PRESSÃO CAMBIAL E AS RESPOSTAS DE BRASIL E MÉXICO APÓS A DEFLAGRAÇÃO DA PANDEMIA

Publicado em 02/12/2024 - ISBN: 978-65-272-0872-3

Título do Trabalho
PRESSÃO CAMBIAL E AS RESPOSTAS DE BRASIL E MÉXICO APÓS A DEFLAGRAÇÃO DA PANDEMIA
Autores
  • Adriano Vilela Sampaio
Modalidade
Resumo Expandido (associados AKB)
Área temática
Área 5. Economia internacional
Data de Publicação
02/12/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/akb2024/897321-pressao-cambial-e-as-respostas-de-brasil-e-mexico-apos-a-deflagracao-da-pandemia
ISBN
978-65-272-0872-3
Palavras-Chave
Pandemia covid-19, Taxa de câmbio, Reservas internacionais, Rede global de proteção financeira
Resumo
As instabilidades trazidas pela pandemia do covid-19 nos mercados financeiros esteve entres as mais severas das últimas décadas (IMF, 2020). Como em outras crises, os países emergentes foram os mais afetados por fuga de capitais e consequentes desvalorizações cambiais e/ou queda nas reservas internacionais. Isso está ligado à maior fragilidade externa estrutural dos países emergentes, especialmente o posicionamento de hierarquia monetária global. A literatura que trata da rede global de proteção financeira (global financial safety net – GFSN), estuda os instrumentos individuais e cooperativos (regionais e multilaterais) disponíveis aos países para proteção frente a instabilidade externas e o uso efetivo destes. Este artigo tem como objetivo analisar a atuação no mercado cambial dos bancos centrais de Brasil e México para a mitigação das instabilidades advindas da pandemia no período de maior turbulência, entre março e maio de 2020. Como objetivos específicos estão a mensuração dos impactos sobre o mercado cambial dessas duas economias pela utilização de indicadores de pressão cambial; o mapeamento dos instrumentos disponíveis para o enfrentamento de instabilidades externas sobre os mercados cambiais a partir da perspectiva da GFSN; e a análise das medidas e instrumentos efetivamente usados por esses países no período. A escolha dos países se justifica por serem as duas maiores economias da América Latina, com alto grau de integração financeira internacional e que foram bastante afetadas no período de análise. A hipótese a ser testada é que ambos fizeram uso abaixo do potencial dos instrumentos de proteção disponíveis (GFSN), utilizando o câmbio como principal variável de ajuste e com a prevalência de medidas individuais, com pouco uso das cooperativas. Mühlich, Fritz e Kring (2022) mostram que durante a pandemia os diferentes arranjos regionais foram pouco usados, principalmente os com maior capacidade de prover financiamentos. O que se convencionou chamar de rede global de proteção financeira compreende o conjunto de instrumentos disponíveis a um país para o enfrentamento de instabilidades externas e é formado por reservas internacionais, arranjos bilaterais de swap entre bancos centrais, arranjos financeiros regionais (RFAs) e instituições financeiras internacionais, sendo o Fundo Monetário Internacional (FMI) a principal delas (IMF, 2017; Denbee, Jung e Paternò, 2016). As principais contribuições esperadas do artigo são o mapeamento dos instrumentos disponíveis a cada país a partir da perspectiva da GFSN, tema que vem ganhando relevância na literatura internacional, mas ainda com pouco espaço no Brasil e a análise e comparação do perfil de atuação no mercado cambial das duas autoridades monetárias. Com a chegada da pandemia, os dois países passaram por fortes perturbações no mercado cambial. Em março de 2020, o Brasil teve uma desvalorização cambial de 17,8% e redução de 5,3% das reservas internacionais. No México, o peso se desvalorizou em 22,7%, mas as reservas subiram 0,73%. O mapeamento dos instrumentos individuais e cooperativos disponíveis aos países foi feito para o início de 2020, dado que o objetivo é analisar a capacidade de resposta às instabilidades no setor externo advindas da pandemia. Os dados e demais informações sobre os instrumentos foram obtidos do FMI, das autoridades monetárias locais - Banco Central do Brasil (BCB), Banco de México (Banxico) e Comisión de Cambios-, do GFSN Tracker e do Federal Reserve (Fed). Em janeiro de 2020 o Brasil contava com cerca de US$359 bilhões em reservas internacionais, em torno de 19% do PIB. Os recursos disponíveis via FMI em suas diferentes modalidades totalizavam aproximadamente US$81,8 bilhões . O único instrumento regional (RFA) a sua disposição era o Contingent Reserve Arrangement, fundo conjunto de reservas dos BRICS, cuja cota brasileira é de US$18 bilhões. A partir de 19/03/2020, o país passou a contar também com uma linha temporária de swap do Fed de US$60 bilhões, encerrada em dezembro de 2021. Já o México tinha em torno de US$189 bilhões em reservas internacionais (~14% do PIB) e no FMI recursos que totalizavam quase US$188 bilhões . O país participa de dois RFAs, o Arranjo Trilateral de Swaps, entre o Banxico e os bancos centrais de Canadá e EUA, com valores disponíveis de US$3 bilhões. E o Exchange Stabilization Agreement, de até US$9 bilhões, com o Tesouro dos EUA. A linha temporária de swaps do Fed também foi estendida ao México, nos mesmos valores e duração disponíveis ao Brasil. Diante da forte perturbação nos mercados cambiais e dos instrumentos disponíveis, como cada país agiu? Começando pelo Brasil, os swaps cambiais vêm sendo o principal instrumento de intervenção no mercado cambial desde ao menos o fim de década de 2000 e isso se repetiu em 2020. No entanto, além de um volume maior de intervenções quando comparadas a outros períodos, uma nova modalidade, as repos (compra com compromisso de revenda) de títulos soberanos brasileiros denominados em dólar (Global Bonds) foram usadas para prover liquidez em dólar para instituições financeiras (IFs) domésticas. Foram 15 operações em 2020, que totalizaram US$9,3 bilhões. As vendas de dólares à vista também foram ampliadas em relação ao que vinha ocorrendo em anos anteriores (dada a preferência pelos swaps), totalizando US$24,7 bilhões . Quanto aos outros instrumentos disponíveis, recursos do FMI, Contingent Reserve Arrangement dos BRICS e linha de swap do Fed, nenhum deles foi usado. Em suma, diante da expressiva desvalorização cambial, do emprego relativamente baixo de reservas e por não usar outros instrumentos disponíveis, pode-se dizer que as intervenções foram muito aquém do potencial. A atuação mexicana no mercado cambial teve em comum com a brasileira a prevalência da taxa de câmbio como primeira linha de defesa, inclusive com elevação de reservas internacionais. No entanto, pode-se dizer que o país utilizou mais instrumentos adicionais. Foram usados, por exemplo, US$39 bilhões da linha temporária de swaps com o Fed em 2020 . Esses recursos foram usados principalmente (US$34,4 bilhões - 84%) para o financiamento de leilões de dólares entre o Banxico e IFs domésticas. Entre abril de 2020 e 2021 foram realizados 14 leilões e negociados US$13,32 bilhões. A partir de dezembro de 2020, não houve mais demanda por tais instrumentos. Apesar dos recursos disponíveis no âmbito do NAFA, a opção foi pela linha temporária, talvez para reforçar a ideia de que era uma circunstância especial. Também foram ampliados os títulos aceitos na Facilidad de Liquidez Adicional Ordinaria (FLAO) para operações de hedge de moeda estrangeira e em operações de crédito em dólares, permitindo às contrapartes negociar títulos corporativos como colaterais. O programa de hedge cambial liquidado em moeda doméstica teve seu limite aumentado de US$20 para US$30 bilhões (mas houve somente duas operações, em março de 2020, com demanda total de menos de US$2 bilhões). Finalmente, o Banxico passou a atuar em operações de hedge liquidadas em dólares em mercado externos em que o peso mexicano fosse negociado, em horários em que o mercado local não estivesse operando. Como no caso brasileiro, o México não fez uso de suas linhas disponíveis no FMI, tampouco de seus instrumentos permanentes do NAFA. O que se depreende das atuações de Brasil e México em seus mercados cambiais durante a pandemia é que prevaleceram medidas individuais, com pouco uso de instrumentos regionais e/ou multilaterais. Em ambos os casos, as intervenções foram aquém do potencial quando considerados os instrumentos disponíveis, especialmente por conta da baixa proporção de reservas usadas (no caso mexicano até ampliadas). Além disso, as intervenções foram de natureza "market friendly", i.e., atuações dos BCs para estabilizar as taxas via instrumentos de mercado, como leilões e swaps, sem qualquer menção à possibilidade de controles de capitais, por exemplo. Segundo Gabor (2020), no atual sistema monetário e financeiro internacional, os bancos centrais assumem o papel de mitigadores de riscos, como o cambial para investidores externos, e de “swappers de última instância”, provendo liquidez em moeda estrangeiras às instituições financeiras domésticas. Nesse sentido, atuam para preservar o ambiente de alta mobilidade de capitais e em momentos de grandes instabilidades, buscam mitigar seus sintomas, não atacar suas causas estruturais. Referências Bibliográficas DENBEE, E.; JUNG, C. & PATERNÒ, F. (2016). "Stitching together the global financial safety net. Financial Stability Paper" In: Bank Of England, n. 36. IMF. (2017) "Adequacy of the global financial safety net - considerations for fund toolkit reform.", IMF Policy Paper. IMF (2020). “Global Financial Stability Overview: Markets in the Time of COVID-19”. Washington, DC, abril. MÜHLICH, L.; FRITZ, B.; KRING, W. (2022). No One Left Behind? Assessing the Global Financial Safety Net Performance During COVID-19. Journal of Globalization and Development, vol. 13, no. 1, 2022, pp. 123-147. https://doi.org/10.1515/jgd-2021-0033
Título do Evento
XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Cidade do Evento
Maceió
Título dos Anais do Evento
Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

SAMPAIO, Adriano Vilela. PRESSÃO CAMBIAL E AS RESPOSTAS DE BRASIL E MÉXICO APÓS A DEFLAGRAÇÃO DA PANDEMIA.. In: Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira. Anais...Maceió(AL) FEAC-UFAL, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/akb2024/897321-PRESSAO-CAMBIAL-E-AS-RESPOSTAS-DE-BRASIL-E-MEXICO-APOS-A-DEFLAGRACAO-DA-PANDEMIA. Acesso em: 13/06/2025

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