FUTURO INCERTO, PASSADO IRRECUPERÁVEL: A ECONOMIA DA INCERTEZA E O PAPEL DAS CONVENÇÕES EM JOHN MAYNARD KEYNES

Publicado em 02/12/2024 - ISBN: 978-65-272-0872-3

Título do Trabalho
FUTURO INCERTO, PASSADO IRRECUPERÁVEL: A ECONOMIA DA INCERTEZA E O PAPEL DAS CONVENÇÕES EM JOHN MAYNARD KEYNES
Autores
  • Raphael Ramos Silveira
Modalidade
Artigo (não associado AKB)
Área temática
Área 3. Método, teoria econômica e história econômica
Data de Publicação
02/12/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/akb2024/897849-futuro-incerto-passado-irrecuperavel--a-economia-da-incerteza-e-o-papel-das-convencoes-em-john-maynard-keynes
ISBN
978-65-272-0872-3
Palavras-Chave
Incerteza; convenções; teoria keynesiana.
Resumo
John Maynard Keynes (1883-1946) é amplamente reconhecido como um dos economistas mais influentes do século XX, principalmente por sua contribuição à compreensão das economias capitalistas modernas e sua dinâmica. Entre suas várias contribuições, a ideia de incerteza fundamental e o papel das convenções no comportamento econômico destacam-se como elementos centrais de sua teoria econômica. Inovador, Keynes foi o primeiro grande economista a reconhecer e analisar as consequências da incerteza na teoria econômica. Para isso, refutou a teoria clássica, segundo a qual as forças do mercado, agindo sozinhas, sempre garantiriam um retorno ao equilíbrio econômico (Lei de Say). Dado que os investidores, seja o empresário produtivo ou financista, carecem de informações objetivas sobre as vicissitudes do futuro, eles são compelidos a formular expectativas subjetivas sobre os fatos, devendo, além disso, acreditar com alguma convicção em suas próprias expectativas. Admitindo a imprevisibilidade dos fatos econômicos, bem como a ausência de probabilidades objetivas no decurso de tais eventos, Keynes sabia que o conhecimento que os agentes econômicos dispõem não é suficiente para inferir uma distribuição de probabilidades plenamente confiável para o resultado de suas decisões. Diante da incerteza, portanto, caberá aos agentes econômicos basearem-se em convenções. Perante tal dilema, Keynes é categórico: “é melhor correr riscos com a maioria do que apostar, sozinho, contra ela”. O presente ensaio será constituído por três seções, além desta introdução e das considerações finais. Na primeira seção, abordaremos a natureza da incerteza inerente ao comportamento da economia capitalista. A segunda seção, por sua vez, introduzirá os conceitos de Animal Spirits e Eficiência Marginal do Capital e seus reflexos nas decisões dos agentes. A terceira seção apresentará o processo de formação das convenções e seus reflexos no mercado financeiro, além de seu papel mitigador de incerteza, na medida em que se torna a base de um conhecimento mais confiável para as decisões dos agentes. Por fim, analisaremos os reflexos da teoria keynesiana sobre a incerteza na atualidade. Problema de Pesquisa Para Keynes, o capitalismo é suscetível a intercorrências de toda sorte. Em uma economia monetária de produção, reter moeda é uma alternativa em relação à detenção de outros ativos. O cálculo capitalista se pauta na projeção futura de um negócio a partir de seu valor presente. Para avaliar os riscos de um negócio, o capitalista deverá observar o comportamento da taxa de juros, o que, na teoria keynesiana, representa a recompensa pela renúncia à liquidez (ao contrário dos clássicos, que defendiam a retração do consumo). Na teoria keynesiana, ao contrário da teoria clássica, a moeda deixou de ser mero instrumento de intermediação de trocas, isto é, um componente neutro (como preconizado pela Teoria Quantitativa da Moeda), para assumir também a função de reserva de valor, destinada não somente para atividades transacionais, como também para fins especulativos. Para Keynes, parte considerável do estoque de moeda é afetada pelas expectativas sobre o comportamento da taxa de juros, bem como outras variáveis econômicas. Nesse sentido, a demanda por moeda está diretamente relacionada à variação na taxa de juros, sendo essa a razão pela qual os investidores têm preferência pela liquidez. Para ele, há três motivos para a demanda por moeda líquida: as transações, a precaução e a especulação. Diante desse cenário, cumpre perguntar: como a inexorável incerteza econômica afeta o comportamento dos agentes econômicos e qual é o papel das convenções na teoria keynesiana? E como os conceitos de Animal Spirits e Eficiência Marginal do Capital influenciam nas decisões dos agentes? Objetivos O objetivo principal deste estudo é explorar e analisar o conceito de incerteza econômica e o papel das convenções na teoria econômica de John Maynard Keynes. Com base nisso, consideraremos os seguintes objetivos específicos: 1. Examinar a definição e o impacto da incerteza fundamental na obra de Keynes; 2. Analisar como as convenções atuam como mecanismos de adaptação frente à incerteza; e 3. Discutir a relevância das ideias de Keynes sobre incerteza e convenções na teoria econômica contemporânea. Metodologia Este estudo utilizará uma abordagem qualitativa baseada em uma revisão bibliográfica abrangente das obras de Keynes, bem como de análises e interpretações de seus conceitos por economistas contemporâneos. A pesquisa se concentrará em obras fundamentais como A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda e artigos relevantes que discutem a teoria da incerteza e o papel das convenções. Principais Resultados A economia, para Keynes, opera em tempo histórico, onde “o futuro é incerto e o passado é irrecuperável”. As atividades econômicas se sucedem em um contexto no qual a capacidade de produção está determinada, resultando de decisões passadas de investimento, bem como do tamanho, educação e treinamento da força de trabalho. Nesse sentido, a revisão da literatura e a análise das obras de Keynes indicam que a incerteza inevitável desempenha um papel crucial na determinação do comportamento econômico. Keynes argumenta que, ao contrário da visão neoclássica de previsibilidade e racionalidade perfeita, os agentes econômicos frequentemente enfrentam situações onde o futuro é incerto e imprevisível. Para lidar com essa incerteza, os agentes recorrem a convenções – práticas, normas e comportamentos estabelecidos que ajudam a guiar suas decisões em um ambiente incerto. Mesmo diante de tamanha imprevisibilidade, os investidores terão que tomar decisões que não são meros comportamentos irracionais; tendo por objetivo o acúmulo (lucro), os investidores deverão adotar procedimentos racionais (como reunir informações passadas e projeções futuras) para melhor decidirem, ainda que a decisão, em si, não se configure um ato substantivamente “racional”. Em última instância, a decisão será norteada pela crença, isto é, pelo animal spirits. Animal Spirits é o estado de ânimo que faz o empresário aceitar correr os riscos de uma incerteza futura em busca de maiores lucros. Uma vez que as expectativas do empresário em relação ao futuro sejam negativas, seu animal spirit desmotivado impedirá que novos investimentos sejam feitos, independentemente dos incentivos que lhe forem oferecidos. Esse conceito explica as decisões de investimento dos empresários dependendo das suas expectativas em relação à Eficiência Marginal do Capital, ou seja, o retorno que seus investimentos terão. A Eficiência Marginal do Capital (EMC) determina, juntamente com a taxa de juros, a quantidade de investimento que, por conseguinte, determina o volume de emprego sendo dada a propensão a consumir. É, por assim dizer, uma taxa de desconto que tornaria o valor presente do fluxo de anuidades das rendas esperadas de um dado capital, durante toda a sua existência, exatamente igual ao seu preço de oferta. Em outras palavras, a Eficiência Marginal do Capital é a relação entre a expectativa de ganhos futuros dado o investimento em determinado bem de capital (renda esperada do investimento), com o custo de se produzir novas unidades do referido bem (custo de reposição ou preço de oferta). É importante ressaltar, porém, que as convenções podem ter efeitos tanto positivos quanto negativos na economia. Positivamente, elas permitem que os agentes naveguem em ambientes incertos sem apatia ou paralisia decisional. Negativamente, podem levar a comportamentos de “manada” ou a bolhas econômicas, onde as expectativas irracionais se autoperpetuam até que daí resulte uma correção drástica. Logo, as implicações para a política econômica são significativas. Políticas que reconhecem a incerteza fundamental e o papel das convenções podem ser mais eficazes na estabilização econômica. Por exemplo, intervenções governamentais durante crises podem servir como uma nova convenção, restaurando a confiança dos agentes econômicos. Além disso, a teoria keynesiana sugere a necessidade de políticas macroeconômicas ativas para mitigar os impactos negativos da incerteza. A teoria da incerteza fundamental e o papel das convenções em John Maynard Keynes oferecem uma perspectiva crucial para entender a dinâmica das economias capitalistas. A aceitação da incerteza como um componente intrínseco e irreparável da economia desafia a visão neoclássica de previsibilidade e eficiência de mercado, enfatizando a necessidade de políticas econômicas adaptativas e flexíveis. As convenções, enquanto mecanismos de adaptação, desempenham um papel dual, proporcionando estabilidade, mas também potencialmente exacerbando crises. Portanto, as convenções são de fundamental importância para ajudar o investidor a se sentir mais seguro para investir, pois o seu maior risco existe no curto prazo. Ainda que algo interfira no investimento, considerando o longo prazo, o investidor terá tempo suficiente para realizar ajustes e modificações no investimento. Então, considerando a incerteza como força endógena ao capitalismo, o comportamento baseado em convenções será a maneira menos arriscada de investir e que, se as incertezas não podem ser totalmente eliminadas, ao menos que sejam mitigadas ao nível máximo possível, pelo menos no curto prazo. Deste modo, a relevância das ideias de Keynes permanece indiscutível, especialmente à luz dos desafios econômicos contemporâneos, onde a incerteza continua a ser uma característica proeminente.
Título do Evento
XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Cidade do Evento
Maceió
Título dos Anais do Evento
Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SILVEIRA, Raphael Ramos. FUTURO INCERTO, PASSADO IRRECUPERÁVEL: A ECONOMIA DA INCERTEZA E O PAPEL DAS CONVENÇÕES EM JOHN MAYNARD KEYNES.. In: Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira. Anais...Maceió(AL) FEAC-UFAL, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/akb2024/897849-FUTURO-INCERTO-PASSADO-IRRECUPERAVEL--A-ECONOMIA-DA-INCERTEZA-E-O-PAPEL-DAS-CONVENCOES-EM-JOHN-MAYNARD-KEYNES. Acesso em: 14/05/2025

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