A TRADUÇÃO DAS PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES DAS PAISAGENS ATRAVÉS DA LINGUAGEM

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
A TRADUÇÃO DAS PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES DAS PAISAGENS ATRAVÉS DA LINGUAGEM
Autores
  • Klondy Lucia De Oliveira Agra
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Linguagens, imagens e ritmos
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/836456-a-traducao-das-percepcoes-e-representacoes-das-paisagens-atraves-da-linguagem
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Sentido, Diversidade, Paisagem.
Resumo
A Tradução das Percepções e Representações das Paisagens através da Linguagem INTRODUÇÃO Neste artigo, discute-se a linguagem e as paisagens, dando ênfase em como essa linguagem é utilizada para a descrição das paisagens nas suas diversas compreensões. Por meio de pesquisa bibliográfica, com base nos estudos culturais, verifica-se semelhanças e diferenças nas maneiras pelas quais as paisagens e seus elementos são conceituados e descritos através da linguagem, com o objetivo principal de discutir como as abordagens políticas e de gestão conduzem ou observam essas diferenças e suas principais implicações para a cobertura da terra, classes de uso da terra e suas definições de manejo. Justifica-se este estudo na Geografia porque é essa ciência que se preocupa não somente com as lutas no/ou pelo espaço, natural ou modificado pelo homem, mas também, pelos sentidos, percepções e representações dos seres humanos, se interessando pelas lutas nesse espaço, porque é através dos sentidos culturalmente construídos que se mudam as realidades ambientais, sociais e espaciais. E são esses sentidos, presentes em falas e projetos, traduzidos através da linguagem, que influenciam e mudam cenários e modos de vida, trazendo consequências diversas ao homem/mulher/terra que são o objetivo fim dos estudos geográficos. As categorias de análise geográfica são vistas, neste estudo, como formas de percepções e representações, sendo a paisagem um conceito que se coloca como um amplo espaço de intenções com sentidos e significado. Tais intenções se concretizam por meio dessas percepções e representações em que os sujeitos através da linguagem projetam e descrevem suas experiências no seu mundo vivido. Ao falarmos sobre paisagens, temos de levar em conta a diversidade de visões de mundo e sistemas de conhecimento mantidos sobre a natureza por comunidades distintas. Isso porque culturas diferentes constroem sentidos e significados diferentes sobre uma mesma paisagem. Desse modo, a linguagem, transmitida nessa diversidade, traz percepções e representações diferentes moldadas sob o sentido cultural de cada sujeito, ou seja, sua individual visão de mundo. Essa diversidade de visões de mundo e sistemas de conhecimento mantidos sobre a natureza por comunidades distintas foi destacada por um relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (Pascual et al., 2022). Entende-se, portanto que, uma abordagem para explorar a variação nos sistemas de conhecimento se faz através da linguagem – e, em particular, explorando semelhanças e diferenças nas maneiras pelas quais as paisagens e seus elementos são conceituados e descritos através dessa linguagem. Ademais, leva-se em conta neste estudo, que especialistas e leigos têm representações mentais diferentes, portanto podem apresentar linguagens diferentes sobre uma mesma paisagem, procurou-se, portanto, estabelecer a magnitude da variação entre esses grupos. As diferenças na terminologia relacionada à paisagem, que não têm levado em conta as classificações diversas, afetam as decisões de manejo, com implicações para o uso tradicional da terra. A importância resultante de captar múltiplas conceituações da relação humana com as paisagens para a governança ambiental ganhou força recentemente (Coscieme et al., 2020; Pascual et al., 2022). Apesar disso, as abordagens políticas e de gestão não têm considerado tais diversidades. Por isso, acredita-se no interesse geográfico a este estudo. METODOLOGIA Através de pesquisa bibliográfica, com base nos estudos culturais, discute-se sobre percepções e representações, linguagem, diversidade e paisagem. Verifica-se como a linguagem é responsável pela construção de paisagens, como a linguagem especializada difere da linguagem leiga, como os gestores conduzem as diferenças nas descrições das paisagens e quais consequências a não observação da linguagem diversa pode causar para a governança ambiental. RESULTADOS E DISCUSSÃO A paisagem se encontra relacionada à observação do sujeito que a modela e a remodela. Um movimento que produz cicatrizes traduzidas por representações simbólicas que trazem sentido e significado ao seu lugar. Por isso a relação entre esses elementos “[...] torna também a paisagem apta a significar: ela se apresenta com uma unidade de sentidos, ela fala a quem a olha” (Collot, 1990, p.24). Para esse autor, esses sentidos são produto da visão, da existência e do inconsciente, elementos constituintes do sistema organizador da paisagem. Embora resultados de pesquisa tenham destacado diferenças interlinguísticas em conceitos isolados, como paisagem ou floresta, ainda não está claro se uma exploração mais sistemática de todo um campo semântico também produziria tais incompatibilidades entre línguas. Pode acontecer que os investigadores se tenham concentrado especificamente em termos vagos ou mal definidos, mas estes são, de fato, a minoria quando se considera o vocabulário mais vasto neste domínio. Por exemplo, conceitos superordenados, como paisagem, são, em qualquer caso, mais abstratos e, portanto, potencialmente menos prováveis de serem comparáveis entre línguas (Malt, 1995). Além disso, os estudos que relatam diferenças substantivas entre línguas muitas vezes se concentraram em estudos de caso baseados em introspecção e definições de dicionário (por exemplo, Bromhead, 2017; Mark, 1993), enquanto os estudos quantitativos baseados em corpus estão divididos sobre se os domínios semânticos relacionados ao mundo físico (como paisagem) mostram semelhanças substantivas entre línguas (por exemplo, Thompson, Roberts, & Lupyan, 2020; Youn et al., 2016). Ademais, as abordagens políticas e de gestão parecem frequentemente ter a equivalência conceitual como certa. Por exemplo, a Convenção Europeia da Paisagem (Conselho da Europa, 2000) — que compromete os signatários a proteger, monitorizar e gerir paisagens de todos os tipos — tem duas línguas oficiais, o inglês e o francês, e é depois traduzida para 41 línguas adicionais. Pressupõe ostensivamente uma equivalência direta entre as línguas. No entanto, um exame mais detalhado do termo paisagem e supostos equivalentes de tradução em sete línguas variadas descobriu que o conceito superordenado paisagem pode não ser tão semelhante entre as línguas (Van Putten et al., 2020). Da mesma forma, outras iniciativas de políticas internacionais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ONU, 2022), são baseadas em metas e indicadores. Estudos sobre línguas indígenas têm encontrado diferenças na conceituação que podem ter consequências profundas para as relações homem-ambiente. Essas diferenças frequentemente têm implicações para a cobertura da terra e classes de uso da terra (Comber, Fisher, & Wadsworth, 2005) e suas definições de manejo. Em todos os trabalhos observados se reconhece que a definição de paisagem em si não é necessariamente simples. Isso porque os sentidos humanos vão muito além da visão e são todos significativos. Feld (1996) chamou a atenção para a importância do som na natureza de alguns lugares, e afirmações semelhantes poderiam ser feitas para o odor (por exemplo, o cheiro de tipos de vegetação, água) e sensação na pele (por exemplo, temperatura, vento). Além disso, a dicotomia proximidade/paisagem é em si difícil de operacionalizar, e as pessoas podem ter ideias diferentes sobre se veem a paisagem e as suas características como um pano de fundo distante, ou como um ambiente circundante. Sobre isto, Collot (1990, p. 22) já afirmara que a dependência recíproca entre paisagem percebida e o sujeito tem duplo sentido: “enquanto horizonte, a paisagem se confunde com o campo visual de quem a observa, mas, em troca, toda a consciência sendo consciência de..., o sujeito se confunde com seu horizonte e se define como ser-no-mundo”. Risso (2005) em seu trabalho sobre uma comunidade indígena amazônica conclui que no universo subjetivo estão incluídos os sentimentos em relação às paisagens, ou seja, afetividades, vivências, experiências, valores, a cultura simbólica, as representações, identidades e territorialidades, que, segundo o tipo de experiência com a natureza, ou percepção, reflete diferentes sentimentos e comportamentos em relação a ela. A autora complementa ainda que para cada pessoa ou grupo a paisagem terá um significado, porque, as pessoas atribuem valores e signicados diferentes às suas paisagens, traduzidos em sentimentos de enraizamento ou desapego aos lugares. O estudo e observação desses trabalhos sobre linguagem e paisagem destacam a necessidade de mais estudos empíricos usando os julgamentos dos diferentes povos que dão sentido as suas paisagens e a descrevem através da linguagem para esclarecer o assunto. CONSIDERAÇÕES FINAIS A investigação e o desenvolvimento de políticas relacionadas com a sustentabilidade parecem assumir implicitamente que os conceitos sobre diferentes paisagens são equivalentes, apesar do crescente reconhecimento da importância de observar diferentes sistemas de valores, visões do mundo e sistemas de conhecimento. Contudo, existem amplas evidências provenientes das ciências cognitivas de que a cultura, a língua e a especialização podem influenciar o conceito de paisagens em domínios diversos. Neste estudo, investigamos diferentes autores que analisaram e deram resultados sobre como as paisagens são conceituadas por diferentes grupos de pessoas que diferem nas línguas que falam, nos ambientes em que vivem e na experiência que possuem. Tais autores assinalam pontos notáveis de convergência entre grupos, bem como alguns pontos de divergência. No entanto, todos demonstram que há mais na representação conceitual do que o revelado apenas por classificações. Apesar das estruturas compartilhadas encontradas para a fundamentação sensorial, motora e emocional, há outros aspectos nos quais as representações conceituais podem diferir. Por exemplo, pode haver diferenças na organização geral do domínio e na forma como os termos se relacionam entre si. Permanecem aqui uma série de questões em aberto que talvez novas pesquisas em campo com populações diversas possam responder sobre diferentes paisagens. REFERÊNCIAS BROMHEAD, H. The semantics of standing-water places in English, French, and Pitjantjatjara/Yankunytjatjara. In Y. Zhengdao (Ed.), Semantics of Nouns, Oxford, Oxford Academic, 2017. COLLOT, M. Pontos de vista sobre a percepção das Paisagens. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v.20, n.39, p.22-31, 1990. COSCIEME, L., daSilva Hyldmo, H., Fernández-Llamazares, Á., Palomo, I., Mwampamba, T. H., Selomane, O., Nadia, S., Pedro, J., Yasuo, T., Michelle, L., Barral M. P., Farinaci J. S., Julio, D-J., Sonali, G., Ojino, J., Alassaf, A., Baatuuwie, B. N., Lenke, B. … Zeenatul, B. (2020). Multiple conceptualizations of nature are key to inclusivity and legitimacy in global environmental governance. Environmental Science & Policy, 104, 36–42. COMBER, A., FISHER, P., & WADSWORTH, R. What is land cover? Environment and Planning B: Planning and Design, 32(2), 199–209, 2005. FELD, Steven. A Poetics of Place: Ecological and Aesthetic Co-evolution in a Papua New Guinea Rainforest Community. In: ELLEN, Roy F.; FUKUI, Katsuyoshi, (Ed.). Redefining Nature: Ecology, Culture and Domestication. Oxford: Berg, p. 61-87, 1996. MALT, B. C. Category coherence in cross-cultural perspective. Cognitive Psychology, 29(2), 85–148, 1995. MARK, D. M., FREKSA, C., HIRTLE, S. C., LLOYD, R., & TVERSKY. Cognitive models of geographical space. International Journal of Geographical Information Science, 13(8), 747–774, 1999. PASCUAL, U., BALVANERA, P., CHRISTIE, M., BAPTISTE, B., GONZÁLEZ-JIMÉNEZ, D., ANDERSON, C. B., ATHAYDE, S., BARTON, D. N., CHAPLIN-KRAMER, R., JACOBS, S., KELEMEN, E., KUMAR, R., LAZOS, E., MARTIN, A., MWAMPAMBA, T. H., NAKANGU, B., O'FARRELL, P., RAYMOND, C. M., SUBRAMANIAN, S. M. … TERMANSEN, M. Summary for policymakers of the methodological assessment of the diverse values and valuation of nature of the Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services. IPBES Secretariat. 2022. RISSO, Luciene C. Paisagem, Cultura e Desenvolvimento Sustentável: um estudo da comunidade indígena Apurinã. Rio Claro: UNESP, 2005 (Tese de Doutorado). UN. Sustainable Development Goals. United Nations. Retrieved from https://sdgs.un.org/ 2022.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

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AGRA, Klondy Lucia De Oliveira. A TRADUÇÃO DAS PERCEPÇÕES E REPRESENTAÇÕES DAS PAISAGENS ATRAVÉS DA LINGUAGEM.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/836456-A-TRADUCAO-DAS-PERCEPCOES-E-REPRESENTACOES-DAS-PAISAGENS-ATRAVES-DA-LINGUAGEM. Acesso em: 05/07/2025

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