PSICOLOGIA E RACISMO: UMA INTERFACE NECESSÁRIA

Publicado em 03/01/2023 - ISBN: 978-85-5722-522-0

Título do Trabalho
PSICOLOGIA E RACISMO: UMA INTERFACE NECESSÁRIA
Autores
  • Silvia Cristina Santana Zanatta
  • Tissiana Ferreira Luciano Santos
  • Micheli Carneiro De Souza Branco
  • Anna Jessica Silvestrini De Araújo
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Psicologia
Data de Publicação
03/01/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2022/502146-psicologia-e-racismo--uma-interface-necessaria
ISBN
978-85-5722-522-0
Palavras-Chave
Psicologia, Racismo, Desigualdade, Saúde Mental.
Resumo
INTRODUÇÃO: Negros e negras são a maioria no nosso País. Segundo dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56% da população se declara como parda ou negra. Apesar disso, este contingente populacional é tratado como minoria e cotidianamente subjugado e exposto ao abismo da desigualdade social e ao racismo estrutural. Tal fato pode ser facilmente constatado a partir da análise criteriosa de dados estatísticos voltados, por exemplo, ao mercado de trabalho, como os divulgados recentemente pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (2021), na qual se verifica que, entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, um total de 8,9 milhões de trabalhadores e trabalhadoras perderam o emprego, sendo que deste total 6,4 milhões (71,4%) eram negros ou negras e 2,5 milhões não negros. Dados que também impressionam são os relacionados ao número de pessoas negras e não negras que compõem a população carcerária brasileira. Segundo o Anuário de Segurança Pública de 2019, em 15 anos a proporção de negros no sistema carcerário cresceu 14%, enquanto a de brancos diminuiu 19%. Dos 657,8 mil presos em que há informação da cor/raça disponível, 438,7 mil são negros, o que equivale a 66,7%. Ou seja, atualmente, de cada três presos, dois são negros. Outro dado preocupante, desta vez apresentado pelo Atlas da Violência 2021, é que a chance de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 2,6 vezes superior à de uma pessoa não negra. E, não muito distante do que já foi apresentado acima, os dados relacionados à taxa de extrema pobreza endossam a ideia de que não é fácil ser negro no Brasil, pois, segundo a Síntese de Indicadores Sociais, também do IBGE, em 2020 a extrema pobreza atingiu 7,4% dos pretos e pardos, enquanto a pobreza foi presente na vida de 31% desta população; já entre os brancos o indicador marcou 3,5% e 15,1%, respectivamente. Facilmente outros tantos números estatísticos poderiam ser apresentados no decorrer desta pesquisa, mas a partir destes selecionados e elencados até o momento já é possível intuir que o Estado está muito longe de se comportar de maneira satisfatória frente a situação, na qual deveria garantir políticas públicas inclusivas e antirracistas para a promoção do bem-estar e seguridade da população negra brasileira. O fracasso em conter os limites da desigualdade racial em nosso país, assim como o não lugar social, a ausência de sentimento de pertença, o descaso, o sentimento de inferioridade, de inadequação, de fracasso e de isolamento é que está levando outro índice se tornar alarmante: o crescente número de jovens negros que, na tentativa de romper com os ciclos de sofrimento a que são expostos, sobretudo os psíquicos, cometem suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil suicídios acontecem por ano, sendo que, de cada dez jovens entre 10 e 29 anos que se suicidam, seis se autodeclaravam negros ou pardos. OBJETIVO: Na perspectiva de entender estes pilares estruturais que sustentam o racismo em nossa sociedade, apontar as consequências psíquicas inerentes a este emaranhado de tensões e desvelar qual o papel da psicologia na contenção do problema instalado é que este trabalho foi construído. METODOLOGIA: Para a elaboração do presente estudo foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica, a partir de dados já publicados, especialmente artigos científicos, dados estatísticos e livros. Os materiais de pesquisa foram analisados e passaram por um processo de interpretação e compreensão qualitativa dos conteúdos. Importante registrar que a ideia da realização deste trabalho surgiu de discussões propostas dentro disciplina de Ética Profissional do curso de Psicologia. DISCUSSÃO E RESULTADOS: Durante o processo investigativo é notável que, conforme aponta Lane (1996), Freitas (1988) e Góis (2005), assim como outros tantos teóricos, nem sempre a psicologia esteve voltada para as questões que afligiam a grande massa. Considerada, por muito tempo, como uma ciência a serviço da elite, foram exaustivas décadas até que a Psicologia começasse a se abrir para entender e atuar frente a fenômenos como o do racismo. Mas, antes de discutir o papel da Psicologia frente a consequências do racismo estrutural para a saúde mental da população negra brasileira, é importante destacar que, no país, o racismo está diretamente ligado à construção sócio-histórica-cultural, uma vez que desde o processo de colonização portuguesa e das missões jesuítas houve um grande esforço para colocar o negro em um lugar de inferioridade e relacioná-lo a uma simples mercadoria. Mesmo depois da abolição da escravatura, a perpetuação desta ideia não deixa de ter ressonância. Essa raiz histórica leva a algumas indicações do porquê muitas pessoas cometem atos racistas ainda hoje, mesmo que esta violência seja absolutamente desprovida de sentido, o que permite constatar que o racismo e a discriminação racial nunca tiveram fim, eles tão-somente se manifestam de formas diferentes, a depender da conjuntura da época. Para Camino (2000), hoje boa parte da população é racista, mas se comporta de forma silenciosa e mascarada, defendendo a postura de que não são racistas, apesar de apresentar comportamentos contrários. Pereira (2017), corroborando a ideia que compõe a introdução deste trabalho, afirma que tal postura, geradora de violência e desigualdade socioeconômica, assim como a invisibilidade que permeia a vida das pessoas negras, são fatores que geram consequências psicológicas graves em suas vítimas. Na mesma linha de pensamento, Oliveira, Magnavita e Santos (2017) sustentam que transtornos como a depressão e ansiedade tendem a ser frequentemente desenvolvidas por vítimas de racismo. Segundo os autores, desde muito cedo o negro é rejeitado pela sociedade, sobressaindo-se os atos de discriminação que acontecem nas escolas, fatores que causam impactos incalculáveis na saúde mental, comprometendo diretamente a autoestima e o desenvolvimento destes indivíduos. Neste sentido, cabe à Psicologia o esforço de legitimação, mas sem assumir como responsabilidade exclusiva, de acabar com as desigualdades estruturais. E isso deve se dar a partir da criação de práticas alicerçadas no problema. Cabe ao profissional de Psicologia se posicionar no campo de batalha a favor dos povos negros, em defesa de um projeto ético-político emancipatório. Assim como defende Martin-Baró (1996), é necessário que se adote um “quefazer” pela e para conscientização, a fim de fomentar práticas anticolonialistas e antirracistas para que se evitem conformações e alienações. O Conselho Federal de Psicologia (CFP), no uso de suas atribuições legais, estabelece através da Resolução 18/2002 normas de atuação para os psicólogos em relação ao preconceito e à discriminação racial, destacando que os psicólogos devem agir segundo os princípios éticos da profissão, contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão sobre o preconceito e para a eliminação do racismo, assim como, no exercício profissional, devem se comprometer em não serem coniventes e nem se omitirem perante o crime do racismo. Todavia, apesar de incentivados a se posicionar e reagir no sentido da construção de uma sociedade mais justa e humana, a Psicologia como um todo no Brasil não se destaca pela produção e aportes relevantes sobre dores psíquicas e sobre o sujeito psíquico como sendo intrinsecamente sociopolítico. Dada a urgência e o quão incômodo este tema se tornou para o mundo, são encontrados poucos estudos nessa área que aprofundem a temática do racismo ou de outras nuances concernentes ao negro como sujeito político. Conforme mostra o Damasceno e Zanello (2018), a discussão da temática no Brasil é incipiente, ainda que a Psicologia tenha promissoramente contribuído mais que a Psiquiatria em termos de proposições. Os autores ainda ressaltam que a Psicologia ignora aspectos políticos e sociais geradores de problemas mentais e sociais, e que seria necessário que a Psicologia passasse a considerar mais o coletivo, tendo como uma das prioridades o enfrentamento do desafio de desapegar-se da ideologia dominante e abrir-se para outras formas epistemológicas, assim como passar a utilizar a Psicologia crítica para instrumentar a mudança em suas práticas metodológicas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Entendendo que enfrentar o racismo exige por parte da Psicologia, como ciência e como profissão, contribuir com o entendimento dos processos políticos e psicossociais concernentes ao racismo, igualmente como prestar suporte para as mudanças das relações socioeconômicas, dos padrões culturais e das formas de produzir e reproduzir a história brasileira, intui-se sobre a necessidade de que pesquisadores da área se perguntem sobre a necessidade e urgência de formular e sistematizar teorias, metodologias, técnicas e práticas que contribuam de forma efetiva com a luta antirracista nas mais distintas dimensões. REFERÊNCIAS BUENO, S.; LIMA, R. S. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, v. 13, 2019. CAMINO, Leoncio. A face oculta do racismo no Brasil: uma análise psicossociológica. In: Revista Psicologia Política. Paraíba, 2000. p.13-36. CERQUEIRA, Daniel et. al. Atlas da Violência 2021. São Paulo: FBSP, 2021. 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Trauma Cultural e sofrimento social: do banzo às consequências psíquicas do racismo para o negro. In: XXIX Simpósio Nacional de História. Brasília, 2017. WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. The World Health Report 2019: Shaping the future. Genebra: World Health Organization, 2019.
Título do Evento
3º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2022
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do 3º CONIGRAN - Congresso Integrado da UNIGRAN Capital 2022.
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ZANATTA, Silvia Cristina Santana et al.. PSICOLOGIA E RACISMO: UMA INTERFACE NECESSÁRIA.. In: Anais do 3º CONIGRAN - Congresso Integrado da UNIGRAN Capital 2022.. Anais...Campo Grande(MS) Rua Abrão Júlio Rahe, 325, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2022/502146-PSICOLOGIA-E-RACISMO--UMA-INTERFACE-NECESSARIA. Acesso em: 09/05/2025

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