A afirmação dos direitos humanos resulta do reconhecimento de que as pessoas “nascem e permanecem livres e iguais em direitos", como expressa a Constituição proposta pelos revolucionários franceses em 1789. Dos ideais de liberdade e igualdade, emergiram, ainda no século XVIII, as lutas em prol da emancipação política na Europa e na América, a que se seguiram reivindicações em nome da autonomia política, étnica, de culto e de gênero. A literatura não se omitiu deste debate: expôs as aspirações libertárias e igualitárias dos diferentes grupos (sociais, étnicos, de gênero), e apresentou-se igualmente como um direito ou, como formula Antonio Candido em seu ensaio seminal, um “bem indispensável”, a que todos os seres humanos devem ter acesso. Contudo, ao longo dos 230 anos que nos separam dos movimentos emancipatórios do século XVIII, as exclusões não desapareceram: estão presentes na sociedade, dividida em segmentos economicamente desiguais, e na cultura, como se verifica na transmissão do saber e na distribuição da escolaridade. No caso dos estudos literários, as exclusões transparecem nas obras dedicadas à história da literatura, que consolida um cânone mediado pelas intenções das classes dominantes. Dessas constatações derivam as tarefas que se apresentam aos pesquisadores: primeiramente, a reflexão sobre as relações entre literatura e direitos humanos, sendo examinado como a primeira traduz, ou deixa de traduzir, os segundos, observando-se também em que medida, enquanto “bem indispensável”, a literatura alcança, ou deixa de alcançar, seus beneficiários. A partir dos resultados dessa investigação, cabe propor uma prática que afiance à literatura o exercício de suas potencialidades, garantindo a legitimidade e a eficácia de seu teor iluminista.
O II Seminário Literatura e Direitos Humanos é originado do projeto Universal do CNPq, Literatura e Direitos Humanos, coordenado pela profa. Dra. Regina Zilberman (UFRGS/UEMA/FAPERJ) e composto pelos pesquisadores prof. Dr. Rafael Brunhara (UFRGS) e profas. Dras. Marisa Lajolo (UPM), Jane Fraga Tutikian (UFRGS) e Germana Araújo Sales (UFPA). O evento tem apoio do PPGL, UFPA e realização pelo CNPq.