A AFIRMAÇÃO DA FINITUDE COMO POSSIBILIDADE PARA A RESPONSABILIZAÇÃO DO DESEJO: NOTAS A PARTIR DE HEIDEGGER E LACAN

Publicado em 05/12/2018 - ISSN: 2176-3968

Título do Trabalho
A AFIRMAÇÃO DA FINITUDE COMO POSSIBILIDADE PARA A RESPONSABILIZAÇÃO DO DESEJO: NOTAS A PARTIR DE HEIDEGGER E LACAN
Autores
  • Renato dos Santos
  • Juliana Rodrigues Dalbosco
Modalidade
Prorrogado envio de Resumo até dia 09/10/2018
Área temática
Filosofia da Psicanálise
Data de Publicação
05/12/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/122505-a-afirmacao-da-finitude-como-possibilidade-para-a-responsabilizacao-do-desejo--notas-a-partir-de-heidegger-e-laca
ISSN
2176-3968
Palavras-Chave
finitude, angústia, desejo
Resumo
Muito se tem falado acerca da noção de ser-para-a-morte, um dos existenciais da estrutura ontológica do Dasein heideggeriano. Todavia, o que se quer aqui é ler este existencial sob à luz de uma perspectiva psicanalítica, mostrando que a finitude, tal como propõe Heidegger, configura-se como algo já dado ao Dasein desde sua facticidade, isto é, seu surgimento no mundo. Próprio da estrutura do Dasein, a morte é algo que não está alhures, que o ente humano virá encontrar algum tempo após seu nascimento. A morte não é uma falta que o sujeito preencherá com o seu findar, por uma espécie de completude. A todo instante o Dasein é afetado por esta possibilidade insuperável e intransferível: “o extremo ainda-não tem o caráter de algo para-que o Dasein se comporta. O final é iminente para o Dasein. Por iminente, Heidegger busca designar o caráter ontológico da morte, isto é, o fato de que ela está precedida na estrutura do Dasein desde o seu lançar no mundo. Somente essa constatação já é suficiente para afastarmos as perspectivas que tomam. O “lugar” que o filósofo concede ao ser-para-a-morte é aquele que pertence à própria estrutura do Dasein, como modo de ser, e que é encoberto pelo impessoal, quando o Dasein se afasta de si mesmo. Heidegger afirmará que o Dasein somente consegue sustentar seu ser-para-a-morte quando se afirma a angústia. Interessante notarmos que “responsabilidade” é o termo que o próprio Heidegger se utiliza para se referir a maneira pela qual o Dasein autêntico deve se posicionar diante de sua finitude. O Dasein inautêntico não consegue ter responsabilidade precisamente por transformar a angústia da morte em uma espécie de medo diante de um acontecimento que poderá vir ao seu encontro. Ao chegarmos aqui, convém pensarmos de que forma a noção de angústia se relaciona à autenticidade e à finitude. Importa enfatizarmos o fato de que a angústia revela ao ente humano o nada, a finitude e, igualmente, o ser. Por isso falamos que a angústia revela aquilo de mais próprio de nós mesmos, o sentido do nosso ser. Podemos agora entender o porquê o impessoal afasta-se da morte, ou antes da angústia da morte, pois o que essa angústia possibilita é justamente colocar o sujeito diante desta indeterminabilidade ontológica, algo que a publicidade não deseja nenhum pouco cogitar. Afinal, para o impessoal, o que importa são as “certezas”, a comodidade do falatório que o faz sentir protegido. Conforme veremos a seguir, aquilo que a psicanálise lacaniana afirma sobre o sujeito se responsabilizar pelo seu desejo, somente é possível se, primeiramente, o sujeito conseguir afirmar sua finitude, em termos heideggerianos. Isso porque, em nossa leitura, afirmar o desejo implica em aceitar as perdas que decorrem das decisões que são realizadas quando se afirma uma escolha X ou Y. Ou seja, o sujeito somente consegue lidar com as perdas de sua existência se, antes, conseguir lidar com a perda do seu próprio ser, por meio da afirmação da finitude. Ao pensar acerca da própria finitude o sujeito é abarcado pelo sentimento de angústia. Lacan, nos mostra que este afeto está ligado ao Real, por assinalar a emergência do desejo do Outro. Como já mencionamos em Heidegger, a angústia não tem um objeto, ela representa o nada. Assim como o desejo, que também não tem objeto de satisfação na realidade, portanto, se mantêm insatisfeito. Para Lacan, a angústia surge quando através de algum mecanismo aparece alguma coisa no lugar do objeto a, querendo tornar-se o objeto do desejo, como imagem da falta. Logo, se algo surge no lugar da falta, também nos causa angústia, têm-se aí a falta da falta. A perda de objeto em relação a angústia. Portanto, afirmar a finitude, assim como a castração, evita com que queiramos tamponar a falta, para que então o desejo possa emergir. Como o desejo é (e)feito de uma falta e a falta é transmitida pelo Outro, o desejo é a própria falta no Outro. Através da entrada na linguagem e da castração ocorre a inscrição da falta e interdita-se o gozo sem limites dos primeiros tempos de vida, dando lugar para o desejo emergir. O desejo é despertado justamente dessa interdição. O desejo, a pulsão e o saber acerca da finitude são o que constituem e determinam a essência do nosso ser, nos diferenciando dos animais, pois, os animais não habitam o campo da linguagem. Nascemos em um estado de total desamparo, incapazes de satisfazer nossas necessidades vitais, bem como de sobreviver sozinhos. Necessitamos do Outro materno que nos ajude, Outro que vai além de atender nossas necessidades básicas, ele demarca nossas bordas pulsionais, nos erogeniza, nos insere no campo simbólico e inscreve a falta, o que nos possibilita a constituição enquanto sujeitos de desejo. Dessa forma, desejamos o que os outros desejam, porque o desejo é o desejo do Outro, sendo desejo de desejo e desejo de ser desejado. Em uma análise, convoca-se o sujeito à responsabilização por sua posição. O analista promove a implicação do sujeito em seu sofrimento, transformando-o em posição subjetiva. Numa existência autêntica, ou também num final de análise, onde o sujeito sabe lidar com suas perdas, diante dessa angústia, ele assume um papel de protagonista de sua existência e consegue se responsabilizar pelo seu desejo. A análise, nesse sentido, serve como uma ferramenta que possibilita o sujeito lidar com este sofrimento decorrente da falta, deste nada que falou Heidegger. Evidentemente que a análise não objetiva eliminar esta falta ontológica, mas tão somente descontruir os fantasmas que o sujeito construiu para afastar o que lhe é mais próprio, constitutivo de sua estrutura ontológica, qual seja, sua finitude. Portanto, tanto para Heidegger, por meio da afirmação da angústia frente à morte, quanto para Lacan, onde o sujeito assumiu a tragédia de sua existência – no final de análise –, é a afirmação da finitude que possibilita a responsabilização do desejo, de ser autêntico ou, se preferir, sujeito.
Título do Evento
Congresso Humanitas | Filosofia
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
XVI Congresso de Filosofia Contemporânea da PUCPR: O Futuro das Humanidades
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTOS, Renato dos; DALBOSCO, Juliana Rodrigues. A AFIRMAÇÃO DA FINITUDE COMO POSSIBILIDADE PARA A RESPONSABILIZAÇÃO DO DESEJO: NOTAS A PARTIR DE HEIDEGGER E LACAN.. In: XVI CONGRESSO DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA DA PUCPR - O FUTURO DAS HUMANIDADES. Anais...Curitiba(PR) pucpr, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/122505-A-AFIRMACAO-DA-FINITUDE-COMO-POSSIBILIDADE-PARA-A-RESPONSABILIZACAO-DO-DESEJO--NOTAS-A-PARTIR-DE-HEIDEGGER-E-LACA. Acesso em: 15/06/2025

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