TERRITÓRIOS DO SAGRADO: MANIFESTAÇÕES E CENTRALIDADE DA RELIGIÃO CATÓLICA NO ESPAÇO URBANO DE CAMPANHA – MG

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
TERRITÓRIOS DO SAGRADO: MANIFESTAÇÕES E CENTRALIDADE DA RELIGIÃO CATÓLICA NO ESPAÇO URBANO DE CAMPANHA – MG
Autores
  • Deilson Alves Dias
  • Flamarion Dutra Alves
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Religião e religiosidades
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/848231-territorios-do-sagrado--manifestacoes-e-centralidade-da-religiao-catolica-no-espaco-urbano-de-campanha--mg
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Toponímias, Geossiímbolos, Territorialidades, Identidade Cultural, Religião
Resumo
Percebe-se no Sul/Sudoeste de Minas uma ligação muito forte com a religião católica, basta adentrarmos o espaço urbano ou rural das cidades para notarmos essa relação calcada na paisagem, tendo, principalmente nas cidades pequenas, o centro da cidade corriqueiramente ligado à igreja matriz, rodeada pela praça principal, onde muitas vezes, boa parte da vida cotidiana dos cidadãos acontece. Segundo dados do IBGE de 2010, atualizados em 2012, dentre os 2.438.611 habitantes dessa da mesorregião Sul/Sudoeste de Minas, 1.919.534 são adeptos da religião católica apostólica romana, representando expressivos 78,7% da população local. Esse fenômeno remonta ao período da colonização, constituindo-se como uma herança histórica que influencia os costumes das comunidades, principalmente onde há forte ligação entre a esfera pública e a religiosa, exemplificada na nomeação de ruas, praças e prédios com nomes eclesiásticos. Práticas que concretizam territorialidades da religião e manifestam relações de poder. É antiga a ligação entre igreja católica e países colonizadores europeus. A instituição se fixou como instrumento de domínio e poder assim que o estado nação nasceu, e lei, religião e costumes se estabeleceram como nacionais (HAESBAERT, 2006). Esse fato é importante para entendermos a disseminação da religião católica pelo ocidente, principalmente no período colonial. Como elucida Haesbaert (2006), a princípio o papa, em nome de deus, divide o mundo entre Portugal e Espanha, criando o meridiano de Tordesilhas sob o manto da cruz e do comércio, se inicia o domínio ibérico “eivado de um espírito de salvação mítico-religiosa patrocinada por sedentos financistas e comerciantes preocupados com motivos menos nobres, como a acumulação de capital” (HAESBAERT, 2006, p.25) Pereira diz que religião e igreja são esferas inseparáveis, através de seu conjunto de doutrinas e bens, detém uma estrutura hierárquica de poder, sendo este “classificado como poder simbólico que interage com outras formas de poder” (2008, p.84). É essa troca de bens simbólicos que impulsiona o exercício do poder religioso, que modifica o espaço e cria territorialidades. Assim podemos compreender a religião sendo um dos aspectos fundamentais da cultura e agente modificador de territórios. Portanto esse trabalho busca analisar os territórios do sagrado, no Município de Campanha - MG, por meio das paisagens simbólicas visíveis e fixas, numa tentativa de evidenciar como se deu a expansão centralidade do sagrado no município. Presente desde a fundação da cidade, o poder da instituição apresentou capacidade de criar e centralizar territórios através das práticas culturais, toponímias e geossímbolos num geral. Entende-se aqui que o sagrado pode ser conferido a um determinado espaço ou território, daí a dicotomia expressa por Raffestin (1993) e Rosendahl (2005) que dividem o espaço em sagrado e profano. Já sua manifestação pode se dar através de um objeto, um símbolo, que aqui trataremos como geossímbolo, entendidos por Bonnemaison como “uma forma de linguagem, um instrumento de comunicação partilhado por todos e, em definitivo, o lugar onde se inscreve o conjunto da visão cultural” (2002, p.124). Território, territorialidade e toponímia são conceitos fundamentais na pesquisa e seus significados implicam poder. Para Raffestin o poder é uma palavra ambígua “uma vez que podemos investi-lo ou privá-lo de uma carga expressiva específica, conforme as circunstâncias.” (1993, p.51), mas se coloca como componente essencial de toda relação, sendo multidimensional e constante, se manifestando em toda relação de troca e comunicação. O autor também indica que o poder é um instrumento e pode ser institucionalizado, tomando como expressão espacial do território, entretanto ele não pode ser possuído, o poder é sempre exercido e está presente em toda produção e relação que se alicerça no espaço e no tempo, sendo assim poder, território e estado estão estritamente articulados. (RAFFESTIN (1993). O território, também é palco de interações culturais, sendo objeto de apego emocional e registro de um passado histórico pertencente a uma memória coletiva, em suma um geossímbolo. Haesbaert (2004) afirma não haver território que não seja instituído, sendo cada território sempre abrigo e proteção de sujeitos, que por meio dele, fazem a si mesmos, materializando tradições e especificidades do lugar. Essa identidade da memória coletiva é entendida como territorialidade pois conforme Raffestin “a territorialidade reflete a multidimensionalidade do vivido territorial pelos membros de uma coletividade, pelas sociedades em geral” (1993, p.158). Assim, a territorialidade pode ser considerada resultado de uma construção de relações sociais formatadas no espaço. Como afirma Saquet (2009) a territorialidade representa o cotidiano do local, são as ações da comunidade com intencionalidade de dominar, induzir, ou afetar indivíduos e relações num determinado território. O autor também ressalta que a territorialidade tende a ser histórica e relacional já que “Há em cada território, tempos históricos e tempos coexistentes (ritmos) presentes, em unidade, a mesma unidade da relação espaço-tempo e da relação idade-matéria" (SAQUET, 2009, p. 86) sendo assim “as territorialidades estão intimamente ligadas a cada lugar: elas dão lhe identidade e são influenciadas pelas condições históricas e geográficas de cada lugar” (SAQUET, 2009, p. 88), portanto “podemos afirmar que a apropriação e construção do território geram identidades e heterogeneidades e que, estas, concomitante, geram territórios" (SAQUET, 2009, p. 88). Assim, analisar o território sagrado significa reconhecê-lo como produto histórico cultural, que está em constante processo de modificação, se manifestando como espaços de poder apropriados por determinado grupo que o modifica e modifica suas práticas, mas se prolonga no território. Desse modo, para alcançar os objetivos da pesquisa optou-se por uma abordagem qualitativa, elaborada através de pesquisa bibliográfica acerca do assunto, resgate do contexto histórico do município e análise de dados demográficos, disponibilizados pelo IBGE a partir do censo demográfico. Por último foi realizado um trabalho de campo, ao longo de 2021 e início de 2022, para a retirada de fotos das Igrejas, capelas, e toponímias, e coleta de dados de localização dos geossímbolos para a produção de mapas representativos dessas territorialidades. As leituras e análises quanto a formação territorial da Campanha, nos mostram o desenvolvimento de uma elite agropecuária fortemente ligada aos princípios da religião católica, não à toa a instalação do colégio SION no município em 1904. Poucos desses foram instalados no país, mas a vontade da elite agropecuária de dar uma educação ultraconservadora para suas filhas, combinou de forma certeira com a vontade das irmãs e da igreja católica de ensinar as moças, que no futuro seriam mães e passariam para seus filhos e filhas os preceitos da religião católica. Também fica claro a manifestação de vontade da elite política da época na vinda da diocese para o município, que após muito tentar, conseguiu o desmembramento da diocese de Pouso Alegre, trazendo uma nova unidade diocesana para Campanha, mais uma vez uma combinação de interesses entre a elite e a igreja. Fica claro ao longo da pesquisa, que nos séculos XVIII, XIX e XX, os assuntos relacionados à igreja eram vistos com desejo pela população, eram também representações da modernidade que se iniciava no Brasil, vindas da transição do rural para o urbano e das influências dos Europeus que chegavam no país. Era motivo de alegria para toda a população quando se erguia na cidade um novo templo, ou eram realizadas festividades relacionadas à religião católica (BALBINO, 2018). Não é à toa que ao longo do desenvolvimento da cidade se criaram comunidades internas devotas de diversos santos, que se territorializaram por meio das festas, dos templos, das toponímias e outros tipos de representações. Essas heranças do passado, culminaram nas representações do poder do sagrado no território urbano campanhense, a forte relação da igreja com a educação se manifesta hoje através das toponímias nas escolas, que têm em seus nomes homenagens a antigos bispos ou santos. A representatividade vai além, estando também marcada em praças, lugares símbolo do convívio social e do dia a dia do cidadão campanhense, e nas ruas, que têm seus nomes também em homenagem a santos e ou ex-integrantes da ordem católica. Entretanto, o que chama mais atenção é a presença e a quantidade de prédios, toponímias e templos relacionados à igreja na parte central da cidade, mostrando a centralidade exercida pelo sagrado no município. Em relação aos imóveis presentes no centro da cidade, eles são uma parcela considerável do centro da cidade e muito provavelmente, são efeitos das negociações entre a elite política da época e a igreja, na vinda da diocese para o município. Hoje em dia, pode-se notar, que essa relação entre a igreja e o poder público é mais branda, não havendo toponímias do sagrado em bairros mais novos, nem concessões de terras recentes para a igreja. A relação atual se configura mais como uma tentativa de o poder público explorar o potencial turístico religioso da cidade. Como é o caso do tombamento e promoção da matriz a patrimônio histórico e cultural municipal, e na inauguração do caminho da fé no Morro do Cruzeiro. Assim, conclui-se que a centralidade das expressões do poder da igreja católica são uma herança histórica, que por intenção ou coincidência estão estrategicamente localizadas na região mais movimentada da cidade, proporcionando a igreja católica extrema visibilidade, fazendo com que a instituição esteja sempre presente no imaginário do campanhense, facilitando a perpetuação da instituição no município. Referências: BALBINO, Antônio Gilberto. A Igreja e a educação feminina no sul de minas (1900-1950): O ultramontanismo e as incursões da modernidade. 2018. Tese (Doutorado em Educação). Universidade São Francisco, Itatiba, 2018 BONNEMAISON, Jöel. Viagem em torno do Território. In: CORRÊA, Roberto L.; ROSENDAHL, Zeni (Org.). Geografia Cultural: um século. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2002. P. 83-131 HAESBAERT R. Dos múltiplos territórios à multiterritorialidade. O mito da desterritorialização. Niterói: UFF; 2004 HAESBAERT, R.; PORTO-GONÇALVES, C. W. A nova des-ordem mundial. São Paulo: Ed. Unesp, 2006. (Coleção Paradidáticos: Série Poder). IBGE de 2010, IBGE – Censos Demográficos do IBGE (1991, 2000 e 2010). Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/demografico-2010/inicial Acesso em: 20/11/2020. PEREIRA, José Carlos. Religião e poder: Os símbolos do poder sagrado. Revista eletrônica de ciências sociais. Ano 2, vol. 3, maio de 2008. Raffestin (1993) RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993 Rosendahl (2005) ROSENDAHL, Z. Território E Territorialidade: Uma Perspectiva. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina, p. 12928–12942, 2005. SAQUET, M. A. Por uma abordagem territorial. In: SAQUET, M. A.; SPOSITO, E. S. (orgs.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular, 2009, p. 73-94.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

DIAS, Deilson Alves; ALVES, Flamarion Dutra. TERRITÓRIOS DO SAGRADO: MANIFESTAÇÕES E CENTRALIDADE DA RELIGIÃO CATÓLICA NO ESPAÇO URBANO DE CAMPANHA – MG.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/848231-TERRITORIOS-DO-SAGRADO--MANIFESTACOES-E-CENTRALIDADE-DA-RELIGIAO-CATOLICA-NO-ESPACO-URBANO-DE-CAMPANHA--MG. Acesso em: 04/07/2025

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