O CAMINHO PERCORRIDO PARA LANÇAR A INICIATIVA ‘DO PASTO AO PRATO’

Publicado em 26/09/2022 - ISBN: 978-65-5941-785-8

Título do Trabalho
O CAMINHO PERCORRIDO PARA LANÇAR A INICIATIVA ‘DO PASTO AO PRATO’
Autores
  • Erasmus zu Ermgassen
  • Vivian Ribeiro
  • Tiago Reis
  • Patrick Meyfroidt
  • Toby Gardner
  • Renan Lieto
Modalidade
II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã - Resumo expandido
Área temática
Desenvolvimento, metodologias e aplicações de projetos de ciência cidadã
Data de Publicação
26/09/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/iwdrbdcc2022/486757-o-caminho-percorrido-para-lancar-a-iniciativa-do-pasto-ao-prato
ISBN
978-65-5941-785-8
Palavras-Chave
pecuária, desmatamento, transparência, responsabilidade social corporativa, sustentabilidade
Resumo
Tipo de estudo: Relato de experiência RESUMO O aplicativo DO PASTO AO PRATO permite identificar a origem da carne encontrada nas prateleiras do supermercado, informando consumidores sobre os impactos sociais e ambientais associados àquele produto. Ao utilizar o aplicativo, usuários passam a ser a peça chave para ampliar a transparência no setor, conectando o local de produção até o ponto de venda do produto. Nesse relato refletimos os desafios que enfrentamos desde o lançamento em agosto de 2021. Dentre os maiores desafios encontrados, está o de engajar o consumidor durante tarefas rápidas e cotidianas, como a visita ao supermercado. Outros engajamentos também trazem desafios, como o direcionado a empresas produtoras e revendedoras, times de pesquisa e sociedade civil organizada. Projetos de ciência cidadã baseados em aplicativos de celular precisam avaliar constantemente os custos-benefícios de novas implementações, engajamento com as partes interessadas na temática e esforços de comunicação para recrutar novos usuários. CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO/ CONTEXTUALIZAÇÃO A pecuária possui uma enorme importância para a economia e cultura Brasileira. O Brasil tem o segundo maior rebanho bovino no mundo - mais de 2.5 milhões de estabelecimentos rurais engajaram na criação de gado para a produção de alimentos e o fornecimento de matérias-primas. Embora muitos atores envolvidos nesse processo, desde fazendas produtoras até unidades processadoras, observem as boas práticas sanitárias, ambientais e de bem-estar animal, a pecuária é responsável pela maior parte do desmatamento e queimadas descontroladas no Brasil (Mapbiomas, et al., 2019), e ainda existem casos de produtores associados a trabalho análogo à escravidão (Campos, et al., 2021) e descumprimento das regras sanitárias e de bem-estar animal (Feltes et al., 2017). Estes impactos não chegam ao conhecimento do consumidor, sendo um dos motivos a complexidade dessas cadeias de abastecimento, impedindo que pressão por parte de consumidores possam impulsionar o setor para melhores práticas de sustentabilidade. DESENVOLVIMENTO Durante o mapeamento da cadeia de exportação da carne bovina produzida no Brasil, desenvolvida pela iniciativa Trase (http://trase.earth), observamos por meio de vinculações de um grande e complexo banco de dados a importância de não negligenciar o mercado doméstico no Brasil, uma vez que este responde por quase 80% do volume total produzido. Esse mercado se destaca não somente pela importância em termos de volume produzido e valor gerado, mas também pela distribuição desigual do desmatamento quando comparado com a produção enviada para exportação, sendo que, mesmo em termos relativos, há mais desmatamento associado ao produto que permanece no país, estimado em aproximadamente 87% de todo o desmatamento ligado ao setor (zu Ermgassen et al., 2020). No entanto, mapear o mercado doméstico no país é uma tarefa ainda limitada pela indisponibilidade de dados. Enquanto o mapeamento das exportações conta com dados de declarações aduaneiras que identificam as empresas que atuam no processo de exportação e importação desses produtos, bem como os países compradores, dados nacionais apontando empresas e compradores não são disponibilizados, tornando quase impossível identificar no mercado interno o caminho da carne desde o ponto de produção até o destino final de revenda para consumo. Foi para superar o desafio de transparência da cadeia da carne no Brasil que criamos o projeto Do Pasto ao Prato. Neste projeto nós desenvolvemos um aplicativo (disponível em: https://dopastoaoprato.com.br/) para revolucionar o entendimento da cadeia no Brasil, conectando relações ainda completamente desconhecidas entre diferentes empresas e regiões no Brasil. Diferente do que encontramos em outras iniciativas de rastreabilidade até o prato, onde recursos como etiquetas, códigos digitalizáveis entre outros são utilizados para conectar o consumidor ao projeto, o aplicativo aproveita o sistema público de inspeção sanitária para identificar a origem de cada produto. A administração pública confere selos de inspeção às agroindústrias que manipulam produtos de origem animal. São eles: o SIF (Selo de Inspeção Federal); o SIE (Selo de Inspeção Estadual); e o SIM (Selo de Inspeção Municipal). Esses selos indicam que determinado item passou por inspeção e está pronto para consumo dentro do limite estabelecido por cada um. Cada um destes selos inclui um número que indica a procedência do produto - abatedouro ou frigorífico onde o animal foi abatido ou onde a carne foi processada. O aplicativo permite ao usuário digitalizar este número para acessar a origem e impactos da carne disponível na gôndola do supermercado. O aplicativo vai ainda mais além. No momento em que o usuário requer por meio do selo sanitário os dados sobre a área de produção e impacto associado àquele produto, ele inclui um novo registro no banco de dados criado pelo aplicativo, conectando o produto consultado ao supermercado onde ele foi encontrado, estabelecendo uma conexão entre frigorífico e supermercados revendedores. Ao conectar empresas, esse banco de dados trás, de forma inédita no país, informações fundamentais para engajamento com atores e campanhas de consumo que possam mover o setor para uma realidade mais sustentável. RESULTADOS ALCANÇADOS E LIÇÕES APRENDIDAS O aplicativo, agora em fase beta e disponível para Android, está pronto para ser ampliado para outras plataformas digitais e cadeias, como a do frango e porco. Até o dia 09 de abril de 2022, o aplicativo foi baixado mais de 1.750 vezes, com mais de 1.300 usuários cadastrados e atualmente 690 usuários ativos. A cada mês o aplicativo conta com em média 170 novos usuários. O banco de dados já conta com 878 conexões entre frigoríficos e supermercados através do país. Dentre os maiores desafios que vivenciamos hoje está o de engajar o consumidor durante visitas ao supermercado a utilizar o aplicativo. Nessa campanha para tornar o aplicativo mais presente na vida dos consumidores, temos utilizado estratégias de engajamento direto com empresas, comunicação em redes sociais, notificações diretas no aplicativo e uma estratégia moldada com base nas estatísticas de uso que observamos nos painéis de acompanhamento da Google Play e Analytics, como dias e horários mais frequentes de uso do aplicativo. Consideramos que uma das principais lições aprendidas ao desenvolver um aplicativo com uma diversidade grande de atores envolvidos é o de comunicação clara e engajamento constante. Esse engajamento precisa abastecer estratégias de implementação sem que o foco dos objetivos principais sejam perdidos. Dessa forma, avaliar constantemente custos-benefícios de novas implementações podem impedir que expectativas divergentes de diferentes atores possam bloquear o processo de desenvolvimento da ferramenta. AGRADECIMENTOS Agradecemos o apoio de nossa parceira Repórter Brasil, a Conexão Verde de Greenpeace, a Chalana Esperança, a Bocaina Biologia da Conservação, e os usuários pioneiros que nos ajudaram com sugestões construtivas. REFERÊNCIAS CAMPOS, André; LOCATELLI, Piero; MARCEL, Gomes. Trabalho escravo na indústria da carne. São Paulo, Brazil: Repórter Brasil, 2021. Disponível em: <https://reporterbrasil.org.br/wp-content/uploads/2020/12/Monitor-8_Trabalho-escravo-na-ind%C3%BAstria-da-carne.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2021. FELTES, Maria; ARISSETO-BRAGOTTO, Adriana; BLOCK, Jane. Food quality, food-borne diseases, and food safety in the Brazilian food industry. Food Quality and Safety, v. 1, p. 13–27, 2017. MAPBIOMAS. Project MapBiomas - collection v5 of Brazilian land cover and land use map series. Disponível em: <http://mapbiomas.org/>. Acesso em: 19 fev. 2019. ZU ERMGASSEN, Erasmus K. H. J.; GODAR, Javier; LATHUILLIÈRE, Michael J.; et al. The origin, supply chain, and deforestation risk of Brazil’s beef exports. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 117, n. 50, p. 31770–31779, 2020.
Título do Evento
II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã
Título dos Anais do Evento
Anais do II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ERMGASSEN, Erasmus zu et al.. O CAMINHO PERCORRIDO PARA LANÇAR A INICIATIVA ‘DO PASTO AO PRATO’.. In: Anais do II Workshop da Rede Brasileira de Ciência Cidadã. Anais...São Paulo(SP) online, RBCC, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/iwdrbdcc2022/486757-O-CAMINHO-PERCORRIDO-PARA-LANCAR-A-INICIATIVA-DO-PASTO-AO-PRATO. Acesso em: 17/07/2025

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