Desde 1919, em "Caminhos da Psicoterapia Psicanalítica", Freud propôs revisões no procedimento terapêutico da psicanálise, com alterações no método, para desenvolver uma clínica gratuita voltada a toda população e com possibilidades de custeio ofertado pelo Estado. Se seria preciso fundir o ouro da análise com o cobre da sugestão direta, como dito por ele, o fato é que a psicanálise exercida como clínica gratuita, clínica ampliada, aqui não apenas no sentido designado em nosso Sistema Único de Saúde (SUS), mas como uma clínica nos espaços públicos - bordeando propostas que fazem uso de dispositivos grupais, artísticos, lúdicos e midiáticos - é um work in process.
Nessa Jornada e Simpósio, psicanalistas, pesquisadores, acadêmicos e comunidade se reúnem para discutir esse campo profícuo do fazer psicanalítico a partir de suas próprias experiências, vivências, saberes e transmissão e nas quais, penso, podemos recorrer a MD Magno, em seu dizer que "a psicanálise é a Arte de transformar o sonhador em artista e que fazer a teoria dessa arte é uma Est'Ética”.
No rastro de Jorge Broide e Miriam Debieux Rosa, digo ser esta uma clínica política, pois atenta a violência dos espaços e ao desamparo social e discursivo de pessoas invisibilizadas. Na tradição da psicanálise nos espaços públicos das comunicações, temos as conferências no rádio de D. Winnicott (entre 1939 e 1962) e de Françoise Dolto (entre 1976 e 1978), como história psicanalítica a ser recordada. De acordo com o pensador Guy Debord, o “espetáculo” é definido como “um conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens” e a produção imagética interfere na mediação das relações sociais, atinge os meios de comunicações, conduz e produz subjetividades vinculadas à massificação e a produção de um desejo voltado ao consumo. Nesse contexto, na contemporaneidade, a psicanálise se volta para o ciberespaço, os blogs, os canais midiáticos, as fake News, no laço indissociável entre a clínica, a política e a cultura.
Relembrando Emilio Rodrigué, que brinca ao considerar "o plágio um benigno crime 'hediondo'" e também cita "Deleuze sobre um 'agenciamento', uma forma válida de apropriação desejante - um plágio amoroso a céu aberto" – digo, vamos todos 'futucar' esse campo psicanalítico com nossas próprias releituras e invenções.
Com Lélia Gonzalez,
Depeço-me cordialmente.
Axé Muntu!
Até setembro.
Christiane Carrijo
Organização Geral do Evento