À luz de Aristóteles, quando pensamos em filosofia compreendemos que "entre as ciências, consideramos ser sabedoria antes aquela que é escolhida em vista de si mesma e graças ao saber" (Metaf., A, 982a 14-15) e que esta “não é um conhecimento produtivo” (Metaf., A, 982b 11). Portanto, não a buscamos por sua utilidade, mas porque dentre os demais conhecimentos, apenas a filosofia “é livre, pois apenas ela é em vista de si mesma" (Metaf., A, 982b 26). Tendo isso em vista, ao fazer uma breve análise da história da filosofia é possível perceber que, ainda que livre, esta nunca esteve sozinha. Ou seja, a filosofia sempre esteve acompanhada de outros conhecimentos, por assim dizer.
Na antiguidade, os Pré-Socráticos mantiveram a filosofia próxima à matemática e à física, retores e logógrafos, da mesma forma que Isócrates e Górgias não deixaram a literatura clássica de lado para fazer filosofia, como também o fez Aristóteles na Poética. Já na Idade Média, filósofos como Tomás de Aquino e Averróis se dedicaram a debater o pensamento aristotélico com as teologias cristãs e mulçumanas, respectivamente, enquanto que outros como Pedro Abelardo, Guilherme de Ockham e João Buridan desenvolveram teorias novas e revolucionárias de lógica e linguagem. Mais tarde, na modernidade, a filosofia voltou a aparecer ao lado da matemática e da física por meio de nomes relevantes como René Descartes e Galileu Galilei. E, por fim, diante do contexto da filosofia contemporânea, notamos que não é diferente: ao observar-se correntes que se tornaram paradigmáticas desde o século XX, como a Teoria Crítica, é perceptível que o entrelaçamento entre vários âmbitos do conhecimento com a filosofia, tal como a antropologia, sociologia, psicanálise e psicologia social, por exemplo, torna-se não apenas uma possibilidade, mas constitui uma metodologia própria que visa pensar e compreender os fenômenos, e as transformações constantes destes, a partir da conexão e diálogo entre diversas disciplinas, que historicamente foram se constituindo gradualmente enquanto autônomas, mas que, de modo algum, se mostram como esferas isoladas, já que estas demonstram uma conexão intrínseca, tendo em vista que o objeto que se visa compreender se constitui através da relação necessária entre sujeito e objeto do conhecimento.
Entretanto, se, por um lado, reconhecemos e afirmamos a produtividade da interdisciplinaridade, por outro lado, ressaltamos que tal afirmação não implica no fato de que estamos igualando a filosofia aos âmbitos com os quais ela pode se relacionar, seja para constituir ou refletir acerca do seu próprio método, seja para ter mais elementos que permitam um aprofundamento das suas investigações. Em suma, a filosofia mantém a sua autonomia e a sua liberdade, ainda que possa se relacionar com outras áreas do conhecimento e adotar para si, de modo produtivo, uma postura interdisciplinar em suas investigações.
É a partir dessa concepção que se visualiza a emergência do diálogo entre a filosofia e outras áreas do conhecimento como indispensável à compreensão e reflexão adequadas sobre as questões atuais, o que justifica o eixo temático que norteará esta edição do evento, a saber, A Interdisciplinaridade do Mundo Filosófico. Convidamos, assim, professoras(es), pesquisadoras(es), alunas(os) e todas(os) aquelas(es) interessadas(os) por filosofia e sua interdisciplinaridade para compor e participar do evento. Em sua 7ª edição, o Encontro de Pós-Graduação em Filosofia da UFMG acontecerá de modo semipresencial, tendo como principal objetivo fortalecer um espaço de diálogo entre pesquisadoras(es) e estudantes de Pós-Graduação em Filosofia de todo o Brasil.