Título do Trabalho
ÍLEO PARALÍTICO: DIETA ZERO AINDA TEM VALIDADE?
Autores
  • Maria Clara Moreira Santiago
  • Vinicius Abreu Feijão
  • Raimundo Fabricio Paiva Pinto
  • Sandrielle Maria Brito do Nascimento
  • José Jordan de Menezes Magalhães
  • Andre Guilherme Souza de Menezes
  • João Paulo Ribeiro Silva
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Diagnóstico e Intervenção Nutricional;
Data de Publicação
10/01/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/i-seminario-de-nutricao-clinica-da-santa-casa-de-misericordia-de-sobral-tecnologia-e-assistencia-multiprofissional-na-unidade-de-terapia-intensiva-490123/966450-ileo-paralitico--dieta-zero-ainda-tem-validade
ISBN
978-65-272-0930-0
Palavras-Chave
Íleo Paralítico, Pseudo-obstrução Intestinal, Métodos de Alimentação.
Resumo
INTRODUÇÃO O íleo paralítico é uma condição clínica caracterizada pela incapacidade do intestino de realizar contrações musculares simultâneas, resultando em uma interrupção do peristaltismo, sem que haja uma interferência mecânica detectável. Por conseguinte, ele é comumente classificado como uma pseudo-obstrução intestinal, uma vez que o quadro clínico simula uma obstrução. Tal patologia representa um desafio substancial no manejo pós-operatório de pacientes, especialmente em cirurgias abdominais e pélvicas, impactando significativamente a recuperação e o tempo de internação, demandando intensa observação e o emprego de intervenções rápidas e acertadas. A pseudo-obstrução intestinal pós-operatória é uma patologia heterogênea, que pode afetar tanto pacientes pediátricos quanto adultos em todo o mundo, exigindo um manejo complexo multidisciplinar. Embora sua etiologia não seja completamente elucidada, sabe-se que o íleo paralítico pode ser classificado de acordo com sua causa: pós-operatório, inflamatório, metabólico, neurogênico ou induzido por drogas, como opioides, antieméticos e anti-hipertensivos. Entre os fatores de risco associados ao íleo paralítico, destacam-se a duração prolongada de cirurgias abdominais e pélvicas, procedimentos abertos, manipulação extensa do trato gastrointestinal inferior, atraso na introdução da nutrição enteral, sepse e peritonite. Esses fatores refletem a forte correlação entre as intervenções cirúrgicas e a pseudo-obstrução intestinal. Os sinais e sintomas clínicos característicos incluem distensão abdominal, dor abdominal difusa e persistente, intolerância à dieta oral, náuseas e/ou vômitos. A motilidade intestinal prejudicada no íleo paralítico se manifesta de forma desigual ao longo do trato gastrointestinal: o intestino delgado tende a recuperar sua função mais rapidamente (dentro de 0–24 horas), enquanto o estômago (24–48 horas) e o cólon (48 –72 horas) apresentam um retorno mais tardio. No entanto, evidências recentes questionam essa linha de pensamento, sugerindo que a motilidade gástrica e ileal pode, em alguns casos, retornar dentro de poucas horas. Dessa forma, muitas mudanças ocorreram nas condutas pós-operatórias e intra hospitalares no manejo dessa patologia. OBJETIVO Analisar a eficácia da dieta zero em comparação com outras abordagens nutricionais, como a introdução precoce da nutrição enteral. Revisar as recomendações atuais de manejo nutricional do íleo paralítico, considerando fatores como tempo de recuperação da motilidade gastrointestinal e impacto na recuperação global do paciente. MÉTODOS Trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura realizada em setembro de 2024. Para a coleta de dados foram utilizadas as bases Medline, Lilacs e PubMed buscando artigos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, entre 2014 e 2024, usando os descritores: “Ileus”, “Feeding Methods” adicionados do operador booleano E (AND). Foram incluídos trabalhos que demonstraram as terapêuticas nutricionais atuais no manejo dessa patologia, sendo excluídos relatos de caso, artigos não disponibilizados na íntegra, os que associavam a dismotilidade a outras patologias secundárias como Síndrome do Intestino Irritável e aqueles que restringiam à população pediátrica. Estudos do tipo revisão e meta-análise foram considerados mais notórios para a presente discussão. A busca resultou em 16 artigos no PubMed e 205 correspondências no Medline e Lilacs, os quais foram submetidos a uma leitura criteriosa e a aplicação dos critérios de exclusão. Após aplicação dos critérios e por relevância para o tema, 8 artigos selecionados para constituir o presente estudo. RESULTADOS Atualmente, existem poucas estratégias eficazes para o manejo ativo do íleo paralítico, o que torna a prevenção uma abordagem mais viável, buscando minimizar fatores que precipitam e agravam a condição. Nesse sentido, várias técnicas preventivas foram discutidas com foco na mitigação do risco de íleo paralítico. Tradicionalmente, alimentos e fluidos foram retidos dos pacientes por um período de tempo no pós-operatório com base na suposição de que a motilidade gastrointestinal retorna lentamente; portanto, pensava-se que a instituição da alimentação logo após a cirurgia poderia resultar em vômitos, piora da pneumonia aspirativa, deiscência da ferida e vazamento anastomótico. No entanto, esta suposição foi desafiada por diversos estudos. Meta-análises de ensaios clínicos experimentais que compararam a alimentação precoce com a abordagem de jejum prolongado após cirurgias eletivas, revelaram um risco significativamente menor de infecção e uma redução no tempo de internação hospitalar no primeiro grupo, embora, ainda nesse grupo, o aumento do risco de vômito permaneça controverso. Também houve tendências para redução do risco de deiscência anastomótica, pneumonia, abscesso intra-abdominal, menor tempo em uso de sonda nasogástrica aspirativa e menor mortalidade no grupo de alimentação precoce. Ademais, um achado interessante é que a composição e o tempo da nutrição enteral parecem ser fundamentais para os potenciais efeitos benéficos: uma nutrição enriquecida com lipídios, administrada imediatamente antes, durante e logo após a cirurgia, mostrou-se eficaz na redução do íleo paralítico em modelos experimentais. Contudo, a aplicabilidade desses achados na prática clínica ainda precisa ser melhor avaliada em estudos clínicos. Ainda nas medidas nutricionais que apontaram para uma medida positiva na prevenção da pseudo-obstrução, o emprego da goma de mascar ainda não é um consenso na literatura atual. Embora a análise seja limitada por deficiências metodológicas e alguma heterogeneidade, não há desvantagens aparentes na goma de mascar. Nenhuma diferença em complicações pós-operatórias, readmissões ou reoperações foi demonstrada e os estudos que são a favor da sua utilização demonstraram um tempo menor para o retorno dos sons intestinais audíveis e passagem de flatos. Assim, a goma de mascar para acelerar a recuperação gastrointestinal pós-operatória pode ser sugerida, por aparentemente, não apresentar nenhum malefício comprovado. Outra medida anteriormente empregada com o objetivo de prevenir o íleo paralítico e a ocorrência de pneumonia aspirativa foi a colocação rotineira da sonda nasogástrica, uma revisão Cochrane avaliou que aqueles com colocação de sonda tiveram o retorno significativamente mais lento da função intestinal e tendências para aumento de complicações pulmonares, aumento de desconforto e maior tempo de internação. Uma grande perspectiva de intervenção na área de intervenção nutrológica no ílio paralítico é o café. Em um ensaio clínico, o seu consumo auxiliou no retorno da motilidade gastrointestinal diminuindo significativamente o tempo até a primeira evacuação, melhorando a tolerância para alimentos sólidos e a liberação de flatos. Mesmo promissor, o estudo foi realizado com uma pequena amostra de pacientes, de forma que não há ainda uma recomendação formal para o uso de derivados da cafeína com o objetivo exclusivo de recuperação do íleo pós-operatório. CONCLUSÃO Por fim, esses avanços no entendimento da recuperação da motilidade gastrointestinal levaram à reavaliação de práticas tradicionais, como a dieta zero, que por muito tempo foi uma conduta padrão no manejo pós-operatório do íleo paralítico. As novas diretrizes sugerem que a retomada precoce da alimentação enteral, quando indicada, é extremamente benéfica para o paciente, encurtando o tempo de recuperação e minimizando possíveis complicações pós-cirúrgicas, sendo útil na prevenção da pseudo-obstrução. A Associação Americana de Gastroenterologia considera contraindicações absolutas para a instituição da terapia enteral precoce: obstrução mecânica do trato gastrointestinal, peritonite não controlada e isquemia intestinal. Assim,o íleo paralítico ainda representa uma complicação comum e debilitante que deve ser desafiada com uma abordagem multidisciplinar.
Título do Evento
I SEMINÁRIO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SOBRAL “TECNOLOGIA E ASSISTENCIA MULTIPROFISSIONAL NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA”
Cidade do Evento
Sobral
Título dos Anais do Evento
Anais do Seminário de Nutrição Clínica da Santa Casa de Misericórdia de Sobral: Tecnologia e Assistência Multiprofissional na Unidade de Terapia Intensiva
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTIAGO, Maria Clara Moreira et al.. ÍLEO PARALÍTICO: DIETA ZERO AINDA TEM VALIDADE?.. In: Anais do Seminário de Nutrição Clínica da Santa Casa de Misericórdia de Sobral: Tecnologia e Assistência Multiprofissional na Unidade de Terapia Intensiva. Anais...Sobral(CE) SCMS, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/i-seminario-de-nutricao-clinica-da-santa-casa-de-misericordia-de-sobral-tecnologia-e-assistencia-multiprofissional-na-unidade-de-terapia-intensiva-490123/966450-ILEO-PARALITICO--DIETA-ZERO-AINDA-TEM-VALIDADE. Acesso em: 19/06/2025

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