TURISMO COMO TECNOLOGIA SOCIAL: PRÁTICAS CRIATIVAS DE COLETIVOS LOCALIZADOS NAS BORDAS DA CIDADE DE SÃO PAULO

Publicado em 20/11/2023 - ISBN: 978-65-272-0008-6

Título do Trabalho
TURISMO COMO TECNOLOGIA SOCIAL: PRÁTICAS CRIATIVAS DE COLETIVOS LOCALIZADOS NAS BORDAS DA CIDADE DE SÃO PAULO
Autores
  • João Alcantara de Freitas
  • Thiago Allis
Modalidade
Resumo expandido de trabalhos teórico-conceituais
Área temática
Tecnologias Sociais
Data de Publicação
20/11/2023
País da Publicação
Brasil
Idioma da Publicação
Português
Página do Trabalho
https://www.even3.com.br/anais/1_sepets/697937-turismo-como-tecnologia-social--praticas-criativas-de-coletivos-localizados-nas-bordas-da-cidade-de-sao-paulo
ISBN
978-65-272-0008-6
Palavras-Chave
turismo; tecnologia social; periferia; São Paulo; smart city
Resumo
1. Introdução O propósito deste relato é explorar o procedimento de investigação do projeto intitulado “A inteligência emana da cidade: valor estratégico das tecnologias sociais na gestão urbana contemporânea”. Esse projeto foi realizado ao longo do período entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, contando com o respaldo do Edital de Apoio a Projetos Integrados de Pesquisa em Áreas Estratégicas (PIPAE), oferecido pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da Universidade de São Paulo. O grupo de trabalho foi constituído por quatro docentes provenientes de distintas unidades da USP, juntamente com três bolsistas dedicados à iniciação científica e um pós-doutorando. O principal objetivo da pesquisa foi estudar os conceitos e as práticas de cidades inteligentes numa perspectiva crítica, buscando um entendimento mais amplo sobre o tema e, como consequência, apontar para políticas públicas inclusivas. Em particular, como um dos objetivos deste projeto, buscamos caracterizar práticas de turismo urbano de natureza comunitária em São Paulo, a partir dos preceitos de tecnologia social - em contraposição ao ideário de cidade inteligente dominante na literatura e no discurso público. Enquanto historicamente o conceito de cidade inteligente tem sido fundamentado na adoção de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) (cf. GREENFIELD, 2013; HOLLANDS, 2008; WIIG, 2016), o propósito subjacente a esta pesquisa era o de, a partir dessas vivências, sustentar a perspectiva de uma cidade inteligente de natureza mais equitativa. Isso implicaria a concepção de um modelo que se baseia na utilização e disseminação de tecnologias sociais. Tecnologia social é um conceito latinoamericano que se refere a todo o processo, método ou ferramenta capaz de solucionar um problema social e que atenda aos requisitos de simplicidade, baixo custo, facilidade de reaplicação e comprovado impacto social (POZZEBON; FONTENELLE, 2018). Além disso, a tecnologia social aponta para processos políticos que criam oportunidades para redefinir os arranjos entre grupos sociais, artefatos e métodos usados na vida cotidiana (DAGNINO, 2014). Assim, o foco direcionou-se às áreas periféricas da cidade de São Paulo, buscando identificar coletivos envolvidos em atividades que estivessem relacionadas com práticas turísticas - o que ao longo da pesquisa convencionamos chamar de “turismo alternativo” (cf. GARD MCGEHEE, 2002). De acordo com o plano estabelecido no projeto, a análise concentrou-se em três desses coletivos, situados em diferentes regiões da cidade de São Paulo: 1) Quilombaque e a Agência de Queixadas, prática de "turismo de resistência", com origem e atuação em Perus, Zona Noroeste 2) Grupo Ururay, coletivo que atua na preservação cultural do bairro de Penha de França, Zona Leste 3) Acolhendo em Parelheiros, grupo de agroturismo de base comunitária e outros projetos sociais, atuante em Parelheiros, Zona Sul. De maneira geral, o conceito de turismo social refere-se àquele que é promovido pelo Estado ou por organizações da sociedade civil, com metas claramente definidas para a revitalização mental e física dos indivíduos, bem como para a elevação do status sociocultural, tudo isso em conformidade com os princípios da sustentabilidade, que também devem abranger as localidades visitadas (conforme ALMEIDA, 2001). Dentro deste contexto, a presente pesquisa está fundamentada na perspectiva de Minnaert et al. (2011), que indicam que o termo 'turismo social' tem se convertido em um guarda-chuva que abarca diversas manifestações desse fenômeno, juntamente com as tensões e contradições inerentes às distintas interpretações e motivações. 2. Metodologia A pesquisa parte do princípio de que os interstícios dos espaços e práticas urbanos proporcionam um conjunto de elementos para se discutir inteligência social, turismo e a própria vida social urbana. Por isso, temos como enfoque empírico deste projeto o estudo de práticas de turismo urbano emergentes, que nascem e se difundem fora do mainstream do turismo convencional - ou seja, pela iniciativa de grupos sociais organizados e geralmente enraizados em comunidades periféricas O objetivo central foi acompanhar os fenômenos em sua totalidade - abrangendo os protagonistas envolvidos e as dinâmicas espaço-temporais - no exato momento de sua ocorrência. Por conseguinte, em sua essência, a pesquisa buscou adotar uma abordagem metodológica afim à antropologia, com uma adaptação específica da etnografia em um enfoque multi-situado. Isso implica identificar padrões ou recorrências de determinadas questões em diferentes contextos urbanos, embora sempre em realidades que não ocupam o centro da dinâmica urbana de São Paulo. No que diz respeito às ferramentas de pesquisa, merecem destaque: Pesquisa bibliográfica fundamental; Observações e registros de campo; Entrevistas em profundidade gravadas; Oficinas de audiovisual e uso de registros audiovisuais. O uso do audiovisual como instrumento de pesquisa é o que torna esta pesquisa mais particular. A intenção era de: não pesquisar os coletivos, mas COM os coletivos. Entendemos que a produção audiovisual feita pelos membros dos coletivos poderia ser útil para os próprios coletivos, tal como produziria dados de análise para a própria pesquisa. Simultaneamente, desenvolvemos um vídeo síntese do projeto, documentando de certa forma os bastidores das oficinas realizadas. Por último, em outra vertente da pesquisa, de caráter mais institucional, foram identificadas e minuciosamente analisadas as políticas públicas voltadas para a transformação de São Paulo em uma cidade inteligente. Isso foi feito por meio do estudo de materiais de acesso público (documentos, planos, programas, entrevistas, documentários, entre outros), além da geração de dados primários através de entrevistas com os atores diretamente ligados à formulação dessas políticas. O objetivo central era: "(re)construir um discurso e entender os conteúdos das ações de promoção de políticas de cidade inteligente, pela perspectiva de seus agentes públicos diretamente e indiretamente envolvidos com as ações em curso na cidade". 3. Resultados: um breve panorama A pandemia de COVID-19 e todas as suas consequências trouxeram desafios inéditos para os coletivos e as comunidades nas quais eles estão inseridos. Com a necessidade do distanciamento social, as práticas ligadas ao turismo tiveram que ser interrompidas, gerando incertezas consideráveis. Isso ficou evidente no caso do grupo "Acolhendo em Parelheiros". Devido à sua dinâmica que envolve aproximadamente uma dezena de produtores rurais, a coordenação se tornou mais complexa e demandou um tempo maior. No momento em que a pandemia irrompeu, o grupo estava em uma fase crucial de desenvolvimento das atividades. A inesperada interrupção, juntamente com as urgências trazidas pela pandemia, resultou em um atraso nos planos previamente estabelecidos. Ao examinar a dinâmica desses coletivos durante e após a pandemia, foi possível compreender de que maneira a crise sanitária afetou suas abordagens no campo do turismo. Adicionalmente, a pesquisa desempenhou um papel fundamental na identificação das estratégias adotadas por esses coletivos para enfrentar os desafios emergentes da pandemia. Essas estratégias, por sua vez, podem ser consideradas como um modelo de referência valioso para outras iniciativas similares. Como indicado, o turismo era um operador analítico bastante importante desta pesquisa, não sem referir a suas interfaces com processos urbanos no contexto paulistano. Um dos critérios para as escolhas dos territórios e sujeitos que seriam objeto da pesquisa foi justamente o fato de estarem desenvolvendo alguma atividade que dialogasse com a dinâmica do turismo: tours, visitas guiadas, experiências, hospedagens - mesmo que distantes dos conceitos e práticas clássicas, aceitas pelos cânones teóricos consagrados. O grupo Ururay, na busca da preservação da memória e do patrimônio cultural da zona Leste de São Paulo, promove ações visitas guiadas pelo território e participa da Missa Inculturada Afro Brasileira - celebrada no primeiro domingo do mês. A Comunidade Cultural Quilombaque contribuiu para que o bairro de Perus fosse considerado como Territórios de Interesse da Cultura e da Paisagem (TICP) e com a criação da Agência Queixadas de Desenvolvimento Eco Cultural Turístico tem promovido visitação aos diversos pontos de interesse no Museu Territorial Tekoa Jopo'í. Por fim, em Parelheiros, os pequenos produtores rurais têm buscado replicar a metodologia de trabalho "Acolhida na Colônia", que se mostrou bastante virtuosa em Santa Catarina. Há certa cautela em categorizar tais atividades como turismo, uma vez que são destinadas principalmente para moradores da cidade de São Paulo. Nos parâmetros conceituais da Organização Mundial do Turismo, para ser turista é necessário residir em outro município. No âmbito desta pesquisa, há a predileção por compreensões que valorizem aspectos como o estranhamento que o sujeito experiencia nessas práticas (cf. GASTAL; MOESCH, 2007) e a compreensão de que o turismo resulta da divisão binária entre o ordinário e extraordinário (URRY, 2007). 4. Considerações finais Este projeto nasceu de uma ousadia, qual seja atender ao chamado de um edital a partir da contestação das ideias e teorias consagradas sobre cidades inteligentes. Apesar de dominantes, e literatura e as práticas de cidades inteligentes baseada na implantação de soluções tecnológicas digitais, partimos da hipótese de que era possível identificar outras inteligências emanando da cidade - para além (ainda que sem desconsiderar) as soluções digitais (conectividade, comunicação virtual, emprego de apps e outros). E, em uma busca mais específica, assumiu-se que as práticas alternativas de turismo urbano - em geral, ao largo daquilo que convencionalmente se concebe como turismo urbano (inclusive nas políticas públicas) - poderiam ser continentes desta inteligência, ilustrando e pondo à vista outros saberes que articulam a vida urbana. Assim, o trabalho buscou se concentrar no conceito de tecnologias sociais como anteparo de referência, na expectativa de que não apenas novos vocabulários, senão sentidos políticos de cidade poderiam ser identificados, registrados, sistematizados e discutidos. E tudo isso pela via das práticas turísticas, em que pesem fluxos de pessoas em geral do centro para as periferias, loci de existência e operação dos coletivos aqui selecionados. Além dos resultados aqui apresentados e as entregas de diferentes naturezas e dimensões, este projeto oportunizou experimentação teórica e metodológica. O uso do audiovisual abre novas possibilidades de coleta e análise de dados, tal como nos incentiva a encontrar formas mais acessíveis de difundir os resultados da pesquisa. A iniciativa de não pesquisar os sujeitos, mas de pesquisar com os sujeitos, possibilita empurrar os limites da produção científica, incorporando visões mais orgânicas acerca dos problemas de pesquisa, bem como tende a complexificar os olhares dos pesquisadores. 5. Referências bibliográficas ALMEIDA, M. V. DE. Turismo social: por uma compreensão mais adequada deste fenômeno e sua implicação prática na realidade atual brasileira. Dissertação de Mestrado—São Paulo: ECA-USP, 2001. DAGNINO, R. Tecnologia Social: contribuições conceituais e metodológicas. [s.l.] EDUEPB, 2014. GARD MCGEHEE, N. Alternative tourism and social movements. Annals of Tourism Research, v. 29, n. 1, p. 124–143, 1 jan. 2002. GASTAL, S.; MOESCH, M. M. Turismo, Políticas Públicas E Cidadania. 1a edição ed. Aleph, 2007. GREENFIELD, A. Against the smart city. [s.l.] Do projects, 2013. HOLLANDS, R. G. Will the real smart city please stand up?: Intelligent, progressive or entrepreneurial? City, v. 12, n. 3, p. 303–320, dez. 2008. MINNAERT, L.; MAITLAND, R.; MILLER, G. What is social tourism? Current Issues in Tourism, v. 14, n. 5, p. 403–415, 1 jul. 2011. POZZEBON, M.; FONTENELLE, I. A. Fostering the post-development debate: the Latin American concept of tecnologia social. Third World Quarterly, v. 39, n. 9, p. 1750–1769, 2 set. 2018. URRY, J. Mobilities. 1a edição ed. Cambridge: Polity Press, 2007.
Título do Evento
1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social (SEPETS)
Cidade do Evento
Rio de Janeiro
Título dos Anais do Evento
Anais do 1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social
Nome da Editora
Even3
Meio de Divulgação
Meio Digital

Como citar

FREITAS, João Alcantara de; ALLIS, Thiago. TURISMO COMO TECNOLOGIA SOCIAL: PRÁTICAS CRIATIVAS DE COLETIVOS LOCALIZADOS NAS BORDAS DA CIDADE DE SÃO PAULO.. In: Anais do 1º Simpósio Brasileiro de Ensino, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Social. Anais...Rio de Janeiro(RJ) Centro de Tecnologia da UFRJ, 2023. Disponível em: https//www.even3.com.br/anais/1_SEPETS/697937-TURISMO-COMO-TECNOLOGIA-SOCIAL--PRATICAS-CRIATIVAS-DE-COLETIVOS-LOCALIZADOS-NAS-BORDAS-DA-CIDADE-DE-SAO-PAULO. Acesso em: 17/07/2025

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