Neste
ano de 2021, as IX Jornadas Internacionais de Teatro do Oprimido (JITOU) tem
como eixo central as “Pedagogias do sul
na (re)construção das práticas de liberdade: esperançar, recriar e (re)exitir”.
A temática surge diante da onda neoconservadora atual e da retomada de
discursos e práticas de extermínio em massa que evocam as práticas e
pensamentos nazifascistas, o que tem culminado no trágico número de mais de 500
mil mortos no Brasil, em um momento mundial de crises econômica, política,
ambiental, sanitária. No entanto, resgatando o ideograma chinês destacado na
metodologia do Teatro do Oprimido, a crise nos remete, ao mesmo tempo, a
perigos e a oportunidades. Por isso, é a partir da celebração do centenário de
Paulo Freire e dos 90 anos de Augusto Boal que apresentamos por meio desse
programa-manifesto nosso projeto de sociedade enquanto um exercício de prática
de liberdade.
O projeto de retomar as “Pedagogias do sul”, herdeiras dos movimentos de libertação da América Latina e das Áfricas e afrodiásporas do jugo colonialista e imperialista europeu e estadunidense, nos coloca o desafio de articular os saberes e práticas do Teatro do Oprimido às lutas dos indígenas, das mulheres, de pessoas LGBTQUIAP+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Travestis, Queers, Intersexuais, Assexuais, Pansexuais e outres mais), do povo preto, dos quilombos, do campo, das favelas, dos guetos e das periferias por sobrevivência, por justiça social, por terra, por soberania alimentar, por moradia, por educação, por liberdade, por “vacina no braço e comida no prato”, ...
Os saberes e práticas do sul expressam formas históricas de esperançar, recriar e (re)existir, presentes no pensamento de pessoas como Abdias do Nascimento, Amadou Hampaté Bâ, Amir Haddad, Augusto Boal, Bárbara Santos, Boaventura de Souza Santos, Cheik Anta Diop, Jorge Larrosa Bondía, Lélia González, Mário de Andrade, Paulo Freire, Rubem Alves, entre tantas/os/es outras/os/es, bem como presentes na “afrocentricidade”, “indianidade”, “ciganidade”, pedagogia das rodas de danças populares, rodas de capoeira, “brincantorias”, pedagogia das encruzilhadas, pedagogia das erveiras, rezadeiras, cantadores, congadas, reizadas, congos, jongos, cocos, cacuriás, carnavais de rua, rodas de samba, frevo, cheganças, cortejos populares.
Reabrimos aqui neste encontro a agenda modernista, levando em conta que os povos que foram subjugados nos processos coloniais, também devoraram muitos dos ditames colonialistas com criatividade popular, com a celebração de corpos movimentados por saberes sensíveis. Pelas “planícies de conhecimento sensível”, como expressou Augusto Boal na conjectura de uma Estética dos Oprimidos, das Oprimidas e des Oprimides, estes povos realizam o trânsito entre o pensamento simbólico e o pensamento sensível, expressando diferentes estéticas unidas pelas formas de resistência social construídas desde baixo pelas lutas dos movimentos sociais.
Neste
momento de frontal ataque aos povos indígenas com o Projeto de Lei nº 490/2021
que busca legalizar as invasões em territórios indígenas, as pedagogias do sul
nos convoca a nos movimentar, sobretudo, pelos saberes dos territórios,
tratando o local e o global em relação dialética e dialógica. Afinal, o diálogo
é o antídoto freiriano e boalino para os monólogos na sociedade, sempre
castradores, intransitivos, opressores. É a partir dos diálogos de saberes e
práticas do sul global contra as monoculturas do pensamento único, que
poderemos traçar a ecologia dos saberes,
tal qual nos anuncia Boaventura de Souza Santos.
Nesse
caminho, o caminhante Paulo Freire já nos alertava para o termo esperançar: verbo que remete ao legado
das pedagogias do sul na construção de saberes plurais para projetar os
inéditos viáveis, o que implica recriar e
(re)existir. As JITOU 2021 têm o prazer e a
alegria de convidar a todas/os/es a unir forças (ainda que de forma remota
neste momento de pandemia) para juntes/as/os esperançar, recriar e (re)existir.
Comissão Organizadora das IX JITOU
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