A ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL E A CONDUTA PROFISSIONAL DO ENFERMEIRO NA PERSPECTIVA DE GESTANTES: POTENCIALIDADES E PARADOXOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE

Publicado em 08/05/2018 - ISSN: 2595-3834

Título do Trabalho
A ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL E A CONDUTA PROFISSIONAL DO ENFERMEIRO NA PERSPECTIVA DE GESTANTES: POTENCIALIDADES E PARADOXOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
Autores
  • Pattrícia da Rosa Damiani
  • Marli Terezinha Stein Backes Backes
  • Débora do Vale Pereira Livramento
Modalidade
Tema Livre
Área temática
Prêmio Madre Marie Domineuc (melhor trabalho área de Assistência de Enfermagem Obstétrica e Perinatal)
Data de Publicação
08/05/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/cobeon/63843-a-assistencia-pre-natal-e-a-conduta-profissional-do-enfermeiro-na-perspectiva-de-gestantes--potencialidades-e-para
ISSN
2595-3834
Palavras-Chave
Assistência Pré-natal, Saúde Pública, Consulta de Enfermagem
Resumo
Introdução: A assistência pré-natal possui o desígnio de acompanhar e assistir o progresso da gestação, de modo a oportunizar o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para saúde materna, e a considerar os seus aspectos psicossociais. A interação enfermeiro-gestante precisa ser construída de forma singular e vinculativa, para que subjetividades possam ser trabalhadas e valorizadas dentro da conduta profissional¹. Por esta ótica, se faz essencial fortalecer e qualificar este acolhimento desde a primeira consulta pré-natal, demarcando um passo inicial para o alcance do parto e nascimento humanizado. Além disto, é prioritário ilustrar a importância do pré-natal junto a mulher, identificar precocemente gestantes na comunidade, acompanhar regularmente todas as mulheres grávidas em intervalos preestabelecidos e garantir um sistema de referência e contra referência, consubstanciando a qualidade da assistência em todos os níveis de complexidade. Diante da importância da assistência pré-natal, é fundamental ao enfermeiro estabelecer em sua consulta este acolhimento adequado, com orientações que elucidem também o seu papel profissional, assim como, promover um espaço de ações educativas oportunas condizentes à saúde materno-fetal, que possam envolver também o cônjuge e a sua família². Objetivo: Compreender as percepções das gestantes acerca do cuidado recebido durante o pré-natal, no âmbito da atenção básica. Método: Este estudo faz parte de um macroprojeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio da chamada MCTI/CNPQ/Universal 14/2014, cujo título é “Gestão do cuidado de enfermagem para a qualidade da atenção obstétrica e neonatal” e que utiliza como método a Grounded Theory, ou Teoria Fundamentada nos Dados. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que dará sequência ao mesmo método do macroprojeto, sem a construção de uma teoria, apresentando a descrição das categorias e respectivas subcategorias emergentes do estudo. A coleta de dados foi realizada durante os meses, de agosto a dezembro de 2016, sendo realizada através de uma entrevista em profundidade, seguindo um roteiro com questões norteadoras e formado por duas partes, a saber: identificação, antecedentes obstétricos e percepção da gestante acerca do cuidado recebido no pré-natal, concluída após a saturação teórica dos dados. Foram entrevistadas 12 (doze) puérperas e seus acompanhantes que realizavam consultas de pré-natal na atenção básica da cidade de Florianópolis/SC. Os critérios de inclusão das puérperas foram: residir no município da grande Florianópolis, ter realizado todas as consultas de pré-natal em Centro de Saúde do município e presença do acompanhante no momento da entrevista. Foram excluídas da pesquisa puérperas que apresentavam qualquer tipo de deficiência cognitiva e sinais de desequilíbrio emocional, que pudesse enviesar ou não fornecer fidedignidade aos dados coletados. As entrevistas foram gravadas em áudio mediante a autorização dos participantes, e posteriormente transcritas. A análise dos dados ocorreu através de codificação aberta e axial, em fases distintas, porém de maneira complementar e integrada. Assim sendo, a coleta e análise de dados ocorreram simultaneamente, conforme preconiza a Grounded Theory³. A codificação aberta foi o primeiro passo da análise de dados, sendo: “separados em partes distintas, rigorosamente examinados e comparados em busca de similaridades e de diferenças”³. Nesta etapa ocorreu o processo de geração e diferenciação de categorias. A codificação axial iniciou-se posteriormente, sendo: “o processo de relacionar categorias às suas subcategorias”³, associando-as as suas propriedades e dimensões. Atendendo aos critérios éticos, o desenvolvimento da pesquisa foi orientado pela Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde, com aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Pró Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, através do parecer nº 1.148.080, de 13 de julho de 2015, e a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Maternidade Carmela Dutra, por meio do parecer nº 1.158.569, em 24 de julho de 2015. Resultados: Das entrevistadas, oito tiveram número maior de consultas com profissional enfermeiro, sendo que em dois casos, houve apenas uma consulta com profissional médico, e em quatro casos estabeleceu-se o mesmo número de consultas entre o profissional médico e enfermeiro. Em relação aos antecedentes gestacionais, observou-se que as primigestas correspondiam a 58% da população do estudo e as demais estavam em sua segunda gestação. Em todos os casos, as consultas contemplaram a prática do exame físico obstétrico completo, registro de parâmetros obstétricos em caderneta da gestante e solicitação de todos os exames laboratoriais compatíveis a cada trimestre gestacional. A partir da análise dos dados emergiram três categorias, sendo elas: a) O cuidado antes e durante a gestação; b) Participação em grupos de gestantes; b) Cuidado de qualidade durante a gestação. A primeira destas categorias subdivide-se em: Compreensão das informações recebidas durante o pré-natal; Presença de acompanhante durante as consultas de pré-natal; Dificuldades e obstáculos no acesso ao pré-natal; e Visita à maternidade antes do parto e maternidade de referência. Com relação à subcategoria “compreensão das informações recebidas no pré-natal”, houve divergência nos relatos, enquanto algumas entrevistadas demonstraram estarem satisfeitas, outras manifestaram insatisfação com a rapidez da consulta, incompreensão das orientações escritas e a escassez de orientações verbais, buscando muitas vezes explicações com familiares e amigos. Sobre a “presença de acompanhante durante consultas de pré-natal”, evidenciou-se que todas as gestantes manifestaram o vínculo empregatício de seus acompanhantes, como o principal obstáculo para suas participações no pré-natal. A respeito da subcategoria “dificuldades e obstáculos para o acesso à atenção no pré-natal”, nenhuma das entrevistadas teve dificuldades quanto ao atendimento ou marcação de consultas. Porém, nenhuma das entrevistadas recebeu orientações sobre as maternidades disponíveis, foram referenciadas ou convidadas a conhecê-las, ficando a decisão do local de parto a cargo de preferências particulares ou indicações de experiências positivas por parte de amigos ou familiares. A categoria Participação em grupos de gestantes, subdivide-se em: Orientações sobre amamentação e Orientações sobre parto. Referente a participação em grupo de gestantes, apenas cinco das entrevistadas participaram, sendo que destas, apenas três fizeram parte de grupo fornecido pela própria unidade básica, enquanto as demais tiveram sua participação em grupos de parto domiciliar. Pôde-se perceber ao longo das entrevistas, que as gestantes que frequentaram estes grupos haviam recebido maiores informações em relação as outras e apresentavam-se mais seguras e empoderadas nos aspectos de seus partos, tinham maior conhecimento das orientações relativas a amamentação, parto, cuidados com recém-nascido e sinais de parto. Em relação ao aleitamento materno, outro item abordado nas entrevistas, foi identificado que apenas cinco mulheres receberam orientações neste sentido, sendo que 59% não teve contato com nenhuma orientação profissional durante as consultas. O mesmo ocorreu em relação as orientações sobre parto, apenas as três participantes de grupo de gestantes receberam informações, incluindo nisto, os tipos de parto e os benefícios e incentivo ao parto normal. A categoria Cuidado de qualidade durante a gestação compreende como subcategorias: Importância do profissional enfermeiro no acompanhamento pré-natal e satisfação do cuidado recebido. Quanto a “Importância do profissional enfermeiro no acompanhamento pré-natal”, notou-se que a maioria das gestantes entrevistadas consideram de significativa importância este profissional na sua atenção pré-natal, apresentando-se relatos da preferência por consultas com o profissional enfermeiro devido a este aplicar maiores medidas de educação e prevenção. Algumas gestantes manifestaram ter tido a primeira experiência de consulta com o enfermeiro e descobrir desta forma, o quanto este profissional é capacitado para conduzir o pré-natal. Como “satisfação do cuidado recebido”, 83% referiu satisfação com os atendimentos. Enquanto, 7% das mulheres entrevistadas que relataram insatisfação, destacaram pouca comunicação entre profissional-gestante, pouca orientação e tempo de consulta. As sugestões de melhoria incluíram o aumento do tempo da consulta, a importância da criação de grupos de gestantes nas unidades, a maior orientação sobre aleitamento materno, nutrição gestacional, trabalho de parto e parto. De acordo com os resultados desta pesquisa ficou evidenciado um paradoxo, onde as gestantes identificam a importância do pré-natal, a constante melhoria desta assistência no âmbito da atenção básica e também reconhecem significativamente a consulta do enfermeiro, porém estas mesmas gestantes com gravidez de baixo risco e realizando o pré-natal adequadamente, chegam ao último mês de gestação demonstrando falta de conhecimento sobre alterações advindas da gravidez e despreparo para vivenciar o parto e o pós parto, o que parece ser ocasionado pela falha nas ações educativas durante o pré-natal. Percebe-se então, a boa adesão e grande potencial de estabelecer uma comunicação profissional efetiva com as gestantes, porém, em muitos relatos compreendeu-se que este espaço não foi bem aproveitado por parte dos profissionais, ocasionando a busca de informações de modo informal, através do uso de internet, jornais, revistas e até mesmo por outros familiares, informações estas que, muitas vezes, não são adequadas ou corretas. Conclusão: As gestantes entrevistadas consideram que a qualidade de um pré-natal não está na realização de todos os procedimentos previstos, e sim na atenção dispensada, no acolhimento humanizado, na escuta, na consideração da subjetividade da gestante e o amparo nos momentos difíceis que tornam este período satisfatório para serem ouvidas e tirarem suas dúvidas e anseios quando existentes. Entretanto, durante a realização deste estudo, foram apontados pelas participantes diversos aspectos sobre os quais gostariam de receber maiores informações e aprender, revelando assim, que o relato da boa concepção do pré-natal recebido seja questionável, visto que suas curiosidades e necessidades não estavam sendo plenamente atendidas. Isto é, existe um contrassenso à medida que elas referem necessidade e desejo de aprender sobre diversas questões e ao mesmo tempo se mostram satisfeitas com a assistência pré-natal. Isto nos infere que elas associam a qualidade da assistência apenas ao modo como são tratadas, ou seja, ao acolhimento que recebem, e não à atenção integral oferecida durante o período gestacional. Com isto, ficou evidenciado que, embora as gestantes não tenham recebido todas as informações necessárias, a maioria delas e seus acompanhantes consideraram satisfatório os cuidados recebidos durante o pré-natal. O que faz surgir o questionamento, se a gestante está realmente satisfeita com o serviço, ou se ela desconhece as informações que deveriam estar sendo passadas para ela. Porém, tem sido reconhecido que, isoladamente, o número de consultas não garante a qualidade dos cuidados pré-natais. A população do estudo com elevado percentual de mulheres que tiveram comparecimento em no mínimo seis consultas de pré-natal, bem como todos os exames complementares impecavelmente solicitados e realizados na idade gestacional prevista, não garantiram que até o momento do parto, tivessem pleno conhecimento sobre assuntos rotineiros ao período gestacional. Contribuições e/ou implicações para a enfermagem obstétrica: Através do presente estudo foi possível compreender a percepção das gestantes em relação aos cuidados de enfermagem recebidos durante a gestação. Tendo em vista o objetivo do estudo, pode-se identificar que para elas, a assistência ofertada no pré-natal foi em sua maioria satisfatória, porém, ao longo do estudo ficou evidente que as informações sobre mudanças fisiológicas advindas da gestação, autocuidado e cuidados com o recém-nascido são parcialmente suficientes, demonstrando existir uma lacuna importante a ser preenchida e que é de responsabilidade do setor da saúde. Percebe-se que grande parte das entrevistadas apresenta preferência pelo profissional enfermeiro em relaçao ao profissional médico, com enfoque principalmente, pelo lado emocional e afetivo, julgando este profissional mais humanizado, pois lhe permite compreender e expressar os diversos sentimentos vivenciados. Entendemos que este estudo, sendo realizado em uma capital prestigiada como modelo de atenção básica para o país, possa subsidiar ações que contribuam para o aperfeiçoamento permanente do planejamento da assistência, contemplando a gestante de modo integralizado, com perspectivas de construção de novas propostas de trabalho, envolvendo a equipe multiprofissional, gestores e instituições públicas de saúde. Referências: 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de Atenção Básica – Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. Disponível em <http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/cab32>Acesso em: 14 set 2017. 2. MARQUES, RG; PRADO, RSLA. Consulta de enfermagem no pré-natal. Rev Enferm UNISA. 2004; 5: 33-6. 3. STRAUSS, A.L.; CORBIN, J. 2008. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o desenvolvimento de teoria fundamentada. Trad. de Luciane de Oliveira da Rocha. 2ª ed., Porto Alegre, Artmed.
Título do Evento
X COBEON - Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

DAMIANI, Pattrícia da Rosa; BACKES BACKES, Marli Terezinha Stein; LIVRAMENTO, Débora do Vale Pereira. A ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL E A CONDUTA PROFISSIONAL DO ENFERMEIRO NA PERSPECTIVA DE GESTANTES: POTENCIALIDADES E PARADOXOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE.. In: Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal. Anais...Campo Grande(MS) CCARGC, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/cobeon/63843-A-ASSISTENCIA-PRE-NATAL-E-A-CONDUTA-PROFISSIONAL-DO-ENFERMEIRO-NA-PERSPECTIVA-DE-GESTANTES--POTENCIALIDADES-E-PARA. Acesso em: 06/05/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes