Título do Trabalho
FALA, SILÊNCIO, DIÁLOGO E POESIA
Autores
  • EDUARDO DE SEQUEIRA CREMER
  • Jessé Guimarães da Silva
  • Priscila Pires Alves
Modalidade
Mesa redonda
Área temática
4. ARTE, CORPO E EXPERIMENTAÇÕES: 4.3 Arte, estética e formas de expressão dialógica no trabalho clínico.
Data de Publicação
23/12/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/cgtrio22/522379-fala-silencio-dialogo-e-poesia
ISBN
978-85-5722-491-9
Palavras-Chave
expressão, silêncio, dialogicidade, autismo, Slam Poetry.
Resumo
A mesa tem como proposta discutir as diferentes formas de produção de vozes no espaço da clínica na Gestalt-terapia e a produção de sentidos que decorrem no espaço de interação e coexistência no mundo. A clínica gestáltica propicia através da perspectiva dialógica e fenomenológica uma compreensão estético-política na produção de sentidos, nas vozes, na fala, no silêncio e também na poesia. Assim, através dos trabalhos: A fala, a voz e o corpo: interlocuções entre poesia, Fenomenologia e Gestalt-terapia; A fala e o silêncio no diálogo clínico: um encontro pelo sensível e Dialogocidade e intersubjetividade no trabalho com pessoas com Transtorno do Espectro Autista: Corpo e linguagem em ação; pretende-se discutir a produção de sentidos e significados em interação. A partir dos conceitos propostos por Merleau-Ponty que compreende a palavra falada enquanto vivência-corpo que liga a pessoa consigo própria e, ao mesmo tempo, com o mundo, constitui-se uma clínica que aponta para uma compreensão estética do mundo, incluindo a dimensão sensível como possibilidade de coprodução de sentidos que visa a experiência do que está sendo dito na ação do encontro e do estar-com. Essa abertura de possibilidades no encontro com o outro, constitui a dimensão criadora e transformadora proposta pela Gestalt-terapia. A fala e o silêncio no diálogo clínico: um encontro possível pelo sensível Essa apresentação visa pensar a linguagem na clínica e seus vínculos com a expressão e o silêncio. Nascemos e crescemos em meio à linguagem e, por meio de seus signos e significados, é uma das formas principais de comunicação. A linguagem é um fenômeno presente em nosso vínculo com o mundo e com o outro e é condição fundamental de expressão em nossa existência. Dessa forma as palavras, que compõem a linguagem, não contêm somente seu significado dado pelo código linguístico e carregam uma composição de campo afetivo, histórico, cultural e social, indicando que para criar alguma possibilidade de encontro clínico, precisamos ir além da compreensão racional das palavras. Para tal compreensão é valiosa a contribuição do campo da estética, onde a percepção “não visa ao objeto segundo sua finalidade prática ou utilitária, mas implica a abertura de entrega do sujeito a um mundo sensível que o convida não a decifrá-lo, mas a senti-lo”(REIS, 2011, p.78). A Gestalt-terapia, tributária de um movimento de redescoberta dos sentidos e da experiência, aponta para uma compreensão estética do mundo, incluindo a dimensão sensível como possibilidade de produção de conhecimento, marcando um modelo que escapava das categorizações e dos métodos objetivantes(ALVIM,2014). Em lugar de analisar o conteúdo da fala, partimos para uma experiência do que está sendo dito. Perls(2002) afirma que “a palavra se voltou contra o homem”(p.298) e, em vez de expressar, aparecem na forma de falas subvocais que podem obliterar o campo para criações espontâneas, se transformando “numa arma mortalmente dirigida contra nossos selves naturais”, interrompendo o fluxo figura-fundo(p. 298). No livro Gestalt-terapia (1997), PHG discutem a aquisição da fala, indicando que a fala subvocal constitui-se na cultura, compondo a retórica da função personalidade do self, além de constituir também os hábitos de fala desde a infância que, com o tempo, vai se diferenciando no campo organismo/ambiente. A depender do processo, a fala subvocal pode permanecer na forma de verbalização, que é uma fala monótona e repetitiva, ou ser transformada em fala poética, tipo de fala que cria, que provoca o aparecimento de novidades, torcendo os sentidos anteriores da fala subvocal. Para ampliar essa compreensão há um diálogo importante com Merleau-Ponty em seu pensamento sobre a expressão, arte e silêncio. É interessante utilizar a arte como apoio para a discussão pelo fato da palavra ser mais facilmente capturada pelo pensamento e encarada de maneira enganosa, segundo Merleau-Ponty (1962, 1971), como uma tradução perfeita deste. A obra de arte tem maior possibilidade de provocar um descentramento da intelectualidade tanto no seu surgimento, como em sua contemplação. Assim, para o filósofo a palavra é comparável à pintura se pensarmos que antes de seu pronunciamento só há uma intenção opaca de se dizer algo. Citando Malraux, Merleau-Ponty (1962) afirma que a obra e a palavra são comparáveis por serem expressão criadora e não a representação de algo. A palavra tateia a procura de um significado que está em vias de ser dito e nos faz um convite para apreciar a palavra como a arte da linguagem, olhando as mesmas “como os surdos olham aqueles que estão falando” (ibidem, p. 68). A fala poética na clínica, ato expressivo que assimila o inacabado, ouve-se o silêncio e há o aparecimento de uma fala criadora a partir de uma awareness do campo. A expressão flui entre a passividade de se falar o que já foi dito, repetindo falas subvocais sem awareness, e a atividade plena do ser pensante que sabe as palavras que serão colocadas. Entre esses dois polos, a espontaneidade criativa vai encontrar as palavras. Através dessa compreensão podemos propor uma clínica que também pode experimentar as palavras, montando e desmontando frases, interrogando termos, contemplando criações verbais, ouvindo os silêncios presentes numa repetição de palavras que pode fazer surgir novidades pelas frestas de um discurso racionalizado. Dialogocidade e intersubjetividade no trabalho com pessoas com Transtorno do Espectro Autista: Corpo e linguagem em ação. O agenciamento do ser humano e sua capacidade de negociação no espaço de produção de significados, deriva da capacidade de se relacionar com o seu semelhante. As formulações dialógicas, ao atribuir a condição da relação para caracterizar a condição humana, fundamentam importantes argumentos para se pensar dispositivos de intervenção sobre os processos de produção de si e dos modos de constituição do ser-no-mundo. Esse pressuposto, remete-nos a necessidade de compreender como a dialogia fornece elementos para que o conceito de intersubjetividade seja apreendido, para além de um construto, como um elemento que constitui antropologicamente o homem, bem como um recurso para intervenção em Gestalt-terapia. Parte-se da ideia de que as intervenções na Gestalt-terapia, com suas propriedades dialógicas e semióticas, oferecem importantes recursos para a produção de posicionamentos de si que se circunscrevem no espaço do entre, uma vez que estas caracterizam uma prática que deve considerar os aspectos polissêmicos que emergem dessa relação. Uma intervenção dialógica, constitui-se fundamentalmente de uma relação mediada por elementos comunicativos estruturantes de novos sentidos e posicionamentos. Assim, ao afirmar que os sentidos se coproduzem no ato dialógico, pode-se considerar que estes nos oferecem uma perspectiva epistemológica e metodológica para intervenções efetivamente transformadoras, facilitando assim uma praxis dialógica na gestalt-terapia. No trabalho com pessoas com Transtorno do Espectro Autista, a perspectiva da dialogia sustenta o pressuposto no qual a relação é entendida como um processo comunicativo que envolve o indivíduo em sua capacidade polissêmica e potente de se revelar no espaço de interação, produzindo uma experiência estética do humano em que seu “em sendo”, leva-nos a identificar um conjunto de posições que ilumina certa perspectiva sobre o mundo enquanto produzimos, em interlocução, uma comunalidade. Os processos interativos são a condição para que os significados e ações num processo contínuo ação-reflexão se concretizem. Em um processo terapêutico, na medida em que o diálogo entre as diferentes posições dos interlocutores se estabelece, a configuração do espaço e do tempo em uma condição de coalização, produzem sentidos que se abrem para novas configurações. Sendo assim, como nos indica Merleau-Ponty (2011), a percepção do “em-si para si” informa os diferentes modos de existência a partir de um processo de “enformação” do corpo. Na entreidade, o corpo que se expressa, comunica e assume o que é próprio de si, algo que se revela na condição da pessoa com TEA. As propostas terapêuticas, nesse sentido, visam produzir os movimentos de significação possíveis que derivam da entreidade, abrindo novas possibilidades de reinterpretação de si e do outro, oferecendo recursos para compreensão de novos modos de comunicação e produção de si, bem como constituindo novos sentidos para a compreensão do fenômeno do autismo. A palavra, a voz e o corpo: interlocuções entre poesia, Fenomenologia e Gestalt-Terapia O presente trabalho é fruto das reflexões realizadas em torno de uma pesquisa de pós-doutorado, desenvolvida entre os anos de 2020 e 2022, sob o título “A poesia falada como produção de sentido – Reflexões gestálticas sobre práticas estético-políticas no espaço da favela em perspectiva fenomenológica e gestáltica”. Circunscrito a um Projeto de Extensão e Pesquisa intitulado “Adole-ser em movimento”, do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a condução da professora Mônica Alvim, o presente trabalho tem por objetivo a investigação fenomenológica e gestáltica da poesia falada enquanto produção de vozes performatizadas que possibilitam a restituição da plenitude, de uma unidade perdida que inclui texto, sonoridade, gesto, ritmo, respiração. Busca-se a análise da existência sonora da voz, vivida na coexistência com o mundo, no corpo interposto, na medida em que ela favorece aberturas sensíveis e espontâneas para as significações. A metodologia adotada consistiu na investigação de vídeos postados na rede social YouTube que continham apresentações de poesia falada realizadas no contexto de batalhas de poesia falada. A pesquisa ocorreu em três etapas de modo que a primeira consistiu no levantamento do número total de grupos de slam que atuavam em território nacional. Esta etapa ocorreu a partir da pesquisa em sites de busca voltados para a divulgação da poesia falada, eventos de poesia e mídias destinadas a cobertura de eventos culturais em favelas. As análises presentes neste ensaio, debruçadas sobre o slam enquanto construção de uma intertextualidade corpo-poesia-voz-gesto, que encontra na experiência intercorporal aberturas sensíveis e espontâneas para as significações de existência. Experiências estas que fazem valer da voz, da palavra falada enquanto vivência-corpo que liga a pessoa consigo própria e, ao mesmo tempo, com o mundo (Merleau-Ponty, 1999; 1999a). Antes de mais nada, aborda-se o homem enquanto ser-no-mundo, cujas relações de alteridade e de espacialidade o conduzem a uma contínua experiência de aware sempre a partir de uma situação ali presente e que se desdobra em uma constante transformação da pessoa e do mundo (Alvim, 2014). A poesia como palavra falada, viva, não é algo que se diz sobre o mundo através de uma atividade que nada mais produz senão entretenimento, distrações, mas que se sente junto ao mundo, na medida em que devolve aos signos a pluralidade de seus sentidos (Paz, 1996). Traz consigo “a corporeidade, o peso, o calor, o volume real do corpo, do qual a voz é apenas expansão” (Zumthor, 2007, p. 12), o que torna o corpo como “peso sentido na experiência que faço dos textos”, materialização da experiência vivida neste “conjunto de tecidos e de órgãos”, determinando minha relação com o mundo junto com as suas pressões do social, do institucional (p. 23). A partir da pesquisa em questão, com base na investigação da poesia falada, foi possível compreender a experiência da palavra vivida a partir da totalidade dos fatores performanciais, a saber, as entonações, os gestos, os silêncios, as consonâncias, as interjeições, os olhares, como modos possíveis de sensibilidade. O caráter performático-estético-político, revelado no encontro com o outro, na palavra que interpela, que convoca, não apenas faz surgir possibilidades de abertura a uma dimensão intersubjetiva, mas também suscita outros regimes de visibilidade do que se apresenta no campo: políticas de opressões, de silenciamento.
Título do Evento
VIII Congresso de Gestalt-terapia do Estado de Rio de Janeiro
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro: existências anônimas - a Gestalt-terapia ocupando espaços de resistência
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

CREMER, EDUARDO DE SEQUEIRA; SILVA, Jessé Guimarães da; ALVES, Priscila Pires. FALA, SILÊNCIO, DIÁLOGO E POESIA.. In: Anais do Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro: existências anônimas - a Gestalt-terapia ocupando espaços de resistência. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Hotel Windsor Guanabara, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/CGTRIO22/522379-FALA-SILENCIO-DIALOGO-E-POESIA. Acesso em: 15/05/2025

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