DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DA ATENÇÃO AO PARTO E NASCIMENTO NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS/RJ

Publicado em 08/05/2018 - ISSN: 2595-3834

Título do Trabalho
DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DA ATENÇÃO AO PARTO E NASCIMENTO NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS/RJ
Autores
  • Giovanna Martins De Salvo
  • Julianne de Lima Sales Feijoli
  • Virginia Maria de Azevedo Oliveira Knupp
  • Daniela Pereira Martins
  • Nathália Oliveira Terra
  • Jane Quitete
Modalidade
Comunicação Coordenada
Área temática
Avanços no processo de formação e produção científica da Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Data de Publicação
08/05/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/cobeon/63641-diagnostico-situacional-da-atencao-ao-parto-e-nascimento-no-municipio-de-rio-das-ostrasrj
ISSN
2595-3834
Palavras-Chave
Palavras-Chaves: Enfermagem Obstétrica; Atenção ao Parto; Formação Profissional.
Resumo
Introdução: A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que humanizar o parto é adotar um conjunto de condutas e procedimentos que promove parto e nascimento saudável, respeitando a autonomia da mulher e o processo natural de parturição evitando condutas e intervenções desnecessárias que coloquem em risco a mãe e o bebê ¹. Para acompanhar as mudanças no processo de assistência ao parto nas últimas duas décadas, as políticas públicas do Brasil, na área de saúde da mulher modificaram-se a fim de promover uma assistência mais humanizada às mulheres. Até o último século a parturiente era afastada de seus familiares durante todo o processo de parto, isolada na sala de pré-parto e retirada do controle sobre esse processo, o parto passou a ser um procedimento cirúrgico e considerado potencialmente de risco, realizado em ambiente hospitalar, asséptico e repleto de intervenções médicas, muitas vezes desnecessárias e sem indicações baseadas em evidências científicas. Após a instituição de algumas políticas públicas, dentre elas a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher, a atenção ao parto começou a ser modificada de forma significativa, rompendo com o modelo centralizado apenas no parto e passando a ver a mulher não somente na óptica de ser reprodutivo, mas como ser autônomo que tem pleno poder sobre seu corpo e escolhas 2,3. Segundo a OMS somente 15% dos partos deveriam ocorrer por via abdominal, porém o Brasil ainda está distante de alcançar esta realidade, a cesariana ainda é realizada em 52% de todos os nascimentos e, nas instituições privadas, esse percentual chega a 88%. Na instituição estudada a porcentagem alcança as médias nacionais, sendo 52,7% de parto cirúrgico de todos os nascimentos. No país quase um milhão de mulheres, todos os anos são submetidas a cesarianas sem indicação obstétrica adequada, perdendo a oportunidade de serem protagonistas do nascimento de seus filhos, e sendo expostas a maiores riscos de morbimortalidade materna e perinatal 4. Algumas das práticas, como administração de ocitocina para acelerar o trabalho de parto, a realização de amniotomia e de episiotomia de forma generalizada, indicação de dieta zero, restrição da parturiente ao leito durante todo trabalho de parto entre outras intervenções são práticas consideradas proscritas, pois interferem na fisiologia do parto, mas infelizmente ainda são amplamente utilizadas nas maternidades de todo país, inclusive na instituição estudada. Em contrapartida as práticas adotadas e implantadas pelo modelo humanizado, como o incentivo à deambulação e livre movimentação, uso de métodos não farmacológicos como uso da bola, uso da água como método não farmacológico para alívio da dor, aromaterapia, banco obstétrico, massagens na região sacra, a não realização da episiotomia de rotina, dentre outras, foram consideradas tecnologias baseadas em evidencias científicas que podem favorecer a fisiologia do trabalho de parto e tornar o parto um evento prazeroso para a mulher 2. Vários estudos nacionais e internacionais afirmam que a assistência prestada por enfermeiros obstétricos também é um fator que influencia positivamente na assistência ao parto, inclusive contribuem na redução do número de intervenções desnecessárias e dos partos cirúrgicos3. A partir dessas considerações, faz-se necessário que os cursos de Graduação em Enfermagem adotem os referenciais teóricos e políticos baseados nos pressupostos do modelo humanístico no que diz respeito a atenção integral à saúde da mulher, com ênfase no ciclo gravídico e puerperal. Neste modelo a presença do enfermeiro generalista ou obstétrico passa a ser determinante para a implantação de protocolos assistenciais, organização de serviços e mobilização da equipe de saúde que cuida da parturiente e suas famílias. A instituição escolhida como cenário desta pesquisa é campo de ensino teórico e prático das duas disciplinas que abrangem saúde da mulher do Curso de Enfermagem/REN/UFF/Campus de Rio das Ostras, bem como é cenário de Estágio Supervisionado IV (área de saúde da mulher hospitalar). Essa instituição não possui enfermeiros obstétricos nos setores de alojamento conjunto e pré-parto, e não atende as recomendações da OMS, utilizando práticas obsoletas e danosas à saúde materna e fetal. Por este motivo achou-se necessário a realização deste estudo, com intuito de realizar um diagnóstico da assistência prestada e desta forma, auxiliar na elaboração de proposições que possam melhor a qualidade da atenção ao parto. Objetivo: Apresentar um diagnóstico situacional da atenção ao parto e nascimento no município de Rio das Ostras/RJ. Método: Pesquisa descritiva, de natureza quantitativa, delineamento transversal, de base populacional (ecológica), tendo como unidade de análise o coletivo e não o indivíduo. O cenário de realização deste estudo foi o Hospital Municipal Naelma Monteiro (HMNM), instituição pública, localizada no município de Rio das Ostras, baixada litorânea do estado do Rio de Janeiro. Utilizou-se a técnica documental retrospectiva, tendo como fonte primária de dados de todos os prontuários das mulheres atendidas na instituição. Deste modo, não houve critério de exclusão para as participantes deste estudo. O recorte temporal analisado foi o ano de 2015. A pesquisa está em andamento e é utilizado (um) instrumento de coleta de dados, do tipo planilha, preenchido pelas pesquisadoras, tendo inúmeras variáveis, contudo este manuscrito apresentará apenas os dados mais significativos coletados até o momento: idade das parturientes, tipo de dieta prescrita na admissão, prescrição de ocitocina na admissão, via de parto, indicação de cesariana, realização episiotomia, realização anestesia locorregional, score de APGAR e amamentação na primeira hora de vida dos recém-nascidos assistidos na instituição pesquisada. Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) tendo parecer favorável registrado no CAAE nº 52649615.2.0000.5243. A análise metodológica dos dados utilizou o Programa R. Os resultados quantitativos foram comparados aos produzidos por outras instituições de saúde brasileiras e internacionais, e analisados a luz das recomendações da Organização Mundial de Saúde5. Esta produção acadêmica está inserida na linha de pesquisa: “Direitos sexuais e reprodutivos na atenção ao parto e nascimento”, do Grupo de pesquisa denominado Laboratório de Estudos sobre Mulheres e Enfermagem/LEME/REN/Campus Rio das Ostras. Resultados: Os resultados preliminares deste estudo correspondem aos dados coletados em 297 prontuários referentes aos meses de janeiro à abril do ano de 2015. A faixa etária de 20 a 34 anos corresponde a 63,6% de todas as mulheres atendidas na instituição, e tendo 28,2% de adolescentes. O perfil etário das parturientes assistidas na instituição coincide com o perfil nacional, que corresponde ao grupo de 20 a 35 anos de idade, segundo o Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento/Nascer no Brasil 4,evidenciando que está é a faixa etária de maior ocorrência de gestação/parto/nascimento, sendo então, um grupo populacional que deve ser priorizado quanto a proposição de políticas públicas sobre direitos sexuais e direitos reprodutivos. No que diz respeito ao grupo etário de parturientes com menos de 14 anos e o grupo de 14 a 19, ou seja, faixa etária que corresponde as parturientes adolescente vale destacar que os dados nacionais da faixa etária de 10 a 15 anos permanece inalterada, apresentando o número de 27 mil partos a cada ano, que representa 1% do total de partos no Brasil. Neste sentido, os serviços de saúde devem encorajar e promover um comportamento sexual e reprodutivo responsável e saudável para adolescentes, objetivando o seu bem-estar, a sua qualidade de vida e a elaboração e execução de seus projetos pessoais e profissionais. 85,2% das parturientes foram admitidas em trabalho de parto à termo. Os resultados ainda revelaram que 60,8% das parturientes tiveram prescrição de dieta zero deste a admissão. Estudos multicêntricos concluem que não há justificativa para restrição de líquidos em casos de gestações de risco habitual, portanto a oferta de dieta livre deve ser encorajada para todas as mulheres em trabalho de parto. A prescrição de ocitocina deste a admissão da mulher ocorreu em 36% dos prontuários A taxa de infusão de ocitocina em mulheres em trabalho de parto é de 40% na população brasileira 4. De acordo com a OMS, é prejudicial a administração de ocitócitos a qualquer hora, antes do parto, de tal modo que o efeito não possa ser controlado, devendo ser evitado. O uso indiscriminado de ocitocina é uma prática claramente prejudicial ou ineficaz que deve ser eliminada dos serviços de saúde que assistem a partos, podendo inclusive levar a um aumento da atividade uterina com consequente hipóxia fetal. Em relação à via de nascimento, verificou-se a maior proporção entre a via abdominal 52,7%, sendo 47,3% por via vaginal. No tocante as indicações de cesarianas, 19,1% foram devidas a Doença Hipertensiva Específica da Gestação (DHEG), seguindo de pós datismo (16,2%) e parada de progressão (12,5%). Vale destacar que, segundo a OMS, as indicações de cesariana podem ser classificadas em indicações absolutas e indicações relativas entretanto, nenhuma das indicações reveladas por este estudo estão dentre as indicações previstas. Dentre os partos vaginais, 63,2% das mulheres foram submetidas ao procedimento da episiotomia. Destas, apenas 36,48% receberam a anestesia loco regional. Vale ressaltar que, a episiotomia é considerada uma prática claramente prejudicial ou ineficaz e que deve ser eliminada, pois aumenta o risco de laceração perineal de terceiro e quarto graus, de infecção e de hemorragia, sem diminuir complicações, causar dor, incontinência urinária e fecal. A incidência de episiotomia no Brasil é de 56% 4. Ademais a realização de episiotomia sem que a mulher tenha sido anestesiada adequadamente é considerada violência obstétrica passível de denúncia por lesão corporal dolosa. Na análise das variáveis relacionadas ao recém-nascido, o escore de APGAR no primeiro minuto de vida e a via de nascimento, verificou-se maior proporção do escore entre 4 e 7 nos nascidos por via abdominal. O achado indica maior vitalidade nos recém-nascidos de parto por via vaginal. No quinto minuto, foi observado a maior proporção entre os recém-nascidos com APGAR maior que 7 (97,6%),que indica aos cinco minutos de vida os bebês já encontram-se com melhor adaptação a vida extra uterina. Referente ao aleitamento materno na primeira hora de vida constatou-se que apenas 26,8% das mulheres amamentaram ainda na sala de parto. A Organização Mundial da Saúde recomenda a amamentação na primeira hora de vida, recomendação ratificada pelo passo 4 do Hospital Amigo da Criança, citado na Portaria° 1153, estes evidenciam a importância do contato pele a pele, tendo em vista que este contato precoce entre mãe e bebê se torna um facilitador da transição suave do recém nascido à vida extrauterina, estabelecendo vínculo mãe-bebê, aumentando a probabilidade da amamentação durante os primeiros momentos de vida, favorecendo tanto o aumento da prevalência do aleitamento quanto a redução da mortalidade neonatal. Apesar do contato precoce entre mãe e filho ser tão importante, esta ainda é uma prática não valorizada pelas instituições hospitalares e até mesmo pelos profissionais. Acredita-se que os resultados aqui expostos possam colaborar com a melhora no início oportuno do aleitamento, já que este é um bem significativo para aqueles que estão iniciando a vida extrauterina. Conclusão: A atenção ao parto no cenário de estudo não atende aos pressupostos do modelo humanístico, há um alto índice de partos cirúrgicos em detrimento dos partos vaginais, nota-se também a realização generalizada de intervenções obstétricas desnecessárias ou indicada de modo inadequado, tais como jejum, ocitocina e episiotomia, condutas que podem ser extremamente danosas à saúde da mulher e do recém-nascido. Ressalta-se o quanto é necessário evoluir para alcançar melhorias que atinjam positivamente essa assistência, auxiliando na proposição de intervenções que possam qualificar a atenção ao parto e nascimento baseados na premissa de que parir e nascer são eventos fisiológicos e familiares. Contribuições e/ou implicações para a enfermagem obstétrica: Os resultados obtidos neste estudo possibilitam uma reflexão sobre a assistência prestada à mulher em trabalho de parto, parto e pós-parto, sendo arcabouço de sustentação teórica suficiente para justificar a implementação urgente de medidas de intervenção que invistam na educação permanente de todos os profissionais de saúde que participem da atenção ao parto e nascimento, na elaboração de novos protocolos de atenção ao parto e nascimento, levando em consideração as atuais políticas de saúde baseadas em evidências científicas, e na admissão/contratação de enfermeiras obstétricas
Título do Evento
X COBEON - Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SALVO, Giovanna Martins De et al.. DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DA ATENÇÃO AO PARTO E NASCIMENTO NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS/RJ.. In: Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal. Anais...Campo Grande(MS) CCARGC, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/cobeon/63641-DIAGNOSTICO-SITUACIONAL-DA-ATENCAO-AO-PARTO-E-NASCIMENTO-NO-MUNICIPIO-DE-RIO-DAS-OSTRASRJ. Acesso em: 16/07/2025

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