PHILIA E PHYLUM: POLÍTCA E ÉTICA DO OFÍCIO DE PROFESSOR

Publicado em 05/12/2018 - ISSN: 2176-3968

Título do Trabalho
PHILIA E PHYLUM: POLÍTCA E ÉTICA DO OFÍCIO DE PROFESSOR
Autores
  • Luiz Guilherme Augsburger
Modalidade
Prorrogado envio de Resumo até dia 09/10/2018
Área temática
Ética e Filosofia Política
Data de Publicação
05/12/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/122446-philia-e-phylum--politca-e-etica-do-oficio-de-professor
ISSN
2176-3968
Palavras-Chave
Ofício de professor. Philia. Phylum. Educação.
Resumo
O presente trabalho é um ensaio realizado a partir de um diálogo com o livro do filósofo da Educação Jorge Larrosa, “Esperando não se sabe o quê: sobre o ofício de professor”. Em seu livro, J. Larrosa, em vez de elaborar uma tese sobre o que seria o ofício de professor, estabelece uma série do que ele mesmo chama de “conversar” sobre o tema. Tendo em vista tal proposição, o que se propõe aqui é um prolongamento desta conversa para pensar as dimensões ética e políticas implicadas no ofício do professor. Para tanto, se lança mão de dois conceitos, a saber, amizade e linhagem, ou, mais rigorosamente, os termos gregos: “philia” e “philum”. A noção de “philia” aparece aqui provocada pela recorrente presença tanto no texto de Larrosa como no de seus interlocutores – como Paulo Freire, Hanna Arendt, Jan Masschelein e Maarten Simons, entre outros – da ideia de “amor”. Disto, há que se perguntar “o que é amor?” ou “como é esse amor?”. Tanto a ideia arendtiana de educação como amor ao mundo e as crianças, quanto a de J. Masschelein e de M. Simons de professor como aquele que ama sua matéria – as duas noções mais fortes no texto – não parecem satisfatórias. Aquela, de H. Arendt, porque ao falar de modo abrangente da “educação” deixa escapar a minúcias do ofício e do amor de professor. Já a outra resposta, de J. Masschelein e M. Simons, parece deixar em aberto questões como o amor à matéria dos professores sem matéria ou se, sem alunos e um amor por eles, o professor ainda seria propriamente professor. Desta feita, perguntar-se não pelo objeto de amor, mas pela “maneira” de amar pareceu outra vez uma questão fundante e a “philia” como resposta possível. A philia, então, passa a ser pensada em termos deleuze-guattarianos de um amor sem posse, feito filósofo que, diferente do sábio (que possui o saber), ama sabedoria e, em sendo amigo dela, a busca sem jamais a possuir. Há nessa noção de philia ainda outros dois elementos importantes: (1) a atenção às singularidades a às minúcias (ménuisie) do “amigo” ou “amante”; (2) um gesto de confiança, isto é, “ter fé em algo” – de modo que o amigo ganha um valor singular elaborado no interior da relação. Deste modo a atenção e a confiança naquilo que se ama são postos em jogo nesse amor “professoral”. Outro elemento da philia, agora de Empédocles, é chama a compor a reflexão, qual seja, a dimensão não estritamente “psicologizada” e “psicologizante” da amizade cosmológica empedocliana. Enquanto força que move o mundo atraindo corpos e partículas, em um sentido cosmológico, a philia poderia permitir pensar um amor não personalizado ou individualizante, dando à relação amical aquilo que Gilber Simondon chamou de “singularidade pré-individual”. Doutro lado, tem-se a questão da linhagem, que como no provérbio bíblico – “Aquele que anda com sábios, será sábio; o amigo dos insensatos far-se-á semelhante a eles” – ligada à relação amical. Isto posto que o amigo diz não só estritamente de quem “se é”, mas de toda uma linhagem de “sábios” ou de “insensatos” a que se passa a estar ligado. Nesse sentido, interessa pensar a linhagem em dois sentidos: (1) a família, uma filiação na qual se nasce, filiação natural, filiação de sobrenome; (2) o phylum (maquínico) – filiação na qual se entra (rentre), filiação artificial, ou uma espécie de “segunda natureza”. É justamente nessa filiação “maquínica”, isto é, inventada/artesã e não destinada, que a philia parece funcionar enquanto forma de amor professoral. Isto haja vista que o professor pensado como alguém que faz parte de um “ofício” e, portanto, possui uma herança, mas que também faz parte da educação e, portanto, da tarefa de cuidar daqueles que a quem cabe renovar o mundo. Nesse duplo jogo, a questão da linhagem no que concerne o ofício de professor não pode ser nem aquela que tem de manter uma herança, como na filiação familiar, nem aquela, como é marca da atualidade, de um presenteísmo sem herança. O phylum maquínico, em Deleuze e Guattari, então, diz de uma philia pela matéria com que lida, uma matéria essencialmente em devir. Phylum e philia parecem então se reencontrar no que diz respeito às questões que J. Larrosa aponta como cruciais para essa conversa (infinita) sobre ofício de professor e sua relação arendtiana com o mundo e com as crianças. Assim, o professor entre em um phylum (maquínico) em comum aos mais diversos professores, arrastado por uma philia. Uma philia mais de ordem cosmológica do que psicológica, uma philia empedocleana que representa saúde dos corpos, que nos insere em uma que imbui o professor de uma papel ético e político de não fazer das crianças nem reprodutoras de um mundo e de uma herança, nem seres ser herança e sem mundo. Tal jogo de philia-phyum faz com que entremos alegres e amorosamente em uma linhagem nada promissora do ponto de vista econômico ou de estatuto social, mas que dá aos corpos uma saúde e uma vitalidade ética e política.
Título do Evento
Congresso Humanitas | Filosofia
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
XVI Congresso de Filosofia Contemporânea da PUCPR: O Futuro das Humanidades
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

AUGSBURGER, Luiz Guilherme. PHILIA E PHYLUM: POLÍTCA E ÉTICA DO OFÍCIO DE PROFESSOR.. In: XVI CONGRESSO DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA DA PUCPR - O FUTURO DAS HUMANIDADES. Anais...Curitiba(PR) pucpr, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/122446-PHILIA-E-PHYLUM--POLITCA-E-ETICA-DO-OFICIO-DE-PROFESSOR. Acesso em: 12/05/2025

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