A VIVÊNCIA DO LUTO MATERNO DIANTE DA PERDA PERINATAL

Publicado em 04/08/2021 - ISBN: 978-65-5941-292-1

Título do Trabalho
A VIVÊNCIA DO LUTO MATERNO DIANTE DA PERDA PERINATAL
Autores
  • Ingrid Fabianny do Nascimento Baloque
  • Elaine Cristina da Fonseca C. Pettengill
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Psicologia
Data de Publicação
04/08/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2021/361093-a-vivencia-do-luto-materno-diante-da-perda-perinatal
ISBN
978-65-5941-292-1
Palavras-Chave
Luto. Perda perinatal. Morte. Psicoterapia. Depressão.
Resumo
INTRODUÇÃO: Em 2018, no Brasil, mais de 30 mil óbitos ocorreram antes mesmo do nascimento, segundo as Informações de Saúde TabNet do Departamento de Informática do SUS, acessado dia 23 de setembro de 2020. Ao deparar-se grávida, a mulher tende a investir afetivamente em seu bebê ainda no ventre. Assim, se inicia o processo de construção da maternidade. No meio desse processo há o parto e, portanto, o nascimento do bebê. Porém, este pode vir ao mundo com ou sem vida (LOPES; PINHEIRO, 2013). Alguns fetos sequer chegam ao parto, no entanto, a dor não é menor. A morte de pessoas significativas é experimentada no decorrer da vida, e é muito importante que a vivência do luto não seja ignorada, pois segundo Souza e Souza (2019), o luto é uma maneira adaptativa e saudável de viver uma perda. Porém, pouca importância social é dada ao luto da perda de um bebê ainda no ventre materno. A desconsideração deste evento experimentado pela gestante não possibilita a ela a experiência do luto, por isso, é um assunto que precisa ser discutido e compreendido, para que a mulher possa sentir que seu sofrimento tem um lugar na sociedade e que possa ser acolhido. OBJETIVO: discutir a vivência emocional do luto materno diante da perda perinatal. METODOLOGIA: Este trabalho trata-se de pesquisa bibliográfica com acesso a base de dados da Internet (Biblioteca Virtual em Saúde, Scientific Electronic Library Online - Scielo, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde - Lilacs, Periódico Eletrônico de Psicologia – PePSIC e Google Acadêmico), utilizando-se artigos publicados nos últimos dez anos e obras clássicas da Psicanálise para a discussão do tema proposto. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Conforme Vidal (2010), frente a essa significante perda na qual não houve convívio com o bebê, apenas a idealização, o luto é experienciado de maneira diferente, o que sustenta a relevância do presente estudo. Em relação à morte de um bebê, é muito comum haver silêncio por parte da família e amigos dos enlutados. Porém, esta atitude pode dar o sentido de que a morte foi classificada como insignificante pelo fato de que a criança não foi apresentada socialmente (FARIA-SCHUTZER et al., 2014). Em um processo de luto, o apoio familiar é importante, enquanto sua ausência é atribuída como desamparo (PEREIRA et al., 2018). As pessoas costumam ignorar a morte de um bebê, pois acreditam que se fosse uma criança maior, causaria mais dor, por isso, esse óbito não é significativo. Nesse momento, é fundamental que a comunidade entenda que a ligação entre mãe e filho se inicia ainda na gestação (FLENADY et al., 2014). O luto é um processo de ajustamento e elaboração de uma perda, que equivale ao desligamento da libido ao lembrar do objeto perdido. Este trabalho é lento, pois implica em sofrimento e capacidade de recuperar conforto e possibilidades de viver sem o ente querido (FREUD, 1915 [1917]/ 2020; CAVALCANTI; SAMCZUK; BONFIM, 2013). De acordo com Freud (1915 [1917]/2020), precursor da investigação da psique, quando se perde um ente querido, a energia libidinal é submetida por uma avalanche de memórias e pensamentos sobre o objeto perdido. O enlutado não tem mais disposição para elaborar novos relacionamentos enquanto não quebrar essa ligação. Quando essa energia não se transfere facilmente, o sobrevivente se torna hostil e deprimido, podendo ser reconhecidos sintomas parecidos com a melancolia, como a ausência da capacidade de amar novamente, perda de interesse pelo mundo e suas atividades. No momento em que a pessoa em luto se sinta livre desse elo, sua energia libidinal pode ser investida em um novo objeto. O luto é a experimentação de perdas, tanto reais, quanto simbólicas. Ou seja, não significa apenas a morte real e física, mas, por exemplo, ao perder um emprego, o fim de um relacionamento, o término da faculdade, a mudança de cidade, ao passar da fase da infância para a adolescência, pois ocorre a abdicação do corpo de criança e seus significados etc. Enfim, perdas que são sofridas ao longo da vida (CAVALCANTI; SAMCZUK; BONFIM, 2013). Elisabeth Kübler-Ross foi a pioneira em sistematizar o processo de perda em estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Os estágios são vividos tanto no luto antecipatório, como no luto real e são como mecanismos de defesa a fim de não sobrecarregar emocionalmente o sujeito. Cada um passa pelos estágios de forma única e não necessariamente nessa ordem e nem todas as etapas precisam ser sentidas (KÜBLER-ROSS; KESSLER, 2005). No primeiro estágio, negação, a pessoa não acredita que a morte de um ente querido realmente ocorreu. Se pergunta se é um sonho, acha que o ente vai voltar e que cometeram um erro ao avisar de seu falecimento. Essa é a primeira reação ao receber uma triste e impactante notícia. Logo depois de assimilar que o comunicado era real, surge a raiva. Raiva de todos, da família, dos médicos que não conseguiram salvar, de si mesmo e de Deus. O corpo social não aceita e, de certa forma, tem medo da raiva. Assim, muitos enlutados não a expressam em sua totalidade. A barganha é a negociação da volta do objeto de amor. “E se eu ajudar os outros pelo resto da minha vida terei ele (a) de volta?”. Uma mãe que perdeu um filho antes de seu nascimento, barganha para que seu próximo filho nasça com saúde. O estágio da depressão não significa que existe um transtorno, é apenas uma resposta normal e apropriada ao luto adaptativo. E, enfim, a aceitação onde o enlutado não se sente depressivo ou com raiva. O luto passa a ser tranquilo e pacífico (KÜBLER-ROSS; KESSLER, 2005). Sentimentos de culpa, ansiedade e desespero intensos podem ser experimentados pela mãe que perdeu o seu bebê. Desta forma, a mãe enlutada pode passar a se defender de forma maníaca contra essas dores ou angústias depressivas, fazendo uso das defesas maníacas: triunfo, desprezo e o controle sobre essas angústias. O triunfo é caracterizado pela negação dos sentimentos de tristeza e de sentir falta do objeto. A mãe enlutada se comporta como se não se importasse com a perda. O desprezo também é uma negação em valorizar o objeto perdido. Neste caso, o objeto não merece a culpa e o sofrimento da mãe que o perdeu (SEGAL, 1975). Em um episódio maníaco, a mãe em luto apresenta comportamentos como entusiasmo ilimitado, aceleração do pensamento, fuga de ideias, instabilidade, aumento da disposição e da atividade motora, diminuição da necessidade de sono, irritabilidade e comportamento de risco com dificuldade de controle para impulsividade (BOGOCHVOL, 2014). Outra patologia que pode ser desencadeada pelo estresse da perda de algo ou alguém é a depressão que, segundo Zimerman (2008), resulta de um primitivo “vazio de mãe”. A mãe enlutada que vivencia esta patologia pode ter sofrido uma ausência física ou afetiva de sua mãe apresentando sentimentos de desesperança reprimida. Ao se deparar com a perda, ela se identifica com o objeto morto ou danificado, logo, partes do ego também são sentidas como mortas. Estes lutos mal elaborados facilitam a instalação de sintomas depressivos, tais como, perda de ânimo, de interesse ou prazer, perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia, sentimentos de culpa, entre outros (TELES, 2017). Conforme Silva, Carneiro e Zandonadi (2017), a mãe que, por algum motivo, não realiza a elaboração da perda, desenvolve o luto patológico. Ao perceber a possibilidade deste tipo de luto, uma intervenção psicológica é necessária a fim de auxiliar a mulher em luto a elaborar a perda e reencontrar novos caminhos para o desejo. A terapia do luto vem sendo desenvolvida no Brasil há vinte anos. O objetivo desta abordagem é auxiliar, de diversas formas, a enlutada a resolver o bloqueio emocional inibidor ao dar oportunidade de exprimir seus sentimentos. Um tipo de terapia de luto é realizar um ritual de despedida simbólica. É um modelo de curto prazo onde diversos meios são aplicados, como a escrita terapêutica de cartas ao bebê falecido, aceitar o apego a um objeto que era do bebê e enterrá-lo como um ritual de despedida final (PAULO, 2012). Uma das técnicas mais intensas a ser utilizada na terapia do luto é a da cadeira vazia advinda da Gestalterapia. A mãe enlutada imagina que o filho(a) está sentado(a) na cadeira frente a ela, então a mulher fala diretamente com a pessoa morta, em vez de dialogar a respeito do bebê. Este método é útil para resolver situações inacabadas, administrar arrependimentos e a culpa da perda da criança (WORDEN, 2013). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Durante a pesquisa, foi percebido que o luto materno se dá de diversas maneiras e depende, em parte, de como foram internalizadas experiências afetivas da infância da mãe enlutada com sua própria mãe. Por esse motivo, o luto é sentido de forma individual e subjetiva. Compreender de que forma o luto pode ser experimentado, auxilia as pessoas ao redor da mãezinha que sofre, a dar assistência necessária, sem julgamentos, visando a melhora e o atravessamento de um adequado processo de luto. Portanto, esta pesquisa se torna importante para que os familiares, assim como a sociedade, entendam que a mulher precisa de uma rede de apoio saudável para que ela atravesse este processo sem maiores dificuldades.
Título do Evento
2º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2021
Título dos Anais do Evento
Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BALOQUE, Ingrid Fabianny do Nascimento; PETTENGILL, Elaine Cristina da Fonseca C.. A VIVÊNCIA DO LUTO MATERNO DIANTE DA PERDA PERINATAL.. In: Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital. Anais...Campo Grande(MS) Unigran Capital, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2021/361093-A-VIVENCIA-DO-LUTO-MATERNO-DIANTE-DA-PERDA-PERINATAL. Acesso em: 19/05/2025

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