A Bibliofilia possui uma definição muito simples e singela: amor aos livros. O que variará são algumas das formas como são constituídas as bibliotecas, o que dependerá fundamentalmente do bolso do(a) titular. Pelo menos desde o século XVII esses personagens, ou seja, os bibliófilos, são documentados, embora Petrarca (1304-1374) tenha sido um deles. Seja como for, ainda hoje é um campo associado ao homem. As mulheres, mormente no século XIX, passaram a ser objeto de construções narrativas negativas, muitas vezes associadas ao conjunto de pragas que poderiam atacar uma coleção. Uma pesquisa rápida e meramente empírica demonstra a escassez de pesquisas sobre mulheres e suas bibliotecas pessoais, que, quando muito, estão associadas à curiosidade, no sentido mais simples possível. Essa imagem precisa mudar na mesma proporção que o papel da mulher tem mudado na sociedade ocidental nos últimos dez anos.
Se nos estudos prosopográficos sobre escritores, para tomar um exemplo, estudar suas bibliotecas é quase condição sine qua non, para compreender suas trajetórias de vida e/ou perfil de suas obras, isso ocorre ainda de forma tímida com as mulheres. Ainda que sendo ou não personalidades públicas, o mergulho num conjunto bibliográfico formado por uma mulher pode revelar diversos aspectos desconhecidos, até mesmo de uma micro-história pouco explorada.
Esse Seminário Internacional visa lançar luz sobre um assunto que raramente vemos posto na academia, ou seja, as bibliotecas de mulheres. O tema será tratado sob três eixos: no primeiro eixo teremos a apresentação de Margarida Ballalai de Carvalho Costa Pinto (1895 - 1979); o segundo eixo refere-se à abordagem de bibliotecas cujas titulares são mulheres; já o terceiro eixo, refletirá sobre a importância da preservação, incluindo a não dispersão, desse patrimônio bibliográfico para pesquisas em determinadas áreas do conhecimento, como Letras e História.
Qual tem sido o destino dessas coleções? Será que estão recebendo o devido valor? Como uma biblioteca pode ser estudada como conjunto e a partir de um item? Qual o perfil das titulares e de suas bibliotecas? Essas e outras questões serão o mote de debate ao longo de três dias, nos quais vamos reunir pesquisadores e pesquisadoras que abordarão a trajetória de algumas mulheres e as peculiaridades de suas bibliotecas; a história e o perfil da biblioteca de Dona Margarida Costa Pinto e, por fim, a necessidade e importância da preservação de bibliotecas de mulheres nos sentidos lato e strictu.