Sobre o Evento:
Os encontros catalisam os afetos. E os afetos são condições relevantes e inerentes à ética e à ciência. Os afetos se relacionam com o processo de produção de subjetividade e corporeidade e são o ponto central dos processos de Humanização. É deste lugar que nos interessa abrir diálogos.
No último Encontro Catarinense de Saúde Mental, em 2021, operamos com os dispositivos virtuais conectando participantes à distância. Neste 14º Encontro, em 2023, temos a oportunidade, após o nefasto período da pandemia da Covid-19, de recuperar o que por um tempo nos foi limitado: o contato interpessoal, social e afetivo proporcionado pela presença física. Entretanto, não deixaremos de contemplar a participação à distância, que se revela, também útil, permitindo o acesso ao evento, dentro de suas limitações.
Ao recuperarmos a história do final do século XX e início do século XXI, é inevitável destacarmos três importantes agenciamentos que auxiliam a visibilizar o que, neste Encontro, baliza nossas reflexões:
A 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, um marco na história brasileira, tratando do lema “saúde é democracia”;
A 1ª Conferência Nacional de Saúde Mental, em 1987, tratando três temas: I – Economia, Sociedade e Estado; II – Reforma sanitária e reorganização da assistência à saúde mental; III – Cidadania e doença mental: direitos, deveres e Legislação do doente mental.
A Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (PNH), iniciada em 2003, e completando 20 anos, neste ano.
A dinâmica sociocultural nutrida por estes eventos históricos e diversos movimentos sociais que os corroboraram orientam, concomitante a seus contraditórios, os diversos campos de saber. Vivenciamos, assim, um processo social complexo que se constitui no enlace simultâneo de dimensões que ora se alimentam, ora são conflitantes, que produz paradoxos, contradições, consensos, tensões, encontros e desencontros.
A desumanização, como aponta Paulo Freire, na Pedagogia do Oprimido, é um ponto central nas estruturas de opressão. Desta forma, a Humanização é um fator crucial para a consolidação da Democracia. E a Democracia, como elemento central na estruturação de subjetividades, é fator primordial para a Saúde Mental de indivíduos e coletiva. Essa é a tese defendida pelo Grupo de Pesquisas em Políticas de Saúde/Saúde Mental (GPPS) vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) neste XIV Encontro Catarinense de Saúde Mental. A partir destes pressupostos buscaremos o debate dos temas emergentes e persistentes no campo da Saúde Mental, à luz destas estruturas e entrelaçamentos, buscando caminhos para contribuir com a superação dos retrocessos, obstáculos e dificuldades oferecidas à construção de uma Rede de Atenção Psicossocial condizente com o avanço civilizatório que se espera em uma Democracia humanizada e saudável.