ASSIMETRIAS FINANCEIRAS INTERNACIONAIS E A MOEDA ÚNICA DOS BRICS: REALIDADE OU FICÇÃO?

Publicado em 02/12/2024 - ISBN: 978-65-272-0872-3

Título do Trabalho
ASSIMETRIAS FINANCEIRAS INTERNACIONAIS E A MOEDA ÚNICA DOS BRICS: REALIDADE OU FICÇÃO?
Autores
  • Thaís Alves
  • Benito Adelmo Salomão Neto
Modalidade
Artigo (associados AKB)
Área temática
Área 5. Economia internacional
Data de Publicação
02/12/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/akb2024/895516-assimetrias-financeiras-internacionais-e-a-moeda-unica-dos-brics--realidade-ou-ficcao
ISBN
978-65-272-0872-3
Palavras-Chave
BRICS Ampliado, Assimetrias Financeiras Internacionais, Cointegração, GARCH
Resumo
Introdução O contexto geopolítico internacional está mudando rapidamente. A invasão russa à Ucrânia acirrou as rivalidades entre potências nucleares já melindradas pela “guerra comercial” entre o ocidente - particularmente os Estados Unidos - e a China. Após décadas de paz em seu território, esse contexto tem empurrado as democracias de bem-estar social europeias a ampliar despesas públicas com defesa e isso pode provocar uma escalada de gastos em defesa ao redor do mundo, uma vez que pontos locais de tensão continuam eclodindo, particularmente no oriente médio e na Ásia. Nesse contexto de acirramento político e militar, uma face das alianças que não pode ser ignorada é a econômico-financeira. Muitos dos países envolvidos nessas supracitadas tensões dependem do comércio internacional com o ocidente para sustentar suas demandas agregadas domésticas e, também suas posições militares. Isso ficou bastante claro após as sanções impostas pelo ocidente à Rússia, com o banimento deste país do sistema de pagamentos internacionais (SWIFT), além do bloqueio de parte das reservas internacionais desse país em dólares e euros. Tais sanções impostas pelo ocidente culminou em uma aproximação estratégica entre Rússia e China, bem como na prospecção de novos parceiros visando um reordenamento das relações financeiras internacionais. Convém dizer que a hierarquia monetária internacional tendo o dólar e moedas conversíveis de países avançados no topo, perdura nas relações financeiras entre países desde o fim da segunda guerra mundial, de forma que pela primeira vez em décadas se vê um movimento relativamente coordenado de reordenar esse sistema com a reivindicação de mais protagonismo por parte de países emergentes. Um primeiro movimento nesse sentido foi a ampliação do grupo dos BRICS. O bloco, inicialmente era composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e, apesar das diferenças entre os membros, foi estruturado na saída da crise financeira de 2008 quando tais países se tornaram a locomotiva do crescimento mundial. Agora, sob um contexto bem diferente, cujas supracitadas rivalidades de alguns desses com potências ocidentais parecem exacerbadas, os antigos BRICS atuam no sentido de ampliar suas alianças atraindo novos aliados visando cooperação geopolítica, comercial e financeira. Esse movimento culminou na entrada de novos atores no bloco que passou a ser chamado de “BRICS ampliado” após o ingresso, durante a cúpula de Johanesburgo em 2023 de: “Argentina”, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. O novo bloco, apesar das contradições expressas nas diferenças entre os membros, além das atuais e potenciais rivalidades internas, detém aproximadamente 1/3 do PIB mundial e tenta se colocar como um contraponto político e econômico ao ocidente. Nesse contexto, uma das propostas ventiladas a partir da união desses países seria a estruturação de uma moeda comum ao bloco capaz de facilitar as transações comerciais entre os membros. Pelo que se sabe até aqui, a proposta parece um tanto quanto vaga e pouco se sabe até o presente momento se trata-se apenas de um novo sistema de liquidações e pagamentos, ou se consistirá em um mero meio de trocas, ou, ao contrário, se será uma moeda plena comum entre os países do bloco inspirada no Euro. Objetivo O objetivo principal desse artigo é analisar a viabilidade da criação dessa moeda única a partir de uma avaliação empírica que contempla vinte e quatro anos de dados mensais das taxas de câmbio de todos os países componentes do bloco para um período que inicia em janeiro de 1999 e termina em dezembro de 2023. A escolha do período de análise se deu por conveniência metodológica, pois coincide com a mudança do regime cambial no Brasil cujo resultado foi a adoção do regime de câmbio flutuante administrado por metas de inflação. Problema de pesquisa É possível a criação de uma moeda única para os BRICS ampliado? Metodologia Esse artigo analisa a viabilidade da adoção de uma moeda única para o bloco de onze países conhecido como BRICS ampliado, submetendo séries de dados das taxas de câmbio desses países a um conjunto de procedimentos empíricos. A amostra mensal contempla dados de África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Irã e Rússia para um período entre janeiro de 1999 a dezembro de 2023. Antes de prosseguir, convém dissertar um pouco sobre a especificidade da China, país sob o qual operam três taxas de câmbio simultaneamente. Os territórios de Hong Kong e Macau pertenciam a colonizadores europeus – Reino Unido e Portugal respectivamente – até um passado recente. Apenas ao final da década de 1990 essas ilhas saíram do controle de seus antigos colonizadores e passaram a pertencer à China na forma de Regiões Administrativas Especiais (ERAs). Convém salientar que essas regiões possuíam moeda e sistema monetário próprio antes de serem devolvidos ao seu país de origem, de forma que atualmente adotam o Yuan, a exemplo da China Continental, porém, operam sob uma autoridade monetária própria. Em resumo, a China hoje conta com três taxas de câmbio distintas de forma que, para os fins da análise empírica, serão observados os dados da China Continental. Como se trata de uma política pública que não foi, até o presente momento implementada, as técnicas econométricas tradicionais se mostram incapazes de avaliar empiricamente pela ausência de dados capazes de construir cenários contrafactuais adequados. Nesse caso, a pesquisa pode recorrer à simulação de cenários para uma avaliação empírica mais sofisticada. Isso, no entanto, não se aplica aqui. Uma vez que a política não foi posta em prática e não há nenhum exemplo próximo de política pública semelhante adotada, a escolha de parâmetros adequados para calibração de cenários torna o exercício difícil. Nesse contexto, a abordagem empírica utilizada nesse artigo parte de uma análise preliminar dos dados, não apenas da taxa de câmbio, mas dados gerais dos fundamentos macroeconômicos das economias que compõem o bloco. Isso por si só já é um desafio, uma vez que se trata de uma amostra bastante heterogênea de países com regimes cambiais distintos. Ainda que os dados sejam padronizados na cotação de cada moeda em relação ao dólar americano, há enormes discrepâncias entre eles que requerem tratamentos adicionais. Em se tratando de economias que operam sob o regime de câmbio flutuante, ou de flutuação suja, um problema inerente à análise é o da viabilidade da moeda única. Isso porque moedas que operam sob o regime de câmbio flutuante apresentam determinados padrões de volatilidade da taxa de câmbio; isso não é verificado para os países que operam sob câmbio fixo. Para verificar o padrão da volatilidade, serão construídas séries proxies a partir de estimações de modelos Autorregressivos de Heteroscedasticidade Condicional Generalizadas (GARCH) aplicadas à primeira diferença das séries cambiais transformadas em forma logarítmica. Esse procedimento é semelhante ao adotado por Vieira e Damasceno (2016) e Salomão et al. (2021). A ideia de observar tais séries é verificar se há grandes diferenças na natureza e no padrão de volatilidade cambial nos diferentes países que operam sob o regime de câmbio flutuante. Se uma elevada volatilidade for verificada na taxa de câmbio dessas economias, diante da possiblidade de adoção de um único padrão monetário, uma primeira questão que surge é a questão do risco cambial que será discutido a partir da estimação de quatro vetores de cointegração observados a partir da abordagem de Johansen (1990). Porém, para uma análise dessa natureza é preciso que as séries utilizadas apresentem uma tendência de raiz unitária e uma mesma ordem de integração. Como será visto, isso foi verificado para quase todos os países que adotam ou passaram a adotar o regime de câmbio flutuante ao longo dos anos 2000, exceto a Etiópia que foi excluída da amostra por apresentar uma ordem de integração distinta. Portanto, os quatro vetores de cointegração são: • Brics Tradicional – Moedas de África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia • Brics Ampliado – Moedas do Brics Tradicional mais Argentina, Egito, Irã. • Brics Ampliado sem Argentina • Brics Ampliado sem Irã Principais Resultados A adoção desse padrão monetário comum foi considerada inviável pelos seguintes motivos: i) adoção de diferentes regimes cambiais (e monetários) entre os participantes cujos grupos se concentram entre países com regime de câmbio fixo, câmbio flutuante e, flutuação entre bandas. Considerando exclusivamente os países que adotam algum grau de flexibilidade no câmbio, observou-se, ii) ordens de integração comuns entre as séries, o que sugerem que as moedas que; iii) apresentam tendências comuns de longo prazo observadas a partir de testes de cointegração, exceto a Etiópia, apresentou ordem de integração distinta. Foi observado, ainda, que; iv) as taxas de câmbio desses países apresentam padrões diferentes de volatilidade estimada por Modelos Generalizados de Heteroscedasticidade Condicional (GARCH);esse padrão de volatilidade é explicado tanto por fragilidades em fundamentos macroeconômicos, quanto por questões relacionadas aos regimes políticos dessas economias e está associado ao risco cambial que inviabiliza a adoção de um padrão monetário comum entre os países.
Título do Evento
XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Cidade do Evento
Maceió
Título dos Anais do Evento
Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

ALVES, Thaís; NETO, Benito Adelmo Salomão. ASSIMETRIAS FINANCEIRAS INTERNACIONAIS E A MOEDA ÚNICA DOS BRICS: REALIDADE OU FICÇÃO?.. In: Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira. Anais...Maceió(AL) FEAC-UFAL, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/akb2024/895516-ASSIMETRIAS-FINANCEIRAS-INTERNACIONAIS-E-A-MOEDA-UNICA-DOS-BRICS--REALIDADE-OU-FICCAO. Acesso em: 30/06/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes