TECNOLOGIAS SOCIAIS: AS FINANÇAS SOLIDÁIRAS E A PRODUÇÃO DAS INICIATIVAS POPULARES DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA ACOMPANHADAS PELA INCUBADORA DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DA UEFS.

Publicado em 20/11/2023 - ISBN: 978-65-272-0008-6

Título do Trabalho
TECNOLOGIAS SOCIAIS: AS FINANÇAS SOLIDÁIRAS E A PRODUÇÃO DAS INICIATIVAS POPULARES DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA ACOMPANHADAS PELA INCUBADORA DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DA UEFS.
Autores
  • Gesiele Nadine de Moura Barbosa
  • José Raimundo Lima
Modalidade
Resumo expandido de Relatos de Experiências
Área temática
Tecnologias Sociais
Data de Publicação
20/11/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/1_sepets/705372-tecnologias-sociais--as-financas-solidairas-e-a-producao-das-iniciativas-populares-de-geracao-de-trabalho-e-renda
ISBN
978-65-272-0008-6
Palavras-Chave
economia popular e solidária, finanças solidárias, tecnologia social.
Resumo
O presente trabalho objetiva apresentar as experiências oriundas de uma pesquisa de inciação científica realizada com os grupos produtivos que fazem parte do projeto “Cantinas Solidárias III e IV” – os grupos “Sabores do Quilombo” e o “Delícias da Formiga” – ambos acompanhados pela Incubadora de Iniciativas da Economia Popular e Solidária da Universidade Estadual de Feira de Santana (IEPS-UEFS). O objetivo estabelecido pela pesquisa foi de analisar, no âmbito das tecnologias sociais, a organização financeira no desenvolvimento das atividades realizadas no âmbito do projeto de extensão realizados pela IEPS-UEFS. Para realizar estes fins, foi necessário: identificar os instrumentos de organização econômico-financeira utilizados no projeto; elaborar, em diálogo com as pessoas envolvidas, estratégias para o reconhecimento e valorização das tecnologias sociais que contribuam com a organização econômico-financeira das iniciativas no processo de incubação e compreender os impactos econômicos e sociais da experiência nas trajetórias pessoais e coletivas das trabalhadoras. As práticas da Incubadora de Iniciativas de Economia Popular e Solidária da Universidade Estadual de Feira de Santana (IEPS/UEFS) propõe o diálogo e o acompanhamento contínuo, interdisciplinar, político, prático e educativo de organização aos grupos não contemplados pela economia tradicional de mercado e que engendram processos socioprodutivos de trabalho e renda a partir de ações de articulação e apropriação de tecnologias sociais necessárias a sustentabilidade das iniciativas solidárias. Alinhadas por uma perspectiva crítica, os conceitos de Economia Popular e Solidária e Tecnologia Social podem ser categorias analíticas úteis para a compreensão de fenômenos econômicos que apresentam perspectivas não convencionais e raramente estudadas nos cursos das Ciências Sociais Aplicadas. Para Dagnino (2011), a tecnologia, no campo de análise dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, é entendida como o resultado da ação de um ator social sobre um processo de trabalho que ele controla e se beneficia. Com isso, a Tecnologia social compreende um conjunto de técnicas, produtos e metodologias que se reproduzem mediante a interação com a comunidade e apresentam efetivas relações e soluções de transformação social. O processo que incubação que fundamenta as práticas da Incubadora se apresenta como uma prática política e educativa de organização e acompanhamento sistêmico dos grupos participantes. Portanto, é a partir do acompanhamento e da observação ativa e participante que se torna possível identificar quais mecanismos na organização do trabalho e as finanças solidárias que se constituem como tecnologias sociais. Desta forma, foram utilizadas também entrevistas semiestruturadas para abranger a compreensão dos aspectos socioeconômicos e as trajetórias individuais e coletivas dos sujeitos participantes. Nas experiências do projeto “Cantinas Solidárias III e IV”, foram identificados dentro de ambos os grupos instrumentos ligados a organização econômico-financeira das iniciativas de empreendimentos solidários. Estes foram separados por duas categorias: os instrumentos físicos – os quais são apresentados na forma de dois tipos de livros caixas (quinzenal e diário) construídos por ações anteriores de pesquisa e extensão da IEPS e adaptados ao entendimento das trabalhadoras acerca das entradas e saídas financeiras; e os instrumentos relacionais – são aqui colocados aspectos ligados a comunicação, transparência nas contas e aos níveis de solidariedade e confiança demonstrados pelos grupos. Esses últimos elementos, embora intangíveis, são gestados e incentivados conscientemente dentro dos grupos para substancializar a autogestão. Como as trabalhadoras diretamente se apropriam da manipulação dos instrumentos – ou ensejam um caminho para tal – e estes são fundamentais para seus processos de trabalho, pode-se inferir que há um conjunto de saberes – tecnologias sociais - produzidos nessa dinâmica, bem como a elaboração de mecanismos para gestar o projeto de forma a torna-lo financeiramente viável e sustentável. Houveram discussões para a padronização na quantificação dos alimentos oferecidos como um mecanismo de controle de estoque, pois foi colocado por parte do grupo “Sabores do Quilombo” a necessidade de controle de compra de insumos para melhor gerir os custos. Em ambos os grupos há uma alternância das atividades desenvolvidas pelas trabalhadoras, sendo os dois grupos divididos por dois grupos que alternam – um por turnos e outro por dia. Desta forma, a possibilidade de padronização seria para viabilizar um controle na quantidade dos alimentos que seriam oferecidos. Entretanto, a iniciativa de padronizar foi descartada, pois na avaliação do grupo apenas a conversa sobre a necessidade de cuidado na coordenação do quanto e de como são oferecidos os alimentos foi suficiente para uma melhor gestão do controle de gastos com insumos. O fato de ter a possibilidade de ocorrer uma alternância de funções entre as trabalhadoras na realização das atividades laborais pode influenciar a fluidez com que sejam ressignificados o funcionamento dos processos de trabalho (Goerck, 2008). Os livros caixas são ambos separados por entradas e saídas, sendo as informações do grupo da desincubação - o “Sabores do Quilombo” – o que se apresentam de forma mais pormenorizada, relatando também alguns fornecedores habituais e um livro caixa quinzenal para quantificar a remuneração quinzenal de cada trabalhadora - e não apenas o valor financeiro, tal como é colocado no grupo “Delícias da Formiga”. Os custos de ambos os grupos são: os custos com valores fixos - de depreciação (ligados à reposição de material/patrimônio), o fundo de férias (para os momentos de férias universidade onde a movimentação é baixa) e a manutenção (valor que poderia ser gasto com aluguel, energia, internet, etc). Há também os custos com transporte privado, pois ambas comunidades se localizam distantes da universidade e não podem contar com o serviço público de transporte para cumprir seus horários de trabalho. Após a retirada dos custos, há o que elas chamam de “sobras”. O grupo “Delícias da Formiga”, em seu livro caixa diário, anota apenas o valor final de entradas e saídas, sem muitas especificações, enquanto que o grupo “Sabores do Quilombo” - pela sua maturação em termos de dinâmica organizativa – separa não apenas as sobras, mas também calcula em cima da sobra quinzenal o valor do dia trabalhado por cada trabalhadora (sobra/n° de dias trabalhados na quinzena), o que favorece uma maior flexibilidade de acordos entre elas de forma participativa e solidária. Em ambos os grupos foram introduzidos o PIX como via de pagamento alternativa ao dinheiro físico e estes valores são também cotidianamente relatados nos livros-caixa. Desta forma, é válido ressaltar que os processos de trabalho que possuem como base a Economia Popular Solidária permitem, por parte dos sujeitos que a exercem, uma liberdade própria para elaborar e sistematizar suas regras de gestão de forma a personificar nelas seus elementos estruturantes que são a solidariedade, a ajuda mútua, a igualdade, a participação, a autogestão, a democracia, etc. (Goerck, 2007). A análise das finanças de iniciativas solidárias abre a possibilidade de compreensão da organização coletiva e popular e também pode ser considerada uma estratégia de reconhecimento das tecnologias sociais existentes nas dinâmicas de trabalho ligados a Economia Popular e Solidária, uma vez que no processo de incubação não apenas o recurso financeiro componente que orienta as práticas populares. Nas reuniões de acompanhamento na UEFS e nas visitas às comunidades, foram observadas diferentes narrativas relacionadas a experiência no projeto. Desde aspectos subjetivos, como a melhora na autoestima, na autonomia e a expansão dos aprendizados, são evidentes também a viabilidade em termos de geração de trabalho e renda possibilitada pelo projeto e, desta forma, na qualidade de vida dos sujeitos envolvidos. Pode-se inferir que o processo de incubação com bases na Economia Popular e Solidária é uma via de estimulo à utilização das tecnologias sociais inerentes as comunidades, bem como à conscientização, por parte dos grupos, de potenciais produtivos invisibilizados pela dinâmica desigual do modo de produção capitalista. Para Ferreira et al. (2018) as práticas que abrangem a terminologia “economia solidária” são práticas vivenciadas pelos povos tradicionais que em seus processos de luta por direitos negados ao longo da história e manutenção de existência engendraram um modo de vida comunitário, portanto: "Tratar da economia solidária em uma experiência de comunidade quilombola é resgatar a história de luta e de resistência deste povo do campo, na sua permanência material e na identidade de pertencimento cultural das práticas comunitárias” (Ferreira et al. 2018, p. 24). Há impactos dos processos de incubação nas dinâmicas das comunidades – sobretudo no ânimo político em torno das atividades dentro das associações, como, por exemplo, na realização das feiras locais e atividades culturais - pode-se perceber que este “ânimo” é uma via de dupla de trocas de saberes, pois as atividades de pesquisa e extensão da IEPS-UEFS se alimentam também das manifestações populares e das relações que mantem com essas comunidades A pesquisa demonstra que a organização financeira das iniciativas de economia popular e solidária acompanhadas pelos projetos “Cantinas Solidárias III e IV” pode ser considerada uma tecnologia social à medida que consiste em uma metodologia construída de forma coletiva, praticada pelas trabalhadoras de forma autogestionária e foi efetiva em manter durante o período uma estabilidade das contas, além de se configurar como um conhecimento cumulativo e rotacional entre elas. A economia popular e solidária (EPS) é construída por pessoas que estão à margem do mercado formal, portanto mais expostas a ao desemprego, a pobreza e as relações precárias de trabalho. Desta forma, a EPS se estabelece como uma alternativa de geração de trabalho e renda aos sujeitos que passam pelo processo de exclusão social. No caso dos projetos acompanhados pela IEPS-UEFS, este abrangeu a formação de trabalhadores, estudantes, professores e técnicos, além de gerar trabalho e renda para 22 mulheres ao longo de 6 anos(descontando-se aí o tempo parado pela pandemia), contribuindo para a emancipação de sujeitos através de questões objetivas e subjetivas, fortalecendo o vínculo da universidade com a comunidade. Conclui-se, portanto, que a atuação da Incubadora de Iniciativas da Economia Popular e Solidária contribuiu com a organização financeira coletiva e popular dos projetos “Cantina Solidária III e IV” tendo como base a utilização de tecnologias sociais e convencionais ligadas as necessidades de suas respectivas realidades, bem como sinalizam a demanda e real possibilidade de utilização do acompanhamento proposto e das ferramentas desenvolvidas como ferramentas de possíveis utilização em políticas públicas para comunidades que apresentem perfis semelhantes. REFERÊNCIAS DAGNINO, R. Tecnologia Social: base conceitual. In: Revist@ do Observatório do Movimento pela Tecnologia Social da América Latina Ciência & Tecnologia Social, v.1, n°1 – jul.2011. GOERCK, C. Experiências de economia popular e solidária no Vale do Rio Pardo: processos de trabalhos desenvolvidos. Revista Textos & Contextos. Porto Alegre, v. 7, n. 2, p. 221-234. jul./dez. 2008 GOERCK, Caroline. PROCESSOS DE TRABALHO NA ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA: UMA FORMA DIFERENCIADA DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO COLETIVO. In: XV Seminário de Iniciação Científica / XII Jornada de Pesquisa / VIII Jornada de Extensão, 2007, Ijuí. O Futuro do Planeta Terra. Ijuí: Editora da UNIJUÍ, 2007. FERREIRA, G.B; SANTOS, M. A. dos; SANTOS, D. das V. A; VELLOSO, T. R. ORGANIZAÇÃO DE MULHERES QUILOMBOLAS: EXPERIÊNCIA DE EMPREENDIMENTO SOLIDÁRIO NA COMUNIDADE DA MATINHA DOS PRETOS – FEIRA DE SANTANA - BAHIA. Revista Entrelaçando, v. I, n°11, ano VII (2018)
Título do Evento
1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social (SEPETS)
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais do 1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

BARBOSA, Gesiele Nadine de Moura; LIMA, José Raimundo. TECNOLOGIAS SOCIAIS: AS FINANÇAS SOLIDÁIRAS E A PRODUÇÃO DAS INICIATIVAS POPULARES DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA ACOMPANHADAS PELA INCUBADORA DE ECONOMIA POPULAR E SOLIDÁRIA DA UEFS... In: Anais do 1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Centro de Tecnologia da UFRJ, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/1_SEPETS/705372-TECNOLOGIAS-SOCIAIS--AS-FINANCAS-SOLIDAIRAS-E-A-PRODUCAO-DAS-INICIATIVAS-POPULARES-DE-GERACAO-DE-TRABALHO-E-RENDA. Acesso em: 01/07/2025

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