PAULO FREIRE E BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS: CONVERGÊNCIAS EM TORNO DA PRÁXIS DECONOLONIAL.

Publicado em 19/12/2018 - ISBN: 978-85-5722-166-6

Título do Trabalho
PAULO FREIRE E BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS: CONVERGÊNCIAS EM TORNO DA PRÁXIS DECONOLONIAL.
Autores
  • Juliano Peroza
Modalidade
Cronograma e Instruções de Apresentação
Área temática
GT3: Gênero, Raça e o Pensamento Decolonial
Data de Publicação
19/12/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/humanitaspucprdh/123391-paulo-freire-e-boaventura-de-sousa-santos--convergencias-em-torno-da-praxis-deconolonial
ISBN
978-85-5722-166-6
Palavras-Chave
Sociologia das Ausências, Pedagogia da Libertação, Decolonização.
Resumo
Este trabalho procura estabelecer um diálogo entre a Sociologia das Ausências (as ecologias como superação das monoculturas) de Boaventura de Sousa Santos, e a Pedagogia da Libertação (a educação problematizadora como superação da educação bancária) em Paulo Freire na perspectiva do pensamento decolonial. Ambos conjecturam a denúncia aos mecanismos que perpetuam a colonialidade, bem como propõem um anúncio viável da sua superação, ou seja, irmanam-se no que se refere aos pressupostos do pensamento decolonial e contra-hegemônico. Para Boaventura de Souza Santos a Sociologia das Ausências é insurgente, e busca demonstrar que o que não existe é produzido ativamente como não-existente, como alternativa descartável, invisível à realidade hegemônica. Portanto, a Sociologia das Ausências propõe a compreensão crítica das monoculturas: do saber – A ideia de que o único saber rigoroso é o saber científico, os outros são os ignorantes; do tempo linear - Ideia de progresso cuja dianteira é guiada pelos países desenvolvidos, sociedades complexas. Os demais são residuais, pré-modernos, simples, primitivos; da naturalização das diferenças - A classificação racial, étnica, sexual e de castas. A naturalização da hierarquização produz inferioridades; da escala dominante – O universal e global é hegemônico. O particular e local é invisível, descartáveis; Monocultura do produtivismo capitalista – O crescimento econômico determina a produtividade do trabalho ou da natureza. Tudo que não se encaixa nessa lógica é improdutivo e estéril. Para superar essas monoculturas, Boaventura Santos propõe as Ecologias: dos saberes, em que o saber científico possa dialogar com o saber laico e popular; das temporalidades, em que há outras concepções de tempo (camponeses, indígenas, etc), considerar a tradição de cada cultura; do Reconhecimento, ao se eliminar as hierarquias e reconhecer as diferenças; da transescala, em que se articulam escalas locais, nacionais e globais; das produtividades, com a recuperação e valorização dos sistemas alternativos de produção, das organizações econômicas populares, das cooperativas operárias, das empresas autogestionadas, da economia solidária, etc (SANTOS, 2009). No mesmo sentido, percebe-se uma semelhança com o pensamento político-pedagógico de Paulo Freire, o qual concebe a Pedagogia da Libertação como compreensão crítica da educação bancária, antidialógica, na mesma medida em que propõe uma educação problematizadora, com bases na ação dialógica, com e a partir da realidade em que os seres humanos se encontram, não “para” estes. Para Freire, a educação bancária promove a mitificação da realidade e o comportamento prescrito. O mito de que há uma ordem histórica imutável e o comportamento prescrito do oprimido, que se faz às pautas dos opressores. A educação bancária é consoante à noção de “monocultura”. Naquela concepção, é o educador quem sabe, pensa, fala e educa, enquanto o educando é ignorante, mudo, e é educado; no que se refere ao tempo, é o educador quem atua, conduz o processo educativo e disciplina, enquanto o educando é passivo, ilusoriamente participante e disciplinado; no que se refere à naturalização das diferenças, o educador é quem possui a superioridade, é hierarquicamente autoritário, enquanto os educandos devem se acomodar, adaptar-se às determinações e ordens impostas. Quanto à escala dominante, o professor escolhe os conteúdos, parte do conhecimento científico-acadêmico, válido universalmente, com linguagem academicista, e desconsidera os saberes populares, da cultura regional e os elementos da história local. E quanto ao produtivismo capitalista, o professor como um adestrador de mão-de-obra para a adaptação do educando às demandas do mercado de trabalho e desconsidera a formação crítica, ética e política do educando. Daí que suas características colonizadoras sejam a conquista, a divisão para a manutenção da opressão, a manipulação e a invasão cultural (FREIRE, 1988; SANTOS, 2009). Para superar esta “monocultura antidialógica” de mundo e, consequentemente, propiciar uma práxis educativa decolonial, Freire propõe a concepção problematizadora de educação com base na ação dialógica, consoante às “Ecologias” referida por Santos (....). No que se refere aos saberes, Freire advoga uma educação verticalizada, numa relação de respeito aos “saber de experiência feito” dos educandos, pois entende que ninguém educa ninguém, mas os homens se educam em comunhão mediatizados pelo mundo. No que se refere às temporalidades, Freire entende que o processo educacional é construído à partir do ritmo do educando, seu tempo existencial, não cronológico. Quanto ao reconhecimento, Freire propõe o respeito, a dialogicidade, a tolerância, a amorosidade e a confiança nos educandos. Na visão da transescala, Freire sugere o circulo de cultura, onde os educandos se reconhecem como fazedores de cultura e percebem a universalidade que pode emergir da sua realidade local, bem como aprenda a refletir sobre os temas geradores ao estabelecer relações entre o local e o global. Desta forma, a ação dialógica com vistas à práxis decolonial promove a “co-laboração”, a união, a organização e a síntese cultural (FREIRE, 1988, 2004, 2006a, 2006b, 2006c ; SANTOS, 2009). Esse diálogo entre Boaventura de Sousa Santos e Paulo Freire nos permite estabelecer uma conexão entre as noções centrais da Sociologia das Ausências e da Pedagogia da Libertação. Ambas convergem no que se refere às premissas do “pensamento contra-hegemônico” e sugerem alternativas para a construção de uma práxis decolonial: “– epistêmica, teórica e política – para compreender e atuar no mundo, marcado pela permanência da colonialidade global nos diferentes níveis da vida pessoal e coletiva” (BALLESTRIN, 2013, p. 89). Referências BALLESTRIN, Luciana. América latina e o Giro Decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, nº11. Brasília, maio - agosto de 2013, pp. 89-117. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. ____________. Pedagogia da tolerância. Ana Maria Araújo Freire (Org. e Notas). São Paulo, UNESP, 2004. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2006a. ____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006b. ____________. Educação e mudança. 29. ed. Trad. Moacir Gadotti e Lilian Lopes Martins. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006c. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENEZES, Maria Paula. Epistemologias do Sul (Orgs.). Coimbra: Edições Almedina S/A, 2009.
Título do Evento
Congresso Humanitas | Direitos Humanos
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
III Congresso Internacional de Direitos Humanos e Políticas Públicas: Democracias, desigualdades e lutas sociais
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PEROZA, Juliano. PAULO FREIRE E BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS: CONVERGÊNCIAS EM TORNO DA PRÁXIS DECONOLONIAL... In: III Congresso Internacional de Direitos Humanos e Políticas Públicas: Democracias, desigualdades e lutas sociais. Anais...Curitiba(PR) PUCPR, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/humanitaspucprdh/123391-PAULO-FREIRE-E-BOAVENTURA-DE-SOUSA-SANTOS--CONVERGENCIAS-EM-TORNO-DA-PRAXIS-DECONOLONIAL. Acesso em: 31/05/2025

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