A DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DOS DESEMBOLSOS DO BNDES PARA O PERÍODO 1950-2023

Publicado em 02/12/2024 - ISBN: 978-65-272-0872-3

Título do Trabalho
A DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DOS DESEMBOLSOS DO BNDES PARA O PERÍODO 1950-2023
Autores
  • Cinthia Costa Maia
  • Karla Vanessa da Silva Leite
Modalidade
Artigo (associados AKB)
Área temática
Área 2. Crescimento econômico, desenvolvimento e distribuição de renda
Data de Publicação
02/12/2024
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/akb2024/889713-a-desindustrializacao-brasileira--uma-analise-dos-desembolsos-do-bndes-para-o-periodo-1950-2023
ISBN
978-65-272-0872-3
Palavras-Chave
Desindustrialização, Financiamento do BNDES, Nova Indústria Brasil, Reindustrialização.
Resumo
O fenômeno da desindustrialização, caracterizado pela redução progressiva da importância do setor industrial na geração de empregos e de valor adicionado em relação ao emprego total da economia e ao PIB, respectivamente, tem sido um tema de amplo debate e análise, nas últimas décadas . A literatura econômica aponta que o Brasil vive uma desindustrialização precoce, pois esse processo tem ocorrido antes das estruturas industriais terem atingido sua maturidade e de se alcançar um nível elevado de renda per capta. Morceiro e Guilhoto (2023) argumentam que a desindustrialização é prematura para os subsetores intensivos em tecnologia, o que traz consequências negativas para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. A política industrial, em uma perspectiva heterodoxa, pode ser entendida como ferramenta central na promoção do desenvolvimento econômico e na estabilização da economia, na medida em que pode incentivar inovações tecnológicas, promover a diversificação econômica e aumentar a competitividade internacional (Davidson, 2011). Além disso, tal política pode ser utilizada ainda como importante instrumento de controle inflacionário, já que tem o potencial de incentivar a produção locais de bens finais e insumos importados prioritários e, com isso, minimizar os gargalos setoriais na estrutura produtiva que causam pressões inflacionárias (Modenesi e Pimentel, 2020). No âmbito do debate econômico brasileiro, a reindustrialização é vista como crucial para que o país alcance um crescimento sustentado e, por conseguinte, consiga reduzir a desigualdade social e econômica que assola o país, há décadas (Nassif & Morceiro, 2024; Nassif, Bresser-Pereira & Feijó, 2018). Com vistas a tratar desta questão urgente para a economia brasileira, o governo Lula III anunciou, em janeiro de 2024, uma nova política industrial brasileira, intitulada “Nova Industria Brasil (NIB)”, como estratégia de desenvolvimento econômico e industrial. A NIB foi construída considerando o conceito de missões exposto em Mazzucato (2022) que traz, na sua essência, o reconhecimento de que os desafios do desenvolvimento precisam ser vistos considerando as questões sociais e políticas. Nesse contexto, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aparece como um instrumento primordial para a retomada da industrialização brasileira, na medida em que se constitui na principal fonte de financiamento de longo prazo para as empresas industriais, com condições adequadas de custo e prazo. Assim sendo, a presente pesquisa teve por objetivo fazer uma análise dos desembolsos do BNDES buscando compreender se sua trajetória de investimento, nos mais diversos setores da economia, foi ao encontro da promoção da industrialização, assim como ocorreu em diversos países industrializados . A pesquisa foi realizada a partir de uma metodologia quali-quantitativa. O recorte temporal utilizado na pesquisa começa na década de fundação do BNDES, ou seja, 1950, e segue até 2023. No aspecto quantitativo, a análise foi construída e baseada nos dados secundários fornecidos pelo BNDES, a partir de 1995. Para o período anterior, foram usados os dados encontrados no estudo de Barboza, Furtado & Gabrielli (2018). Nesse particular, foram analisados os desembolsos feitos para verificar como foram distribuídos os financiamentos de tal entidade nos setores de comércio e serviços, infraestrutura, indústria, e agropecuária em porcentagem da composição setorial dos mesmos. A investigação qualitativa foi realizada a partir da revisão da literatura econômica heterodoxa, especialmente pós-keynesiana e desenvolvimentista, que trata da importância industrialização para o desenvolvimento e da centralidade dos bancos de investimento no processo de industrialização. Os resultados encontrados expõem que setores como infraestrutura e indústria foram perdendo cada vez mais participação nos financiamentos do BNDES, enquanto setores como comércio e serviços, além do setor agrícola, ganharam cada vez mais espaço nos desembolsos do banco. Observando a década de 1950, pudemos verificar que os financiamentos em infraestrutura somavam cerca de 69,5%. Em composição setorial dos financiamentos, a indústria contava com 28,5%, o setor de comércio e serviços obtinha financiamentos de 2%, enquanto o setor primário não recebia financiamentos advindos do BNDES. Esse cenário contrasta com os dados da década de 2010, quando os desembolsos do BNDES para os mesmos setores eram de 37%, 27% e 23%, respectivamente. O setor agrícola, por sua vez, recebeu 13%, em composição setorial dos financiamentos. Quando se compara o setor agrícola, no recorte temporal de 2010 e 2021-2023, é possível constatar que os financiamentos agrícolas quase duplicaram em pouco mais de dez anos. A análise aqui proposta evidencia, em grande medida, o que já se sabe: a industrialização é um fenômeno complexo e que conta com a participação de muitos atores, entre eles, os bancos de desenvolvimento. No caso do BNDES, é possível perceber que o setor agrícola tem tido uma participação considerável, em relação aos outros setores, nos financiamentos. Tal fato poderia sugerir que os desembolsos para o setor industrial não vão no sentido do que aponta a literatura sobre o desenvolvimento pautado pela industrialização, já que vem caindo, ao longo dos anos. Entretanto, a queda de participação do setor industrial nos financiamentos do BNDES não pode ser apontada, inequivocamente, como uma ausência de orientação da instituição para industrialização do país. Os dados podem estar refletindo a ausência de uma política industrial efetiva, que vise desenvolver as potencialidades da economia, leve o setor industrial a ter projetos e, assim, demandar recursos junto ao BNDES. Nesse particular, é possível que a NIB se constitua em um ponto de partida para o estabelecimento de políticas industriais voltadas para a inovação e com objetivos de prazo mais longos que busque dar respostas aos desafios que se colocam, há décadas, ao desenvolvimento econômico brasileiro. Referências: BARBOZA, R. M.; FURTADO, M.; GABRIELLI, H. A atuação histórica do BNDES: o que os dados têm a nos dizer? BNDES. Textos para Discussão, n. 123, abril de 2018. BNDES. Banco Nacional do Desenvolvimento. Estatísticas Operacionais do Sistema BNDES. Disponível em: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/estatisticas-desempenho. Acesso em: 02 de jan. 2024. DAVIDSON, P. Post Keynesian Macroeconomic Theory: A Foundation for Successful Economic Policies for the Twenty-first Century. 2. ed. Cheltenham: Edward Elgar, 2011. DEEPAK, N. Bancos de Desenvolvimento e o Financiamento Industrial: a experiência indiana e suas lições. Universidade de Jawaharlal Nehru, Nova Delhi, 2016. MAZZUCATO, M. Missão economia: um guia inovador para mudar o capitalismo. 1ª Ed. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2022. MORCEIRO, P. C.; GUILHOTO, J. J. M. Sectoral deindustrialization and long-run stagnation of Brazilian manufacturing. Brazilian Journal of Political Economy, v. 43, n. 2, p. 418-441, Apr./June 2023. MODENESI, A. M.; PIMENTEL, D. O Banco Central Ideal: meta de emprego e financiamento ao Tesouro. Texto para Discussão, n. 017, 2020. Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/index.php/index-publicacoes/textos-para-discussao. Acesso em: 08 de jul. de 2024. NASSIF, A.; MORCEIRO, P. Proposta de um Plano Nacional de Desenvolvimento para o Brasil: integrando missões econômicas, sociais e ambientais. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), 2024. NASSIF, A.; BRESSER-PEREIRA, L. C.; FEIJO, C. The case for reindustrialisation in developing countries: towards the connection between the macroeconomic regime and the industrial policy in Brazil. Cambridge Journal of Economics, v. 42, p. 355-381, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1093/cje/bex028. Acesso em: 25 junho 2024. OREIRO, J. L.; FEIJÓ, C. A. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro. Revista de Economia Política. Nº 2. Vol. 30: 219-232, 2010. PALMA, G. Quatro fontes de desindustrialização e um novo conceito de doença holandesa. Conferência de Industrialização, Desindustrialização e Desenvolvimento, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, 2005. ROWTHORN, R.; RAMASWAMY, R. Growth, trade and deindustrialization. IMF Staff Papers, v. 46, n. 1, p. 18-41. Washington DC: International Monetary Fund, 1999. TREGENNA, F. (2009). Characterizing deindustrialization: an analysis of changes in manufacturing employment and output internationally. Cambridge Journal of Economics, Vol. 33.
Título do Evento
XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Cidade do Evento
Maceió
Título dos Anais do Evento
Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

MAIA, Cinthia Costa; LEITE, Karla Vanessa da Silva. A DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DOS DESEMBOLSOS DO BNDES PARA O PERÍODO 1950-2023.. In: Anais do XVII Encontro da Associação Keynesiana Brasileira. Anais...Maceió(AL) FEAC-UFAL, 2024. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/akb2024/889713-A-DESINDUSTRIALIZACAO-BRASILEIRA--UMA-ANALISE-DOS-DESEMBOLSOS-DO-BNDES-PARA-O-PERIODO-1950-2023. Acesso em: 07/09/2025

Trabalho

Even3 Publicacoes