CONEXÕES PARA UMA FILOSOFIA EMANCIPATÓRIA: a educação como instrumento de inserção para grupos marginalizados e excluídos
Em 2023, os discentes da graduação e da pós-graduação em filosofia da Universidade Federal do Pará (UFPA), apostaram em um tema que visava destacar o potencial das diversas frentes da pesquisa filosófica já presentes em nosso país.
Perspectivas para além de uma Filosofia Eurocentrada fora então o tema selecionado e com o qual a comissão organizadora do Encontro Nacional de Pesquisa em Filosofia da UFPA (ENPF-UFPA) em sua XI edição buscou conversar. Deu-se especial destaque para as seguintes linhas: filosofia brasileira, latino-americana, oriental, indígena e questões de gênero.
O XI Encontro abarcou uma pluralidade a ser dimensionada pelos futuros discentes do curso, mas deixou, para a comissão seguinte, a necessidade de afunilar a discussão em torno de demandas cujo horizonte é para futuros professores o mais direto: a sala de aula. Como lidar com um espaço em que as contradições parecem ser a ordem? Como lidar com um espaço que, a pretexto de ser um ambiente de formação individual cuja finalidade supõe a aquisição de características básicas rumo a um uso pleno da razão ao final deste ciclo (para o exercício da cidadania se se tem uma educação verdadeiramente libertadora, crítica e criativa), opera segundo a ordem da violência e da exclusão?
Já aqui encontramos um problema apontado por filósofos como Amarildo Trevisan e Marcelo Perine. Para Amarildo, em capítulo publicado em Filosofia e Educação: Escola, Violência e Ética, livro editado em parceria com os professores Elisete Tomazetti e Noeli Rossatto, a ideia de uma escola que internaliza e reflete violências de escalas extra muros é uma leitura que mal disfarça a ideia do contexto de violência gerado no próprio ambiente escolar quando este perpetua em sua estrutura curricular a lógica da desigualdade de nascimento. De um lado, escolas com foco progressista, abertas à realização plena do corpo e da razão humana, de outro, escolas que, quando muito, preparam para o exercício de uma função determinada. Por óbvio, trata-se de uma traição aos ideais de democratização que a escola adquiriu desde o fim da Idade Moderna, quando tomou para si a tarefa de não distinguir entre nascidos em classes sociais distintas, mas não é isso que a escola vem fazendo. Para Marcelo Perine, em seu texto Aprendendo e Ensinando a Filosofar, o foco é saber com o que lidamos quando lidamos com filosofia. O autor faz saber que a necessidade da filosofia encontra-se de modo imediato como contraposição à violência. Portanto, se a filosofia, e, por extensão, o professor de filosofia, é capaz de algo em sala de aula, este algo é suscitar aquilo que os gregos denominavam como espanto/admiração. Thaumazein. Todos somos capazes de atos absurdos que perpetuam a exclusão, a violência e práticas outras que testemunham contra a visão que temos de nós mesmos como seres dotados de razão. No entanto, adquirimos a razão e ela é a aposta última dos filósofos como aquilo capaz de gerar em todos os seres a indignação necessária que o espanto com o mundo, a fim de mudá-lo, traz consigo.
Assim, em 2024, os discentes da graduação e da pós-graduação em filosofia da UFPA têm o prazer de discutir a filosofia da educação; mais do que isso, temos o prazer de discutir o nosso papel enquanto futuros professores de filosofia nas salas de aulas dos ensinos básico e superior. De modo geral, a formação acadêmica do estudante de filosofia devora, tal como os vermes que roem as frias carnes do cadáver na epígrafe já imortalizada em nossa literatura, textos de Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Rousseau, Kant, Nietzsche, Russell, Arendt, porque nossa formação primeira preza pelo bom entendimento desses textos.
Fazer filosofia assim é de certo modo pertencer a uma confraria ou a uma conversação de séculos. Mas leitura, mesmo que seja uma boa leitura, não basta. Se se vai para a sala de aula, como é quase certo que se vai, então é preciso entender e dimensionar o que se quer com esses textos, com esses autores e seus valores. A sala de aula brasileira é um desafio - e nem tocamos no “novo ensino médio”. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5,6% da população com 15 anos ou mais não sabiam ler ou escrever em 2022; 9,6 milhões de pessoas. Mas para além da discrepância de alfabetização, outras desigualdades ali imperam. Desigualdades de gênero, racismo, falta de diálogo para com a saúde mental de educandos e educadores, precarização da atividade profissional, evasão escolar, desconfiança quanto a sua disciplina são alguns dos tópicos que o futuro professor terá diante de si.
É com o intuito de discutir os problemas aqui apontados que o XII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (ENPF-UFPA) e o IV ENCONTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (EPGF-UFPA), convidam a todos os discentes de graduação e pós graduação em filosofia e demais áreas para discutir, entre os dias 02/09/2024 e 06/09/2024, no Auditório Setorial Básico da UFPA, campus Belém, o seguinte tema: Conexões para uma Filosofia Emancipatória: a educação como instrumento de inserção para grupos marginalizados e excluídos.