Perspectivas para além de uma Filosofia Eurocentrada é uma proposta que vem a partir das inquietações do corpo discente da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Pará. Tais inquietações nos colocaram em um movimento de busca para nos encontrarmos nas imagens refletidas em nosso programa de formação. Não é com surpresa que não tenhamos ali nos encontrado. Também não é com surpresa que se percebe já há algum tempo o espelho de uma filosofia tradicional e nem se deseja aqui sua retirada do programa de formação de futuros docentes; surpresa, porém, é o modo como, apesar das pesquisas que se abrem e retomam perspectivas outras no espaço próprio da filosofia, tem sido pouco trabalhado o material crítico proposto por linhas filosóficas não europeias.
Aqui não se está a apontar uma deficiência de caráter permanente, mas uma ausência: o outro, o diverso. A filosofia por nós entendida é assim mais do que texto, do que logos, é uma prática, um compromisso com aquilo que se vive, com o que se identifica, com o que se estranha e se põe e se deixa estranhar, isto é, um convite ao outro, ao aberto. Em junho de 2023 nossa graduação completará 50 anos. Meio século!
Nada melhor para pensarmos que tipo de filosofia praticamos do que uma data festiva, redonda, pois nos obriga a reflexões necessárias para pensarmos a trajetória percorrida. Dada sua extensão, é possível elencarmos os ganhos deste processo, do qual este evento é produto da terra, lavra discente-docente, mas também se impõe uma conversa que não se quer adiar, uma conversa-convite: é preciso romper os limites de um programa que ausenta a diversidade filosófica em nossas salas de aula.
Acepções fundamentadas por uma estrutura colonialista ou, para lembrarmos, por exemplo, Alfredo Bosi em Dialética da Colonização, como se fossem verdadeiros universais das sociedades humanas, impõem uma narrativa tradicional e se movimentam em uma busca pelo apagamento de identidades que compõem as diferenças entre as formas de ser. Em termos de formação, a práxis dessa imposição se dá através da ausência. Não se conhece o outro e, no entanto, ele existe! Onde habita, por exemplo, uma filosofia cujo cânone possa abrir-se ao feminino? Por onde anda uma filosofia do Sul Global ou do Extremo Oriente? Por que negar à filosofia seu caráter intercultural? Ou por que temer ousar falar em uma filosofia brasileira, ousar falar de filósofas e filósofos brasileiros? Aliás, por que mesmo estas perguntas? Porque há um outro, em profusão, para além das fronteiras da geografia e racionalidade europeias.
Tais indagações já nos deixam expostos não à filosofia, que, por dever de ofício, já as coloca, mas a uma prática que renega a procura pelo outro. Procurar esse outro, ausentado de nós, é mais do que apenas atividade abstrata, sobretudo porque filosofia também se faz com o espaço e com o corpo, isto é, desde um ponto de vista, e o nosso corpo nos informa que somos latino-americanos, afrodescendentes, mulheres, brasileiros, somos da Amazônia, território amplamente ocupado por povos indígenas, que são os seus originários. Porque há um outro e nele nos reconhecemos é que fazemos o convite para que nossa responsabilidade enquanto futuros filósofos não se deixe apagar. Em uma palavra: nós nos aceitamos diversos!
Assim, nos propomos a criar um espaço de escape das narrativas tradicionais, rememorando aquilo que tem sido aniquilado pelos cânones que projetaram a ideia de um pensamento único, eurocentrado e impossível de críticas. Marcando os 50 anos do Curso de Filosofia da UFPA, trazemos um encontro atravessado pelas perspectivas Decolonial, de Gênero, Latino-americana, Ameríndia, Africana e Oriental. Crentes de que nosso evento é uma conversa-convite, mas também um posicionamento aberto à pluralidade, convidamos a todos, ouvintes e pesquisadores, a repensarem conosco a Filosofia, sua história, seus temas e problemas.
