O ARTESANATO FRENTE AO PRODUTO INDUSTRIAL

Publicado em 03/01/2023 - ISBN: 978-85-5722-522-0

Título do Trabalho
O ARTESANATO FRENTE AO PRODUTO INDUSTRIAL
Autores
  • Ana Carla Porto
  • JOAO VICTOR SILVEIRA SANTOS
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Design de Interiores
Data de Publicação
03/01/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2022/500542-o-artesanato-frente-ao-produto-industrial
ISBN
978-85-5722-522-0
Palavras-Chave
Design, artesanato, artesão.
Resumo
Introdução Os avanços tecnológicos e as novas formas de produção, trazidas pela Revolução Industrial, foram deixando os produtos artesanais para trás, uma vez que o capitalismo e o acúmulo de capitais demandavam cada vez mais quantidade, uniformidade e rapidez. Na contramão desses avanços, artistas e intelectuais da época, os quais eram agentes que atuavam na construção dos estilos e modelagem do gosto, defendiam o uso e permanência desses produtos. Para John Ruskin, um artista, poeta e crítico muito influente, eram fundamentais as diferenças entre as peças confeccionadas de maneira artesanal, pois elas possuíam a capacidade de demonstrar o estado de espírito do artesão no momento da criação, imprimindo às obras aspectos únicos, em contraposição à produção industrial, havendo personificação do trabalho (BROWN e FARRELY, 2014). Atrelado à forma de consumir e no âmbito do design, atualmente, a preocupação com o consumo desenfreado e a busca por produtos originais que tenham história e significados por trás dos objetos, têm proporcionado um aumento à procura por produtos artesanais. Hemzo et al (2011) explica que esses produtos não só promovem um resgate cultural, fortalecem a identidade do artista, e criam peças únicas - em contrapartida à massificação e a uniformização dos produtos industriais, mas também gera renda para quem produz, incentivando a economia e o desenvolvimento local. No Brasil, segundo o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio, a atividade artesanal representa 2,8% do PIB Nacional. Objetivos O presente trabalho faz parte da pesquisa para o trabalho de conclusão de curso em Design de Interiores. Nesse contexto, para a criação do projeto comercial da ELE ART- produtos feitos à mão, que visa integração entre atelier e loja, destaca-se para o público o processo artesanal de confecção/produção das peças, visando a valorização das mesmas. Assim, essa pesquisa tem o objetivo de entender historicamente a origem e as singularidades dos produtos artesanais frente à produção em série e sua relação com o design. Metodologia Trata-se de uma pesquisa qualitativa, em que o pesquisador é instrumento fundamental. Minayo (2002, p.21-22), caracteriza a pesquisa qualitativa em Ciências Sociais, apresentando alguns aspectos que lhe são característicos: “[...] trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores, atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações [...]”. Com revisão bibliográfica, que segundo Lakatos e Marconi (2003) abarca todo o levantamento de material já publicado, em forma de livros, revistas, publicações avulsas, sejam digitais ou impressos, ou seja, fontes secundárias. O intuito da pesquisa bibliográfica é colocar o cientista em contato com o que foi produzido sobre determinado assunto. Resultados e Discussões O artesanato está associado à vida humana desde o início da nossa existência, com a criação de artefatos que se faziam necessário à sobrevivência, como: lanças para caça, flechas, machados e até mesmo cestas para colheitas. Artesãos eram aqueles que possuíam mais habilidades para produzir esses objetos de qualidade e executavam-na com maestria e esmero. O termo artesão era usado para definir trabalho manual que, embora habilidoso, não se propõe a finalidades intelectuais ou criativos. Foi, pois, a estética moderna que circunscreveu o artesanato. Segundo Barroso (2000), dos objetos primitivos, houve evolução para organizações sociais produtivas, como as guildas e os ofícios – associações essas que tinham grande influência na sociedade, formada por artesões, artistas e comerciantes. Somente a partir do século XVIII surgiram as primeiras corporações de ofícios com regras e regulamentos rígidos, definindo os limites e atribuições do trabalho artesanal, conseguindo algumas destas entidades bastante reconhecimento. De acordo com Brown e Farrely (2014), em meados do século XVIII e XIV, na Inglaterra, surgiu a Revolução Industrial -período marcado por grande desenvolvimento tecnológico que desencadeou mudanças sociais, econômicas, trabalhistas e até mesmo cultural. A burguesia inglesa muito rica, começou a investir nas indústrias e aperfeiçoamento das máquinas, que juntamente com o aprimoramento dos meios de transportes, possibilitou o acesso a abundantes fontes de minerais e matérias-primas. Logo, os processos de fabricação tornaram-se cada vez mais acelerados, uniformes e mecanizados. Durante esse período, com o acúmulo de capitais, o padrão de vida da classe média aumentou, fazendo com que objetos que antes eram considerados extravagâncias, passassem a ser vistos como necessidades, iniciando uma era de consumismo em massa e abundância. Se por um lado havia desenvolvimento, por outro, havia abandono por parte do trabalho manual, o qual reinava antes da chegada desse período, uma vez que a Revolução Industrial aderiu a produção em série de vários artefatos de cerâmica, móveis, carpetes e outro objetos domésticos. O trabalhador manual passou a trabalhar nas indústrias, já que não poderia concorrer com elas, tornando-se assim subordinados às mesmas e expropriados do seu saber (THOMPSON, 2012). Para John Ruskin, um artista, poeta e crítico muito influente, era lamentável o abandono do trabalho artesanal, considerando a nova forma de produção desumana e imoral, a qual despersonifica o trabalho: A ideia de que esses objetos seriam inevitavelmente vulgares e espalhafatosos levou à apologia do retorno ao trabalho manual como a única alternativa possível de reforma (BROWN e FARRELY, 2014). As autoras supracitadas elucidam que o movimento Artes e Ofícios, fundado por William Morris sobre o impacto de Ruskin, voltava-se para a valorização do artesanato criativo frente à mecanização e a produção em larga escala, agregando nos objetos produzidos a experiência do fazer e daquilo que considerava a verdade do material, do artista- artesão e a verdade estética. Borges (2011) destaca que no Brasil, porém, não houve processo de desenvolvimento e evolução local, sendo a produção artesanal nativa indígena, suplantada e marginalizada, dando lugar ao artesanato pré-pronto vindo da Europa, com influência de hábitos e práticas ibéricos e italianos. A herança dos nossos artefatos foi totalmente desconsiderada e desvalorizada, em nome do progresso e da desejada inserção do Brasil no concerto das nações desenvolvidas pautado pelos princípios puramente racionais - a Ciência, a Técnica, a Metodologia. Embora ainda haja preconceito em relação a atividade artesanal - a qual é vista muitas vezes como atividade secundária, o artesanato apresenta grande peso e importância no desenvolvimento econômico. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 67% dos municípios no país tem o artesanato presente na economia (SEBRAE, 2016). Contabilizando os artesãos que trabalham informalmente, esses números podem ser expressivamente maiores. Atualmente, na área do Design, a valorização do trabalho artesanal tem recebido visibilidade e incentivo, uma vez que a demanda por produtos originais, que tenham significado por trás de cada objeto, se faz necessário. Pois “os produtos industriais, são instrumentos exatos, serviçais, mudos e anônimos” (PAZ, 2006, p. 4). O International Council of Societies of Industrial Design (ICSID), afirma que trabalhos manuais e artesanatos relacionam-se cada vez mais ao design, entendendo como a atividade criativa interdisciplinar que estabelece as qualidades de diferentes objetos e serviços, com base em parâmetros socioculturais, ecológicos, tecnológicos, formais e funcionais (ICSID, 2007). Nesse enredo, que se busca aproximação entre o artesanato e o design, Borges (2011) esclarece que o designer tem papel fundamental de facilitador, tradutor, mediador ou até mesmo intervencionista. “Que possamos nos deixar contagiar pelo afeto, pela memória e pela cultura impregnados nos objetos feitos à mão” (p. 17). Considerações Finais Diante do exposto, pode-se concluir que a chegada da Revolução Industrial causou grandes transformações sociais e culturais, levando ao abandono dos produtos feitos de forma artesanal. A forma de produzir e consumir, já não era mais a mesma, pois, com o crescimento das indústrias, do capitalismo e do consumismo em massa, houve um aumento na demanda por produtos feitos em larga escala que suprissem as necessidades da população. Produtos esses, que segundo alguns artistas e críticos do século XIV, eram uniformes e careciam de personificação do artista. O inconformismo desses influentes da época, com a produção em massa, levou a um movimento de resgaste dos produtos artesanais, valorizando as singularidades das peças, a assinatura e espírito do artista empregado nelas, e sua utilização na arquitetura e design. Hoje, por mais que se vive em um mundo capitalista, a procura por produtos artesanais que exprimem originalidade segue em crescimento, estimulando assim, o desenvolvimento e crescimento econômico nesse setor. Referências BARROSO, Eduardo Neto. O que é artesanato. (Apostila). Primeiro módulo, 2001. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000. BORGES, Adélia. Design + artesanato: o caminho brasileiro. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2011. BROWN, Rachael; FARRELY, Lorraine. Materiais no design de interiores. Lapa de Baixo: Gustavo Dili, 2014. HEMZO, Miguel; ANDRADE, Josmar; DOS SANTOS, Roberto. O desenvolvimento do setor artesanal paulista: uma análise crítica da sua qualificação gerencial. Revista gestão e políticas públicas, São Paulo, 2011. Disponível em file:///C:/Users/User/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/FACULDADE/PI/21-98-1-PB.pdf. Acesso em: 10 maio 2022. ICSID - International Council of Societies of Industrial Design – Conselho Internacional das Sociedades de Desenho Industrial. (s.d.). Disponível em: www.icsid.org/about/about/articles31.htm?query_page=1 . Acesso em: 11 maio 2022. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo, SP: Atlas, 2003. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2013. PAZ, Otávio- Labirinto da solidão e post scriptum. Rio de Janeiro: Paz e Terra 2006 SEBRAE. O Artesão Brasileiro. Brasília: SEBRAE, 2013. Disponível em https://bibliotecas.sebrae.com.br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/dfad41051c6d27627519027375a462c0/$File/6078.pdf . Acesso em 11 maio. THOMPSON, E.P. A Formação da Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2012. V. 1.
Título do Evento
3º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2022
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do 3º CONIGRAN - Congresso Integrado da UNIGRAN Capital 2022.
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

PORTO, Ana Carla; SANTOS, JOAO VICTOR SILVEIRA. O ARTESANATO FRENTE AO PRODUTO INDUSTRIAL.. In: Anais do 3º CONIGRAN - Congresso Integrado da UNIGRAN Capital 2022.. Anais...Campo Grande(MS) Rua Abrão Júlio Rahe, 325, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2022/500542-O-ARTESANATO-FRENTE-AO-PRODUTO-INDUSTRIAL. Acesso em: 13/07/2025

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