FINTECHS E CRÉDITO ÀS FAMÍLIAS NO BRASIL: UM PANORAMA ENTRE 2017 E 2024

Publicado em 05/11/2025 - ISBN: 978-65-272-1821-0

Título do Trabalho
FINTECHS E CRÉDITO ÀS FAMÍLIAS NO BRASIL: UM PANORAMA ENTRE 2017 E 2024
Autores
  • Norberto Montani Martins
  • Morgana Tolentino
  • Lucas Antunes Póvoa
Modalidade
Resumo Expandido (para Associados AKB)
Área temática
Área 6. Economia Monetária e Financeira
Data de Publicação
05/11/2025
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/akb2025/1206240-fintechs-e-credito-as-familias-no-brasil--um-panorama-entre-2017-e-2024
ISBN
978-65-272-1821-0
Palavras-Chave
Fintechs, Crédito Pessoal, Endividamento, Inadimplência
Resumo
Tecnologia e sistema financeiro são dois termos indissociáveis. Na última década essa conexão parece ter se estreitado de uma forma ainda mais intensa. Bancos digitais, neobancos, bancos insurgentes (challenger banks), fintechs: O léxico do sistema financeiro ganhou um sem número de novas expressões para dar conta do novo ecossistema em que as empresas financeiras e os clientes operam. Na leitura de vários autores e na visão de organismos multilaterais, como o Financial Stability Board (FSB), as fintechs vieram para revolucionar os sistemas financeiros modernos com o uso de novas tecnologias para contestar os modelos de negócio das instituições financeiras tradicionais. A literatura aponta que as fintechs têm o potencial de (i) aumentar a inclusão financeira, (ii) acirrar a competição no setor financeiro e (iii) reduzir custos para os consumidores de produtos e serviços financeiros. Contudo, a concretização desses objetivos precisa de maior escrutínio. Se é um fato que as fintechs ganharam espaço nos sistemas financeiros, os volumes e as efetivas condições das suas operações ainda precisam de uma melhor caracterização. Não custa lembrar, que no final do século XX, a abertura do sistema financeiro brasileiro aos grandes conglomerados financeiros internacionais foi justificada com base em argumentos similares – os bancos internacionais vão entrar no sistema financeiro brasileiro acirrando a concorrência, ampliando o acesso e aumentando a eficiência, resultando em menores custos para os consumidores. Na prática, porém, as instituições internacionais (que sobreviveram) se adaptaram ao modus operandi dos bancos tradicionais, sem mudar o status quo. As estimativas disponíveis para o Brasil apontam que o número de fintechs cresceu exponencialmente na última década. Com base nas autorizações formais para operar havia 14 fintechs em 2018, entre instituições de pagamentos, fintechs de crédito e bancos digitais, e 165 dessas empresas em 2023. Em levantamentos mais amplos, o ano de 2015 contabilizava pouco mais de 50 fintechs no país, ao passo que, em 2024, havia mais de 2.000 empresas ativas nesse segmento. A expansão das fintechs coincidiu com um período de expansão do endividamento das famílias brasileiras, que passaram a registrar um volume crescente de dívidas em relação a sua renda. No início de 2018, o índice de endividamento era de 37% e chegou a alcançar 48% no final de 2024. Durante esse mesmo período, o saldo de crédito às famílias em relação ao PIB saiu de 25% para 34%. Essa coincidência temporal indica que parte da expansão do crédito às famílias pode estar associada ao crescimento das fintechs. Nesse mercado, a expectativa é de que a participação das fintechs, com seus modelos de negócio de menor custo e o uso de dados alternativos para análise de crédito, fosse capaz de estimular o acesso a empréstimos e menores taxas de juros, facilitando e barateando o acesso das famílias ao crédito. O artigo tem como objetivo geral analisar como se deu a participação das fintechs no mercado de crédito às pessoas físicas no Brasil no período entre 2015 e 2024. Mais especificamente, o trabalho constrói e analisa estatísticas das fintechs no mercado de crédito às famílias para avaliar o peso das fintechs em diferentes segmentos de crédito (consignado, pessoal, cartão de crédito etc.), as taxas de juros praticadas por essas empresas e o peso dos empréstimos das fintechs no risco de crédito e nas taxas de inadimplência do mercado de crédito às pessoas físicas. Para além de registrar considerações teóricas em relação às fintechs e seus impactos no sistema financeiro e sobre o crédito às famílias, a metodologia do artigo está centrada na construção e na análise das estatísticas descritivas dos indicadores detalhados no parágrafo anterior a partir de dados e informações disponibilizadas pelo Banco Central do Brasil no Sistema Gerenciador de Séries Temporais, nas estatísticas de taxas de juros e no IF.Data. O trabalho tem como principal inovação uma proposta de agregação e tratamento dos dados de fintechs atuantes no segmento de crédito à pessoa física. As principais conclusões do trabalho apontam uma participação crescente das fintechs no crédito às famílias no Brasil entre 2015 e 2024, taxas de juros muitas vezes compatíveis com as taxas médias de mercado e das instituições financeiras incumbentes, até mais altas em alguns segmentos, como o de cartão de crédito, e maior inadimplência nas operações realizadas com essas instituições. Mais especificamente, ao analisar a evolução da participação das fintechs nos segmentos selecionados percebemos que o segmento de cartão de crédito registrou o crescimento mais expressivo no período analisado, alcançando 22,7% do market-share em 2024. As fintechs também apresentaram peso relevante e crescente nos segmentos de financiamento de veículos e crédito pessoal não consignado, alcançando, respectivamente, 12,4% e 16,8% em 2024. No caso do crédito pessoal não consignado, os dados revelam que as fintechs cobraram taxas de juros médias sistematicamente menores que as taxas médias do mercado e das instituições incumbentes. Contudo, as taxas para aquisição de veículos e cartão de crédito rotativo registraram valores acima dos praticados no mercado e pelas instituições tradicionais. Com isso, não é possível afirmar que a redução de custos para as famílias brasileiras se concretizou – vai depender da linha acessada por cada grupo. Por fim, quando se compara diretamente a participação de mercado das fintechs com sua participação na carteira inadimplente nos principais segmentos em que esses players têm inserção no mercado, percebe-se que, em geral, a participação na carteira inadimplente se mantém acima da participação de mercado para os principais segmentos durante praticamente todo o período analisado. É possível concluir, portanto, que o crescimento das fintechs ajuda a explicar a expansão do endividamento das famílias no período de 2015 a 2024, com uma parcela cada vez mais do mercado abocanhada por esses novos players, mas com condições, em geral, piores em termos de risco de crédito e taxas de juros. As evidências indicam que as fintechs foram capazes de captar uma franja de tomadores mais arriscados, provavelmente contribuindo para ampliar a inclusão de pessoas ao sistema financeiro. A última afirmativa, porém, precisa ser corroborada por outros dados e demanda uma apreciação crítica – uma vez que a mera “inclusão” pode vir acompanhada de uma maior exploração ou de maior fragilidade financeira, o que contribui para a manutenção de elevados patamares históricos de endividamento e estrangulamento das famílias brasileiras.
Título do Evento
XVIII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Cidade do Evento
Curitiba
Título dos Anais do Evento
Anais do XVIII Encontro da Associacão Keynesiana Brasileira
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MARTINS, Norberto Montani; TOLENTINO, Morgana; PÓVOA, Lucas Antunes. FINTECHS E CRÉDITO ÀS FAMÍLIAS NO BRASIL: UM PANORAMA ENTRE 2017 E 2024.. In: Anais do XVIII Encontro da Associacão Keynesiana Brasileira. Anais...Curitiba(PR) SCSA/UFPR, 2025. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/akb2025/1206240-FINTECHS-E-CREDITO-AS-FAMILIAS-NO-BRASIL--UM-PANORAMA-ENTRE-2017-E-2024. Acesso em: 31/12/2025

Trabalho

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