LIMA BARRETO E A CIDADE LITERÁRIA.

Publicado em 21/03/2023 - ISBN: 978-85-5722-679-1

Título do Trabalho
LIMA BARRETO E A CIDADE LITERÁRIA.
Autores
  • Paula Albuquerque
Modalidade
OFICINA / MINICURSO
Área temática
Artes, Música e Literatura
Data de Publicação
21/03/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/favela_universidadeii/506589-lima-barreto-e-a-cidade-literaria
ISBN
978-85-5722-679-1
Palavras-Chave
Literatura, Lima Barreto, Direito à cidade, Decolonialismo, Belle Époque.
Resumo
Agora em 2022 comemora-se o centenário da Semana de Arte Moderna, em São Paulo. No entanto, tal movimento esteve em diversas partes do país, a enaltecer os benefícios do progresso, as mudanças na forma de escrever e também de conceber a arte para além dos moldes europeus, mais precisamente franceses a que, enquanto colônia, sempre estivemos submetidos. Nosso objetivo nesta oficina tem uma perspectiva ao avesso da História dominante. o guia do nosso rolezinho literário é o romancista Lima Barreto.1922 foi o ano de falecimento do escritor, ano de acontecimento da Semana, porém, Barreto viveu diversas mudanças que culminaram no Modernismo de 22. Como as cidades são delineadas na literatura? Esta oficina tem ponto de partida nas cidades dos casarões da Praia de Botafogo, entretanto se interioriza para os subúrbios mas sem a noção do Cortiço naturalista, que petrifica o comportamento humano - e aqui no Brasil, de alguma forma, perpetua noções arraigadas das muitas representações racistas que a colonização gravou. . A "degenerescência" não acontece por causa do espaço empobrecido, dos pobres em situações de vulnerabilidade física, emocional ou alimentar, tampouco pelo fato dos moradores das periferias serem, na maioria das vezes negros, mestiços, retirantes, famílias partidas. Degeneradas são as estratégias econômicas de um Estado neoliberal, elitista e de legado colonialista. A urbanização proposta pelo prefeito Pereira Passos pode ter sido, decerto, um progresso para os que lucraram com essas obras, para a classe dominante que enfim poderia ter o Centro da Cidade do Rio de Janeiro à francesa para os seus passeios com casacas de flanela e vestidos cheios de anáguas nos Trópicos e especulações imobiliárias, sem contarmos os locais de residência dessa hegemonia, sossegados e em completo apartheid social, já que a reforma urbana expulsou diversos trabalhares e trabalhadoras dos seus locais de identificação e afeto; de suas residências, por mais precárias que fossem, à revelia e sem consultar a população residente desses locais ou sem um planejamento prévio para a alocação de diversas famílias. A questão não era se de fato o Rio de Janeiro precisava ou não de uma casa de espetáculos mais ampla e profusamente luxuosa para os padrões que tínhamos na cidade, como o Theatro Municipal. O que Lima questionava é que aquela diminuta manifestação de progresso escondia toda uma cidade pulsante, divergente, heterogênea, repleta de bairros longínquos, sem ações de urbanização por parte do Estado, sem infraestrutura, sem saneamento. Com isso, reiteramos uma apropriada colocação do poeta Aimé Césaire, natural da Martinica, no Caribe, e colônia francesa: Ouço a tempestade. Falam-se do progresso, das "realizações", das doenças curadas e dos níveis de vida elevados além de si mesmos. Mas eu falo de sociedades esvaziadas de si mesmas, culturas pisoteadas, instituições solapadas, terras confiscadas, religiões assassinadas, magnificências artísticas destruídas, possibilidades extraordinárias suprimidas (CÉSAIRE, 2020, p.24/25). A urbanização, a tão sonhada modernização e a brasilidade, enfim, reencontrada consigo - para além dos ideários de plumas e democracias raciais contadas-, não fazem parte do cotidiano de milhares de seres humanos, que se espalhavam pelos subúrbios através da Estação Ferroviária Central do Brasil. Para tanto, utilizaremos alguns contos do romancista carioca Lima Barreto. Essa cidade que anda de trem, toca violão em reunião com os amigos, bebe uma pinga no boteco perto de casa é o material orgânico e etnográfico do escritor, que, embora necessite da solidão para produzir, sempre esteve nas ruas, nas questões importantes para o desenvolvimento de seu projeto literário. Temos, portanto, uma literatura barretiana que esfarela a torre de marfim da literatura. Enquanto arte, a literatura tem seu estatuto, mas ela não está destituída das muitas relações que se estabelecem na vida, no espaço da nação, do ser mesmo que simboliza o mundo e suas dores através da forma literária, todavia, com o intuito, digamos, de ir além do belo. Por belo aqui seguiremos uma abstrata noção articulada por Tzvetan Todorov que é justamente quando a arte conduz para o belo e o belo "se caracteriza pelo fato de não conduzir a mais nada que esteja para além de si mesmo (TODOROV, 2014, p.48)" Autor de romances, contos, pensamentos, crônicas, Afonso Henriques de Lima Barreto escreveu sobre governos elitistas, excludentes e sobre racismo. Ensinou que aprender uma língua indígena é tão importante quanto aprender inglês. Escreveu ainda sobre os subúrbios: locais reais, de gente real que produz e mantêm a vida na cidade. Assim, observamos no conto "O filho de Gabriela" a sorte de mulheres e crianças. Com realidades familiares e afetivas partidas e incompletas, Horácio vivia em casa dos padrinhos após o falecimento da mãe. Jovem e já experienciava a solidão do negro em meio à realidade que lhe fora roubada desde sempre. O "mulato espertalhão" do poema Pronominais de Oswald de Andrade é negro também. E assim Lima Barreto argumenta em seu Diário íntimo, obra em domínio público: "Porque... o que é verdade na raça branca, não é extensivo ao resto; eu, mulato ou negro, como queiram, estou condenado a ser sempre tomado por contínuo" (BARRETO, p. 15). A representação do negro é subalternizante a fim de justificar atrocidades. A escritora estadunidense bell hooks ensina que a representação do negro é uma estratégia de dominação principalmente porque engendra o auto-ódio. Por isso, para bell hooks: Amar a negritude como resistência política transforma nossas formas de ver e ser e, portanto, cria as consolidações necessárias para que nos movamos contra as forças de dominação e morte que tomam as vidas negras" (hooks, 2019, p. 63). Assim sendo, oficina procura evidenciar, através da análise da escrita literária de Lima Barreto sobre o Rio de Janeiro, como esse espaço e as políticas públicas muniram-se de argumentos e representações para controlar as populações, negras, mestiças, migrantes, brancos pauperizados que formam o conjunto da classe trabalhadora e ele, enquanto escritor mulato ou negro, como queiram, simbolizou suas dores através de uma escrita afiada, política, observadora e, principalmente, literária. Referências: BARRETO, Lima. Diário Íntimo. Portal Domínio Público: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action&co_obra=2078 CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução de Claudio Willer. Ilustração de Marcelo D'Salete. Cronologia de Rogério de Campos. - São Paulo: Veneta, 2020. hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. Tradução de Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2019. TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. Tradução de Caio Meira. Rio de Janeiro, 2014.
Título do Evento
II Jornada Científica Favelades Universitáries
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
II Jornada Científica Favelades Universitáries: Independências, Descolonização e Territórios
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ALBUQUERQUE, Paula. LIMA BARRETO E A CIDADE LITERÁRIA... In: II Jornada Científica Favelades Universitáries: Independências, Descolonização e Territórios. Anais...Rio de Janeiro(RJ) FIOCRUZ e UFRJ, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/favela_universidadeII/506589-LIMA-BARRETO-E-A-CIDADE-LITERARIA. Acesso em: 29/05/2025

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