O século XX é chamado de “o
século das mulheres” em razão das transformações aceleradas que propiciou à
experiência feminina. Foi uma época de
ampliação de direitos e oportunidades e de mudanças, tanto na qualidade de vida
das mulheres, quanto no imaginário coletivo. Nosso século, o XXI, embora ainda
no início, já anuncia importantes novidades.
A situação atual das
pesquisas sobre mulheres difere muito do encontrado pelos pioneiros que se
aventuraram a abordar a questão até meados da década de 1980, início da de
1990. Havia poucos trabalhos com que
dialogar e muitas lacunas a preencher. De lá para cá, tornou-se consenso que as
mulheres no Brasil têm uma história, que ela pode ser escrita e que é capaz de
iluminar e sofisticar a História dita Geral, ao falar também das relações
sociais, raciais, etárias e de gênero, tratar do poder e abordar tanto o
privado quanto o público. Houve um
aumento exponencial no número de trabalhos que resultaram em artigos e livros,
mestrados e doutorados por todo o Brasil, a partir dos quais vimos ser possível
elaborar uma disciplina que dialogue e discuta a presença feminina ao longo de
nossa História.
Neste sentido, escrever e
discutir sobre a História das Mulheres no Brasil, como nos mostra Diva Couto
(2018) exige, dentre seus percalços, “provar e comprovar” que somos, como os
homens, pessoas atravessadas de historicidade, igualmente constituídas em meio
à experiência histórica, ao dinamismo do tempo histórico, que envolve a
relação, sempre assimétrica, entre espaço de experiência e horizonte de
expectativa (KOSELLECK, 2006). E como integrantes da humanidade, também estamos
presentes na história, fazemos história, escrevemos histórias.
A história das mulheres não
é só delas, como nos assevera Mary Del Priori (2006). Essa é uma história
também da família, do trabalho, da literatura, do corpo e da sexualidade. É uma
história da violência do patriarcado e de sua institucionalização nos vários
campos do saber e do cotidiano.
A história das mulheres é
também a história das lágrimas, dos sussurros, dos silêncios e das batalhas
intimas. São histórias (não contadas) de mulheres através das tensões e
contradições de diferentes épocas, das relações intricadas entre as diversas
mulheres e seus grupos sociais, as sexualidades reprimidas, as mistificações
religiosas, os preconceitos de todas as matizes, que por muito tempo foram
encobertas no fazer historiográfico e que, nas últimas décadas, clareia-se cada
vez mais este universo. Somos História. Fizemos história e continuaremos a
fazer.
Portanto, o Ciclo de
Palestras “MULHERES NA HISTÓRIA,
HISTÓRIA DE MULHERES” vem discutir, com os professores e professoras
convidados, a história de mulheres que fizeram história e que, por diversos
percalços, foram silenciadas e/ou negligenciadas pela nossa historiografia.