O ENSINO DA GESTALT-TERAPIA: ONDE ESTÃO AS FORMAÇÕES IMPLICADAS COM A TRANSGRESSÃO SOCIAL?

Publicado em 23/12/2022 - ISBN: 978-85-5722-491-9

Título do Trabalho
O ENSINO DA GESTALT-TERAPIA: ONDE ESTÃO AS FORMAÇÕES IMPLICADAS COM A TRANSGRESSÃO SOCIAL?
Autores
  • Mariana Magalhães
  • Tatiana Campbell
  • Flavia Ferreira da Silva
Modalidade
Roda de conversa
Área temática
1. FORMAÇÃO E PRÁTICAS CLÍNICAS: 1.3 Cultura contemporânea e novos desafios para a clínica gestáltica.
Data de Publicação
23/12/2022
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/cgtrio22/520711-o-ensino-da-gestalt-terapia--onde-estao-as-formacoes-implicadas-com-a-transgressao-social
ISBN
978-85-5722-491-9
Palavras-Chave
Formação, gestalt-terapia, transgressão, clínica, normatividade.
Resumo
As bases teóricas e práticas da gestalt-terapia nasceram na contracultura (1951), junto com tantas outras epistemologias críticas que questionavam os saberes normativos que recebiam (e ainda recebem) status de ciências "verdadeiras". Assim, a teoria gestáltica mais questionava as verdades sobre a suposta "natureza humana" do que estabelecia novas estruturas fincadas em uma linearidade intrapsíquica (PERLS, HEFFERLINE & GOODMAN). Contudo, como afirma Boaventura de Souza Santos (2019), o espírito do tempo, ou seja, o conjunto de crenças e de ideias que compõem a especificidade de um período histórico, é responsável por designar o clima cultural, intelectual e moral de uma época. Não podemos desconsiderar que a obra que funda a Gestalt-terapia foi desenvolvida em uma contra-hegemonia europeia marcada pelos horrores de duas grandes guerras e todos os seus desdobramentos, situando-se em um espaço-tempo histórico com transgressões específicas que não consideravam atravessamentos identitários como elementos resultantes do contato em sociedade. Embora a obra nos ofereça uma pista contra-normativa importante e potente, deixa espaços para construções contemporâneas importantes. Contudo, será que aproveitamos a força transgressora presente na obra-base para construirmos novos caminhos atualizados, ou, apesar da gestalt entender a relação em uma perspectiva de campo como pressuposto teórico essencial, acabamos por nos restringir a uma abordagem individualizante, uma vez que o campo é, na prática cotidiana, usualmente reduzido a questões dialógicas, sobre as quais cada pessoa atendida deve “responsabilizar-se”? A pergunta que nos fazemos é: podemos continuar ignorando o social nos cursos de formação em Gestalt-terapia? O Brasil é um país neoliberalista, imerso em um campo repleto de marcas coloniais, com relações de poder bem definidas com base em uma série de normatividades. No entanto, a maior parte de nossa população é composta por pessoas negras, LGBTQIAPN+, pobres, indígenas, fora de uma normativa eurocentrada, que sofrem violências estruturais e que são, por esse motivo, corpos matáveis, corpos assassinados todos os dias, contabilizados nas estatísticas dos órgãos responsáveis pelo controle da produtividade da segurança dos estados brasileiros. Dessa forma, tais questões estão presentes na realidade de todos nós, e chegam todos os dias em nossa clínica, não sendo possível negar tal realidade. Compreendemos a importância de apresentar a gestalt-terapia desde suas bases iniciais, mas é urgente que o ensino de nossa abordagem tenha em conta que nossa subjetividade é constituída a partir de uma perspectiva de campo ampla e política: não há como formar gestalt-terapeutas desconsiderando o que é óbvio em nossas construções de corpos viventes. Nesse sentido, é fundamental que ofereçamos uma formação em gestalt-terapia que seja crítica e que traga para as suas discussões temáticas como gênero, relações raciais, sexualidade, afetos, invisibilidade, diversidade, colonialismo, capitalismo, ambientalidade, sustentabilidade, entre outros. Por este motivo, acreditamos na necessidade de uma clínica transgressora no ensino da gestalt-terapia. Se olharmos no dicionário, transgredir significa “passar além do limite razoável”, “infringir”, “violar”, “deixar de cumprir a convenção”, e este é o ponto: precisamos transgredir as normas coloniais e as formas de poder que nos neurotizam. É necessário que criemos rotas de fuga para o nosso corpo, e que possamos oferecer suporte para pessoas divergentes da norma. Assim, não dá mais para mantermos formações clínicas que não abordem o óbvio. Precisamos sacudir a gestalt-terapia. Referências bibliográficas: PERLS, Frederick Salomon, HEFFERLINE, Ralph & GOODMAN, Paul. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997. SANTOS, Boaventura de Sousa. O colonialismo e o século XXI. In: Outras Palavras: jornalismo de profundidade e pós-capitalismo. Acesso no dia 23 de julho de 2022. Disponível em https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/boaventura-o-colonialismo-e-o-seculo-xxi/
Título do Evento
VIII Congresso de Gestalt-terapia do Estado de Rio de Janeiro
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais do Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro: existências anônimas - a Gestalt-terapia ocupando espaços de resistência
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MAGALHÃES, Mariana; CAMPBELL, Tatiana; SILVA, Flavia Ferreira da. O ENSINO DA GESTALT-TERAPIA: ONDE ESTÃO AS FORMAÇÕES IMPLICADAS COM A TRANSGRESSÃO SOCIAL?.. In: Anais do Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro: existências anônimas - a Gestalt-terapia ocupando espaços de resistência. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Hotel Windsor Guanabara, 2022. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/CGTRIO22/520711-O-ENSINO-DA-GESTALT-TERAPIA--ONDE-ESTAO-AS-FORMACOES-IMPLICADAS-COM-A-TRANSGRESSAO-SOCIAL. Acesso em: 10/06/2025

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