ESCOLA DO CAMPO E IDENTIDADE TERRITORIAL EM ACAMPAMENTOS EM CAMPO DO MEIO/MG

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
ESCOLA DO CAMPO E IDENTIDADE TERRITORIAL EM ACAMPAMENTOS EM CAMPO DO MEIO/MG
Autores
  • Flavio Honorato da Silva
  • Flamarion Dutra Alves
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Identidades territoriais
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/858174-escola-do-campo-e-identidade-territorial-em-acampamentos-em-campo-do-meiomg
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Identidade camponesa; Educação do Campo;Questão Agrária
Resumo
INTRODUÇÃO O município de Campo do Meio, Sul de Minas Gerais, destaca historicamente na produção cafeeira. No final da década de 1990, quando que se inicia a luta por terra no município, revelou-se, na medida que se foi territorializando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra-MST, um novo elemento socioespacial. A região se evidenciou no paradigma da Questão Agraria- QA pelos conflitos por terra em 1996, quando se iniciou a luta de 50 famílias que reivindicavam sua territorialização na área da antiga fazenda Jatobá. A articulação para a ocupação das terras e a busca por reforma agraria, surgiram com a união dos trabalhadores da antiga usina de açúcar em estado de insolvência, MST e trabalhadores rurais que tradicionalmente migram para a região em busca de trabalho nas fazendas de café. Essa ocupação culminou na formação do primeiro acampamento da região, o Projeto de Assentamento 1º do Sul (Santos,2023). No bojo da reforma agrária, proposta pelo MST, está a configuração de um novo modelo de sociedade, de produção, de cultura e de educação. Fernandes (2005, p.24) diz que “por tudo isso, a questão agrária compreende as dimensões econômica, social, ambiental, cultural e política”. Todas essas dimensões configuram uma nova identidade territorial, a camponesa em assentamentos/acampamentos. O presente trabalho, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais -FAPEMIG, resultado de pesquisa em processo, pretende-se elucidar com a luta por terra também está a resistência de uma identidade territorial, fator que está diretamente vinculado às Escolas do Campo em território camponês e será problematizada no decorrer da pesquisa. Conforme Haesbaert (1998), entendemos a identidade camponesa partido da presunção geral de que toda identidade territorial e socioespacial desenvolvida a partir das relações homem e espaço, ou seja, decantada na relação de apropriação que se dá tanto no tempo/espaço. Neste sentido, a educação aqui é elevada para dimensões essenciais de propagação e manutenção da identidade territoriais dos sujeitos envolvidos, na medida em que a própria modalidade de educação advém do reconhecimento da identidade. METODOLOGIA Para compreender melhor a relação entre identidade territorial e Educação do campo, utiliza-se da metodologia qualitativa, dessa forma, torna-se possível analisar os fatores subjetivos. De princípio, foi feito um levantamento histórico, entendendo ser de suma importância para a compreensão dos fatores que permitem a manutenção da identidade camponesa. Sendo assim, debruçamos sobre livros e artigos científicos com os temas relacionados: questão agrária, territorialidade camponesa e Escola do campo, pois assim foi possível te visão ampla sobre essas problemáticas. Posteriormente, será utilizado metodologia de busca de dados primários baseado na pesquisa militante, entrevistas semiestruturadas e grupos focais. Sabendo que as metodologias de pesquisas não são neutras, pois por meio delas acontecem a relação entre os sujeitos no campo e o pesquisador, e toda ação humana é dotada de intencionalidades, e nesse processo ocorre a produção do conhecimento. Para uma abordagem crítica sobre o tema, foi utilizado materialismo histórico- dialético, uma vez que não se tem a intenção de partir de uma neutralidade do assunto, e sim causar uma reflexão e uma problematização sobre o tema. Dito isso, este método, em sua essência, apresenta-se capaz de gerar núcleos de sentido a partir da noção de contradição, que não opõe indivíduo, sociedade e espaço, mas prevê desvelar suas mediações constitutivas (Alves, 2010). DESENVOLVIMENTO O território rural, locus da educação do campo, é apresentado por Fernandes (2005) no paradigma da QA do país, como territórios em constante disputa que revelam as contradições do modelo capitalista de exploração da terra. Para o autor, torna-se importante levantar a reflexão sobre a disputa pela educação no campo nos territórios materiais e imateriais. No território imaterial permeia as intencionalidades educacionais. Sendo por meio das influências dos territórios imateriais sobre o espaço geográfico que a intencionalidade estabelece a construção de territórios concretos (Fernandes,2005). Nesse sentido, os movimentos socioterritoriais camponeses apresentam a Educação do Campo como meio de produção e reprodução de seus territórios em todas suas dimensões: culturais, sociais, educativas e, sobretudo, emancipatória/humanizadora (Arroyo,2014). Entretanto, como pretendemos desenvolver o trabalho na perspectiva da resistência da identidade territorial camponesa em seu espaço de acampamento/assentamento a partir da Educação do campo, definimos o conceito de identidade territorial na concepção geográfica, sabendo que espaço agrário deve ser pensando para além da esfera econômica, incorporando novas dimensões interpretativas. O conceito identidade é defendido: como identidade constituída a partir das subjetividades individuais e coletivas, associada a grupos sociais ou ao pertencimento territorial (Hall, 1998). Sendo assim, usaremos a definição de identidade camponesa a partir de Caldart (2009). Para a autora, camponês são sujeitos que reside em territórios, com relações sociais que se manifestam no uso do espaço e, que, quando apropriado da terra e seus recursos, usam para sua reprodução e permanência como sujeitos históricos. Sua produção atende a suas exigências básicas e essas ações permitem cumprir o ciclo natural da família. Em 1996 o campo viu emergir, por meio do MST, junto a outros movimentos, a proposta de Educação do Campo. Pois, do paradigma agrário brasileiro surgem ações afirmativas, que a partir de movimentos socioterritoriais, questionamento são feitos sobre políticas públicas, entre elas a educação (Arroyo,2014). Sendo assim, a construção da Escola do Campo, se tornou a espinha dorsal do movimento para o desenvolvimento do modelo de reprodução social antagonista ao capital, pois ela é um dos fatores de permanência no território. No estado de conflitualidade, em acampamentos do MST (Fernandes,2005), nasce das experiências de classe e, sobretudo da realidade do trabalho organizado do movimento, a proposta de Escola do Campo. O novo formato de escola eclode no confronto de ideias com hegemonia do capital, com intencionalidade de orientar lutas concretas como reforma agrária e a formação de uma identidade camponesa de produção e vida social (Caldart, 2009). A Escola Popular do Conjunto de Acampamentos Quilombo Campo Grande O Conjunto de Acampamento Quilombo Campo Grande se localiza no município de Campo do Meio, Sul de Minas Gerais, região imediata de Alfenas. Em 1996 o município assistiu ao início da luta por terra para 50 famílias que reivindicavam sua territorialização na área da antiga fazenda Jatobá. A articulação para a ocupação das terras reivindicadas surgiu a partir dos trabalhadores da usina de açúcar em estado de insolvência, Ariadnopolis, e trabalhadores rurais que tradicionalmente migram para a região em busca de trabalho na produção de café. Após decretada a falência da usina, os ex - trabalhadores da empresa findada, junto a membros do MST, organizaram-se e ocuparam cerca de 300 hectares, territorializando 150 famílias (Santos,2023). Hoje o Quilombo Campo Grande conta com 11 acampamentos em processo do direito à terra pela reforma agraria. No ano de 2016 a Escola Popular Eduardo Galeano se tornou uma conquista concreta dos acampados. A escola localizava-se no território reivindicado pelo movimento que é centro de batalhas judicial, que se arrastam a mais de duas décadas (Santo,2023). Santos (2022) em sua pesquisa sobre Escola Popular Eduardo Galeano verifica que sua configuração e pretensão de ser instituição de Escola do Campo, constitui-se na contradição, pois seus currículos ainda eram comtemplados pelas metodologias e conteúdo de escolas urbanas. Porém, mesmo com a rigidez dos currículos tradicionais, a escola foi capaz de propagar, não em sua totalidade, as racionalidades da metodologia da Escola do Campo. O ano de 2020 foi marcado por uma das ações mais perversas do Estado para a reivindicação do território ocupado pelo conjunto de acampamentos Quilombo Campo Grande. A ação tinha como objetivo a reintegração de posse de parte das áreas dos acampamentos, e dessa vez a área onde se localizava a Escola Popular Eduardo Galeano também foi mapeada para a reintegração (Santos,2022). Esse episódio se torna simbólico na luta pela terra, pois através dele podemos observar não só a situação de conflitude na qual a escola foi destruída, mas ele reflete as disputas pela hegemonia do território imaterial que permeia a região dominada pelo latifúndio. A destruição da escola ceifou uma das possibilidades de propagação da identidade territorial camponesa do Quilombo Campo Grande. As escolas do campo dentro dos acampamentos/assentamentos do MST são espaços onde se promovem e reproduzem educação, valores e cultura do campesinato, configurando um território imaterial fomentador do seu modo de vida. Neste contexto de fechamento da escola em território camponês, podemos contestar o poder das forças produtivas hegemônicas usando o aparado do Estado para a dominação dos territórios imaterial e material, pois sabem que a escola tinha a função de disseminação de modelos produtivos e de identidades culturais que vão no sentido oposto as suas pretensões de dominação da terra para o acumulo de capital. É evidente que o estado que conflitude que causa a territorialização-desterritorialização-reterritorializaçã (Fernandes,2005), dinâmicas que está marcado na QA do pais, imprimi sua marca na formação da identidade camponesa, sobretudo aos que residem em acampamentos ou assentamentos do MST (Medeiros, 2006). CONSIDERAÇÕES Uma vez que, o trabalho aqui apresentando se encontrasse em produção e é apresentado em formato de resumo, não será capaz de chegar em conclusões finais. Sendo assim, a produção do conhecimento que será feito em campo, com a interação com os sujeitos objeto da pesquisa, mostrará com profundidade as subjetividades da relação educação e território camponês, e toda as ligações que perpassam essas duas dimensões para a formação da identidade camponesa. REFERÊNCIAS ALVES, A. M. O método materialista histórico-dialético: alguns apontamentos sobre a subjetividade. Revista de Psicologia da UNESP 9(1), 2010. Disponível em:<file:///C:/Users/ander/Downloads/103-Texto%20do%20artigo-209-1-10-20220329.pdf> Acesso em: 15 de outubro de 2023. ARROYO, M, G. Outros Sujeitos, Outras Pedagogias. ed. Petrópolis. Vozes,2014. CALDART, R, S. Educação do Campo: Notas para uma análise de percurso. Revista: Trabalho, Educação, Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, n.1, p.35-64, mar/jun,2009. FERNANDES, B. M. Questão Agrária: conflitualidade e desenvolvimento territorial. Editora da Unicamp, 2005c p. 173-224. FERNANDES, B. M. Os campos da pesquisa em educação do campo: espaço e território como categorias essenciais. I Encontro Nacional de Pesquisa em Educação do Campo. Brasília, 2005. HAESBAERT, R. RS: latifúndio e identidade regional. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 2 eds. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. MEDEIROS, R. M. V. Camponeses, cultura e inovações. Buenos Aires: CLACSO; São Paulo: USP, 2006. p. 281-293. SANTOS, L.L.M. Territorialidade Camponesa e Reforma Agrária Popular em Campo do Meio-MG. 2023. 180 p. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Alfenas, Alfenas, 2023. SANTOS, L. L M. et al. Territórios Camponeses e o Fechamento das Escolas do Campo: uma análise sobre a Escola Popular Eduardo Galeano, em Campo do Meio-MG. Geografia (Londrina), v. 31, n. 1, p. 297-317, janeiro. 2022.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SILVA, Flavio Honorato da; ALVES, Flamarion Dutra. ESCOLA DO CAMPO E IDENTIDADE TERRITORIAL EM ACAMPAMENTOS EM CAMPO DO MEIO/MG.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/858174-ESCOLA-DO-CAMPO-E-IDENTIDADE-TERRITORIAL-EM-ACAMPAMENTOS-EM-CAMPO-DO-MEIOMG. Acesso em: 16/07/2025

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