A XXXII Semana e o XIX Congresso “Psicologia e o Fim de um Mundo: Práticas Profissionais e Formação Crítica em Tempos de Regressão Social” busca tensionar o papel da Psicologia diante de crises e encruzilhadas históricas, tendo como fio condutor a linha do tempo do Relógio do Fim do Mundo (Doomsday Clock).
Criado em 1945 por Albert Einstein, J. Robert Oppenheimer e pela Universidade de Chicago, o Boletim dos Cientistas Atômicos (Bulletin of the Atomic Scientists) nasceu com o propósito de ampliar a divulgação crítica da ciência e alertar sobre os riscos do cientificismo despolitizado. Dois anos depois, em 1947, foi criado o Relógio do Fim do Mundo (Doomsday Clock), que utiliza o imaginário do apocalipse (simbolizado pela “meia-noite”) como metáfora para medir o risco de colapso da humanidade e do planeta. Desde então, os ponteiros do relógio avançam e recuam conforme os rumos da geopolítica, dos conflitos armados, das tensões sociais, das ameaças ambientais e dos avanços tecnológicos.
Em 2025, o boletim mais recente divulgou que o mundo se encontra a apenas 89 segundos da meia-noite. A redução de mais um segundo reflete o agravamento de diversos vetores de crise: a continuidade da guerra na Ucrânia, a escalada dos conflitos no Oriente Médio, o aumento dos arsenais e o colapso dos processos de controle de armas nucleares; os impactos visíveis da crise climática, como a elevação do nível do mar e o aumento da temperatura média global; o ressurgimento de doenças na esfera biológica; e, no plano social, a erosão do ecossistema comunicacional, alimentada pela disseminação de fake news e teorias da conspiração: muitas vezes instrumentalizadas por líderes políticos em nível internacional. Resta, assim, menos de um minuto e meio para o fim de um mundo fragmentado, exausto, saturado de violência simbólica e material.
Diante desse panorama, o congresso propõe um mergulho crítico nos marcos históricos que acompanharam o avanço do relógio, conectando esses momentos à atuação da Psicologia como prática profissional, campo de saber e potência de intervenção social. Reconhecendo que os desafios contemporâneos exigem respostas articuladas entre diferentes áreas, o evento se consolida como espaço de formação crítica, diálogo interdisciplinar e reflexão coletiva. Convoca-se, portanto, a Psicologia (em interlocução com outros saberes) a revisitar sua história e a se posicionar ética e politicamente frente às ameaças que colocam em risco o futuro comum.