Há muito a noção de espaço público vem sendo debatida por teóricas e teóricos de diferentes áreas, tradicionalmente a partir da oposição entre público e privado, uma perspectiva que se mostra pouco produtiva para caracterizar e compreender os espaços públicos das cidades contemporâneas. Para Mouffe (2013), os espaços públicos não são lugares fixos nem igualmente acessíveis a todas as pessoas, mas sim estruturados de maneira hegemônica, regulando determinadas práticas sociais, bem como os corpos das pessoas. Assim, o espaço público deve ser entendido como um campo de disputas, no qual hegemonias se reproduzem e se impõem, mas também sofrem a resistência de grupos sociais organizados. Nessa dinâmica, tornam-se evidentes as desigualdades interseccionais, que delimitam quem pode ocupar, circular e ser reconhecido nesses espaços, e quem, ao contrário, é sistematicamente invisibilizado, silenciado e excluído, e precisa resistir para se fazer visível.
Paralelamente, estudos críticos da linguagem (análise de discurso crítica, linguística aplicada crítica e sociolinguística, por exemplo) compreendem a centralidade da linguagem como modo de ação no espaço público. Em uma perspectiva dialética, podemos dizer que, ao mesmo tempo em que a linguagem é constituída pelo espaço público, também é constitutiva dele, assim como de identidades, relações sociais e sistemas de conhecimento e crença. Nesse processo, a linguagem organiza relações de poder, tornando-se elemento central para a compreensão de mecanismos de exclusão e resistência presentes na vida social. Refletir sobre o espaço público a partir da linguagem implica, portanto, analisar como nele se articulam práticas de inclusão, exclusão e resistência.
O Seminário Linguagem e Espaço Público é uma realização do Laboratório de Estudos Críticos do Discurso da Universidade de Brasília (LabEC/IL-UnB), com apoio do Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade (NELiS/Ceam-UnB). O evento faz parte da 25ª Semana Universitária da Universidade de Brasília (SEMUNI), cujo tema é UnB e Territórios em Movimento: saberes, inovação e sociedade.
Sendo, então, a relação linguagem-espaço público um tema emergente nos estudos que se desejam interdisciplinares, este Seminário torna-se relevante no cenário atual, em que a democracia enfrenta ameaças e os espaços de debate coletivos têm sido invadidos por discurso de ódio, intolerâncias, autoritarismo e apagamento de vozes dissidentes. Discutir linguagem em sua relação com o espaço público possibilita fomentar a flexão e a possibilidade de fortalecimento da convivência democrática, da diversidade e da inclusão.