ACHEI UMA AVE USANDO PULSEIRAS! DESCOBRINDO PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS MUITO ALÉM DE UM PROJETO DE CIÊNCIA CIDADÃ

Publicado em 26/09/2022 - ISBN: 978-65-5941-785-8

DOI
10.29327/175207.1-3  
Título do Trabalho
ACHEI UMA AVE USANDO PULSEIRAS! DESCOBRINDO PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS MUITO ALÉM DE UM PROJETO DE CIÊNCIA CIDADÃ
Autores
  • Maria Raquel de Oliveira Ribeiro
  • Sara Maria De Oliveira Ribeiro
  • Eduardo Roberto Alexandrino
Modalidade
II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã - Resumo expandido
Área temática
Desenvolvimento, metodologias e aplicações de projetos de ciência cidadã
Data de Publicação
26/09/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/iwdrbdcc2022/490111-achei-uma-ave-usando-pulseiras-descobrindo-problemas-socioambientais-muito-alem-de-um-projeto-de-ciencia-cidada
ISBN
978-65-5941-785-8
Palavras-Chave
tráfego animais silvestres, comércio ilegal, conscientização ambiental, aves silvestres, ornitologia
Resumo
RESUMO O projeto “Eu vi uma ave usando pulseiras!?” promove o monitoramento de diversas aves anilhadas em diferentes pontos do Brasil contando com a participação pública. Embora o projeto se paute nas aves que foram anilhadas nas localidades onde o mesmo foi implantado, eventualmente cidadãos enviam relatos de aves anilhadas com histórico incerto. Neste estudo, quantificamos e analisamos todos os relatos de aves consideradas ‘não pertencente ao projeto’ recebidos entre 2018 e 2022. Neste período, 33 cidadãos relataram 35 aves com este perfil (9,5% dos 370 relatos já recebidos), pertencentes a 22 espécies (16 nativas, 2 exóticas de vida livre, 4 exóticas consideradas pets). Foram relatadas aves com provável vida livre e aves provavelmente cativas que escaparam de seus recintos. A revisão revelou diferentes razões para a ocorrência destes relatos como: pedido de ajuda em encontrar o “dono” da ave, descobrir o histórico da ave e vontade de participar do projeto. Diálogos com estes cidadãos revelaram que todos desconhecem as razões do anilhamento de aves cativas e silvestres no Brasil. Houveram ainda relatos de aves cativas com provável origem no mercado ilegal, pois usavam anilhas para aves silvestres. CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO/ CONTEXTUALIZAÇÃO O projeto de ciência cidadã “Eu vi uma ave usando pulseiras!?” monitora diversas aves anilhadas (i.e., indivíduos de diferentes espécies) em diferentes localidades sob influência da Mata Atlântica (em áreas antropizadas ou preservadas) com a ajuda do público geral. Diferentes perguntas de pesquisa, inseridos em variados contextos da área de ecologia e ornitologia, que necessitam de dados de indivíduos de aves, são explorados em cada localidade onde o projeto é implementado (Comandulli & Alexandrino, 2021). No entanto, o princípio e o objetivo final são sempre os mesmos: engajar cidadãos a reportarem seus encontros com aves anilhadas, para que adquiram consciência ambiental e científica conforme participam das investigações. Cada ave do projeto recebe: uma anilha metálica fornecida pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio, Sousa & Serafini, 2020) própria para aves silvestres capturadas em vida livre e que possui uma codificação única (letra/numeração sequencial); e até três anilhas de plástico com cores e sequências exclusivas. Graças a estas anilhas coloridas os cidadãos conseguem identificar cada indivíduo à distância e com isso prover registros que somados representam a atividade da ave ao longo do espaço e tempo. A partir de 2018, quando o projeto começou a ser implementado em outros pontos da Mata Atlântica, as redes sociais se tornaram ferramenta para divulgar o projeto e engajar a participação de mais pessoas. O foco sempre foi incentivar a visitação do público aos locais implementados, que são pontos turísticos ou próprios para realização de atividades de lazer e observação de aves. No entanto, ao longo dos anos, relatos de aves anilhadas não pertencentes ao projeto passaram a ser espontaneamente reportados, apesar dos constantes esforços da equipe em divulgar nas redes sociais quais aves anilhadas faziam parte do projeto e os objetivos do mesmo. Neste estudo revisamos sua origem, as espécies relatadas, as caraterísticas das anilhas existentes nas aves e buscamos entender quais foram as razões para os cidadãos relatarem tais aves ao projeto. DESENVOLVIMENTO Revisamos todos os relatos de aves anilhadas enviados por cidadãos às redes sociais e email do projeto (avesusandopulseiras@gmail.com; @aves.usando.pulseiras no Facebook e Instagram), e do seu coordenador. Os relatos foram transcritos para uma base de dados própria (planilha não pública) destacando data, hora e local do encontro com a ave, espécie, e as cores e sequencia das anilhas observadas. Neste estudo, consideramos como ‘ave não pertencente ao projeto’ as aves anilhadas que foram relatadas em localidades onde o projeto não está implementado e qualquer ave com anilhas diferentes ao que o projeto utiliza. Identificamos cada quanto a espécie pertencente (quando possível a identificação), se era exótica ou nativa do Brasil, a qualidade da ave no momento do encontro (i.e., em vida livre, debilitada ou morta, capturada por um animal doméstico), tipo de anilha que possuía (i.e., do IBAMA para criadouros legalizados, da Federação Ornitológica do Brasil para aves exóticas, do CEMAVE para aves silvestres, de centros de triagem e reabilitação de animais silvestres, bandeirolas para aves limícolas, Sousa & Serafini, 2020), e características gerais das anilhas (e.g., material, cores, se havia números, etc). Considerando tais características e dialogando com autor do relato, também classificamos cada ave quanto a probabilidade de ser proveniente de cativeiro ou de vida livre. A conversa com o cidadão também foi usada para identificar as razões pela qual o mesmo reportou a ave ao projeto. RESULTADOS ALCANÇADOS E LIÇÕES APRENDIDAS Entre 14/janeiro/2018 e 22/março/2022, 33 cidadãos relataram 35 ‘aves não pertencente ao projeto’, o que correspondeu a 9,5% de todo os 370 relatos já recebidos no projeto no mesmo período (335 relatos são de aves anilhadas que fazem parte do projeto). Considerando os relatos passíveis de análise, identificamos 25 localidades espalhadas na região da Mata Atlântica brasileira onde houve encontro com estas aves. Observamos que 22 espécies foram relatadas, sendo 16 nativas do Brasil, 2 exóticas, mas com distribuição geográfica no Brasil (e.g., pomba doméstica - Columba livia e pardal - Passer domesticus) e 4 exóticas, mas que são mantidas em cativeiro como pet (e.g., calopsita, periquito-australiano, periquito exótico não identificado e canário exótico não identificado). Aves com provável vida livre compuseram a maior parte dos relatos (n= 21, 63%), mas aves provavelmente cativas que escaparam de seus recintos somaram quase 36% dos relatos (n=12). Na maior parte dos casos (n=17, 51,5 %) as aves foram encontradas livres no ambiente sendo que em 15 casos elas foram apenas observadas à distância. Nestes casos, a intenção dos cidadãos em reportar as aves era saber sua procedência e contribuir com o projeto. Esse resultado indica que estes cidadãos compreenderam que o projeto monitora aves anilhadas, mas ignoraram o protocolo de participação (i.e., o projeto lida apenas com registros de aves anilhadas do local onde está implementado). O projeto obteve oito relatos em que a ave entrou em uma residência, e dois casos de gatos levando a ave anilhada já morta para o cidadão que fez o relato. Apenas dois destes relatos eram aves silvestres com provável vida livre, enquanto que as demais eram aves claramente de cativeiro. Em todos estes relatos os cidadãos queriam saber a procedência das aves, e, principalmente, se a equipe do projeto poderia encontrar seus donos. No caso das aves capturadas pelos gatos, os cidadãos também queriam saber como socorrer as mesmas. Dentre os 12 relatos de aves com provável vida em cativeiro (i.e., aves que permitiam manuseio), identificamos apenas 7 com anilhas que indicavam procedência de criadouros legalizados. Observamos ainda um curió macho (Sporophila angolensis) e um baiano macho (Sporophila nigricollis) com anilhas CEMAVE para aves silvestres. Além destas duas espécies serem muito visadas no mercado ilegal de aves silvestres (Pagano et al., 2009) a presença de anilha CEMAVE nelas evidencia a ilegalidade do anilhamento (Costa & Monteiro, 2016), bem como o desconhecimento dos cidadãos quanto a ocorrência de uma prática criminosa. Em 85% dos relatos obtidos, a equipe do projeto “Eu vi uma ave usando pulseiras!?’ dialogou com os cidadãos sobre a grande dificuldade de descobrir a procedência da ave anilhada reportada devido a carência de sistemas integrados de gestão de informações sobre aves anilhadas no Brasil, seja sobre aves cativas, seja sobre aves de vida livre. Atualmente, as informações sobre aves cativas são geridas apenas pelos respectivos criadouros, e no caso de aves silvestres o CEMAVE possui o Sistema Nacional de Anilhamento onde é possível relatar um encontro com ave anilhada (www.ibama.gov.br/sna/recuperacao.php), mas não há garantia de que um feedback será obtido após relatar a ave. Muitos cidadãos declararam que enviaram o registro às redes sociais do projeto por não encontrarem uma ferramenta de fácil acesso na internet, além do nome do projeto sugerir um canal de apoio ao cidadão. Embora exista o sistema do CEMAVE, ele não é atrativo ao público, pois não tem uma boa visualização em smartphones. Portanto, por mais que várias aves no Brasil, cativas ou em vida livre, estejam sendo anilhadas seguindo uma codificação, sem uma ferramenta pública de busca, a procedência da ave não é facilmente acessada pelo cidadão que a encontra e, consequentemente, eleva-se o risco de haver uma destinação desfavorável ao bem estar da mesma. Além disso, tal carência somada ao desconhecimento dos cidadãos quanto aos tipos de anilhas usadas no Brasil, favorece a ocorrência do anilhamento ilegal e crime contra a fauna, uma vez que a fiscalização ainda é ineficiente. Esperamos que a ocorrência do projeto “Eu vi uma ave usando pulseiras!?” incentive a criação de sistemas integrados com informações de aves anilhadas no Brasil. REFERÊNCIAS Comandulli C, Alexandrino E. 2021. Ciência Cidadã: aproximando pessoas, transformando realidades. In: Vicente N; Sperber C; Carneiro M (Org.). Dia D do rio Doce: Um olhar científico sobre o maior desastre socioambiental do Brasil. ed.Lavras: UFLA, p. 192-204. Costa F, Monteiro K. 2016. Guia de identificação de aves traficadas no Brasil. Florianópolis: BECONN, Produção de Conteúdo. 200p. Pagano I, Sousa A, Wagner P, Ramos R. 2009. Aves depositadas no Centro de Triagem de Animais Silvestres do IBAMA na Paraíba: uma amostra do tráfico de aves silvestres no estado. Ornithologia, 3(2): 132-144. Sousa A, Serafini P. 2020. Manual de Anilhamento de Aves Silvestres. Brasília: ICMBio, Cemave. 3ª ed. 113p.
Título do Evento
II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã
Título dos Anais do Evento
Anais do II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
DOI

Como citar

RIBEIRO, Maria Raquel de Oliveira; RIBEIRO, Sara Maria De Oliveira; ALEXANDRINO, Eduardo Roberto. ACHEI UMA AVE USANDO PULSEIRAS! DESCOBRINDO PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS MUITO ALÉM DE UM PROJETO DE CIÊNCIA CIDADÃ.. In: Anais do II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã. Anais...São Paulo(SP) online, RBCC, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/iwdrbdcc2022/490111-ACHEI-UMA-AVE-USANDO-PULSEIRAS-DESCOBRINDO-PROBLEMAS-SOCIOAMBIENTAIS-MUITO-ALEM-DE-UM-PROJETO-DE-CIENCIA-CIDADA. Acesso em: 16/07/2025

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