INFLUÊNCIA DO MÉTODO HANDS-OFF NA OCORRÊNCIA DE TRAUMA PERINEAL NO PROCESSO PARTURITIVO E NOS PROBLEMAS PUERPERAIS

Publicado em 08/05/2018 - ISSN: 2595-3834

Título do Trabalho
INFLUÊNCIA DO MÉTODO HANDS-OFF NA OCORRÊNCIA DE TRAUMA PERINEAL NO PROCESSO PARTURITIVO E NOS PROBLEMAS PUERPERAIS
Autores
  • Luciano Marques dos Santos
  • maria alice leony de paiva
  • Manuella SIlva da Hora
  • Gleice Figueredo Alves Pereira
  • Émilin Nogueira Silva e Souza
Modalidade
Tema Livre
Área temática
Prêmio Madre Marie Domineuc (melhor trabalho área de Assistência de Enfermagem Obstétrica e Perinatal)
Data de Publicação
08/05/2018
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/cobeon/62774-influencia-do-metodo-hands-off-na-ocorrencia-de-trauma-perineal-no-processo-parturitivo-e-nos-problemas-puerperais
ISSN
2595-3834
Palavras-Chave
Enfermagem obstétrica, períneo, período pós-parto.
Resumo
Introdução: Em decorrência do trauma perineal no parto vaginal, como a laceração perineal e episiotomia, as mulheres ficam sujeitas a diversas morbidades como dor perineal, sangramento aumentado, disfunções intestinais, urinárias e piora na função sexual em relação àquelas que não sofreram esse agravo durante o parto¹. Diante disso, surgiram os métodos de proteção perineal que são empregados para reduzir o risco de trauma perineal. Esses métodos são: a posição materna no período expulsivo do parto do tipo não litotômica, massagem perineal, compressas quentes, método hands-on e hands-off 2. Um estudo randomizado controlado, realizado no Iran com 600 nulíparas divididas igualmente entre dois grupos hands-on e hands-off, os traumas de terceiro grau foram superiores no grupo hands-on com 2,7% em comparação com 0,3% (p=0,1) no hands-off. A episiotomia também foi superior no grupo hands-on com 12,7% (38 mulheres) e 5,7% (17 mulheres) no hands-off. Por isso, uma postura expectante (hands-off) pode ser preferível a uma postura ativa, ou seja, hands-on3. Poucos ensaios clínicos randomizados sobre tais método incluem número suficiente de parturientes e com boa qualidade metodológica. Por isso, sugere-se que o método hands-on não deve ser usado rotineiramente porque interfere no curso do mecanismo do parto, e que a decisão de utilizar esses métodos seja tomada pela mulher, respeitando sua autonomia neste processo4. O método hands-off no parto vaginal oferece mais vantagens para a saúde materna, diante da menor taxa de episiotomia e laceração de terceiro grau. Porém, mais estudos são necessários para avaliar a segurança e eficácia desses métodos, bem como os fatores que contribuem para a ocorrência do trauma perineal durante o parto3. Diante desse contexto, este estudo tem como objeto de investigação a influência do método hands-off durante o parto vaginal na ocorrência de traumas e suturas perineais e problemas puerperais. Ao realizar o levantamento do estado da arte foram encontrados 17 artigos relacionados ao objeto em estudo. Percebeu-se que poucos estudos brasileiros abordam a utilização dos métodos hands-on e hands-off durante o processo parturitivo. Objetivo: Teve como objetivo geral verificar a influência do método hands-off na ocorrência de trauma e sutura perineal, e problemas locais em mulheres com parto vaginal em uma maternidade pública de Feira de Santana na Bahia, e objetivos específicos: avaliar a taxa de ocorrência e local do trauma perineal conforme o tipo de método utilizado no parto vaginal, para recepção do recém-nascido; analisar a associação entre os métodos hands-on e hands-off com a ocorrência e local de trauma perineal no pós-parto imediato; verificar a associação entre o método hands-on e hands-off com a necessidade de sutura perineal e verificar a associação entre os métodos hands-on e hands-off com a ocorrência de problemas puerperais. Método: Trata-se de um estudo do tipo caso-controle, caracterizado como observacional e analítico vinculado ao projeto de pesquisa intitulado “Influência da postura e método hands-off no parto vaginal na integridade perineal e comorbidades maternas e neonatais no puerpério imediato”, realizado no Hospital Inácia Pinto dos Santos (HIPS) no município de Feira de Santana, na Bahia. A população deste estudo foi composta por todos os prontuários de puérperas submetidas ao parto vaginal na unidade em estudo. A amostra deste estudo foi do tipo por conveniência e calculada de forma estatística, totalizando 308 prontuários. Para a seleção das puérperas foram utilizados os seguintes critérios: Mulheres com parto simples, vaginal e em vértice ocorrido no período de 2014 a 2016; partos sem utilização de fórceps; gestações com feto a termo e vivo; trabalho de parto sem intercorrência clínica ou obstétrica antes do período expulsivo. Não foram incluídas na amostra do estudo prontuários das seguintes participantes: mulheres que receberam episiotomia e que apresentaram propagação desse trauma, levando a lacerações perineais; mulheres que utilizaram postura litotômica ou não litotômica no período expulsivo e cujo feto apresentou distócia de ombro e foi extraído por parto operatório. Os dados deste estudo foram coletados no período de agosto a outubro de 2016 de forma retrospectiva através de consultas no livro de registro na unidade de centro obstétrico do HIPS e nos prontuários das mulheres selecionadas que estavam arquivados no Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico (SAME) desta unidade hospitalar. Inicialmente, foi realizada a leitura do livro de ocorrência do centro obstétrico do HIPS visando identificar as mulheres que tiveram partos por via vaginal no período de 2014 a 2016. Nesse livro de registro, para cada parto com método hands-off foi selecionado o parto com método hands-on subsequente. Foram identificados 154 partos vaginais realizados por médicos que fizeram parte do grupo controle, já que estes profissionais utilizam o método hands-on e 154 partos vaginais realizados por enfermeiros que utilizam o método hands-off em sua prática, e que compuseram o grupo caso. As mulheres do grupo controle foram pareadas com as mulheres do grupo caso individualmente, isto é, um caso para um controle, tendo como critérios de pareamento a idade e paridade. A seguir, foram consultados os prontuários das mulheres selecionadas para o estudo no SAME do HIPS. Para esta etapa do projeto foi elaborado um formulário contendo as seguintes informações: condições sociodemográficas, gestacionais e de paridade das mulheres, dados relacionados à atenção no processo parturitivo, métodos utilizados para o parto, condições perineais e comorbidades maternas. Os dados coletados foram digitados, tratados e analisados por meio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 22.0. Para análise dos dados foram utilizadas a estatística descritiva e inferencial. Para descrição das variáveis de cada categoria foram utilizados dados relativos à frequência absoluta e relativa, nas variáveis numéricas foram analisados as médias e o desvio padrão. Para descrever as características da amostra foram utilizadas distribuições de frequências. Para determinar a associação entre as variáveis de exposição e desfecho, foi empregado o McNemar e cálculo do odds ratio (OR), com nível de significância de 5% (p<0,05) e intervalos de confiança de 95% para investigar associações entre as variáveis selecionadas e os desfechos estudados. Este estudo respeitou a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde que normatiza os aspectos éticos envolvidos em atividades de pesquisas que envolvam seres humanos no Brasil. Por não envolver diretamente a participação de seres humanos não foi necessária a utilização do TCLE nesse estudo. A pesquisa matriz foi à apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana, sendo aprovado sob o número do parecer 1.668.328. Resultados: Foram estudadas 308 mulheres, das quais 53,2% tinham idade entre 21 e 30 anos, 40% estudaram até o ensino médio completo, 76% se auto declararam como pardas, 53,9% eram nulíparas. Com relação à condição perineal, 64,9% das mulheres tiveram laceração, sendo que destas, 35,8% tiveram mais de uma laceração, com maior frequência para a de primeiro grau (64,9%). Foi realizada episiotomia em 18,5% das mulheres, e destas, 44,4% foram do tipo médio lateral esquerda. Sobre o local do trauma, 52,7% foram no períneo anterior, seguido de 36,8% no posterior. Foi encontrada associação estatisticamente significante (p-valor = 0,00) entre método de desprendimento cefálico com a integridade perineal e o tipo de trauma. Mulheres assistidas pelo método hands-off apresentaram 4,9 mais chances de ter períneo não-íntegro devido elevada frequência de laceração perineal neste grupo (79,2%), também apresentaram 0,4 menos chances de serem submetidas a episiotomia e 2,4 mais chances de apresentarem laceração espontânea. Com relação ao grau da laceração perineal, mulheres assistidas pelo método hands-off apresentaram 0,23 e 0,02 menos chances de apresentarem laceração perineal de segundo e terceiro grau respectivamente, porém, apesar de não ter sido encontrado associação estatisticamente significante com as lacerações de primeiro grau, tais mulheres apresentaram maior frequência desse grau de laceração (78,3%) se comparadas com as mulheres assistidas pelo método hands-on (59,6%). As taxas de lacerações perineais foram maiores no hands-off provavelmente devido menor frequência de episiotomia (7%) nesse grupo. Com relação ao local do trauma perineal, foi encontrada associação estatisticamente significante entre hands-off com a região posterior do períneo (p-valor=0,001), com anterior e posterior (p-valor=0,000) e parede vaginal (p-valor=0,000). Também houve associação com a ocorrência de sutura (p-valor =0,001) tipo de sutura (p-valor= 0,009) e de fio utilizado para sutura (p-valor=0,000). Mulheres assistidas pelo método hands-off apresentaram 0,6, 0,03 e 0,01 menos chances de apresentar trauma na região posterior do períneo, em região anterior e posterior e em parede vaginal, respectivamente. Não foi encontrada associação estatisticamente significante com a região anterior do períneo, entretanto, tais mulheres apresentaram maior frequência de laceração em região anterior do períneo (73,4%) quando comparadas com as mulheres assistidas pelo método hands-on (29,6%). Mulheres assistidas pelo método hands-on apresentaram maior frequência de trauma na região posterior do períneo (64,3%), que foram suturadas em sua maioria com técnica separada (69%). Já as mulheres assistidas pelo método hands-off apresentaram 1,5 mais chances de não serem suturadas, e dentre aquelas que foram suturadas, apresentaram 0,5 menos chances de utilizarem a técnica separada e 0,03 menos chances de utilizar o fio simples 2.0, quando comparadas com as mulheres assistidas pelo método hands-on. Os métodos de desprendimento cefálico não apresentaram associação estatisticamente significante com a postura utilizada para o parto, entretanto, mulheres assistidas pelo método hands-off apresentaram maior frequência de postura não litotômica (87%). Com relação à ocorrência de problemas puerperais no período do pós-parto, houve associação entre os métodos com a ocorrência de edema perineal (p-valor= 0,000), hemorragia no puerpério imediato (p-valor =0,000) e dor perineal (p-valor= 0,000). Mulheres assistidas pelo método hands-off tiveram 0,25, 0,01 e 0,31 menos chances de apresentarem respectivamente edema perineal, hemorragia no puerpério imediato e dor perineal. Conclusão: Mulheres assistidas pelo método hands-off tiveram mais chances de apresentarem lacerações perineais, entretanto, a maioria foram lacerações de baixo grau (primeiro grau), que não demandam sutura perineal e são de rápida cicatrização, já que são lesões superficiais que acometem apenas a pele. Já as mulheres assistidas pelo método hands-on tiveram mais chances de serem submetidas à episiotomia, que é um trauma mais severo e profundo que demanda de sutura perineal, e por isso está associada com maior ocorrência de complicações no pós-parto como dor perineal, edema perineal e hemorragia no puerpério imediato, fazendo com que a puérpera tenha maior dependência de cuidados pelos trabalhadores de saúde e um período mais prolongado de recuperação no pós-parto. Logo, ter mais lacerações é mais saudável para a mulher no puerpério imediato. Por isso, diante da menor ocorrência de trauma perineal grave e de problemas puerperais, sugere-se que o método hands-off seja mais utilizado na prática clínica pelos profissionais responsáveis pelo parto. Os profissionais médicos ainda estão baseados em práticas intervencionistas, tanto que estão associados com maior utilização do método hands-on no processo parturitivo e com maior frequência de realização de episiotomia, se comparados aos enfermeiros Esse estudo é relevante do ponto de vista teórico, prático e social. Do ponto de vista teórico, os dados podem contribuir com a incipiente produção do conhecimento relacionada ao objeto estudado, estimulando a realização de novas pesquisas sobre a temática. Na prática, pode proporcionar uma maior visibilidade e aplicabilidade do método hands-off por profissionais responsáveis pelo parto, e no âmbito social pode contribuir para uma possível redução de problemas puerperais decorrentes do parto vaginal. Referências: 1 Riesco MLG, Costa ASC, Almeida SFS, Basile ALO, Oliveira SMJV. Episiotomia, laceração e integridade perineal em partos normais: Análise de fatores associados. Rev enferm, Rio de Janeiro, [online]. 2011 jan-mar;19 (1): 77-83. [citado em 25 jan 2016]. Disponível em: < http://www.facenf.uerj.br/v19n1/v19n1a13.pdf>. 2 Bulchandani S, Watts E, Sucharitha A, Yates D, Ismail KM. Manual perineal support at the time of childbirth: a systematic review and meta-analysis. J obstet gynaecol, [online]. 2015; 122 (9): 1157-65. [citado em 15 dez 2015]. Disponível em:< http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25976557>. 3 Rozita R, Sussan S, Huak CY, Sharif NH. A comparison of the “hands-off” and “ hands-on” methods to reduce perineal lacerations: A randomized clinical trial. J obstet gynaecol, India, [online]. 2014 nov-dez; 64 (6): 425-9.[citado em 10 dez 2015]. Disponível em: <http://link.springer.com/article/10.1007%2Fs13224-014-0535-2>. 4 Amorim MMR, Porto AMF, Souza ASR. Assistência ao segundo e terceiro períodos do trabalho de parto baseada em evidências. Rev femina, Recife, [online]. 2010 nov; 38 (11): 583-91. [citado em 02 fev 2016]. Disponível em: < http://www.febrasgo.org.br/site/wp-content/uploads/2013/05/Feminav38n11_583-591.pdf>.
Título do Evento
X COBEON - Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Cidade do Evento
Campo Grande
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SANTOS, Luciano Marques dos et al.. INFLUÊNCIA DO MÉTODO HANDS-OFF NA OCORRÊNCIA DE TRAUMA PERINEAL NO PROCESSO PARTURITIVO E NOS PROBLEMAS PUERPERAIS.. In: Anais do Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal. Anais...Campo Grande(MS) CCARGC, 2018. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/cobeon/62774-INFLUENCIA-DO-METODO-HANDS-OFF-NA-OCORRENCIA-DE-TRAUMA-PERINEAL-NO-PROCESSO-PARTURITIVO-E-NOS-PROBLEMAS-PUERPERAIS. Acesso em: 02/08/2025

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