GEOGRAFIA VERNACULAR YANOMAMI: BEM VIVER E AS VOZES DA FLORESTA

Publicado em - ISBN: 978-65-272-1352-9

Título do Trabalho
GEOGRAFIA VERNACULAR YANOMAMI: BEM VIVER E AS VOZES DA FLORESTA
Autores
  • Éder Rodrigues dos Santos
  • Josué da Costa Silva
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
Identidades territoriais
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/ix_neer/832296-geografia-vernacular-yanomami--bem-viver-e-as-vozes-da-floresta
ISBN
978-65-272-1352-9
Palavras-Chave
Geografia vernacular; Yanomami; Cosmologia; Bem Viver; Biointeração.
Resumo
O trabalho analisa a relação entre cosmologia e conhecimento ambiental, considerando a biointeração dos Yanomami com vegetais, animais, fenômenos da natureza e o Bem Viver. Adota como método o perspectivismo ameríndio e a revisão bibliográfica. O estudo concentra-se no livro a "Queda do céu" (Kopenawa; Albert, 2015) e no livro "O espírito da Floresta" (Albert; Kopenawa, 2023), especialmente, o capítulo intitulado "A floresta Poliglota", no intertítulo "As vozes do Floresta", que nos permite observar de que forma que os caçadores Yanomami escutam, observam e compreendem a floresta ao longo dos seus itinerários de caça e coleta, possivelmente, um dos níveis mais elevados de biointeração dos Yanomami com seu espaço, que é a Uhiri a, ou Terra-Floresta. A multiplicidade de vozes da floresta reflete-se no mimetismo que eles praticam em busca da caça e da coleta, considerando ainda a leitura dos fenômenos da natureza, compondo assim um mosaico biofônico florestal, descrito no texto, onde a compreensão da polifonia da floresta permite a decodificação de signos pelos caçadores. O texto destaca a extrema concentração acústica que reverbera uma correspondência sonora recíproca, os apelos heã (cantos para localizar animais ou frutas) evocados pelos caçadores, que são os seus cantos ancestrais. Albert e Kopenawa (2023) assinalam que, do outro lado do venerado antropocentrismo Ocidental, os Yanomami creem que os animais são os antigos humanos, apenas revestidos de uma pele de animais de caça. É assim que eles se apresentam aos humanos atuais. Estes foram formados depois por 'Omama a', o pai criador. Os humanos, portanto, têm a subjetividade animal de origem. Os humanos com aparência de animais de caça, tem a diferenciação corporal, mas compreendem os ditos humanos como seus semelhantes convertidos em habitantes de casas. A terra indígena Yanomami localiza-se na floresta tropical úmida, revestida por cadeias de montanhas da fronteira entre o Brasil e Venezuela. A reserva foi homologada em 1992 e possui uma área contínua de 9.419.108 hectares, cobrindo cerca de 192.000 km², permeando a fronteira, na região do interflúvio Orinoco – Amazonas. Há 26.780 habitantes no território, de acordo com os números do Instituto Socioambiental (ISA) no ano de 2022. Na vida diária sobre o chão de Omama, a Hutukara, os extra-humanos (Xapiri) e o povo Yanomami cuidam da saúde da Urihi a, a terra-floresta. Na cosmovisão dos Yanomami, os 'Xapiri', seres luminosos e aliados deles, criados por Omama, são os seres extra-humanos que dialogam em um plano híperfísico com os sobre-humanos (os xamãs). Estes (os xamãs) uma vez habilitados por um longo processo de treinamento e renúncias físicas e corporais, são convidados pelo Xapiri para danças cósmicas sobre espelhos localizados entre os céus e a Hutukara. São os Xapiri, portanto, que colocam a vida Yanomami em movimento. É de lá que vem a ciência para a cura dos corpos – ou – do corpo-território e para o conhecimento da floresta. Os Xapiri estão presentes em todos os níveis apresentados, convidam e são convidados para esta dança cósmica. Esta Geografia multinatural diferencia-se conceitualmente da multicultural. A primeira, trata de muitas naturezas humanas. O multiculturalismo pretende dar conta de muitas culturas. Por isso, o universo indígena multinatural deve ser entendido a partir da coexistência de várias naturezas humanas em um único planeta. Os indígenas têm, portanto, uma perspectiva configurada por meio desta vivência cósmica, ancestral e, ao mesmo tempo, temporal dos líderes xamãs com os seres que os cercam e convivem. É temporal porque seu aprofundamento corpóreo-visual se dá em um processo ritual, pelos sonhos xamânicos que podem durar dias. A 'Urihi a' é a carne e a pele da terra formada a partir da primeira queda do antigo céu, a 'Hutukara', que despencou em tempos ancestrais e que tornou-se em território físico para os Yanomami . Já os extra-humanos estão no espaço metafísico, acessado pelos sobre-humanos, os xamãs por meio das cerimônias. Os Xapiri habitam no peito do céu (Hutu mosi), em casas distribuídas e classificadas por espíritos que representam animais e fenômenos da natureza. A compreensão epistêmica do olhar do xamã Yanomami na cultura indígena é o elemento temporal em constante devir ontológico, que tem na cosmopolítica com os seres visíveis e invisíveis, suas elaborações de mundo, do habitar enquanto reflexo da relação com a natureza e de variação de humanidade (s). A ideia de que existe apenas um modelo de humanidade dá lugar ao ser em devir-outro, no qual a humanidade na cosmovisão Yanomami, é integrante da terra-floresta, a Urihi a, percebida na vitalidade e resiliência da floresta e dos seres, pois, estas corporalidades convivem em relação dialógica com o espaço material, fenômeno gerador da perspectiva do Bem Viver. O xamã Yanomami explica a capacidade de percepção e conhecimento da floresta, para além dos aspectos físicos, pois vê a fertilidade dela. Para evitar a fome e a destruição da floresta a intervenção dos Xapiri é central, pois os xamãs, em estado alterado de consciência, os enviam em busca da imagem da fertilidade em florestas distantes, ou até mesmo nas costas do céu. A importância da compreensão ontológica se dá porque para os povos indígenas estudados, até o momento, há um ser-território, presente e consciente no mundo, que vê, sente e respira. Se os xamãs podem vê-lo, não com os olhos materiais, o ser-território também os vê. A perspectiva de sócio-colaboração ou de biointeração é uma característica social dos indígenas, fundamental para sua sobrevivência, que tem a capacidade de entender a floresta. Assim, a espécie humana é apenas mais uma humanidade presente nessas dimensões. Tal perspectiva está presente em toda a obra de Kopenawa, que é profundamente geográfica, assim como nas análises posteriores que tem como base a literatura Yanomami. Para os Yanomami, o subsolo ou a espacialidade do mundo subterrâneo é onde Omama guardou elementos que dão sustentação ao céu. São elementos protegidos por seres. Os Xapiri habitam as montanhas e o peito do céu, são seres que determinam a caminhada dos humanos sobre a terra, trazendo a cura e a saúde da floresta. Por isso, é inconcebível para os xamãs a ideia de destruição de matas e poluição de rios da Urihi a, uma vez que compõem os espaços conectados à manutenção vida do povo Yanomami. REFERÊNCIAS ACOSTA, A. O bem viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo, Editora: Autonomia Literária, 2016. ALBERT, Bruce. O Ouro Canibal e a Queda do Céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza (Yanomami). In: ALBERT, Bruce; RAMOS, Alcida R. Pacificando o Branco: Cosmologias do contato do norte-Amazônico. São Paulo: Editora Unesp, 2002. ALBERT, Bruce; DAVI, Kopenawa. O espírito da floresta: A luta pelo nosso futuro. 1ª edição. São Paulo: Companhia da Letras, 2023 BENITES, Sandra. Corpo-Território 2 - Somos aquele chão que carrega e leva tudo. Cadernos Selvagem, publicação digital, Rio de Janeiro: Dantes Editora Biosfera, 2023a. BENITES, Sandra. Corpo-Território 3 - A memória demarca o nosso corpo. Cadernos Selvagem, publicação digital, Rio de Janeiro: Dantes Editora Biosfera, 2023b. KRENAK, Ailton. O futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022 KOPENAWA; Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã Yanomami. São Paulo – SP: Companhia da Letras, 2015. SILVA, J. C. O rio, a comunidade e o viver. Tese (Doutorado) – Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo-USP. 2000. SILVA, J. C.; RIBEIRO, M. A. Mitos ribeirinhos: múltiplos espaços na Amazônia. Presença Geográfica, v. 7, p. 2, 2020. SILVA, Josué da Costa. O modo de vida das populações tradicionais da Amazônia. Amazônia: alternativas à devastação. RIBEIRO, Wagner Costa; JACOBI, Pedro Roberto --São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, 2021. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais. Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: UBU Editora, N - 1 Edições, 2018. Palavras-Chave: Geografias vernaculares; Yanomami; Cosmologia; Bem Viver; Biointeração.
Título do Evento
IX NEER
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do Colóquio Nacional do NEER: Movimentos e devires, espaço e representações
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTOS, Éder Rodrigues dos; SILVA, Josué da Costa. GEOGRAFIA VERNACULAR YANOMAMI: BEM VIVER E AS VOZES DA FLORESTA.. In: . Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/ix_neer/832296-GEOGRAFIA-VERNACULAR-YANOMAMI--BEM-VIVER-E-AS-VOZES-DA-FLORESTA. Acesso em: 15/12/2025

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