre. O trabalho dedicado, a energia e firmeza de propósito das artesãs transformam a fibra da bananeira e o papel reciclado em obras de arte e em fonte de renda. Conforme a Entrevista I (2024), a organização nasceu em 1999, fruto da ação cooperativa criada e estimulada pelo artista plástico Domingos Tótora, que conferiu conceitos de design ao artesanato. Gente de Fibra, resultando em produtos com atributos próprios e identidade local, fomentando o desenvolvimento sustentável e a inclusão social. Em suma, Maria da Fé reflete a rica cultura tradicional, consolidando sua identidade no contexto de Minas Gerais. É importante salientar que o trabalho desenvolvido em Maria da Fé adentra-se a coletividade, na dimensão do saber-fazer, criado como alternativa para a sobrevivência de grupos que tiveram nas mãos das mulheres do município a busca em tecer caminhos novos de desenvolvimento. Destaca-se que as Indicações Geográficas, conforme D’Alexandria (2020), visam a preservação deste saber-fazer e são notadamente conhecidas em todo o mundo. A produção realizada em Maria da Fé é fruto de uma singularidade única, a qual se remete a possibilidade de torna-se uma Denominação de Origem. É neste saber-fazer que as artesãs de Maria da Fé vivam a suas singularidades. Assemelham-se a outras Indicações Geográficas de artesanato, como a Indicação de Procedência Divina Pastora, porém não somente a notoriedade desta produção é marca latente, mas, também, essa arte única em tecer os fios das bananeiras e os produtos reciclados, algo único em todo o mundo. Para tal, é impossível desconectar as relações destas produtoras com a identidade de Maria da Fé, essa identidade é, também, a produção artesanal realizada pelas mulheres na Gente de Fibra e essa dimensão do saber-fazer não pode ser perdido. Por fim remete-se a Holzer (1997), no qual descreve que a identidade de um lugar é definida pelo seu espírito, sendo moldada tanto por seus elementos físicos quanto pelas mudanças introduzidas por sucessivas gerações. Esse espírito contribui para o senso de pertencimento e familiaridade. REFERÊNCIAS ARTESÃOS - GENTE DE FIBRA. Cooperativa Mariense. Entrevista I. [mai. 2024]. Entrevistadora: Elisa H. N. Jorge. Minas Gerais, 2024. 1 arquivo .mp3 (23 min.). ARTESÃOS DE MARIA DA FÉ DESCOBREM NA FIBRA DA BANANEIRA FONTE DE RENDA E DE ARTE. Rede Globo, c. 2024 Disponível em: https://redeglobo.globo.com/globominas/terrademinas/noticia/artesaos-de-maria-da-fe-descobrem-na-fibra-da-bananeira-fonte-de-renda-e-de-arte.ghtml. Acesso em: 25 jan. 2024. BRASIL. INPI. Lei nº. 9.279/1996, de 14 de maio de 1996. Regula direito e obrigações relativos a propriedade industrial. Brasil, INPI, 1996. COOPERATIVA MARIENSE DE ARTESANATO. Gente de Fibra. Maria da Fé, 2013. Disponível em: https://gentedefibra.com.br/. Acesso em: 20 mai. 2024. D’ALEXANDRIA, Marcel. As Indicações Geográficas do mundo para o Brasil: a construção do conceito brasileiro. Revista de Geografia e Ordenamento do Território (GOT), nº 20 (Dezembro). HOLZER, Werther. Uma discussão fenomenológica sobre os conceitos de paisagem e lugar, território e meio ambiente. In: Território. Rio de Janeiro: Garamond - LAGET/UFRJ, 1997, n. 03, p. 77-85. IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA . Maria da Fé. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/maria-da-fe/historico. Acesso em: 26 mai. 2024. PREFEITURA MUNICIPAL DE MARIA DA FÉ. Departamento de Cultura e Turismo. Minas Gerais, 2024. Disponível em: https://www.mariadafe.mg.gov.br/. Acesso em: 20 mai. 2024.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

NERI, Elisa Holanda; D'ALEXANDRIA, Marcel Azevedo Batista. O ARTESANATO “GENTE DE FIBRA” DE MARIA DA FÉ-MG: SABER-FAZER NA RECICLAGEM DO PAPELÃO E A FIBRA DE BANANEIRA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/858252-O-ARTESANATO-GENTE-DE-FIBRA-DE-MARIA-DA-FE-MG--SABER-FAZER-NA-RECICLAGEM-DO-PAPELAO-E-A-FIBRA-DE-BANANEIRA. Acesso em: 29/06/2025

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