O QUE É A FARMACOPORNOGRAFIA?

Publicado em 05/12/2018 - ISSN: 2176-3968

DOI
10.29327/13517.16-1  
Título do Trabalho
O QUE É A FARMACOPORNOGRAFIA?
Autores
  • Bryan Axt
Modalidade
Prorrogado envio de Resumo até dia 09/10/2018
Área temática
Ética e Filosofia Política
Data de Publicação
05/12/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/116865-o-que-e-a-farmacopornografia
ISSN
2176-3968
Palavras-Chave
Somatopolíticas. Tecnologias prostéticas. Farmacopornografia
Resumo
Esta interlocução tem como objetivo trazer elementos da teoria de Paul B. Preciado para introduzir suas revisões conceituais e explanar alguns de seus conceitos originais. Em consonância com Michel Foucault e Judith Butler, Preciado mantém alguns conceitos desenvolvidos por eles de modo a estabelecer um plano de fundo para as suas proposições. Ao reconfigurar noções como as de poder, corpo, disciplina, sexo e biopolítica Preciado opera uma inter-relação com a teoria butleriana, sobretudo a da performatividade, com o intuito de demarcar aproximações e distanciamentos. Para além, Preciado agrega noções e estilísticas como as de Teresa de Lauretis, Monique Wittig, Bruno Latour, Donna Haraway, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Jacques Derrida, Maurizio Lazzarato, Jacques Lacan, Virginie Despentes, Guillaume Dustan, Gottfried Leibniz, Spinoza, Gayatri Spivak, Agnes Heller, dentre outras pessoas que possuem igual importância em seu corpus. Buscaremos percorrer por entre algumas chaves de leitura que estão presentes em seu primeiro livro, Manifesto Contrassexual (2000), que inicia uma teorização acerca da contrassexualidade. Em releitura de Foucault, a contrassexualidade se trata de uma profunda análise da sociedade, de um colocar-se no mundo a contraproduzir a natureza enquanto uma ordem simbólica ou substância universal transcultural. Junto de Judith Butler, Teresa de Lauretis e Monique Wittig, Preciado sustenta que as sociedades contemporâneas operam por meio de um regime de sentido totalizador, isto é, o contrato social heterocentrado. Como código ordenador, a heterossexualidade normativa atua como uma verdadeira máquina de produção de ontologias, subjetividades, sujeitidades, identidades, corpos, sexos, gêneros, desejos e políticas para projetar um efeito dissimulado de verdade. Como dispositivos de produção de verdade, ou tecnologias sociais, se fixam em sistemas sociopolíticos que asseguram a dominação e a distribuição assimétrica do poder, estabelecendo hierarquizações, privilégios e abjeções ao longo da história, mas sobretudo a partir da modernidade. Desse modo, ao questionar as tecnologias de escritura que inscrevem nos corpos e na vida psíquica do poder essas verdades, Preciado leva às últimas consequências a teoria dos ciborgues de Donna Haraway, apontando para o desenvolvimento tecnológico e tecnocientífico que visa produzir uma autoridade material, isto é, a capacidade de não apenas “descrever” a natureza, mas de produzir a realidade, átomo por átomo. Ao desnaturalizar códigos de sexo e gênero, evidenciando sua histórica artificialidade, Preciado passa a preencher as lacunas deixadas por Foucault e Judith Butler, que, de acordo com Preciado, teriam privilegiado uma dimensão discursiva da produção do sexo-gênero, desfazendo-se prematuramente do corpo material, caracterizando então um “construtivismo discursivo de gênero”. Por meio disso, deixa claro que suas intenções estão centradas em investigar a dimensão carnal e biomolecular da produção dos corpos. Questionando a ordem discurso-corpo, Preciado passa a cartografar a produção prostética e artificial da materialidade dos corpos orgânicos, ou seja, quando pensamos em “materialidade dos corpos” já não pensamos apenas em uma produção discursiva por meio dos micropoderes disciplinares. Tampouco pensamos apenas por meio da repetição dos atos, gestos e signos, da iterabilidade e citacionalidade do gênero, tal como Butler teoriza acerca da performatividade linguístico-discursiva. Afirmando o sexo como tecnológico e a técnica como a arte de fabricar o corpo, Preciado define a tecnologia como uma categoria chave para se analisar a produção da própria espécie, da raça, cultura, sexo e gênero como uma fonte de capital fixo. O que é algo que passou a ocorrer em meados da Segunda Guerra Mundial e se intensificou com a Guerra Fria, tendo sofrido mutações até os dias atuais, caracterizando desse modo um capitalismo neoliberal "caliente". Nessa abordagem, é preciso ter em mente que a tecnologia passou a produzir a própria noção de natureza e aquilo que a ela irá corresponder, de maneira que o maior esforço das tecnologias prostéticas é a fixação de certas diferenças discursivas em uma escala biomolecular e orgânica. Dissimular o artificial como algo natural é o maior êxito do que Preciado chama de tecnociência e de suas aplicações na contemporaneidade. Devido a isso, o que se torna fundamental para compreender a justaposição dos regimes soberano, disciplinar e biopolítico pelo regime farmacopornográfico é compreender de que modo a tecnologia é incorporada ou, talvez, melhor dizendo, de que modo a tecnologia “se faz corpo”. Preciado afirma que a incorporação alucinatória das próteses tecnológicas é um marcador sintomático para a passagem entre os “modelos” de corpos: o modelo da modernidade e o modelo mais recente, ultraconectado e tecnovivo. O que é, também, sintoma de um novo regime pós-industrial, global e midiático, que se estabelece a partir do controle biomolecular (-fármaco), dos mecanismos semiótico-técnicos de representações (-porno), da produção em escala industrial de subjetividade sexuada e de sua inscrição compulsória nos corpos. Por meio dos apontamentos realizados por Preciado em Testo Yonqui (2008) é possível estabelecer um fio condutor entre o que apresentamos até aqui e as conceitualizações que Preciado realiza. Por meio da prótese, é possível compreender como que, ao se converter as subjetividades em moléculas sintetizadas, consumíveis e comercializáveis, converte-se também o que nós entendemos por psique, libido, consciência, feminilidade, masculinidade, heterossexualidade e homossexualidade, tornando tangível os marcadores identitários como produtos que se podem comprar. A isso Preciado chama de “farmacopoder”. De modo bem distinto, porém, complementar, Preciado aponta para outra modalidade de exercício do poder: o “pornopoder”, isto é, toda produção e organização de representações culturais, audiovisuais e semiótico-técnicas que estabelecem padrões de desejo. Tais padrões, mais especificamente padrões de “excitação-frustração-excitação”, são os ciclos de consumo compulsório gerados pelo farmacopornopoder. Ao se estabelecer padrões, a sua midiatização e rápida difusão por meio dos diferentes conglomerados de redes de comunicação fazem com que as informações sejam acessadas de modo mais fácil e ininterruptamente. Portanto, buscaremos também discorrer acerca da produção identitária por meio das diversas tecnologias semiótico-técnicas, tais como a escrita, a música, a televisão, o cinema, as rádios, os jornais, outdoors, revistas, livros, gadgets, até mesmo e principalmente por meio da internet.
Título do Evento
Congresso Humanitas | Filosofia
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
XVI Congresso de Filosofia Contemporânea da PUCPR: O Futuro das Humanidades
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital
DOI

Como citar

AXT, Bryan. O QUE É A FARMACOPORNOGRAFIA?.. In: XVI CONGRESSO DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA DA PUCPR - O FUTURO DAS HUMANIDADES. Anais...Curitiba(PR) pucpr, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/humanitaspucprfilo/116865-O-QUE-E-A-FARMACOPORNOGRAFIA. Acesso em: 12/07/2025

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