A GÊNESE DO ÓDIO ÀS DIFERENÇAS: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DE FREUD E MERLEAU-PONTY

Publicado em 05/12/2018 - ISSN: 2176-3968

Título do Trabalho
A GÊNESE DO ÓDIO ÀS DIFERENÇAS: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DE FREUD E MERLEAU-PONTY
Autores
  • Renato dos Santos
Modalidade
Prorrogado envio de Resumo até dia 09/10/2018
Área temática
Filosofia da Psicanálise
Data de Publicação
05/12/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/122577-a-genese-do-odio-as-diferencas--consideracoes-a-partir-de-freud-e-merleau-ponty
ISSN
2176-3968
Palavras-Chave
Diferenças, ódio, Freud, Merleau-Ponty
Resumo
O que pretendo mostrar nesta comunicação é a gênese do ódio ao outro à luz da psicanálise freudiana e da ontologia merleau-pontyana. Sustento a tese de que a ontologia é o que dá base para as construções de identidades, condições para as sociedades se organizarem e reconhecerem-se como singulares. Freud, em Totem e Tabu (1913), afirmou que a cultura se instaura como resposta ao estado de natureza, como um acordo entre os indivíduos de uma horda primeva após a morte do pai. O incesto, o canibalismo e o homicídio são os três pilares que surgem como renúncia do estado de natureza, e introjetam-se as leis, as proibições, tornando-se, mais tarde, tabus. Em O mal-estar na cultura (1930), o psicanalista lembra que, se a passagem do estado de natureza para a cultura não for economicamente recompensada, sérios distúrbios ocorrerão. Por distúrbios, podemos entender como homicídios e todas as formas de violência que uma sociedade pode sofrer. A maneira como se administra a economia, portanto, é o ponto decisivo para lidar com as pulsões. Merleau-Ponty, partindo da crítica às ontologias que alimentaram o “problema do espírito”, evidencia como, por exemplo, a ontologia cartesiana é fundada no cogito, num sujeito constituinte que exclui tudo aquilo que escapa à sua identidade. Outrem, nesse sentido, é tão somente uma mera representação da consciência. Não há lugar para as diferenças no pensamento cartesiano, bem como, ouso dizer, em vários autores da história da filosofia. É com Hegel, e mais exatamente com a dialética do senhor e do escravo, que o negativo é introduzido na reflexão filosófica. Em tal dialética, o senhor depende do escravo para constituir-se, revelando a tensão necessária entre a consciência e o inconsciente, entre figura-fundo. Na minha perspectiva, quando não se tem uma ontologia que comporta o negativo, ela recai num totalitarismo do sentido. É o mesmo que dizer que o que não faz parte da “raça ariana”, é impuro, e, por isso, justifica o extermínio, a exclusão. Merleau-Ponty, ao formular uma ontologia da carne, considera a diferença e precisamente o que dá movimento à reversibilidade carnal do mundo. O desejo é movido não por uma cristalização da identidade, mas pelo fundo, o outro lado, da mesma estrutura carnal. O que podemos extrair destas considerações para um “diagnóstico do presente” no que tange ao escancaramento do ódio às diferenças? Destaco alguns pontos: i) o conflito dialético da constituição do sujeito é algo que, desde Hegel, está presente, tanto na psicanálise quanto em Merleau-Ponty. O eu é sempre uma resposta ao outro, e precisa dele para sua constituição; ii) Como nos ensinou Freud, se as pulsões não forem trabalhadas, ou economicamente recompensadas, a violência, homicídios, se farão constantes; iii) É necessário, conforme Merleau-Ponty, uma ontologia que não seja fundada na identidade, mas na diferença, uma diferenciação carnal das figuras, das identidades; iv) Por fim, penso que é necessário, diante dos sintomas – ou distúrbios sociais –, não medidas de violência para se combater a violência, como vem sendo cogitado em nossa sociedade brasileira, mas por uma economia através da educação, da cultura, que visa fortalecer o simbólico que, por sua vez, dê conta de lidar com as idas ao ato, ou seja, violências que a cada dia estão mais visíveis. A saída, portanto, não é a “bala”, ou “bandido bom é bandido morto”, mas a fomentação de uma educação que propicie condições de cada qual diante de suas próprias pulsões. O ensinamento de Paulo Freire, nesse sentido, ainda se faz atual, segundo a máxima de que “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”. Noutras palavras, se a saída diante dos problemas sociais que enfrentamos não for libertadora, a violência somente incidira mais a cada dia, nos conduzindo à um caos social a ponto de dar margem para um regime totalitário.
Título do Evento
Congresso Humanitas | Filosofia
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
XVI Congresso de Filosofia Contemporânea da PUCPR: O Futuro das Humanidades
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTOS, Renato dos. A GÊNESE DO ÓDIO ÀS DIFERENÇAS: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DE FREUD E MERLEAU-PONTY.. In: XVI CONGRESSO DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA DA PUCPR - O FUTURO DAS HUMANIDADES. Anais...Curitiba(PR) pucpr, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/122577-A-GENESE-DO-ODIO-AS-DIFERENCAS--CONSIDERACOES-A-PARTIR-DE-FREUD-E-MERLEAU-PONTY. Acesso em: 15/06/2025

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