TECNOLOGIAS SOCIAIS DE SANEAMENTO BIOENERGÉTICO APLICADAS À SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO SEMIÁRIDO DO RIO GRANDE DO NORTE

Publicado em 20/11/2023 - ISBN: 978-65-272-0008-6

Título do Trabalho
TECNOLOGIAS SOCIAIS DE SANEAMENTO BIOENERGÉTICO APLICADAS À SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO SEMIÁRIDO DO RIO GRANDE DO NORTE
Autores
  • Herika Cavalcante
  • Sandra Rufino
  • João Victor Alves do Nascimento
  • Aline Paiva Carvalho Lins
  • Geraldo Braz Silva Santos
  • Sara Raquel Laurentino Barbosa de Lima
  • Nixdali Freire de Oliveira
  • Paulo Gabriel Moreira Soares
  • Nathália Adelayde Loureiro
  • Ianco de Figueirêdo Rodrigues
  • Raiane Mariele de Lima Félix
Modalidade
Resumo expandido de Relatos de Experiências
Área temática
Tecnologias Sociais
Data de Publicação
20/11/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/1_sepets/705749-tecnologias-sociais-de-saneamento-bioenergetico-aplicadas-a-sistemas-agroflorestais-no-semiarido-do-rio-grande-do
ISBN
978-65-272-0008-6
Palavras-Chave
Reúso de esgoto, Irrigação, Biodigestor, Biogás, Agroecologia.
Resumo
O Semiárido Brasileiro (SAB) ocupa 12% do território nacional e abrange 1.262 municípios, abrigando cerca de 28 milhões de habitantes divididos entre zonas urbanas (62%) e rurais (38%), sendo portanto um dos semiáridos mais povoados do mundo. Somente o estado do Rio Grande do Norte (RN), por exemplo, possui 147 municípios, de um total de 167, dentro da região semiárida. Além dessa importância social, o SAB é um local rico em aspectos culturais, ambientais e econômicos, sendo considerado o semiárido mais úmido do mundo, com variações pluviométricas anuais entre 200 e 800 mm. Apesar disso, a região possui um saldo hídrico negativo, com chuvas que ocorrem de forma concentrada em alguns meses do ano, além de elevadas temperaturas e consequentemente elevadas taxas de evaporação, com recorrentes períodos de seca hídrica. Além disso, a cobertura vegetal típica da região, a caatinga, perdeu em apenas um ano, cerca de 116 mil hectares, o equivalente a 7% da sua área total, ocupando assim, a 3ª posição entre os biomas mais afetados pelo desmatamento no Brasil. Atrelado a isto, o SAB possui solos pouco desenvolvidos e vulneráveis à degradação ambiental, o que é agravado quando combinado à: práticas agrícolas sem manejo adequado, sobrepastoreio pela pecuária extensiva, manejo inadequado de sistemas de irrigação, acarretando, muitas vezes, a salinização da terra. Tais características peculiares tornam a região especialmente vulnerável ambiental e socioeconomicamente, por isso, as tecnologias sociais são ferramentas altamente relevantes para responder de maneira holística às necessidades e desafios das suas populações. A tecnologia social (TS) pode ser descrita como conjunto de técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida. A organização sem fins lucrativos “Engenheiros Sem Fronteiras - ESF”, Núcleo Natal, tem atuado na implantação de TS, entre elas, duas em específico que integram um eixo de atuação intitulado “eixo sustentabilidade”: um sistema de tratamento de esgoto para fins de reúso agrícola (projeto Saneamento Fértil) e um biodigestor de dejetos animais para reaproveitamento energético e também agrícola (projeto Biodigestor). O projeto Saneamento Fértil surge da ideia de que existe uma fonte de água não convencional, permanente e atualmente pouco explorada na região semiárida: o esgoto doméstico. Essa fonte, se coletada e tratada adequadamente, pode minimizar os conflitos pelo uso da água tão frequentes na região, aumentando a segurança hídrica e melhorando a convivência com os períodos de seca. Sendo assim, o projeto objetiva fomentar o tratamento, de modo adequado à realidade local e através de sistemas individuais, do esgoto de residências rurais para reutilização na irrigação. Já o projeto biodigestor tem como objetivo induzir o aproveitamento de dejetos animais (caprinos, bovinos, suínos), para geração de adubo orgânico e biogás. O adubo pode ser incorporado a cultivos agrícolas, já o biogás, pode ser utilizado para cocção de alimentos, evitando o uso de lenha, e por consequência evitando o desmatamento da caatinga, e/ou diminuindo gastos com gás de cozinha. Fechando a tríade, o eixo sustentabilidade associa as duas TS mencionadas à agricultura familiar por meio de um terceiro projeto, o Floema, que visa implementar sistemas de cultivos agroflorestais (SAF) baseados nos princípios da permacultura, a fim de incentivar o desenvolvimento rural sustentável. O projeto saneamento fértil propõe um suporte, por meio de tecnologia social, para as famílias que vivem em meio rural no interior do estado do RN e não possuem acesso a um saneamento básico rural. O projeto está em atividade desde 2019, tendo seu início na cidade de Boa Saúde - RN e posteriormente está sendo desenvolvido na cidade de Lajes Pintadas - RN. Permitindo que os agricultores contemplados com os projetos mantenham um sistema de tratamento de águas residuais na sua propriedade e possam, por meio de tratamento, manter um sistema de irrigação voltada para agricultura familiar durante o período de seca no semiárido. Busca-se através destes sistemas uma melhoria da produtividade das famílias e, consequentemente, da qualidade de vida. Além disso, o projeto busca não levar para essas pessoas apenas um sistema de tratamento, mas também o conhecimento da importância em cultivar uma boa relação entre o ser humano e a natureza através da engenharia. No ESF-Natal, o projeto Biodigestor é desenvolvido desde 2017 e tem promovido uma transformação direta na vivência das comunidades nas quais está instalado, promovendo qualidade de vida, sustentabilidade e incentivo à produção e economia agrícola rural no Semiárido Nordestino, ao possibilitar o aproveitamento dos produtos resultantes da biodigestão anaeróbica e, consequentemente, a substituição do gás de cozinha e lenha pelo biogás. Isto posto, o projeto visa à correta destinação dos dejetos animais pela reciclagem orgânica, o desenvolvimento da agricultura familiar com a incorporação do biofertilizante para adubação e a indução à não-extração da vegetação do bioma caatinga para obtenção de lenha para cozimento de alimentos. Assim, o projeto desenvolve tecnologia social de profundo impacto positivo para as populações assistidas. Já o projeto Floema surgiu a partir da iniciativa de dois membros do ESF-Natal em março de 2021, vendo a necessidade da implementação de um projeto voltado para a área das ciências agrárias e que basear-se em uma atividade de extensão, o projeto foi criado com o objetivo de implementar sistemas de cultivos agroflorestais baseados nos princípios da permacultura, a fim de fomentar o desenvolvimento rural sustentável. Para especificamente, promover a segurança alimentar e nutricional, assim como a geração de renda e autonomia de comunidades rurais do Rio Grande do Norte (RN). Os SAF's figuram como uma forma de agricultura mais sustentável do que a agricultura convencional e são uma das ferramentas importantes na conservação e melhoria do meio ambiente, no combate à pobreza rural e na busca pela segurança alimentar. Sabendo-se destes fundamentos, o Floema trabalha em conjunto no eixo sustentabilidade conciliando as ações dos outros dois projetos e beneficiando-se mutuamente por meio das tecnologias sociais. Os três projetos do eixo sustentabilidade estão em desenvolvimento na cidade de Lajes Pintadas - RN, desde de 2020, em parceria com o Serviço de Apoio aos Projetos Alternativos Comunitários (SEAPAC), responsável pela comunicação ONG-comunidades e execução/implantação TS. Somente o Saneamento Fértil já totalizou 70 sistemas de tratamento de esgoto, instalados em residências de comunidades rurais de Lajes Pintadas. Construtivamente, o sistema consiste em: um biofiltro e fossas biodigestoras. No biofiltro, conhecido como bioágua familiar, é realizado o tratamento das águas cinzas (pias, tanques, chuveiros), feito com base em um leito filtrante de cascalho, areia e húmus de minhoca. Nas fossas biodigestoras ocorre o tratamento das águas oriundas do vaso sanitário, pelo processo de biodigestão, onde a matéria orgânica é decomposta pela atividade microbiana atuante na ausência de oxigênio. As duas tecnologias são integradas no fim do tratamento, resultando em uma água residual rica em fósforo, nitrogênio e potássio, utilizada na irrigação. A comunidade de Lajes Pintadas já observa sucesso no uso do efluente em irrigação, em virtude do aumento da produção agrícola, com destaque para cultivos de capim-açu, milho e feijão guandu. Entretanto, análises físico-químicas e microbiológicas em alguns dos sistemas, realizadas em 2022, permitiram identificar elevados índices de salinidade no efluente, demonstrando limitações de uso, sendo indicado somente em culturas resistentes à sais e também necessidade de cuidados com o solo, para impedir sua salinização, problema recorrente no reaproveitamento de esgotos. Enquanto o projeto Biodigestor já instalou, junto à SEAPAC, 25 biodigestores, equipamento hermético e impermeável onde é depositado dejetos animais na ausência de ar atmosférico, por um determinado tempo de retenção, ocorrendo biodigestão anaeróbia, resultando em biogás e adubo. O modelo adotado pelo ESF- Natal é o tipo sertanejo, construído por três partes: Caixa de Carga; Tanque de Fermentação, onde também fica a Câmara de Armazenamento de biogás (caixa d’água de polietileno); e a Caixa de Descarga. O projeto Biodigestor objetiva, ao longo de 2023, realizar acompanhamento com as 25 famílias beneficiadas, para identificar os impactos da TS, como também realizar o monitoramento dos equipamentos instalados referente a quantidade/qualidade do biogás e biofertilizante produzidos. Por fim, o projeto Floema iniciou atividades de prospecção em maio de 2022, quando foram aplicados questionários com famílias e com base neles, foi selecionada uma residência para o projeto piloto. Em novembro de 2022 foram realizadas: o mapeamento da área piloto, a identificação de espécies nativas e plantadas, as culturas agrícolas no local, além da realização de uma anamnese e análises in loco. Espera-se que com os SAFs seja possível melhorar o controle de processos erosivos, as condições microclimáticas e aplicar consorciação de espécies, aumentando a eficiência dos fatores de produção e contribuindo, devido à alta diversidade de cultivos, para o aumento de barreiras naturais, diminuindo ataque de insetos danosos às culturas, além de reduzir a toxidez, a acidificação e a salinização nos solos. Este último em especial, já que a elevada quantidade de sais foi um problema identificado no efluente final do sistema de reúso do projeto Saneamento Fértil.
Título do Evento
1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social (SEPETS)
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais do 1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

CAVALCANTE, Herika et al.. TECNOLOGIAS SOCIAIS DE SANEAMENTO BIOENERGÉTICO APLICADAS À SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO SEMIÁRIDO DO RIO GRANDE DO NORTE.. In: Anais do 1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Centro de Tecnologia da UFRJ, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/1_SEPETS/705749-TECNOLOGIAS-SOCIAIS-DE-SANEAMENTO-BIOENERGETICO-APLICADAS-A-SISTEMAS-AGROFLORESTAIS-NO-SEMIARIDO-DO-RIO-GRANDE-DO. Acesso em: 16/07/2025

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