CICATRIZES DO RECIFE: A LIGA SOCIAL CONTRA OS MOCAMBOS

Publicado em 07/02/2024 - ISBN: 978-65-272-0257-8

Título do Trabalho
CICATRIZES DO RECIFE: A LIGA SOCIAL CONTRA OS MOCAMBOS
Autores
  • Jaqueline Marcos de Araujo
Modalidade
Resumo Expandido
Área temática
2. Turismo, poder e território
Data de Publicação
07/02/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/iv-cilitur-coloquio-internacional-sobre-cidades-litoraneas-e-turismo-344740/675479-cicatrizes-do-recife--a-liga-social-contra-os-mocambos
ISBN
978-65-272-0257-8
Resumo
Introdução O presente artigo constitui partes de um trabalho de pesquisa em andamento, a proposta é analisar, compreender particularidades e analisar criticamente a produção e reprodução do uso do solo na cidade do Recife, tal como os paradoxos constituídos nas práticas adotadas pelos órgãos públicos na composição aplicada no planejamento urbano e na necessidade em incorporar determinados locais da capital pernambucana nas políticas urbanas. O debate proposto é em relação as intervenções antidemocráticas e excludentes, com ações repressoras ocorridas entre os anos de 1930 e 1950, no governo de Agamenon Magalhães, em um combate para exterminar os tipos de moradia utilizadas pelos pobres da cidade. Essa política foi denominada como a Liga Social Contra os Mocambos. A Política de Extermínio aos Mocambos Durante os anos 1900, o país passou por uma série de reformas em várias de suas capitais, onde sofreram profundas mudanças urbanas. Sentindo um rápido desenvolvimento econômico e demográfico, a cidade do Recife implementou planos para o crescimento da estrutura urbana. Intervenções também foram realizadas em outras capitais brasileiras para mudar a imagem de seus centros e zonas portuárias, como por exemplo: Rio de Janeiro e Salvador. Diversas cidades ao redor do mundo seguiram o modelo de urbanização Haussmanniano2 . Naquele período, Recife, por intermédio de seus gestores, acompanhou as tendências, adequando as demolições, construções e intervenções à sua realidade. Alguns dos fundamentos do modelo parisiense que influenciaram as transformações foram: o saneamento básico; o tráfego de veículos para o rápido acesso ao centro; assim como o embelezamento urbano, tencionando a exclusão e segregação de trabalhadores operários e pobres com ações antidemocráticas e higienistas. O modelo de urbanização era voltado à demolição das antigas construções e expulsão dos moradores de baixa renda. As práticas foram as mesmas implantadas na cidade de Paris. As intervenções consistiam em viabilizar uma nova infraestrutura para o centro, visto que priorizava a destruição de cortiços e casarões onde viviam os operários. A intenção era incorporar uma nova imagem à cidade, direcionada a elite pernambucana. As semelhanças encontradas no urbanismo Haussmanianno eram diversas até mesmo na gestão autoritária do prefeito, com a utilização de políticas higienistas, sendo desconsiderada a população local e a relevância do patrimônio histórico para a cidade. Na área central ficou determinado que as construções voltadas para habitação seriam propiciadas as necessidades da elite, já que por um longo período o centro concentrou parte significante de moradores da classe mais pobre. No início do século XX, Recife foi a segunda maior cidade em representação econômica e política no Brasil, possuía uma moderna estrutura no porto, tanto que capitais brasileiras em áreas portuárias seguiram o mesmo modelo de intervenções. O desenvolvimento de Recife esteve durante muito tempo atrelado a monocultura da cana de açúcar, da mesma maneira também em seu declínio nas atividades comerciais. Segundo Leite (2012): É fundamental destacar que ao longo dos seus mais de 400 anos de existência, Recife já experimentou o apogeu e a decadência quase absolutos – em termos de centralidade econômica, relevância arquitetônica e visibilidade cultural –, em pelos menos três grandes momentos da sua história. (LEITE, 2012, p. 6). Na história da urbanização do Recife é possível encontrar ocupações de moradores que sobreviviam em condições de precariedade. Neste período, existiam dois tipos que predominavam a habitação no Recife, sendo que na primeira metade do século XX, a capital era composta pelos sobrados da classe mais abastada , enquanto a outra era moradia denominada como mocambo, habitada pelos pobres. A estrutura dos mocambos por muitas vezes estava localizada acima de um terreno pantanoso, erguida de madeira com barro amassado, tendo a palha do coco como cobertura. Após a abolição da escravatura no Brasil, mucambo ou mocambo passou a designar lugares, barracos e alojamentos populares onde viviam os negros, e tornou-se sinônimo de "favela nordestina" (ALENCASTRO, 2000, p. 66). Os mocambos eram relacionados como habitação de negros, que historicamente remete à construção de casas no país da África do Sul, Angola. Entretanto, há um contexto de resistência social e política na palavra mocambo, pois nos quilombos (junção das moradias de barro batido), os quilombolas se reuniam com propósito de se libertarem da escravidão. “A ideia mocambo-resistência ou mocambo-esconderijo é redefinida à medida que confronta os discursos em circulação, no insistente debate acerca do Recife e suas habitações, realizado por médicos, engenheiros, cientistas sociais, políticos, administradores e jornalistas, na década de 1930. A palavra mocambo, de acordo com Lira, é ressignificada nos estudos, ensaios, relatórios e reportagens que tematizam esse tipo de casa e seu morador. Nesse período, a construção dessas habitações transforma-se em problema social, enredado por discursos médico- higienistas e urbanistas. Desta maneira, torna-se alvo de políticas de governo. A palavra mocambo perde o conteúdo que a vincula à história dos negros escravizados e torna-se, assim, nome de todas as habitações pobres. Lira alega que são, especialmente, as ideias de Gilberto Freyre (1936) que contribuem para esvaziar o sentido de resistência de mocambo: Ora, importa destacar que o mocambo, “refúgio de negros” tal qual encontramos na origem etimológica da palavra africana, subvertendo as formas escravocratas de dominação, é suntuosamente redefinido por Freyre como capacidade de ajustamento a uma formação “patriarcal ou semipatriarcal”, que curiosa e permanentemente o exclui. O que era efeito de um “contrapoder”, é simplesmente interpretado aqui como um efeito de integração/estabilização sociologicamente comprovável. (LIRA, 1994, p. 736 apud SILVA, 2018, p. 28)”. Além das ações anteriores de exclusão dos pobres e operários do centro de Recife, no ano de 1939, o então governador do Pernambuco, Agamenon Magalhães estabeleceu como prioridade para a habitação popular mais uma prática “higienista”, racista e segregadora, conhecida como a Liga Social contra o Mocambo. O discurso era o mesmo que foi utilizado para a área central, voltado para questões de higiene e saúde. Contudo foi mais uma ação que priorizava as às questões econômicas, a ocupação e utilização do espaço urbano e o controle sobre os habitantes dos mocambos. Do ponto de vista histórico, desde a década de 1930, as políticas relacionadas à política fundiária pública têm refletido estratégias governamentais diferenciadas para mediar as relações com as comunidades de alta e de baixa renda. O controle e o uso de terras públicas têm funcionado como instrumentos do estado para buscar projetos políticos, seja em coalizão com parceiros imobiliários privados para enfraquecer interesses coletivos dos cidadãos que ocupam terrenos públicos. Referências LEITE, Rogério Proença. Localizando o espaço público: lugares, política e desentendimento. Revista Crítica de Ciências Sociais, Universidade de Coimbra, n. 83, p. 35 – 54, 2012. SILVA, Raquel Lasalvia Correia. Dos mocambos e alagados às casas de alvenaria: práticas de governabilidade no Coque/Recife (1979-2012). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em História da Universidade de Brasília. Brasília: 2018.
Título do Evento
IV CILITUR - Colóquio Internacional sobre Cidades Litorâneas e Turismo
Cidade do Evento
Fortaleza
Título dos Anais do Evento
Anais do IV Cilitur - Colóquio Internacional sobre Cidades Litorâneas e Turismo
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ARAUJO, Jaqueline Marcos de. CICATRIZES DO RECIFE: A LIGA SOCIAL CONTRA OS MOCAMBOS.. In: Anais do IV Cilitur - Colóquio Internacional sobre Cidades Litorâneas e Turismo. Anais...Fortaleza(CE) SEBRAE-CE, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/iv-cilitur-coloquio-internacional-sobre-cidades-litoraneas-e-turismo-344740/675479-CICATRIZES-DO-RECIFE--A-LIGA-SOCIAL-CONTRA-OS-MOCAMBOS. Acesso em: 01/07/2025

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