ARQUITETURA PODE SER DE CONHECIMENTO POPULAR? ANÁLISE DO PODCAST “ARQUITETURA DE BOTECO”

Publicado em 04/08/2021 - ISBN: 978-65-5941-292-1

Título do Trabalho
ARQUITETURA PODE SER DE CONHECIMENTO POPULAR? ANÁLISE DO PODCAST “ARQUITETURA DE BOTECO”
Autores
  • Rebeca Araujo de Oliveira
Modalidade
Resumo expandido
Área temática
Arquitetura e Urbanismo
Data de Publicação
04/08/2021
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/conigran2021/359583-arquitetura-pode-ser-de-conhecimento-popular-analise-do-podcast-arquitetura-de-boteco
ISBN
978-65-5941-292-1
Palavras-Chave
Arquitetura, Educação, Podcast, Arquitetura de Boteco.
Resumo
Introdução: O podcast surgiu no início dos anos 2000, é um arquivo com informações sonoras, disponível para download, e/ou para ser reproduzido em diversas plataformas. Uma característica importante do podcast é a oralidade, há liberdade de se expressar verbalmente de uma forma livre, pela linguagem coloquial, as novas tecnologias vêm transformando as possibilidades de produzir acervos e de sua transmissão. O problema de pesquisa nasce da compreensão acerca das restrições de temas relacionados à arquitetura (história da arte, problemas de planejamento urbano, ou até aspectos cenográficos) ao que conhecemos como “bolhas”, isto é, círculos sociais que têm acesso ao tema por uma associação direta, geralmente sendo o trabalho-remunerado quando se trata de arquitetura e urbanismo. Desse modo, surge a hipótese traçada: a discussão sobre arquitetura realizada em podcasts pode contribuir para a disseminação do conhecimento? No contexto educacional, o podcast tem sido visto como uma ferramenta tecnológica que contribui com o objetivo didático (DONNLEY e BERGE, 2006) pela economia no tempo de procura, elaboração das informações, também as portabilidades do manejo dos arquivos digitais com a alta demanda de "media players", e as ferramentas com descrição de legendas, tornam a publicação do material acessível. (FREIRE, 2013). Justifica-se a relevância do trabalho por sua contribuição na promoção de conhecimentos sobre arquitetura, ampliando o acesso do tema e o compartilhamento de questões antes restritas a meios acadêmicos com os ouvintes. Busca-se também observar a linguagem, o formato do programa e em como ele contribui com o desenvolvimento da discussão sobre o conhecimento da história da arquitetura. Objetivos: Analisar o podcast “Arquitetura de Boteco” (AB) visando compreender se este fomenta o acesso a conhecimentos da arquitetura e o compartilhamento de questões antes restritas a meios acadêmicos. Metodologia: A investigação foi realizada, pela ótica da análise de conteúdo. Bardin (1979) explica este método de pesquisa como um conjunto de técnicas que através de procedimentos sistemáticos, permitem analisar determinado material em relação à produção e seus significados, sejam primários ou aprofundados, ampliando as perspectivas de um mesmo conteúdo. Nele há as fases de pré-análise, exploração do material, e o tratamento dos resultados. Nesta pesquisa três episódios foram delimitados, sendo eles: #2 Tudo é projeto, #18 Parque Minhocão, #34 Aquarius. Na estruturação das categorias de análise, houve o estudo das informações apresentadas pelos narradores, considerando a pesquisa e fontes empregadas nas conversações realizadas, também foi identificada a troca de experiência por situações de vida pessoal dos profissionais ao se entrelaçar com o tema proposto e por último, a construção da dinâmica de interação entre os apresentadores durante os episódios. Com essas observações, foi possível estabelecer os eixos de pesquisa: Profundidade, comicidade e experiência. Logo, a profundidade consiste nas informações transmitidas nos episódios (conteúdo oriundo de fonte), comicidade é a relação do bom humor com os assuntos e as opiniões emitidas, e experiência está atrelada à vivência pessoal e profissional. Discussão e Resultados: O podcast “Arquitetura de Boteco” é feito por dois arquitetos formados pela Universidade de Brasília (UNB), Helena Tourinho e Vinícius Lopacinski que residem hoje na cidade de São Paulo. O projeto foi publicado pela primeira vez em abril de 2019, estando disponível nas plataformas: Spotify, Google Podcasts, Breaker, Overcast, Pocket Casts, Podbean, Radiopublic e Apple Podcasts. Atualmente há 49 episódios lançados, que possuem uma média de 60 minutos de duração. Os arquitetos apresentam análises sobre obras, concursos, projetos, a relação do cinema com a arquitetura, experiências pessoais, conceitos de estética, funcionalidade, e outras linguagens que se atravessam com a arquitetura. Análise do Episódio #2: Tudo é projeto, é o nome do documentário feito por Rocha e Rubano (2017) sobre a vida e a obra do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, contada por ele em entrevistas para sua filha. O documentário nomeia o episódio que inicia com a leitura de um trecho acerca da memória das construções: “A memória de uma cidade não é um acúmulo contínuo de eternidades. Ela só pode ser conservada na sua específica descontinuidade histórica. Temos que ter coragem ao enfrentar essa descontinuidade inevitável e tomá-la como um estímulo.” (WISNIK, 2008), fazendo um paralelo sobre o trecho, Vinicius elucida a reconstrução, a cidade que muda, as pessoas que mudam: arquitetura é um processo descontínuo. Com isso, é importante implicar descontinuidade também aos processos de exclusão e restrição do acesso a temas como arte, estética, e construção. A arquitetura, por anos, foi um não lugar para muitas pessoas e é importante atribuir não só seu fazer, mas o seu saber, como acessível. Além do que já citado, a escolha do episódio se deu por ser o segundo lançado e ter um tom de piloto para além da apresentação pessoal. O episódio tem um tom introdutório daquilo que é a “essência” do podcast, nas redes sociais, o objetivo do AB é descrito como incluir mais pessoas nas conversas arquitetônicas, tendo elas conhecimento técnico ou não. O enfoque da discussão são algumas colocações feitas pelo Paulo Mendes da Rocha no decorrer da entrevista, como as diversas formas que uma mesma obra pode ser lida por um espectador. Como este, ao perceber aquela obra adiciona outras camadas de possibilidades, enriquecendo a linguagem com sua percepção, adicionando significado. Para além do “não foi o que eu fiz”, é interessante o arquiteto se posicionar para escutar também, é comum que essa percepção seja aplicada às artes visuais, à literatura, mas a arquitetura frequentemente se afasta desse movimento. Sobre a profundidade esse episódio expõe diversos autores arquitetos e não arquitetos como Janes Jacobs “Morte e vida das grandes cidades” (1961), em todo o conteúdo que transpassa da verticalização das cidades ao debate da cidade como um organismo vivo há uma comparação e exemplificação com um sentimento que seja empírico. O que elucida a afirmação de Medeiros (2005), ao descrever que o podcast possibilita o debate de diversos assuntos. A comicidade é um traço importante da fala dos arquitetos, desde trocadilhos, erros naturais da fala, ou elaboração de piadas. Em #04 Camp, é feita diversas referências com uso do bom humor a artistas musicais ao discutir o conceito Camp de Susan Sontag (1964), pelo Met Gala (2019), elaborando associações palpáveis com o tema que é frequentemente discutido apenas com referências norte-americanas e no espaço acadêmico. O assunto transpassa as referências da arquitetura, para artistas musicais, artes plásticas, e outros, o que está em conformidade com Freire (2013) ao afirmar que essa é uma característica importante do podcast, pois amplia a liberdade na forma de transmitir informações. Os episódios #38 quem ama o feio…, #39 bonito lhe parece…, que são parte 01 e 02 de uma conversa extensa com participação do Arquiteto Diogo Lins está repleta de piadas, e opiniões pessoais sobre “linhas tênues entre o luxo e o lixo, é que o lance é ter um olhar crítico, porque nossas birras nem sempre estão pautadas na estética e, sim, no conceito ou discurso. Então, quais são aquelas coisas que são ditas "tendência" e que vocês não aguentam mais?” Análise do Episódio #18 Parque Minhocão: Há diversos episódios que nota-se um aprofundamento evidente, pela curadoria da informação e fontes, como #11 Pritzker, (onde há o debate sobre a invisibilidade feminina nas premiações de arquitetura) #24 Clipes, (com a construção de uma lista de videoclipes que usaram da arquitetura para ampliar a linguagem, e compor a diegese do produto), este não se difere disso, o tema é pautado nos resultados de um concurso para um projeto de parque linear a partir da desativação da função viária do Elevado João Goulart (São Paulo), nos quais, as pranchas submetidas foram divulgadas no concursosdeprojeto.org. A partir de comentários que ambientam a cidade, as funções do espaço analisam as pranchas, descrevendo as propostas, suas visões como moradores da cidade, listando as preocupações com as ideias, viabilidade financeira, função política das modificações, traçando paralelos a como o ouvinte pode interpretar as mudanças destes espaços no seu cotidiano. No trecho onde comenta algumas questões de um projeto, Helena diz: “Tem uma linha ferroviária que é mais pro norte, e embaixo ele ia reduzir a pista, o uso de carro e aumentar o do pedestre. Mas, é tipo assim, pô e eu, que pego ônibus? Aonde que esse ônibus vai passar?” É possível perceber as pontuações do que se pode ser retirado daquelas percepções para o ouvinte. Análise do Episódio #34 Aquarius: No episódio em questão, é notório que a informação é refletida, analisada e debatida, não há somente transmissão. Novamente retoma-se a linguagem do cinema, o que ressalta a afirmação de Donnley e Berge (2006) na qual aponta que o podcast auxilia na introdução de temáticas de maneira geral, e proporciona discussões de conteúdos disciplinares ou interdisciplinares. O episódio carrega o nome do premiado filme do diretor recifense Kleber Mendonça Filho, Aquarius (2016), que conta com participação de Felipe Caon para tecer comentários junto aos apresentadores, eles pontuam a importância de compreenderem os assuntos debatidos por um recifense/não arquiteto como Felipe. A sinopse do filme conta que uma jornalista aposentada que defende seu apartamento, do assédio de uma construtora, cujo objetivo é demolir o edifício Aquarius e construir um grande empreendimento. Discute-se a urbanização na ótica de lutas de classes, o plano diretor da cidade, aspectos climáticos (ilhas de calor), precariedade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) com o processo de tombamento do prédio que sediou o filme, além disso, conversa-se sobre a estética e contribuição fílmica do espaço. São imprescindíveis as colocações que envolvem as experiências dos arquitetos no episódio como o #26 Estabelecimentos comerciais, onde a indicação, e análise de arquiteturas diferentes em estabelecimentos analisam a funcionalidade e temática do espaço, em diversas regiões do país, aproximando o espectador. Conclusão: Através da análise, nota-se que os apresentadores do podcast utilizam os recursos de profundidade das informações, experiência dos acontecimentos e a comicidade na elaboração do conteúdo divulgado. Destarte, a profundidade das informações possibilita o ouvinte ter o conhecimento ampliado acerca da informação ouvida através da curadoria que possui uma pluralidade de fontes e perspectivas. As experiências contribuem também no compartilhamento de informações que só seriam adquiridas desta forma. Em suma, o podcast se apresenta com bom humor, renovando a imagem da arquitetura, promovendo a conversa nesse campo com descontração. Faz-se necessário pontuar que esse trabalho tem sido feito por outros profissionais, podcasts como Arquipapo e o Além da Arquitetura. No uso deste recurso, revela-se a potência do podcast, no Brasil, a produção cresceu em 200 vezes desde 2005. Em 2019, o consumo aumentou em 67%, cerca de 25% dos ouvintes consomem acima de uma hora de conteúdo por dia. A média de consumo será de 5,5% ao ano até 2023, e a previsão do aumento nos gastos com essa mídia no Brasil, é de U$47 bilhões em 2023 (PWC, 2021). REFERÊNCIAS AQUARIUS. Kleber Mendonça Filho. Emilie Lesclaux, Brasil. Vitrine Filmes, 2016. 145 minutos. Arquitetura de Boteco. 2019. Disponível em: https://podcasts.google.com/feed/aHR0cHM6Ly9hbmNob3IuZm0vcy9hZGEyOGZjL3BvZGNhc3QvcnNz?sa=X&ved=0CAMQ4aUDahgKEwjwr_iDjN7wAhUAAAAAHQAAAAAQpic. Acesso: 20 Maio. 2021. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. CONCURSO DE PROJETO.ORG. Premiados – Imagine Parque Minhocão. Disponível em: https://concursosdeprojeto.org/2019/07/10/premiados-concurso-de-ideias-imagine-parque-minhocao/>. Acesso em: 22 maio. 2021. DONNLEY, K.; BERGE, Z. Podcasting: Co-opting MP3 players for education and training purpoes. Online Journal of Distance Learning Administration, V.9, n.3. 2006. FREIRE, E. Conceito educativo de podcast: um olhar para além do foco técnico. Educação, Formação & Tecnologias, v. 6, n. 1, p. 35-51, jun. 2013. JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. Carlos S. Mendes Rosa (Trad.). 1961. MEDEIROS, Marcello Santos de. Podcasting: produção descentralizada de conteúdo sonoro. In: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. 28º Congresso Brasileiro de Comunicação. Rio de Janeiro, 5-9 set. 2005. PESQUISA GLOBAL DE ENTRETENIMENTO E MÍDIA 2019-2023. PWC. Disponível em: https://www.pwc.com.br/pt/podcast/pesquisa-global-entretenimento-midia-2019-2023.html>. Acesso em: 21 maio. 2021. SUSAN, Sontag. Notes on Camp. Partisan Review, 1964, 31.4: 515-530. TUDO É PROJETO. Joana Mendes da Rocha, Patricia Rubano. Canal Curta! Brasil, Vitrine Filmes, 2017. 74 minutos. WISNIK, Guilherme; Paulo Mendes da Rocha: obra reciente. Editorial Gustavo Gili, 2008.
Título do Evento
2º CONIGRAN - Congresso Integrado UNIGRAN Capital 2021
Título dos Anais do Evento
Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

OLIVEIRA, Rebeca Araujo de. ARQUITETURA PODE SER DE CONHECIMENTO POPULAR? ANÁLISE DO PODCAST “ARQUITETURA DE BOTECO”.. In: Anais do 2º CONIGRAN - Congresso Integrado Unigran Capital. Anais...Campo Grande(MS) Unigran Capital, 2021. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/conigran2021/359583-ARQUITETURA-PODE-SER-DE-CONHECIMENTO-POPULAR-ANALISE-DO-PODCAST-ARQUITETURA-DE-BOTECO. Acesso em: 22/05/2025

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