PATRIMÔNIO INDUSTRIAL EM MATO GROSSO DO SUL: EXISTE?

Publicado em 03/01/2023 - ISBN: 978-85-5722-522-0

Título do Trabalho
PATRIMÔNIO INDUSTRIAL EM MATO GROSSO DO SUL: EXISTE?
Autores
  • Vivianne Maria De Freitas
  • Giovane Chaparro
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Arquitetura e Urbanismo
Data de Publicação
03/01/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2022/502695-patrimonio-industrial-em-mato-grosso-do-sul--existe
ISBN
978-85-5722-522-0
Palavras-Chave
Patrimônio Material, Patrimônio Industrial, Miranda, Usina Assucareira Santo Antonio, Preservação.
Resumo
(i) Introdução: Muito se ouve falar sobre patrimônio material no âmbito da Arquitetura, porém pouco é discutido sobre um grupo existente nessa área patrimonial, nomeado de “patrimônio industrial”. Conceituado na Carta de Nizhny Tagil em 2003, é inegável a importância da preservação e documentação dos bens que são abrangidos por essa vertente. Entretanto, não é difícil perceber que o patrimônio industrial não ganha a devida atenção no estado de Mato Grosso do Sul, tendo apenas dois bens dessa área tombados. Este fato levanta algumas questões, entre elas, a principal: Realmente não existem patrimônios industriais em Mato Grosso do Sul ou estes só não estão devidamente documentados? (ii) Objetivo: O presente trabalho tem o objetivo explorar o patrimônio industrial a fim de traçar um paralelo entre a falta de informação e documentação sobre esta vertente do patrimônio material e a deterioração acelerada dos bens históricos industriais em Mato Grosso do Sul. (iii) Metodologia: A abordagem da pesquisa é qualitativa de natureza básica, tendo como enfoque a interpretação do objeto de estudo e dando maior importância ao seu contexto. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de caráter teórico-conceitual. Tem-se como base de pesquisa, a consulta bibliográfica em livros, teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso (TCC’s), publicados entre 2003 e 2022, utilizando as bases de dados Google Acadêmico e Scielo, além da pesquisa documental com informações referentes ao tema em análise e à obra correlata. (iv) Resultados: Segundo a Carta de Nizhny Tagil (2003), o património industrial é constituído pelos vestígios da cultura industrial que têm um valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios consistem em edifícios e maquinário, oficinas, moinhos e fábricas, minas e locais de processamento e refinamento, armazéns e depósitos, locais onde a energia é gerada, transmitida e utilizada, meios de transporte e toda a sua infraestrutura, bem como os locais onde se desenvolvem atividades sociais relacionadas com a indústria, como habitação, culto religioso ou educação. O estudo do patrimônio industrial no Brasil iniciou-se antes da disseminação da arqueologia industrial no país, que ocorreu durante a década de 1970. Porém, pode-se atestar que as pesquisas e a preservação do patrimônio industrial no Brasil ainda estão em fase inicial, e o campo de teoria, metodologia e prática para o conhecimento sobre essa vertente ainda está sendo pouco difundido. Como exemplo dessa afirmação, tem-se o fato de que com a substituição do sistema ferroviário pelo rodoviário os equipamentos que eram ligados à ferrovia foram esquecidos, principalmente na sua importância histórica para o desenvolvimento nacional, como também na falta de manutenção e adaptação de uma nova função para este setor. Em âmbito estadual, em Mato Grosso do sul, dos dezesseis bens materiais tombados ou em processo de tombamento apenas dois são patrimônios industriais, um número relativamente baixo se levada em conta a presença da antiga ferrovia Noroeste do Brasil (NOB) e de várias usinas de valor cultural significativo no estado, construídas em uma época de importante avanço tecnológico e industrial do Brasil. Grande parte da responsabilidade desse déficit de bens industriais tombados no estado se deve à falta de documentação e preservação devida à esses edifícios, fazendo com que sua importância cultural seja esquecida e sua estrutura caia em ruínas. Os dois exemplos do Patrimônio Industrial tombados em Mato Grosso do Sul são o Complexo Ferroviário da Rede Noroeste do Brasil e a Usina “Assucareira” (escrita assim) Santo Antônio, localizada em Miranda. Entretanto, diferente do caso do complexo ferroviário, a Usina tombada não conta com vasto acervo de informações ou documentações, levando-a à beira da ruína. Fundada no dia 21 de julho de 1929, foi erguida pelo imigrante italiano Pedro Paletto sob as ordens dos sócios Antônio Ferreira Cândido, José Theófilo de Araújo, Egino Guedes e Francisco e Angelo Rebuá. O prédio foi construído em área de 4,8 mil metros quadrados, com tipologia simplificada e devido ao uso configura um grande galpão retangular com pé-direito triplo, com um pavimento e um mezanino, paredes em alvenaria de tijolos maciços, estrutura metálica de cobertura que é utilizada também na sustentação do imóvel. Apresenta arquitetura com inspiração eclética e influência do Art Déco e possui riqueza histórica e arquitetônica, como exemplo tem-se a chaminé, que apresenta duas tonalidades diferentes, pois ao ser construída não alcançou o nível necessário, sendo necessário desmontar parte da construção e erguê-la novamente. Produtora de açúcar e álcool, a usina tocada à vapor, que funcionou em torno de cinquenta anos, chegou a produzir cem mil sacos de açúcar e empregar em torno de quatrocentas pessoas para trabalho em canaviais, além de em torno de outros quarenta para trabalho operando máquinas e outros serviços no interior da fábrica, entre os trabalhadores se encontravam índios, imigrantes russos, portugueses, japoneses e outras nacionalidades, tornando o local muito importante para a economia e sustento local e deixando à posteridade o retrato do poder econômico de Miranda e de um período de grande desenvolvimento socioeconômico e cultural do estado. A cana para a produção do açúcar e a lenha para as duas fornalhas, produzidas na França, eram provenientes do canavial e do lenheiro localizados em Petrópolis. Em seu auge, chegou a comprar cana de cinco canaviais, findadas as produções de cana nesses canaviais, começou a comprar os produtos de Chacareiro, impulsionando a economia daquela cidade. A antiga fábrica de açúcar também contava com encanamentos subterrâneos com registros de bronze e metal, e um poço artesiano lacrado, construído a mando de imigrantes portugueses, que dispunha de bombas que puxavam a água do rio mais próximo e encaminharam à usina. É importante ressaltar a importância da Ferrovia Noroeste do Brasil no desenvolvimento da fábrica, tanto na busca das máquinas pesadas, sendo o alambique de cobre, as três moendas de bronze, entre outras, como as cinco turbinas e as caldeiras, quanto na exportação dos produtos da usina, levados à São Paulo, Bauru e Santos. Sendo uma das únicas três usinas existentes no estado durante aquele período, teve diversos donos durante seu funcionamento, encerrou suas atividades em 1972 e foi vendida pela última vez ao, até então, dono da marca Açúcar União, que, não querendo encerrar as atividades da Usina, trouxe maquinários e tanques novos para a produção de açúcar refinado, porém não alcançando o resultado esperado fechou a fábrica definitivamente, deixando a segunda cidade mais antiga do estado em declínio econômico à partir desse período, com demissões em massa e sucateamento dos equipamentos utilizados. Além do legado histórico deixado na cidade, a Usina “Assucareira” Santo Antônio deixou marcas culturais à população que participou de sua história, um exemplo disso é a lembrança da cota de açúcar remanescente que cada trabalhador levava para casa ao fim de cada dia. Tombada em 13 de agosto de 2007, o edifício conta com projetos de restauro que nunca saíram do papel e sua estrutura restante próxima à ruína (v) Discussão: A Carta de Nizhny Tagil (2003) conceitua e levanta os principais pontos referentes ao patrimônio industrial. Kühl (s/a) levanta algumas questões ainda não solucionadas sobre o patrimônio industrial. Azevedo (2010) traz a história do patrimônio industrial no Brasil e do início do estudo aprofundado a essa vertente patrimonial. Maria e Silva (2018) apresentam a importância da preservação do patrimônio industrial. A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (s/a) lista os bens materiais e imateriais tombados e em processo de tombamento no estado, bem como uma pequena contextualização histórica de cada item. As principais informações obtidas da Usina "Assucareira" Santo Antônio vieram de meios extraoficiais, como entrevistas ou sites dispersos, dificultando muito a junção das informações. Com os dados obtidos foi possível observar o quanto o patrimônio industrial é pouco difundido entre os sistemas de ensino patrimonial, e ficou evidente a necessidade de maior atenção, estudo e investimento à essa área do patrimônio material. (vi) Considerações finais: Sendo assim, é possível traçar um paralelo entre a falta de informação e a ruína de diversos bens históricos, onde a ruína é acelerada pela falta de documentação necessária de suas características e história, além da falta de investimento na preservação ou restauro, em casos extremos, dos edifícios, mas também a falta de documentação atual se dá pela perda de características importantes em sua arquitetura e dissipação do conhecimento cultural da sociedade local para com o edifício. Por isso, é necessária uma multidisciplinariedade na catalogação e registro durante o estudo de um patrimônio industrial, para que não haja perda de informações relevantes, facilitando possíveis propostas de preservação ou restauração, fazendo com que esses bens tenham a sua devida notoriedade e atenção dos Órgãos responsáveis. (vi) Referências: TCCIH. Carta de Nizhny Tagil sobre o patrimônio industrial. 4 f, 2003. Disponível em: www.tccih.org 05 junho 2022 OLIVEIRA, Ben. Pontos Turísticos de Miranda. I Love MS Oficial, 2012.Disponível em: https://www.ilovemsoficial.com/2012/08/pontos-turisticos-de-miranda.html . Acesso em: 05 jun. 2022. KÜHL, Beatriz Mugayar. Algumas questões relativas ao patrimônio industrial e à sua preservação. Revista Eletrônica do IPHAN, n. 4, 7 f, 2006. Disponível em: http://www.revista.iphan.gov.br/materia.php?id=165. 25 maio 2022 SILVA, Willian da; MARIA, Yeda Ruiz. A IMPORT NCIA DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL. Colloquium Socialis, [S.L.], v. 2, n. 2, p. 581-585, 1 dez. 2018. Associacao Prudentina de Educacao e Cultura (APEC). http://dx.doi.org/10.5747/cs.2018.v02.nesp2.s0339. acesso em 28 maio 2022 NASCIMENTO, Aguinaldo Acunha do. USINA Açucareira Santo Antônio (Miranda-MS), Youtube, 2021. (29 min.), MP4, color. Disponível em: https://youtu.be/4VIK0vOEhwk . Acesso em: 25 maio 2022.
Título do Evento
3º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2022
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do 3º CONIGRAN - Congresso Integrado da UNIGRAN Capital 2022.
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FREITAS, Vivianne Maria De; CHAPARRO, Giovane. PATRIMÔNIO INDUSTRIAL EM MATO GROSSO DO SUL: EXISTE?.. In: Anais do 3º CONIGRAN - Congresso Integrado da UNIGRAN Capital 2022.. Anais...Campo Grande(MS) Rua Abrão Júlio Rahe, 325, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2022/502695-PATRIMONIO-INDUSTRIAL-EM-MATO-GROSSO-DO-SUL--EXISTE. Acesso em: 21/07/2025

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